História Paixão Quase Impossível - Cenas de Um Crime - Dezessete

— Hoje nós vamos fazer algo diferente. — a delegada exclamou alto, abrindo abruptamente as cortinas.

Emma, ainda de olhos fechados, somente resmungou e cobriu o rosto com o travesseiro que Regina usara anteriormente.

— Amor, eu preciso que levante. — a morena continuou com o tom de voz alto.

— Amor... qual a necessidade de gritar a essa hora da manhã? — a voz rouca de Emma quase a fez desistir e se render às suas vontades.

Quase.

— Emm... — diminuiu o tom e engatinhou sobre a cama, montando sobre o corpo de Swan. — Levanta...

— Quantas xícaras de café já bebeu hoje? — questiona sem fazer menção de sair da posição – de bruços.

— Emma!

— Eu dormi tarde por sua culpa ontem, ok?

— E você não gostou?! — rebate. — Lembre-me disso da próxima vez pois aí não me aventuro para o meio das suas pernas. Se soubesse que reclamaria tanto hoje.... — deixou a frase no ar.

A delegada curvou-se colando seu corpo totalmente nas costas de Emma, então arrastou os lábios pelo ombro e pescoço, parando na orelha.

— Bom dia, meu bem. — disse com a voz propositalmente mais rouca e baixa.

— Bom dia, delegada. — Emma finalmente sorriu e abriu os olhos, a surpresa e emoção foram inevitáveis ao ver uma rosa diante de seus olhos. — Amor...

Sorrindo, Mills saiu de cima de Swan e deitou ao seu lado, podendo ver os olhos verdes que tanto amava. Seu sorriso se alargou ao vê-los marejados.

— Vamos tomar café da manhã lá fora, debaixo de uma enorme macieira que fica de frente para um lindo lago.

Incapaz de formar frases inteiras e que fizessem sentido, Emma assentiu repetidas vezes enquanto sorria mais e mais.

— Eu te amo. — a morena sussurrou como se fosse um segredo.

— Eu também te amo. — disse baixinho, a atenção fixa nos olhos da morena mais linda que já vira na vida. — Hoje é meu aniversário?

— Idiota. — riu, mas logo franziu a testa. — É seu aniversário? — Emma gargalhou.

— Não, pode ficar tranquila! Faço vinte e cinco ano que vem, no início do ano... — mordeu o lábio inferior e cerrou os olhos. — Quando é o seu?

A pergunta soou realmente curiosa.

Por mais que se conhecessem, não sabiam todas as coisas relacionadas a vida pessoal. Optaram por não saber sobre o aniversário já que não poderiam comemorar juntas.

— Em julho, dia quinze. — sorriu pequeno.

— Você é muito enérgica para uma senhora.

A delegada arregalou os verdadeiramente e Swan soltou uma gargalhada alta, pois era exatamente essa reação que esperava.

— Eu não sou velha, ok?

— Oh, não... Já vai fazer quarenta e um, e isso não é nenhuma novinha. — continuou a provocar, causando mais choque na delegada.

— Emma!

Sua risada não cessava.

— Pare de me provocar. — fechou a cara.

— Ok, ok... — inclinou-se para beija-la, mas a delegada desviou. — É brincadeira, linda. Eu te amo e não mudaria nada em você, em nós ou em como tudo aconteceu até chegarmos aqui.

— Hm. — arqueou a sobrancelha. — Eu sei que sou incrível! Estou melhor que muita novinha como você por aí...

— Regina!?

— Brincadeira, amor. — a beijou rapidamente. — Mas não sou eu que estou cansada depois da noite de ontem. — mexeu as sobrancelhas e levantou rapidamente, olhou uma última vez para Swan e saiu rindo.

✈️

Louise já estava ficando irritada pela insistência da amiga em checar o celular, mas não podia fazer nada. Voltou sua atenção para o espelho e terminou de fazer o primeiro delineado. Já estava devidamente arrumada em um jeans justo e de lavagem escura, blusa curta de alcinha e um casaco cheio e fofinho de cor rosa.

— Que droga! — ouviu Lizzie resmungar e a olhou através do espelho.

