O último dia de aula de Jungwon em sua escola ocorreu numa ensolarada sexta-feira, que não combinava muito com seu humor. Diferente do dia anterior, quando andou de mãos dadas com Jake e aproveitou seu tempo com ele, hoje não podia evitar se sentir um pouco deprimido; parecia que tudo tinha um gosto agridoce. Vestiu o uniforme pela última vez, pegou o ônibus pela última vez e entrou na escola pela última vez. Quando chegou, a sala ainda estava vazia, por isso teve um tempo sozinho para andar de um lado para o outro, reparar em detalhes que antes tinham passado despercebidos e escrever seu último recado no quadro.
Estava se afundando em melancolia quando sentiu alguém o abraçar por trás. No mesmo instante, o cheiro familiar do shampoo de Jake adentrou suas narinas, o que o fez sorrir. O outro sorriu em sua direção também e pegou em sua mão. Eles estavam sentindo a mesma coisa.
A manhã passou da mesma forma de sempre. Ele entregou as provas para o professor de biologia e ficou feliz porque Jake tirou uma nota razoável, mesmo que tivesse reclamado bastante para estudar aquele conteúdo. Lanchou com Sunoo enquanto assistiam ao jogo de futebol e Jake lhe oferecia mais um gol, e passou o resto do intervalo de mãos dadas com o namorado. No entanto, pequenas coisas o chatearam: quando o professor disse que deviam fazer uma tarefa para entregar na semana seguinte, quando a prova de matemática foi marcada para dali a quinze dias, ou quando ficou sabendo de um evento esportivo que a escola estaria sediando no próximo mês, no qual Jake iria jogar futebol. Saber que não estaria lá para viver nenhuma dessas coisas lhe trazia um vazio muito grande.
Quando o sinal do fim das aulas soou, ele se pôs de pé e pediu um minuto para falar com seus colegas. Todos estavam em clima de final de semana, conversavam alto e muito animados, alguns já estavam até na porta com suas mochilas. Assim que ele caminhou até o centro da sala e pediu atenção, os amigos de Jake brincaram perguntando se hoje os dois iriam anunciar seu casamento; parecia que o líder da turma tinha uma novidade a cada dia. A de agora, no entanto, não era nada boa. Quando ouviram que ele estava saindo da escola porque iria se mudar, todos ficaram em choque. Sunoo se levantou no mesmo instante e começou a questionar o que estava acontecendo, enquanto Jake apenas ouvia cabisbaixo.
— Vou me mudar com a minha família para uma cidade que fica há duas horas daqui, então não posso mais frequentar essa escola. Não quis dizer antes porque queria aproveitar os meus dias aqui até o final, sabia que se falasse, todos iriam ficar tristes...
— Mas você devia ter dito! — Sunoo protestou, com lágrimas já se formando em seus olhos. — Podíamos ter feito uma festa de despedida! Você não pode ir embora desse jeito!
Os demais concordaram com ele, mas Jungwon estava agradecido de qualquer forma. Não precisava de uma festa, só queria poder se despedir de todos com um abraço. Sendo assim, eles foram se enfileirando e, um a um, se aproximaram para lhe abraçar e desejar boa sorte no futuro. Alguns estavam até emocionados; Jungwon não imaginava que era tão querido assim por seus colegas. Sentiria falta deles todos os dias.
— Que mancada! — Um dos amigos de Jake comentou preocupado. — Vocês recém começaram a namorar, como vai ser?
— Eu sei... — O Sim deu um longo suspiro. — Vamos nos falar pelo telefone e nos ver nos finais de semana, é o que podemos fazer...
— Eu achei que seria estranho te ver namorando o líder da turma, mas é ainda mais estranho não ter ele mais aqui. Preferia ver vocês dois de mãos dadas do que isso, não é justo!
Jake deu um sorrisinho.
— Eu sei... Obrigado por se importar.
Os dois bateram as mãos e então correram para se despedir de Jungwon também. Depois que a professora passou um bom tempo falando com ele, Sunoo o agarrou aos prantos e disse que não iria deixá-lo ir, que não era justo perder seu companheiro de lanche e de fofocas. Graças a Jungwon, sua adaptação na escola nova tinha sido muito tranquila.
— Jake vai cuidar de você. — Jungwon colocou as duas mãos nos ombros dele e o tranquilizou. — Ele vai te fazer companhia no intervalo, não se preocupe.
