Las Vegas (2014)
Britney desistira de esperar no quarto. Já era quase a hora do almoço e não suportava mais ter de olhar para aquela cama. As paredes, o chão, o teto, os lençóis... Tudo guardava uma lembrança dele. Precisava sair de lá e ir para casa o mais rápido possível. Estava exausta, consumida pela ansiedade. Ele disse que iria ligar e tudo que lhe restava era ter paciência, repetia a si mesma a fim de manter a calma. No entanto, a espera se tornara insuportável.
Ligou para Felicia fingindo entusiasmo e pediu à amiga que encaminhasse um de seus seguranças para buscar o carro que deixara estacionado fora do hotel. Estava na hora de ir para casa.
Los Angeles (2014)
- Podemos pedir alguma coisa, se quiser. – Justin sugere.
Poderia até tentar algo na cozinha, mas sentia-se tão cansado que pretendia ficar deitado o dia inteiro se lhe fosse permitido. Agora, ao lado de Jess, sentia-se cada vez pior. Estava em meio a um misto de mágoa, repulsa e pena. Cada uma das sensações o invadia simultaneamente e quando pensava que sua mente estava prestes a se acalmar, questionava-se se Britney ainda esperava por seu telefonema. Precisava mais do que nunca falar com ela, mas só poderia fazê-lo à noite, quando sua esposa estivesse dormindo.
Tinha medo do que Britney poderia pensar a seu respeito. Sentia o coração palpitar na espera por ouvir sua voz mais uma vez e poder finalmente contar a ela tudo que estava acontecendo. Justin não somente lhe devia satisfações como sentia, naquele momento, a necessidade de ter alguém que lhe confortasse.
Poderia ligar da cozinha, sob o pretexto de que estava pedindo a comida, mas aquilo podia ser extremamente arriscado. Além do mais, o que tinha para conversar com Britney não era algo rápido. Era uma longa e difícil conversa e a verdade é que por mais que ansiasse por isso, mal sabia por onde começar.
Las Vegas (2014)
- Querida, o almoço está quase pronto. – Lynne a recebe com um sorriso. - Pensei que não comeria conosco, mas tem comida suficiente para todo mundo.
- Não quero comer nada agora. Obrigada.
Britney sobe as escadas sem dizer mais nada e a julgar pela expressão da filha, Lynne não se arriscaria a perguntar-lhe o motivo de tal comportamento.
Ela entra no quarto e tranca a porta, pois não quer ser incomodada tão cedo. Deixa-se jogar na cama e lá fecha os olhos, numa tentativa frustrada de dormir. Ele não estava brincando com ela, repete a si mesma. Justin a perdoara. Ele lhe dissera palavras lindas e a perdoara com tamanha sinceridade, que jamais a enganaria daquela forma. Ela só estava sendo impaciente e nada mais que isso, garante. Tinha de relaxar um pouco e aguardar pacientemente por uma resposta, porque sabe que ele não é como os outros. Ou ao menos não deveria ser.
A tarde passara lentamente. Ela havia deixado o quarto, sentando-se no sofá da sala. Ficar trancada só deixaria a família preocupada e os filhos mais ainda. Desde a conversa que tivera com Jayden, preocupava-se mais com a impressão que poderia estar passando dentro de casa. Por mais que estivesse difícil sorrir, precisava ser forte por seus pequeninos.
Sean entra na grande sala, suado, porque provavelmente passara a tarde brincando com seu skate. Lynne vem logo em seguida carregando um suco, oferecendo ao garoto que, ofegante, praticamente vira o copo.
- O Justin vem ver a gente hoje? – ele pergunta ao entregar o copo à avó.
Britney sente um nó se formar em sua garganta.
- Não, querido. Ele teve um probleminha e precisou ir embora.
Vê a decepção tomar conta do rostinho do garoto. “Eu sei, meu bem. Também dói em mim”, pensa.
Lynne agora olha para a filha, preocupada. Britney está com leves olheiras e pelo visto tentara despistá-las com a maquiagem.
- Querido, suba e vá tomar um banho. Assim que terminar, a vovó prepara um sorvete para você e seu irmão.
Sean sobe correndo as escadas.
- Um probleminha? – pergunta, cautelosa.
