- O que aconteceu?
Justin acabara de chegar ao hospital. Após aquelas horas torturantes na expectativa do que o aguardava em Los Angeles, ele finalmente vira Jonathan, seu sogro, na porta de um quarto.
Ele se vira para o genro. Sua expressão é de pesar. Pelo visto, as coisas não estavam tão sob controle como Kim fez parecer ao telefone.
- Por favor, antes de entrar, preciso que ouça.
Jonathan coloca suas mãos sobre os ombros do genro, encarando-o firmemente. Justin, quase ofegante, se contém para fitá-lo.
- Jess vai precisar de você. Sei que não vai ser fácil para você também, mas ela precisa que você seja forte. Um dos dois precisa ser forte... Portanto, por favor... – sua voz começa a vacilar.
- O que houve? – ele já está impaciente.
- Ela me ligou assustada, disse que estava tendo um sangramento... Kim e eu fomos buscá-la o mais rápido que podíamos.
Jonathan olha para o genro. Ele está atônito. Precisava chegar ao ponto o quanto antes ou ele entraria naquele quarto movido pela impaciência.
- O médico disse que foi um aborto espontâneo.
Justin sente um verdadeiro golpe atingi-lo. Ele se deixa cair em um pequeno sofá no corredor. O sogro vai atrás dele, tentando acalmá-lo.
- Precisa manter o controle... Jess já está abalada o suficiente.
- Meu Deus... Disseram que era um pequeno acidente...
Aquilo não podia estar acontecendo com ele. A algumas horas ele estava vivendo em um paraíso, ao lado de um anjo e agora parecia ter ido do céu ao inferno em questão de poucas horas. Sentia-se um monstro agora. Jess estava sofrendo, enquanto ele a ignorava em Las Vegas. Céus... Por que isso tinha de acontecer a ele? Jess estava grávida sem ao menos saberem disso! Ela se protegia, sempre tomando anticoncepcionais... O que foi que fizeram de errado? E agora? Ele perdera um filho...
Jonathan agora colocara o braço sobre seu ombro, tentando reconfortá-lo. Justin não podia se sentir mais envergonhado. Ele estava traindo Jess, enquanto ela perdia um bebê... Que tipo de homem ele era?
Seus olhos começaram a arder. Ele precisava dar um rumo em sua vida o mais rápido possível mas agora podia perceber que seria difícil... Jess com toda certeza estaria sensível demais para enfrentar um divórcio. Ele não tinha condições de se separar dela naquele momento... O que faria? Como se explicaria para Britney? Ah, Pinky... Por que tinha de ser tão difícil? Ele ligaria para ela na parte da manhã, sem dúvidas. Mas teria de pensar nas palavras certas a escolher para falar com ela. Como a veria agora? Como poderia voltar para Vegas? Sob que pretexto ele a encontraria de novo? Agora parecia que a dura realidade lhe estapeava. Dentro daquele quarto de hotel os problemas pareciam menores, o mundo parecia muito menos complicado e agora... Agora ele via a real dimensão das decisões que planejara tomar.
- Um filho... – murmura. – Eu nem sabia...
Ele balança a cabeça incessantemente. Ele perdera um filho... Apesar de Jess não ser o amor de sua vida, ela estava aquele tempo todo carregando um filho seu... Ele abandora a esposa em casa com um filho...
Justin então se ergue. Jonathan o analisa, com cautela.
- Se quiser ficar mais um pouco aqui até se acalmar... Seria até melhor.
- Eu posso ir... Estou calmo. – ele diz.
- Tem certeza?
O sogro percebe o quanto Justin está chocado. Seu genro está parado, olhando para a porta, sem piscar. Ele ainda tenta recuperar o fôlego.
Justin pensa em como olhar para a esposa agora. O que diria? O que faria? Ele mal conseguira olhar para ela nas últimas semanas devido às brigas que andavam tendo e agora não conseguiria olhar por outros motivos.
Ele caminha em direção à porta, ignorando Jonathan. Ao entrar no quarto, vê Kim ao lado da filha. Jess parece desolada. Ela olha em seus olhos. Kim se vira para ele e se levanta. Ao passar por ele, coloca uma mão sobre seu ombro como se tentasse consolá-lo nem que fosse por alguns segundos. Ela deixa o quarto e Justin se aproxima da cama.
- Oi. – Jess parece insegura.