— Mas eu não quero ele, eu quero você! — O Kim fez um bico. — Não é a mesma coisa.
— E quem disse que eu quero te fazer companhia? — Jake retrucou.
Jungwon olhou para os dois e deu um sorrisinho.
— Não briguem na minha ausência, senão eu vou ter que vir aqui apartar!
— Sério? Então eu vou brigar com ele todos os dias! — Sunoo deu um tapa no braço de Jake, que resmungou e bateu nele de volta.
Por fim, o Kim se despediu com mais um abraço e disse que iria visitá-lo assim que possível. Quando Jungwon ficou a sós com o namorado, ele pulou em seus braços.
— Minha mãe quer falar com a sua, sobre eu poder ir te visitar, tudo bem? Você já falou com ela sobre nós?
O mais novo assentiu e deu um sorrisinho fraco.
— Já disse que estamos juntos e ela retrucou com um: 'Jake? Aquele menino que eu disse que é problemático?' — Ele colocou as mãos na cintura para imitá-la. — 'Tudo bem, você é jovem, está na idade de errar', e depois saiu e não disse mais nada.
— Eu, problemático? — Jake apontou para si, em choque. — É muita coragem dela dizer isso quando se casou com um homem que nem sequer reconhece os filhos!
— Minha mãe é maluca, não ligue. — Jungwon o abraçou de lado e então os dois saíram juntos da sala.
Ele deu uma última olhada na sala, e então apagou a luz e fechou a porta. Tentou manter um sorriso no rosto quando olhou novamente para o namorado, mas seu coração estava em frangalhos. Sentiria falta de absolutamente tudo daquela escola; tinha crescido ali e vivido seu primeiro amor debaixo daquele teto. Dizer adeus realmente doía de um jeito estranho.
A mãe de Jake estava aguardando os dois no carro, e eles foram de mãos dadas até a casa de Jungwon, sem falar muito. Quando chegaram, viram a senhora Yang carregando algumas caixas para fora, terminando de separar o que seria colocado no caminhão que viria no dia seguinte. Assim que viu o carro importado parar em frente à sua casa, ela observou curiosa. Seus outros filhos também estavam por lá; os gêmeos saíram correndo assim que viram Jake e quase o derrubaram no chão.
A senhora Sim assumiu a situação e foi conversar com a mãe de Jungwon. Ela parecia muito elegante para um lugar simples como aquele, então o contraste era engraçado. Depois de cumprimentá-la e se apresentar, disse que gostaria que seu filho pudesse frequentar a casa deles na nova cidade, que Jake gostaria de ficar perto do namorado e que também receberiam Jungwon em sua casa nos finais de semana. A senhora Yang não era uma mulher de muitas palavras; sabia que não tinha autoridade para proibir seu filho de passar os finais de semana com o namorado. A verdade era que o tinha deixado muito tempo sozinho e ele sabia cuidar de si mesmo. Sendo assim, concordou sem problemas e disse que receberia Jake em sua casa de bom grado. A senhora Sim ficou aliviada e bastante grata, mas isso não aliviava a dor dos dois. A distância ainda estaria lá. Quem ficou feliz foram os gêmeos; estavam animados em saber que Jake iria visitá-los na casa nova e queriam que ele viesse brincar todos os dias. Se pudesse, ele certamente iria.
Jungwon precisava organizar suas coisas, então se despediram com um abraço apertado. Com todo o caos da mudança que precisava ser organizado na casa nova durante o final de semana, a mãe de Jake avisou que o levaria para visitar no próximo final de semana. Seria a primeira vez que ficariam uma semana sem se ver, e nenhum deles sabia como seria.
Naquela noite, Jungwon teve dificuldade para pegar no sono, metade por causa da tristeza da mudança e metade por curiosidade. Não podia evitar, tinham lhe prometido um quarto só para si, com cama de casal e tudo mais. Para alguém que dormia em um beliche e dividia o quarto com uma pré-adolescente, duas crianças e um bebê, parecia um sonho ter privacidade.