Britney suspira. Poderia repreender a mãe por se intrometer, mas naquele momento ela realmente precisava de alguém que a ouvisse. Aquilo pelo menos a ajudaria a não pensar exclusivamente no telefonema que tanto aguardava.
- A esposa dele sofreu um acidente.
- Meu Deus! – Lynne exclama, boquiaberta.
- Teve de ir às pressas para Los Angeles. Ela ligou muito assustada. Eu o ajudei a comprar uma passagem ainda de madrugada.
- Pobre coitado. – sua mãe balançava a cabeça. – E o que era o tal acidente?
Aquela era uma pergunta que Britney também se fazia agora e só teria resposta quando recebesse a aguardada ligação.
- Ele disse que me ligaria hoje para contar.
Talvez não devesse ter contado essa parte, afinal Lynne entenderia sua inquietação agora. Entretanto, uma hora ou outra teria de explicar à mãe como faria a partir de então, uma vez que Justin era ainda um homem casado e acabara de deixá-la para se encontrar com a esposa.
- Então vamos aguardar.
Lynne tem uma voz tranquilizadora ao dizer aquela frase, mas Britney sabe que a mãe está fingindo.
Los Angeles (2014)
Justin agora lavava a louça enquanto Jess se recostava no sofá para assistir televisão. Droga. Nem se quisesse teria como ligar para Britney naquele momento. Pensava em sua mãe agora. Ela nem sequer sabia do que acontecera na noite passada. Jess foi compreensiva e gentil por não ligar para Lynn., alegando que não havia por que preocupar a sogra em plena madrugada por algo que já não tinha solução. Ele sentia-se agradecido pela esposa não ter sido precipitada, pois sabia o quanto Lynn se preocupava com as pequenas coisas. Futuramente, explicaria tudo a sua mãe, mas o momento certo ainda não havia chegado.
Gostaria muito de poder esconder aquele fato dela e poupá-la daquele sofrimento, mas sua mãe ainda era sua melhor amiga e falar com ela sobre aquilo talvez o fizesse se sentir melhor. Poderia pensar nessa hipótese e ligar mais tarde. Sua única prioridade agora era falar com Britney, ainda que tivesse de esperar por mais algumas horas.
Las Vegas (2014)
Já anoitecera e Britney recusara o jantar assim como fizera com o almoço. Não sentia fome, não sentia sede e não havia sensação alguma que se sobressaísse à dor no peito que insistia em corroê-la. Ele já deveria ter ligado, admite a si mesma ainda que seja difícil. Quer ainda se apegar a pensamentos e explicações razoáveis, mas já não pode evitar pensar vez ou outra que poderia estar prestes a ser abandonada.
Lembranças do casamento de Justin começam a surgir em sua mente, fotos, capas de revista. São memórias que tentara esconder de si mesma a sete chaves, junto de todas as emoções que lhe preencheram o coração e as lágrimas na época. Jamais seria capaz de desejar que ele fosse infeliz, mas atestar que ele sorria e vivia bem ao lado de outra mulher não era algo que lhe fizesse bem. Será que aquilo poderia se repetir agora, questiona-se. Aquele acidente poderia acabar por uni-lo a Jessica novamente e ela... Ela teria sido apenas uma distração. Céus, aquilo não podia acontecer, leva as mãos ao rosto. Já não sabia se tinha forças para perdê-lo mais uma vez.
Gostaria de poder dormir agora, mas por mais que seu corpo pedisse por isso, sua mente lhe obrigava a manter os olhos abertos. Justin não a deixaria dormir tão cedo.
Los Angeles (2014)
Justin acabara de acordar do que lhe parecera apenas um cochilo. Já está claro lá fora, observa. Estranho... O céu já estava bem escuro quando se deitou. Levanta-se com cuidado para não despertar a esposa. Caminha até a cozinha em passos lentos e leva consigo o celular. Ao se ver fora de qualquer possível campo de visão de Jess, ele olha as horas. Ah, não! Já é quase a manhã do dia seguinte. Britney... Ele prometera ligar no dia anterior, acusa-se. Sente uma onda de desespero percorrer seu corpo.