— O que houve? — pergunta, logo voltando sua atenção para o espelho para poder fazer o outro delineado.

— Ariana não me responde. — bufou alto e finalmente encarou a amiga, o que a fez se desconcentrar e borrar.

— Que merda! Por que me olha? Agora eu borrei meu delineado! — reclamou procurando pelo demaquilante.

— E eu lá sabia que você ia errar! — revirou os olhos e levantou, aproximou-se da bancada onde sua amiga se maquiava e encostou-se ali, de costas para o espelho. — Tem falado com a Emma?

A pergunta viera acompanhada de um intenso olhar de Elizabeth, o que dificultou para que Louise a encarasse de volta. Ficaram em silêncio por um bom tempo, até a loira voltar sua atenção para o espelho e limpar o borrado.

— Não muito. — respondera, curta.

Lizzie não falou mais nada, somente pegou o delineador e se encaixou entre as pernas da amiga. Sua mão descansou delicadamente sobre a bochecha de Louise, virando um pouco seu rosto para o lado.

Louise, petrificada, jurava que estava com falta de ar. Tentava disfarçar a respiração alterada por causa da aproximação e fixou seus olhos nos castanhos da amiga, alternando entre eles enquanto sentia o ar ficar cada vez mais escasso em seus pulmões.

— Não mexe. — Lizzie falou baixinho, estava tão perto que Louise sentiu seu hálito quente – o que a desconcertou ainda mais.

Coçando a garganta, falou:

— Você sabe maquiar? — cerrou os olhos.

— Eu sei usar muito bem as mãos. — falou com a expressão séria, mas o rosto de Louise corou violentamente, o que a fez gargalhar. — Minha mãe gosta de se maquiar em umas ocasiões e minha tia também, acabei aprendendo. — explicou calmamente.

— Hum.

— Agora fica quieta. — voltou a pedir. — Não olha para os meus olhos, porque fica muito para cima.

Louise desceu o olhar focando na boca da amiga e permaneceu quieta.

— Assim está ótimo! — sorriu.

Concentrada, Lizzie se aproximou um pouco mais e fez o primeiro traço. Calmamente, seguiu fazendo até estar satisfeita, comparou com o outro delineado e sorriu.

— Prontinho!

Sem conseguir falar, Louise sorriu agradecendo e tirou a amiga do meio de suas pernas.

🚓

—Obrigada...

Emma quebrou o silêncio agradável em que estavam. A loira estava sentada entre as pernas da delegada, que tinha as costas contra a macieira.

— Por que?

— Por ser você... por estar comigo...

Um sorriso bobo fora crescendo nos lábios da morena, que sentia o coração batendo descontrolado.

— Você é tão preciosa, meu amor... — virou-se parcialmente para olhar nos olhos de Regina. — Sabe disso, não é?

A delegada não respondeu, estava perdida demais nos verdes intensos da namorada, que brilhavam ao encará-la.

— As vezes lembro do dia em que nos conhecemos... — Emma cerrou os olhos e riu brevemente.

— Se você não estivesse usando aliança, as coisas entre nós teriam sido bem mais rápidas.

— Eu sabia! Percebi como seu olhar mudou ao ver minha aliança. — Swan voltou a rir e balançou a cabeça afirmativamente. — Nunca passou pela minha cabeça que eu poderia amar alguém. — segredou baixinho.

— Nunca amou?

— Não. Já me apaixonei, sim, algumas vezes, mas nunca amei. Eram paixões rápidas... — a delegada falava enquanto sua mão acariciava suavemente o braço da loira. — Não pensei que aconteceria agora, já na casa dos quarenta.

— Achou que por ter quarenta não amaria?

— Sim. Loucura, não é? — riu, negando com a cabeça.

— Depois de você, aprendi que as coisas podem ser bem imprevisíveis.

— De fato. Era uma paixão quase impossível, onde já se viu isso? A circunstância não era favorável, mas o universo decidiu nos juntar. Sequer nos apresentamos porque você viu que eu era casada, então veio sua denúncia depois de anos e, então estávamos sempre em meio a cenas de algum crime. Nada era favorável...