Na manhã seguinte, o caminhão veio bem cedo para levar os pertences para a casa nova. O novo namorado de sua mãe tinha comprado um carro com sete lugares, então todos poderiam viajar confortavelmente, como se fossem uma família de verdade. Isso nunca tinha acontecido antes, por isso Jungwon estava muito surpreso. Enquanto seus irmãos falavam alto com entusiasmo dentro do carro, ele olhava pela janela para a casinha onde tinha morado por dezesseis anos. Era tão pequena e velha, mas tinha sido o lar de muitas memórias. Sentiria muita falta daquele bairro simples; até do ônibus que pegava para ir à escola. Estava melancólico e nostálgico, contrastando com o clima no resto do carro. Assim, quando pegaram a estrada, ele teve que se esforçar para deixar tudo aquilo para trás. Enquanto segurava a pulseira com o pingente de cachorro, sentia que o que tinha de mais precioso eram suas memórias com Jake; essas, certamente, jamais esqueceria.
❈
No sábado à noite, Heeseung tinha ido buscar Sunoo para o baile, como combinado. Durante a semana, o Kim tinha recebido um vestido longo preto elegante, sapatos, uma peruca loira de cabelos longos de muita qualidade e joias caríssimas. Sendo assim, no dia do baile de gala, ele fez sua maquiagem, colocou a peruca, o vestido e os sapatos, e por fim se admirou no espelho com aquelas joias, que deviam valer uma fortuna. Modéstia à parte, realmente tinha ficado parecendo uma mulher bonita. O que podia fazer se conseguia arrasar em ambos os sexos?
O Lee veio recebê-lo na porta. Vestia um terno preto elegante, com camisa branca e gravata preta; tinha apostado no tradicional para não errar, e realmente não tinha errado. Quando o viu assim, Sunoo pensou que ele nem parecia o garoto idiota que tinha enfrentado no jogo de tênis naquele final de semana. Do outro lado, Heeseung estava boquiaberto.
— Eu tinha razão quando achei que você ficaria muito bem de mulher. — Ele limpou a garganta, um pouco sem jeito. — Vai enganar todo mundo.
— Lógico que vou! — O Kim jogou o cabelo comprido. — Eu disse que ia ser a garota mais linda da sua festa!
Dito isso, ele ergueu a mão e o Lee o ajudou a descer as escadas. Quando se acomodaram lado a lado no carro, como o clima estava muito estranho, cada um ficou olhando por uma janela enquanto ouviam o jazz que vinha do rádio. Por sorte, a escola não era tão longe.
Depois que o motorista estacionou o carro no estacionamento, Heeseung ofereceu sua mão novamente e Sunoo a pegou sem cerimônias. Eles andaram de mãos dadas até o salão, e o Kim observava seus arredores com curiosidade. Aquela era uma escola realmente de ricos; tudo era luxuoso, e todos que passavam por ele estavam vestidos com roupas caras. Estaria reunido com a elite naquela noite, o que até para alguém como ele, que vinha de uma família com dinheiro, era interessante. Seus pais não faziam parte de tais círculos sociais.
Assim que entraram no salão, Sunoo observou o grande e majestoso lustre que preenchia o teto do local. Os jovens estavam de um lado para o outro, conversando e experimentando as bebidas que vinham sendo servidas pelos garçons. Quando um rapaz educado lhe ofereceu as que estavam em sua bandeja, ele pegou uma e virou sem pensar duas vezes. Logo sentiu a garganta queimar e encarou o outro um tanto surpreso.
— Tem álcool???
— Você nem me deu tempo de te avisar! — Ele riu. — Meus colegas sempre dão um jeito de deixar as bebidas da festa mais interessantes.
O Kim ficou muito chocado. Aquela não era uma festa de ensino médio? Pensou que, por ser em uma escola tão renomada, iriam supervisionar tudo, mas pelo visto se enganou. Ele ainda estava se abanando pelo calor que sentiu por conta da bebida quando dois garotos se aproximaram. Ao que parecia, eram amigos de Heeseung.
— Ei, essa é a sua namorada? — Um deles o olhou de cima a baixo. — Mandou bem, hein?
O Lee deu uma risadinha um tanto vaidoso e bateu as mãos com o amigo.
— Ela não é a garota mais linda dessa festa?
Sunoo colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha e sorriu um pouco timidamente. Apesar de tudo ser uma farsa, por algum motivo, os olhos de Heeseung estavam brilhando em sua direção.
— Com certeza! — o outro garoto respondeu. — E qual é o nome da princesa?
Ao ouvirem tal pergunta, os dois ficaram nervosos. Tinham combinado tudo, menos isso. Heeseung olhou para ele e então disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:
— Sunoola! Kim Sunoola.