Começa então a discar com as mãos trêmulas. Sente o coração palpitar ao ouvir sinal de chamada. De repente o sinal para, ao que escuta um “alô”. A voz soa preguiçosa. Percebe que provavelmente a acordara.
- Olá. - Praticamente sussurra.
- Justin?
Não, por favor não. Respira fundo e fecha os olhos pois sabe que aquela não era a voz dela. A voz que acaba de ouvir é a de Jessica, que adentra a cozinha.
Vira-se rapidamente, o coração batendo mais acelerado que nunca e coloca o celular no bolso como num reflexo.
- O que foi, meu bem? – ela pergunta, carinhosamente. – Não está conseguindo dormir?
- É... Está difícil.
- Tudo bem... – Continua a caminhar em sua direção. – Vamos voltar para a nossa cama e eu te faço um carinho até dormir. Quem sabe não começamos desde já a encomendar nosso bebê? – brinca, dando-lhe um selinho rápido antes mesmo que ele possa se desvencilhar.
- Eu já vou.
Qualquer coisa que a tire de lá agora é o suficiente para dizer. Se precisava mentir por alguns minutos, então mentiria. Jess deixa a cozinha e caminha em direção ao quarto lentamente.
Assim que ela some de vista, Justin pega o celular rapidamente. Precisa discar o mais rápido possível mas, ao olhar para a tela, sente um gelo preencher seu peito. Não seria preciso. Ela ainda estava na linha.
- Britney? – chama aos sussurros.
- Não precisa dizer mais nada. Já entendi que ela está bem. – Sua voz soa amarga. – Vá. Ela está te esperando. Seja feliz, Justin.
A ligação acaba.
Não! Ele disca novamente, mas de nada adianta. Justin procura rapidamente uma cadeira. Não suporta ficar em pé naquele momento. Era como se estivesse sem chão. Ela não o perdoaria nunca por aquilo e ele nem sequer fizera algo de errado desta vez, lamenta. Pensa em como Britney se sentirá a partir de agora e lembra-se de quando ela abriu o coração ao contar-lhe tudo o que tivera de enfrentar ao “perdê-lo”. Sabe que não pode deixá-la sozinha mais uma vez. Prometera tanto a si mesmo que finalmente cuidaria dela como ela merecia e consertaria tudo e lá estava ele estragando tudo de novo.
Levanta-se e vai em direção à cama. Precisa que seu corpo caia sobre algo, porque manter-se em pé era quase impossível agora. Seus olhos marejados eram disfarçados pela escuridão do quarto. Deita-se olhando para o teto. Jess começa a se aproximar, mas ele se vira na mesma hora de costas para a esposa.
Las Vegas (2014)
Britney ainda tem o celular em mãos enquanto as lágrimas insistem em rolar por seu rosto. Justin a enganara, reconhece. Ele tivera a coragem de lhe dizer aquilo tudo para depois voltar para casa e receber todo o carinho de sua esposa. Ela disse “encomendar nosso bebê”? E ele apenas concordou?! Será que ligara para rir dela, considera. Não pode evitar questionar-se se tudo foi uma grande encenação. Ele a fizera se render, pedir perdão, dizer que o amava para simplesmente rir dela no final. Seria isso? Coloca o rosto sobre o travesseiro, numa tentativa de sufocar o choro.
Justin amava a esposa, a seu ver. Pode ser até mesmo que tivesse dito a verdade quanto ao que sentia por Britney, mas isso não o impediria de ainda amar também a esposa, ela cogita. Imagina se o acidente poderia ter sido um fato que o abalara ao ponto de perceber que queria ainda estar casado. Muitas pessoas sentem um “chacoalhão” em situações extremas que as fazem repensar toda uma vida, então Justin poderia ter passado por algo parecido. No entanto, falar de filhos era um grande passo para quem estava em um quarto de hotel com outra mulher pouco tempo antes. Dentre todas as perguntas que ela poderia fazer agora, havia uma resposta que seria o suficiente para responder cada uma delas: Quem era Justin, afinal de contas?
Los Angeles (2014)
- É melhor você ficar, Jess. Sei que tem muita coisa a fazer.
Um mês havia se passado desde a última noite em que falara com Britney. Quase falara, na verdade. Desde então, ligou todas as noites, mas de nada adiantava. Ela não o atendia e a cada tentativa frustrada, seu coração parecia perder um pedacinho.