- Olá.
Ele tenta sorrir. Precisa de alguma forma parecer amável... Ela precisa disso agora.
- Meu pai já te contou, não foi?
- Sim.
Ela então abaixa a cabeça e começa a chorar.
Justin hesita por um momento, sem conseguir pensar no que fazer exatamente até que ele se aproxima mais de sua esposa e lhe oferece um abraço.
Ela o corresponde, e chora cada vez mais. Ele apenas pensa no quão errado andou agindo. E o que mais o fazia mal agora, era pensar que no fundo não se arrependia de nenhum segundo que vivera nos últimos dias. Mas agora não era hora para pensar nisso. Ele precisava se preocupar com a situação atual e a situação atual era que sua esposa acabara de perder um bebê, SEU bebê e ele precisava de alguma forma cuidar dela, amando-a ou não.
- Sinto muito. – sussurra.
E ele sentia. Sentia do fundo de seu coração por aquele bebê.
- Foi tudo muito rápido... – ela dizia. – Eu nem sequer senti dores na hora... Quis te ligar, mas sabia que não adiantaria. Você estava longe e não queria te preocupar. Pedi para a mamãe dizer que foi um acidente... Pelo menos não iria te assustar tanto quanto isso.
Ah não... Naquela noite ele só estava levando tapas e mais tapas. Ela não queria preocupá-lo... Merda. Ela se preocupara com isso, no momento em que mais precisou dele a seu lado.
- Desculpe por ter demorado. – sentia um nó na garganta ao dizer.
- O médico me liberou. Mas queria que me levasse para casa. Queria que fosse você a cuidar de mim.
Ele assente. É claro que a levaria. Céus, ele tinha de cuidar dela perfeitamente agora. O sentimento de culpa o fazia se tornar mais amoroso a cada segundo. Agora era hora de ser um marido exemplar, pelo menos por um tempo.
- Quer que eu te ajude a se levantar?
Jess tranquilizara os pais. Jonathan e Kim foram para casa e os deixaram descansar sozinhos.
Ele a esperou tomar um banho, enquanto preparava um sanduíche para comerem. Comer de alguma forma poderia ajudá-la, ainda que fosse madrugada. Ele ajeitou a cama, ainda desarrumada, para que tivesse uma aparência mais organizada e aconchegante.
Agora sentara-se na beira da cama e pensava. Pensava em como estava tudo tão bom em Las Vegas... Era como se tivesse mudado de dimensão, ou talvez de mundo. Ao lado de Britney parecia tudo tão leve. Vegas de certa forma agora lhe transmitia calma... Justo a cidade mais agitada do mundo.
Por mais que se julgasse e tentasse se concentrar em Jess, ele se via conduzindo os pensamentos a Britney... Como será que ela ficou quando ele deixou aquele quarto? Para ele, foi como se tivesse deixado seu mundo para trás. Que contradição vivia... Estava atordoado pela dor da culpa, mas só desejava uma mulher a seu lado para consolá-lo e essa mulher não era sua esposa.
Jess saíra do banho e agora se recostava na cama. Ela estava em silêncio, por alguma razão que Justin não compreendia nem imaginava. Ele foi até a cozinha e trouxe o lanche para ela.
- Vai te fazer bem. Você desmaiou, precisa comer... – insiste enquanto ela tenta recusar.
Ela acaba por aceitar. Ele a observa. O que poderia dizer agora? Sentia-se na cama com uma estranha... Jess agora era uma verdadeira estranha para ele. Após passar todo aquele tempo na cama de Britney, ele sentia-se mais que um estranho no ninho ali. Com Britney eles não precisavam de muito diálogo, apesar de que ele amava ouvir sua voz de menina. Eles se falavam com os olhares, com as mãos, os gestos... Era tudo tão natural... E agora, ele precisava pensar em cada palavra e cada frase que teria de dizer a Jess, não somente por perceber que não a conhecia o bastante, como também por saber que tudo o que dissesse poderia influenciar aquele momento de fragilidade da esposa.
Ela mal toca na comida. Tudo bem... Pelo menos ele tentara.
- Como está se sentindo?
Ah sim, genial sua pergunta. Sua esposa acaba de sofrer um aborto e ele pergunta como está se sentindo... Aquilo sairia pior do que imaginava...
- Vazia.
- Jess... – ele se coloca a seu lado na cama.