Os dois amigos pareceram confusos com o nome diferente e inesperado. Enquanto isso, o Kim estava tentando disfarçar o desgosto; tinha odiado aquele nome ridículo! Será que Heeseung realmente não tinha um cérebro???
Quando as notícias de que o Lee tinha vindo acompanhado de sua "namorada que era uma beldade" se espalharam pelo salão, todos queriam saber quem era a tal Sunoola. Assim, Heeseung estava exibindo sua namorada falsa por todos os cantos; seu ego ia parar nas alturas quanto mais ela era elogiada. Sunoo logo percebeu que ele devia ter fama de perdedor, porque absolutamente todos que se aproximavam deles pareciam surpresos demais que ele tivesse uma namorada, ainda mais uma bonita como aquela. Devia ter passado todos os seus anos naquela escola sozinho, sonhando em namorar o melhor amigo que nunca daria bola para ele. Pelo visto, tinha vindo fazer caridade, e certamente iria cobrar por isso depois.
Heeseung estava impressionado com o desembaraço do outro. Ele era introvertido e quieto, não era bom em puxar assunto com desconhecidos, mas lá estava Sunoo, falando com todo mundo, inventando histórias mirabolantes; parecia a miss simpatia da festa. Absolutamente ninguém duvidava que era uma mulher, até tinha puxado assunto com algumas garotas sobre maquiagem, unhas e os atores famosos das novelas do momento. Era tão inacreditável que não podia deixar de admirá-lo por isso. Sunoo estava realmente salvando sua popularidade naquela escola.
Foi então que a música começou a tocar e vários casais foram até a pista. Como era um baile de gala, havia uma banda ao vivo tocando músicas lentas e hits do passado, nada popular ou a poluição sonora que os jovens costumavam gostar. Como Sunoo vinha de uma família rica, já tinha frequentado festas do tipo, por isso sabia como se portar. Sendo assim, Heeseung pegou em sua mão e o conduziu até a pista, e logo os dois estavam sincronizados para uma dança lenta. Dançar músicas lentas era algo que todo filho de família rica sabia fazer; aprendiam desde cedo para dar orgulho aos pais nas festas de família. Por isso, fazer algo assim era fácil para qualquer um ali.
Enquanto dançavam, eles não estavam dizendo nada, mas seus olhos se encontravam vez ou outra. Sunoo estava ciente da mão do Lee em sua cintura; seu aperto era caloroso, e ele podia ser um perdedor em muitas coisas, mas sabia como conduzir uma dança. Percebeu que vez ou outra os olhos dele iam parar em seus lábios, e parecia ser proposital, afinal de contas não estava falando nada. Logo, começou a sentir o corpo esquentar aos poucos. Não sabia ao certo se era porque tinha virado umas três bebidas mais cedo, ou se era porque estava começando a notar algo que ainda não tinha percebido no olhar do outro. Além do mais, o Lee era bonito, muito bonito inclusive. Estava ainda mais bonito essa noite. Seus ombros eram largos, uma mecha levemente avermelhada de seu cabelo caía pelo olho esquerdo, os brincos que trazia nas orelhas eram um detalhe charmoso, e seus lábios eram... beijáveis. Quando teve tal pensamento, suas bochechas coraram um pouco. Desde quando se sentia atraído por aquela pessoa?
Em certo ponto, a mão de Heeseung deslizou até suas costas e o trouxe mais para perto de si. Sunoo engoliu em seco e desviou o olhar dele. Como podia sentir cada um dos dedos dele por cima do vestido? E por que diabos ele não tirava a mão dali? Será que estava fazendo por gosto? Agora estava meio arrependido de tê-lo chamado de perdedor; quem sabe ele só não teve oportunidades antes.
— Você está muito bonito essa noite. — Heeseung cochichou no ouvido dele.
— Se você não fosse tão G A Y — ele pronunciou cada letra separadamente. —, eu iria achar que se apaixonou por mim de mulher.
O Lee deu uma risadinha.
— Você é bem mais interessante do que pensei. Confesso que te julguei cedo demais, mas você parecia muito irritante naquele dia na casa de campo.
— Penso igual. — Sunoo o encarou como se estivesse olhando dentro da sua alma. — Aquele dia, achei que você fosse um completo perdedor, mas agora só acho que você é um perdedor.