Jess parecia bem melhor agora, apesar de que o distanciamento do marido ainda a deixasse visivelmente abalada. Justin não fora capaz de beijá-la nas últimas semanas e sentia que não podia fazê-lo em hipótese alguma. Estaria enganando a esposa e traindo Britney. Por mais que seu grande amor parecesse não estar mais disposta a lutar pelos dois, ele tinha disposição para ambos e não desistiria.
Pensou que assim, Jess desconfiaria e talvez começasse a aceitar a ideia do divórcio, mas aparentemente a esposa continua a acreditar que há uma solução para os dois e voltara a mencionar outras vezes sobre tentarem ter um filho. Ele não negava veemente pois sabia que precisava ter cuidado com palavras e atitudes naquele momento, mas também não lhe dava esperança alguma.
Dessa forma, decidiu focar em sua turnê e nos próximos shows que seriam em Vegas. Toda e qualquer oportunidade que tinha de se dedicar ao trabalho servia como uma desculpa para estar distante e escapar de toda e qualquer aproximação de Jess.
Dentro de dois dias, estaria pisando em Las Vegas novamente. Arrumara as malas com bastante antecedência, tamanha era a ansiedade por voltar. Os shows só começariam dentro de cinco dias, mas ele jamais perderia a oportunidade de ir antes para resolver suas pendências.
Jess parecia desanimada por não poder acompanhá-lo, pois tinha muito o que trabalhar naquela semana. Além disso, Justin deixara claro, ainda que sutilmente, que precisava de espaço.
Agora teria o que julgava ser sua última chance. Não sabia nem ao menos o que dizer a Britney quando a visse. Não sabia nem se ela o ouviria, mas ele passaria todos aqueles dias tentando encontrá-la.
Las Vegas (2014)
- Olha, mãe!
Sean corria a toda velocidade com o skate pelo jardim.
- Muito bem, querido!
Britney agora concentrara ainda mais seu tempo reclusa, evitando o Planet Hollywood o máximo que podia. Ao sair de um show, ia direto para casa, por mais cansada que estivesse. O quarto do hotel não era mais refúgio e provavelmente jamais voltaria a ser. As paredes só lhe traziam lembranças que, de tão boas, lhe causavam dor.
“Eu vou voltar.”
A frase vinha em sua mente toda noite, antes de dormir, e a fazia cair no sono em meio a lágrimas. Ele não voltaria nunca mais, tinha certeza disso. Por mais que continuasse a receber ligações de Justin, podia jurar que ele não se desconectaria da esposa tão cedo.
“Nosso bebê...”
Desde que ouvira aquele diálogo, ficava imaginando Justin como pai pois sabe que ele seria perfeito para isso. Sentia o coração apertar ao se lembrar de como ele tratava seus filhos, com tanto respeito e carinho. Não era possível que um homem tão doce e atencioso com seus filhos desejasse fazer mal a ela. Como alguém poderia ser tão baixo a ponto de se aproximar de toda a sua família para simplesmente abandonar tudo em questão de poucas horas, reflete.
Teria agora de voltar à vida de antes e tentar esquecê-lo. Já não suportava mais seus pais em sua cola, tentando adivinhar no que estava pensando e aconselhando-a a sair e se divertir. No entanto, a “normalidade” já não lhe parecia em nada reconfortante ou segura. Ela estava viciada nele novamente, na sensação que seus toques lhe causavam, seu sorriso, seu cheiro, tudo.
Lynne insistia em lhe dizer que para superar, ela precisaria sair com outro alguém. Podia compreender a perspectiva de sua mãe, mas sabia que ninguém poderia fazê-la se esquecer dele.
__
Já era noite e Justin chegava em seu hotel. Ao longo do caminho, observara os prédios e os carros ao seu redor, sentindo o coração se aquecer ao acessar as lembranças que a cidade lhe trazia. Estava respirando o mesmo ar que ela agora.
Permitiu-se tomar um banho antes de qualquer coisa. Desde o instante em que estivesse arrumado, sairia em direção à casa dela ou ao próprio Planet Hollywood e a faria ouvi-lo, nem que precisasse gritar aos quatro cantos. Ele pega o telefone assim que deixa o banho e disca pela milésima vez, sendo mais uma vez ignorado. Não se dá por vencido e continua a tentar.