- Não peça desculpas. Você não estava aqui. Estava trabalhando... Está tudo bem. Não teve culpa. Não podíamos evitar isso.
Mais uma vez ele se sentia um monstro. Ela acreditava que ele estivera trabalhando aquele tempo todo. Ela preferiu acreditar nas palavras dele enquanto discutiam pelo telefone mais cedo.
- Precisa de mais alguma coisa?
Ele faria qualquer coisa naquele momento por ela, para pelo menos diminuir seu sentimento de culpa... Para provar a si mesmo que ainda era um bom homem.
- Fique comigo. Por favor... Fique aqui pertinho de mim.
Ela começa a se aconchegar contra seu corpo. Ele tenta abraçá-la. Aquele abraço poderia ser a solução para a noite catastrófica, mas aquele corpo junto ao seu nunca seria aconchegante como o pequeno anjo que se recostara em seu abraço naquela mesma noite.
No dia seguinte, Justin levantou-se cedo. Não que não sentisse sono, mas precisava de algum pretexto para sair daquela cama. Jess ainda dormia. Ele vai até a cozinha, onde começa a preparar um café. Precisa mais que nunca de algo que lhe dê energia. Aquela casa tinha agora um clima tão pesado... Era uma casa fria. Ele pega seu café e senta-se no sofá e começa a repensar na noite anterior. Nunca dormira tão mal... Se é que realmente dormira. Passara a noite praticamente em claro, tentando interpretar seus próprios atos.
Ele garantira que iria ligar para Britney. Levanta-se procurando por seu celular e o localiza em cima da mesinha da sala, mas antes que possa pegá-lo, Jess o chama do quarto.
Ele respira fundo e caminha lentamente, preparando-se cada vez mais.
- Bom dia. – tenta soar otimista.
- Bom dia.
Ela continua abalada, pelo visto.
- Dormiu bem?
Jess apenas assente.
- Preparei o café. Quer que eu traga?
- Não... Tudo bem. Vou para a sala.
Ele a observa voltar a chorar. Ela agora chora de maneira mais suave. Não há desespero, mas há muita dor.
Justin vai em direção a ela como fizera no hospital e a abraça da mesma maneira.
- Vai ficar tudo bem. As coisas vão melhorar... – ele promete mais para si mesmo que a própria esposa.
- Justin...
Ela se afasta dele e o olha nos olhos.
- Eu quis tanto esse filho...
Ele apenas assente. Não há muito o que dizer em resposta. Ele não desejava ter um filho com ela, mas se tivesse, iria amar a criança sem sombra de dúvidas. Mas dizer essa verdade seria loucura.
- Eu pensei que isso nos ajudaria...
Como assim? Ele se ergue para encará-la.
- Pensou? Jess... Você programou isso?
Ele sentia o coração palpitar. Não é possível que ela tentara engravidar sem que ele soubesse.
- Nós estávamos tão distantes... As pessoas dizem que os filhos muitas vezes ajudam a salvar um casamento. Eu fiquei pensando em como isso poderia nos fazer bem... Fiz isso por nós. Eu decidi parar com a pílula por uns tempos... Mas foi tudo em vão.
Ela o abraça aos prantos, mas ele não retribui o abraço. Está perplexo... Sem ação. Como ela fora capaz? Aquilo era o tipo de decisão que ambos deveriam tomar... Ele não passaria a amá-la pelo fato de carregar um filho seu. Ele com certeza se faria presente, a ajudaria em tudo de que precisasse, mas salvar o casamento já era demais para uma simples gravidez.
- Jess... – ele resmunga.
Nem ao menos sabe como conduzir a conversa a partir de agora. Sentia-se enganado e injustiçado... Mas quem era ele para repreendê-la? Ele dormira com outra no dia anterior. Ele não era um santo...
Ela volta a se erguer.
- Me desculpe... Eu sei que estou errada. Mas não queria perdê-lo. Eu fiz isso por amor, Justin. Eu sabia que estava me distanciando de você a cada dia... Precisava te trazer para perto de alguma forma.
Ela parecia apavorada ao olhá-lo.
- Justin... – chama aos soluços. – diz que me perdoa... Por favor... – sua voz está cada vez mais falha.