A mão que segurava o Kim nas costas, voltou para sua cintura e ele o apertou de leve. Com a outra, que segurava sua mão, ele entrelaçou seus dedos. Ao sentir aqueles toques, Sunoo engoliu em seco.
— Perdedor? — Agora havia um sorrisinho no canto dos lábios dele. — Eu posso te provar o contrário, se quiser.
— Como?
Ele se aproximou do ouvido de Sunoo e cochichou.
— Meus pais não estão em casa, quer ir para lá?
Dito isso, ele separou suas mãos e se afastou, indo até um dos garçons para pegar uma bebida e virá-la de vez. Ele não era bom com isso, nunca tinha sido; afinal de contas, passou a vida inteira apaixonado por seu melhor amigo. Não era do tipo que flertava, só tinha beijado umas duas vezes na vida e depois se arrependeu, obviamente era virgem. Por isso, suas orelhas estavam pegando fogo e sua expressão estava uma bagunça agora, mas Sunoo não podia ver porque estava de costas. Será que tinha ficado maluco? Tinha acabado de convidar aquele garoto para ficar sozinho com ele em sua casa?
— Estou te esperando do lado de fora. — O Kim se aproximou e cochichou em seu ouvido, depois deu as costas e saiu andando cheio de pose até a porta do salão.
Heeseung sentiu o corpo todo tremer, então virou mais um copo de bebida e saiu correndo para acompanhá-lo. No entanto, achava que não haveria bebida no mundo que o faria relaxar nesse momento.
Os dois se sentaram lado a lado no banco de trás do carro, e o clima parecia tão esquisito quanto na viagem de ida. Cada um olhava para uma janela e, vez ou outra, soltava um suspiro. O Lee só conseguia pensar que tinha se metido em uma enrascada; parecia que tinha ficado maluco naquela batalha de egos com o Kim e tentou se provar mais do que sabia que podia entregar. Não tinha experiência nenhuma, nem sequer era do tipo que assistia pornô, no máximo tinha visto uns animes de conteúdo adulto gay. Do outro lado, Sunoo queria abrir a porta do carro e se atirar para fora; não conseguia acreditar que tinha aceitado tal proposta de um semi desconhecido e agora estava indo para casa dele fazer aquilo. Tinha ficado maluco de vez.
Quando o motorista estacionou na garagem, Heeseung o dispensou e desejou boa noite. Ele conduziu o Kim até sua casa e, realmente, não havia ninguém; estava tudo escuro porque os empregados já tinham se recolhido. Ele apontou meio sem jeito para as escadas, e Sunoo estava nervoso demais para sequer reparar na decoração da casa, coisa que sempre fazia quando visitava alguém. Logo que pisou no quarto dele, deu uma olhada em volta e tremeu quando ele fechou a porta atrás de si.
— Então, estamos aqui. — O Lee o empurrou de leve contra a porta e espalmou as duas mãos ao redor de sua cabeça. — Finalmente sozinhos.
Sunoo engoliu em seco.
— É, sozinhos.
O clima estava muito esquisito, e quase um minuto inteiro se passou enquanto parecia que nenhum dos dois sabia o que fazer.
— Você não vai... me beijar? — O Kim enrolou uma mecha de cabelo no dedo e o encarou de forma inocente.
— Eu posso? — Heeseung perguntou nervoso.
— Não viemos aqui para isso?
O Lee assentiu e colocou uma das mãos na bochecha dele. Nenhum dos dois queria pensar no que estavam fazendo quando seus lábios se juntaram para um beijo menos afobado do que a situação pedia, como se ambos estivessem sendo cuidadosos demais. Contudo, não pareceu ruim, então eles ficaram se beijando por um tempo. Em certo ponto, Heeseung puxou de leve a peruca do outro, que caiu aos seus pés. Ele então afagou seus cabelos devagar e o Kim gostou disso, era a primeira vez que achava que ele não estava interessado por sua aparência como mulher — por mais estranho que isso parecesse, afinal o Lee era gay.