Provavelmente ligara mais de vinte vezes. Era isso o que devia ter feito desde o início. Percebe que deveria ter ligado incessantemente em sua casa, mas Jess não lhe dava a privacidade necessária para isso. O máximo que pudera fazer era ligar duas ou três vezes por noite, até que começou a desistir e concentrar-se em procurá-la pessoalmente. Agora reconhece que, não fosse por Jess em sua cola o tempo todo, talvez tivesse conseguido fazer Britney atendê-lo o quanto antes.
- O que quer?
Justin sorri ao finalmente ouvir uma resposta a seu chamado. Estava há um mês desejando ouvir aquela voz, ainda que ela soasse tão cheia de raiva. Diverte-se ao pensar em como se derrete por ela mesmo assim.
- Preciso te ver.
- Não precisa.
- Temos que conversar, Britney. Por favor. Eu tenho muitas coisas a explicar.
- Não precisa me explicar, sabe disso. Eu entendi perfeitamente. Sua esposa está bem. Vocês estão bem.
- Estou em Vegas.
Ela fica em silêncio.
- Vou ao Planet Hollywood na frente de todo mundo se quiser. Não me importo.
- Vai me esperar como te esperei?
Justin sente-se golpeado, mas não se intimida.
- Posso ir para a sua casa agora mesmo se for preciso e não me importo em buzinar até alguém me atender.
Não importa o que ela diga. Dessa vez, nada o fará desistir dos dois. Ele a ouve suspirar.
- Depois do show.
- Certo. – Diz em triunfo.
- A vaga não estará livre.
- Te mando a placa do carro do táxi e você pede para deixarem o carro entrar.
- Ok.
Ela desliga o telefone sem qualquer despedida. Se não estivesse tão cauteloso naquele momento, teria dito um “amo você” sem pensar.
__
Talvez Britney nunca estivera tão nervosa como agora. Nem em sua estreia em Vegas se sentira assim.
O show havia sido uma verdadeira eternidade naquela noite. Após deixar o palco, ainda preparava-se psicologicamente para entrar naquele quarto de hotel. Não entrara lá mais desde a noite em que se despedira de Justin. Tomou um banho rapidamente e arrumou-se mais do que o habitual. Sentia-se mal por lembrar o quanto se preocupara com sua aparência para recebê-lo um mês antes ali mesmo. Agora estava se arrumando para mandá-lo embora de sua vida.
Poderia colocar uma roupa decotada, mas isso faria parecer que queria a atenção dele. Colocou então um short preto, acompanhado de uma camisa feminina em tom rosa claro a qual colocou para dentro do short. Se Justin a achava tão linda como dizia, usar um short em tom casual com certeza o torturaria naquela noite. A ironia de toda a situação lhe arranca um sorriso. Há um mês, sentia vergonha em vê-lo analisando seu corpo e agora arrumava-se provocante a fim de deixá-lo louco. De alguma forma, Justin lhe trouxera segurança. Podia não ser uma segurança constante, mas ela com certeza a ajudaria naquela noite.
Checa seu celular e há duas mensagens dele. Uma fora enviada há quase uma hora. Ele apenas avisava o horário em que chegaria. Na outra, havia a placa do carro, enviada há três minutos. Pega o telefone do quarto e liga para a recepção.
__
Justin sobe o elevador de serviços, andando de um lado para outro. Sentia seu corpo todo vacilar só de pensar que a veria novamente. Ao chegar à porta, toca a campainha com os dedos trêmulos. A porta se abre e ele se depara com uma verdadeira boneca. Ela está usando short, analisa. Ah não. Antes de qualquer coisa, teria de se concentrar em não a agarrar naquele instante.
- Britney...
Tenta se aproximar, mas ela se afasta bruscamente. Justin então se dirige ao sofá e senta-se. Não suportava ser rejeitado por ela assim. O olhar de desprezo que sentia sobre si agora o deixava mais arrasado. Ele suspira.
- Eu não estou bem com a minha esposa.
- Engraçado, porque me parece que estão encomendando um bebê, não é mesmo?