— Sim... Mas quando é pra ser....

— Eu concordo. — a apertou em seus braços, beijando abaixo da orelha de maneira suave. Deu uma risadinha ao perceber que Emma ficara arrepiada. — Sabe, cheguei até a mencionar com Zelena que me achava meio velha para tudo isso.

— Amor!? — Swan virou para encará-la nos olhos.

— Calma, linda. — selou seus lábios suavemente. — Ela espantou esses pensamentos da minha mente.

— Ótimo! Eu te amo, Regina, profundamente. Não mudaria nada em você ou relacionado a nós.

Regina sorriu abertamente ao ouvir essas palavras e sentiu o coração acelerar dentro do peito. Olhava para Emma com brilho nos olhos e o amor que lhe transbordava.

— Eu também, Emma. Eu amo você. — disse, por fim, com um enorme sorriso.

🚓

Regina estava terminando de lavar a louça quando ouviu passos atrás de si, mas somente riu e permaneceu com sua tarefa. Logo sentiu braços ao redor de sua cintura.

— Tudo bem? — quebrou o silêncio após uns minutos.

— Uhum.

A delegada resmungou não acreditando nem um pouco na resposta que recebeu. Enxugou as mãos e virou no abraço, passando os braços pelos ombros de Emma.

— O que houve? — pergunta carinhosamente.

— Nada... só preciso ficar um pouco assim com você. — diz baixo, deixando o rosto escondido no pescoço da delegada.

— Tá... Mas saiba que pode compartilhar qualquer coisa comigo, ok? Sinta-se à vontade para me dizer qualquer coisa.

— Eu sei, amor. — inspirou profundamente, se deliciando com o cheiro suave de Mills.

Depois de uns minutos abraçadas, a delegada sugeriu que fossem fazer algo e Emma aceitou imediatamente.

Por mais que quisesse compartilhar o que lhe afligia, Emma decidiu por não fazer e dar mais uma preocupação à Regina. Mais cedo ou mais tarde resolveria sua situação com Louise, não precisava preocupar ninguém.

Percebia que Mills tentava a todo custo esquecer o que acontecera, mas vez ou outra a via com o olhar perdido – mesmo que agora estivesse acontecendo com menos frequência do que antes. E, sempre que percebia a delegada com o olhar longe, a distraía com qualquer assunto que lhe fosse interessante.

✈️

— Vai ficar com essa cara a noite toda? — Lizzie pergunta calmamente.

De um lado Louise e do outro Ariana, logo a sua frente Arthur e Ed. Um rapaz tocava violão enquanto cantava uma música suave na companhia da namorada. O ambiente estava agradável.

— Essa é a única que eu tenho.

A resposta de Louise só fez Lizzie rir. Diferente do que causava em outras pessoas, as respostas secas da loira só a fazia rir.

Decidiu ignorar a amiga por enquanto e se aproximou de Ariana, passando o braço pelos ombros da garota.

— Você também vai ficar assim?

— Eu não quero, mas...

— Mas...?

— A sua amiga parece que vai me assassinar. — disse mais baixo.

— Ela sempre está assim.

— Claro. — Lizzie se afastou minimamente ao perceber o tom de Ariana.

— O que está querendo dizer, Ari? Diga logo.

Ariana cerrou os olhos e soltou a respiração, cansada.

— Ela gosta de você, Lizzie, não quis dizer antes porque achei que soubesse. Mas percebo que não. E é tão óbvio.

Lizzie soltou uma risada.

— O que!? De onde tirou isso? — Ariana não riu, o que a fez deduzir que falava sério. Elizabeth então parou de rir e franziu as sobrancelhas. — Sabe que ela é hétero, não é?

— Claro, tão hétero quanto eu ou você.

Ao terminar de falar, levantou e a deixou para trás.

Lizzie não teve nenhuma reação, estava muito chocada. Sua mente vagando por todos os acontecimentos durante sua amizade com Louise até o presente momento.

Minha cabeça vai explodir pensou se amaldiçoando por ter deixado a fala de Ariana entrar tão facilmente na sua cabeça, martirizando-a.

Mas será?