Heeseung o carregou nos braços e o jogou em cima de sua cama. Ele sabia que era mais a bebida fazendo por ele do que ele em si, não se imagina fazendo esse tipo de coisa. Quando subiu por cima dele para beijá-lo novamente, notou que o Kim tinha facilmente desfeito o nó de sua gravata, então ele procurou pelo zíper do vestido dele e com certa dificuldade conseguiu abri-lo, tirando por seus braços até ficar apenas em sua cintura. Parecia que tudo estava certo, porém ambos estavam pirando dentro de suas cabeças e não queriam admitir. Nenhum deles sabia o que fazer; suas mãos tremiam como o inferno. Não queriam dar o braço a torcer, mas parecia tão errado. Foi então que Sunoo pensou em algo que poderia safá-lo daquela situação.
— Heeseung... — Ele afastou seus lábios e o encarou. — Você tem... aquilo?
— Aquilo o quê?
— Camisinha...
O Lee arregalou os olhos e pensou por um segundo. É claro que não tinha isso, por que teria? Não havia a menor possibilidade de dormir com um cara, pelo menos isso não existia em sua vida até meia hora atrás. No entanto, iria parecer um perdedor se confessasse isso, por isso levantou e fingiu que ia olhar em sua carteira. Como obviamente não encontrou nada lá, foi ver na gaveta do banheiro. Enquanto isso, Sunoo viu seu reflexo no espelho do quarto e ficou envergonhado, estava despido da barriga para cima, por isso logo puxou o vestido para se cobrir.
— Não tenho, devo ter usado da última vez. — Ele mentiu. — Posso ir comprar na farmácia aqui perto.
Enquanto dizia isso, o Lee rezava mentalmente para que o outro dissesse que não, estava morrendo de vergonha só de pensar em ter que ir comprar camisinha, nunca tinha feito isso.
— Não! — Sunoo falou um pouco entusiasmado demais, então tentou mudar o tom. — Quer dizer, já está tarde e vai acabar demorando muito, meus pais já devem ter chegado em casa, acho que eu devia ir...
— Ah... — Heeseung coçou a lateral do pescoço e disfarçou. — É uma pena porque eu estava gostando bastante... mas se você tem que ir...
— Eu também estava gostando bastante... Quem sabe da próxima vez?
Não era mentira que tinham gostado, a questão é que estavam nervosos demais, tinham mentido demais e não queriam passar vergonha. No entanto, agora ambos pensavam que não seria ruim se tivessem sua primeira vez juntos, mas jamais iriam confessar algo assim.
— Da próxima vez! — Heeseung assentiu e olhou para ele, então andou meio torto e pegou uma muda de roupas no guarda-roupa. — Vista isso, eu já dispensei meu motorista, mas vou pedir um táxi para você, é melhor não ir desse jeito...
Sunoo agradeceu um pouco envergonhado e foi até o banheiro dele para trocar de roupa. Ele olhou seu reflexo no espelho e passou os dedos pelos lábios levemente inchados, sua maquiagem estava toda borrada e seus cabelos bagunçados, mas por algum motivo se sentiu bonito. Talvez era assim que se parecia quando era desejado por alguém? Nunca tinha sentido isso antes.
Depois de vestir as roupas do outro — que ficaram grandes, pois Lee era bem mais alto — e lavar o rosto na pia do banheiro, Sunoo devolveu a ele o vestido, os sapatos, a peruca e as joias. Como tinham combinado que ele ficaria com elas, Heeseung o presenteou, ao que ele agradeceu. As coisas estavam estranhas; sabia que deveria dizer algo do tipo 'agora você que me deve um favor', mas, por algum motivo, não quis encerrar a noite com uma provocação.
— Você me ajudou bastante — o Lee disse enquanto fazia companhia a ele na calçada, aguardando o táxi. — Obrigado.
— Que bom que ninguém desconfiou. — Sunoo deu um sorrisinho. — Acho que fiz um bom trabalho.
— Ficou bonito. — Heeseung confessou e então o olhou de cima a baixo, com aquelas roupas maiores do que ele. — Mas está mais bonito agora.
Aquilo foi tão inesperado que o Kim não soube o que dizer. Ele queria perguntar se era brincadeira, porém o táxi acabara de estacionar ao seu lado e o outro se despediu com um aceno de mão. Ele acenou de volta, muito confuso, e se sentou no banco de trás. Enquanto ia para casa, não sabia dizer o que tinha acontecido naquela noite; sentia que tinha enlouquecido completamente. E Heeseung estava da mesma forma; apoiado no portão pelo lado de dentro, ele balançava a cabeça sem sequer saber o que pensar. Quase tinha dormido com Kim Sunoo, e para completar, tinha acabado de dizer que ele estava bonito com suas roupas. Será que tinha ficado maluco de vez?