Merda. Agora se lembrava do que Jess dissera. Nem podia acreditar que de todas as coisas que Britney poderia ter ouvido naquele último mês, foi essa a frase que ela ouviu.
- Ela está vulnerável. - Murmura. – Jess estava muito sensível quando cheguei em Los Angeles. Eu não podia deixá-la sozinha. Ela passou por um momento delicado e eu nem sequer estava lá.
Ele começa a dizer aquelas frases soltas, acreditando estar se explicando, mas na verdade, estava desabafando.
- Eu me senti mal por ela, mas não deixei de pensar em você nem por um minuto! Eu peguei no sono e não vi a hora. Quando dei por mim já era outro dia e então corri para a cozinha para falar com você. De repente, ela apareceu.
Britney permanece em pé, olhando para ele. Se ele pensava que com aquela carinha de coitado ele a convenceria de que tudo não passava de um mal-entendido, teria um imenso prazer em dizer-lhe que estava enganado. Poderia aceitar muita coisa vinda dele, mas aquilo... Aquilo já era demais.
Ao procurar nos olhos dela algum vestígio de compaixão e não encontrar nada, ele continua a explicar.
- Ela disse aquilo tudo porque estava triste. Eu queria dizer que não podíamos mais ficar juntos, mas aquela não era a hora.
- Você teve um mês para isso.
Ele para ao ouvi-la acusar-lhe.
- Acredite... Não é tão simples assim. Eu teria tentado resolver tudo o quanto antes, mas ela precisava de alguém por perto. – Suspira. - Ela perdeu um bebê, Britney. Ela estava esperando um filho meu. Não era acidente nenhum. Era um bebê.
Justin tenta enfatizar sua declaração. De repente, nota aquele rosto impassível mudar. Ela começa a se sentar lentamente na pequena cadeira em frente à mesa da sala.
Britney sente uma onda de compaixão e ciúmes juntos atingi-la. Podia entender a situação de Jessica naquela noite. Sabia exatamente como sentira falta dele na fatídica noite em que saíra do hospital ainda confusa com o que lhe passara. Felicia dormiu em seu quarto de hotel para lhe fazer companhia e seria grata à amiga pelo resto de sua vida, mas nada se comparava a ter Justin por perto. Era ele quem realmente desejara ao seu lado, mas não foi possível. Sente-se desmoronar ao pensar em como tudo isso era injusto.
- Britney?
Ele se levanta rapidamente e vem em sua direção ao vê-la chorar. Agacha-se diante dela, segurando suas mãos.
- Pinky, me perdoe. Eu sei que errei em ter demorado a ligar, mas juro que tentei. Jess não me deixava sair de perto dela. Por isso foi difícil. Por favor... Preciso que me entenda.
- Ela não melhorou ainda?
Justin sente o coração partir ao ouvir aquela voz tão angustiada lhe perguntar.
- Melhorou bastante, mas parece ainda muito sensível. Ela tentou engravidar sem que eu soubesse. Esse bebê era esperado por ela, sem que eu tivesse qualquer noção do que estava acontecendo. Por isso ela insiste em termos um filho, mas eu juro que desde que voltei para casa, não a toquei nem uma vez sequer.
- Então por que não foi embora de lá ainda?
Ela começa a se erguer, passando por ele. Seu rosto transmite raiva.
- Porque está tudo muito recente. - Começa, cauteloso. – Ela ainda me parece um pouco desequilibrada pelo que aconteceu.
- E até quando vai continuar desequilibrada? Ou você pensa que ela vai melhorar completamente sabendo que você está prestes a dar adeus ao casamento no instante em que isso acontecer?
Justin se surpreende ao ouvi-la. Britney podia estar com raiva, mas não era possível que não podia se solidarizar com a dor de uma mulher que perdera um filho.
- Acredite, essas coisas requerem paciência.
Ela ri e o sarcasmo predomina em sua voz.
- Nem se eu tivesse toda a paciência do mundo, ela se recuperaria, Justin. Você não enxerga. Ela quer te prender àquela casa.
- Britney, não é assim. Ela não é uma vilã. Por favor, precisa entender o lado dela.