Quem é ele para dizer que não? Sentia raiva, irritação, mas ao mesmo tempo lembrava-se de que precisava ter compaixão. Jess também era uma vítima e ele não podia fazê-la se sentir pior do que já sentia.
- Tudo bem... Foi um erro, mas está tudo bem... Eu perdoo.
- Justin... – ela continua. – Por favor... Me prometa uma coisa.
Ele hesita. Agora ela vinha com promessas que ele provavelmente não poderia cumprir e ainda assim teria de contorná-las, porque Jess não estava em condições de ser contrariada.
- Diga. – ele suspira.
- Vamos tentar melhorar isso... Nós dois. Vamos tentar ficar bem. Por favor...
Ela pedia para consertarem o casamento... Como? Ele não podia fazer isso porque não a amava. Mas o que dizer no lugar da verdade?
- Jess... Já estamos tentando melhorar isso aqui. Essa experiência com certeza está sendo traumatizante para ambos. Vamos nos concentrar no agora, por favor... Deixe o futuro um pouquinho de lado...
Ela assente, triste... Quase derrotada.
- Por favor... Pense nisso... Não desista da gente. – ela parece implorar. – Eu quero tentar. Diz que vamos tentar... Diz que vai me dar um outro filho...
Era muita coisa a se prometer... Ele não podia prometer nenhuma delas... O que fazer agora?
- Jess... Vamos nos preocupar com o agora, já disse...
Ela continua a chorar, balançando a cabeça. Ah céus... Ele não podia deixá-la assim.
- Jess... Tudo bem, acalme-se. Vamos continuar tentando nos acertar.
Ele pronuncia aquelas palavras rapidamente, antes que se arrependa. Jess não podia ouvir nada contrário a aquilo naquele momento. Mas de certa forma, ele não mentira tanto. Gostaria de poder ao menos se acertar com Jess a fim de que não houvesse ressentimentos. Não falaria abertamente sobre Britney... Mas precisava esclarecer a ela que não havia a menor possibilidade de que aquilo continuasse.
Ela aparentemente se contenta com aquela resposta e volta a se aconchegar contra seu corpo.
Ele suspira. De alguma forma conseguira ao menos despistá-la. Sabia que o dia seria longo... Jess não o abandonaria nem por um segundo... Ela parecia enlouquecida, obcecada agora e não havia outra maneira de ajudá-la a não ser mantendo-se ao seu lado. Sente o coração apertar. Um anjo o esperava em Las Vegas e ele nem ao menos sabia quando poderia ouvir sua voz.
Las Vegas
Britney continua deitada em sua cama. Mal dormira naquela noite. Sentira parte de si ir embora junto de Justin. Aquela cama agora parecia enorme sem ele... Sua garganta tinha um nó que a incomodou pela madrugada toda. Seja lá o que tiver acontecido a Jess, ela desejava que tudo ficasse bem. É claro que sentia ciúmes... Era seu Stinky que estava casado com ela. Mas Jessica não era uma má pessoa. Era apenas uma mulher que amava o homem de sua vida. Britney podia entender perfeitamente os sentimentos de Jessica... Não havia como não se apaixonar por Justin. Mas sabia que apenas uma amava Justin infinitamente. Não havia outra mulher nesse mundo capaz de sentir o que Britney sentia por ele... Esse era seu grande diferencial.
Já era outro dia e ela apenas esperava pela ligação prometida. Ele ainda não ligara, não a procurara... Sabia que ainda era cedo, mas seu coração não suportava aquela espera. A angústia começava a tomar conta de sua mente. Será que ele se esquecera dela? Será que ao ver a esposa ele se arrependera? Ela precisava saber... Será que ele pensava nela agora? E Jessica? Ela tinha ideia de que ele a deixaria? Tinha ideia de que ele não pertencia mais a ela? Não devia estar pensando nisso... Devia estar sendo solidária agora e apenas desejando o melhor, mas era inevitável pensar no futuro... Ela podia fingir que estava tudo bem. Podia fingir que aceitava aquilo facilmente, mas essa não era a verdade. Ela o queria ali ao seu lado assim que esse pesadelo acabasse. Queria ter certeza de que ele estaria ali com ela o tempo todo e não com a outra.
Justin tinha de estar ao lado da esposa agora, mas sinceramente... Um lado sombrio de Britney desejava que sua esposa se desse conta de ele pertencia a outra mulher.
“Perfume” nunca fizera tanto sentido.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.