Ouvi-lo falar daquela maneira lhe causava uma raiva crescente, pois era ele quem não entendia. Ela sim sabia muito bem como era se sentir naquele lugar. Jessica não ficou sozinha. Então ela podia superar aquilo, assim como Britney superou. A compaixão que sentira segundos atrás agora estava desaparecendo.
- Não me diga para entender algo que você não entende, Justin.
Não suporta mais ficar ali naquele mesmo cômodo que ele. Aquilo não a está fazendo bem.
- Vá embora, Justin. Por favor. – Pede sem lhe dirigir o olhar.
Ele continua parado, ajoelhado no chão, incrédulo.
- Você não vai me ouvir?
- Eu já ouvi o bastante. – Sua voz soa áspera.
Britney começa a caminhar em direção a janela aberta, buscando conforto naquela brisa que começava a entrar no cômodo.
- Você não me ouviu de verdade. – Justin começa a se levantar. – Você não me entendeu. Britney... – Aproxima-se. - Ela perdeu um filho meu. – diz lentamente, como se explicasse aquilo a uma criança.
- Eu também! E você não estava lá! – Vira-se.
Justin para, chocado ao olhar para ela.
- E eu não programei nada! Eu não sabia que esperava um filho seu! - As palavras saem desenfreadas. - Eu senti tanta dor naquela noite! Felicia ficou tão assustada que me levou ao hospital... Eu tive um sangramento ainda no carro... No meio do caminho... – Seu olhar se distancia na medida em que as palavras saem.
Justin continua fitando-a sem qualquer reação aparente, tamanha a incredulidade.
- O médico me explicou que foi um aborto. Eu tentei te ligar, mas uma mulher atendeu e disse que estava dormindo! – Aponta para ele.
Agora sim, Justin podia entender do que ela falava quando alegou que não estava presente quando ela precisou. Se Jess fora capaz de fazê-lo se sentir um monstro, não havia palavras para descreverem como se sentia por Britney neste momento.
- Eu senti a sua falta naquela noite, mais do que em todas as outras. – A voz começa a enfraquecer. – Eu te desejei ali ao meu lado. Queria você segurando a minha mão, dizendo que eu ficaria bem. Eu quis tanto que me levasse para casa e cuidasse de mim. Meu Deus, eu estava tão assustada! Achei que você seria o único a me fazer me sentir bem naquela noite. Pensei que você iria me ver, mesmo que sentisse raiva pelo que fiz. Pensei que me colocaria para dormir, como fez na noite do aniversário. Você fez tanta falta naquela noite, mas eu consegui me reerguer sozinha, ainda que devagar. Portanto, não diga que não entendo. Você não tem o direito de me dizer isso. – Ela começa a se agachar até cair sentada no chão.
Britney não tem mais voz, nem forças para argumentar. Está esgotada física e emocionalmente agora. Por isso, chora compulsivamente, desistindo de continuar a falar.
Justin apenas a olha, frágil diante dele. Eles ainda eram tão jovens quando terminaram, que podia imaginar o quanto teria se sentido assustada. E pode jurar que teria feito qualquer coisa para encontrá-la no hospital, sem sombra de dúvidas. No entanto, ela teve de lidar com tudo sozinha mais uma vez.
Sente os olhos arderem. Não. Tem de ser forte por ela, mais do que foi por Jess. Justin então se movimenta depois de muito pensar. Caminha até ela e se agacha, mas Britney ainda assim continua a olhar para o chão. Ergue-a delicadamente e percebe que não há resistência alguma por parte dela.
Leva-a até a cama, onde a coloca e começa a tirar seus sapatos, enquanto ela tampa o rosto ao chorar. Em seguida, puxa o lençol e a empurra gentilmente para o canto, onde a acomoda. Antes de colocar o lençol sobre ela, ele tira a própria camiseta azul. Finalmente, Britney o encara, confusa. Ele desabotoa aquela camisa rosa que ela vestia e, ao tirá-la, ajuda-a a colocar sua camiseta. Ela apenas permite-o, ainda chorando. Por fim, Justin a cobre com o lençol. Vai para o outro lado da cama e tira seu calçado. Deita-se apenas de bermuda e a puxa para si.
Ele a beija na fronte.
- Desculpe se eu não estava lá, mas estou aqui agora. Então, por favor, deixa eu cuidar de você.
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