❈
Jungwon estava deslumbrado com sua casa nova. Seus irmãos e ele realmente tinham quartos separados, sua mãe tinha um estúdio de pintura, havia uma piscina enorme nos fundos e até uma cozinheira particular. Além disso, a casa ficava em um bairro seguro, muito diferente de onde moravam até então. Seus irmãos estavam agitados de lá para cá, enquanto ele fazia videochamada com Jake, que o ajudava a organizar o quarto. Apesar de já sentirem saudades um do outro, o Sim estava feliz vendo a animação do namorado ao mostrar a própria cama, o espaço que tinha agora para colocar suas coisas, e a escrivaninha onde poderia estudar em paz. Seu padrasto também havia comprado seu uniforme da nova escola, que era bem mais requintado que o da antiga, com paletó azul escuro, calça xadrez, gravata e boina. Jake pediu para vê-lo vestido nele e achou-o muito fofo, mas não podia negar que sentia o coração apertar ao vê-lo com o uniforme de outra escola.
— Você não vai se apaixonar por ninguém lá, né? — perguntou fazendo um bico com os lábios.
— Como eu poderia se já sou apaixonado por você?
— Sei lá, você vai estar tão bonito com o seu uniforme novo que não duvido que a escola inteira se apaixone por você!
Jungwon deu uma risada e balançou a cabeça; às vezes achava que Jake vivia em outra realidade, mas também o amava por isso.
— Eu vou dizer a eles que já tenho um namorado! — Ele balançou a pulseira em seu pulso. — E meu namorado está sempre comigo.
O Sim sorriu bobo e vaidoso ao ouvir aquelas palavras e repetiu a mesma coisa, balançando sua pulseira também. Sabia que não tinha motivo para sentir ciúmes, mas não podia evitar, pois achava que ele era o garoto mais lindo do mundo.
Depois do almoço de domingo — e ele ainda estava se acostumando com isso de almoço em família —, Jungwon estava organizando seus livros na prateleira do quarto quando ouviu o celular vibrar em cima do colchão. Ele pegou achando que era Jake mandando alguma coisa, mas logo ficou surpreso ao ver que a mensagem era de Sunoo.
“Eu estou aqui no portão da sua casa, pode abrir para mim?”
No mesmo instante, ele deu um salto e espiou pela janela do quarto; por sorte, ela dava para a frente da casa. Não era mentira; Sunoo estava ali mesmo. Mais cedo, tinha mandado uma mensagem perguntando seu endereço, alegando que viria visitá-lo no futuro. Pelo visto, parecia que o futuro dele era apenas algumas horas depois...
— Precisamos conversar!!! — Assim que o viu, o Kim correu e se jogou em seus braços.
— O que aconteceu??? — Jungwon o segurou confuso.
Seu padrasto estava por ali, fazendo a poda de umas plantas na frente da casa, então ficou surpreso com a cena que tinha acabado de ver.
— Nossa, o seu namorado é um pouco carente, né? — Riu.
Enquanto Jungwon explicava que ele tinha se confundido e Sunoo não era seu namorado, e sim seu amigo da escola, só conseguia pensar que se Jake visse uma cena dessas, ele subiria pelas paredes de tanto ciúme...
Jungwon levou o amigo até o andar de cima e preparou um chá para que ele se acalmasse. Sunoo deu uma olhada na decoração, disse que estava bonito, mas não concordou com nada que tinha sido escolha do Jake. Por fim, confessou o motivo que o tinha trazido até aquela cidade, a duas horas de distância, em pleno domingo. Depois que Jungwon ouviu sobre o baile de gala, e especialmente o que aconteceu depois, ele ficou bastante chocado.
— Eu só fui embora faz um dia e você se vestiu de mulher para ir a um baile com LEE HEESEUNG??? — Ele gritou aquele nome. — E não apenas isso, como quase dormiu com ele???
— EU SEI!!! — Sunoo puxou os próprios cabelos de forma dramática. — Eu fiquei maluco, não fiquei? Por que eu aceitei participar disso? Eu nem preciso do dinheiro daquelas joias!
— Você ficou. Quer dizer, Lee Heeseung? Ele não era apaixonado pelo Jake? — Jungwon refletiu. — Se bem que, não é má ideia se ele ficar com você...
— O QUÊ? — O Kim atirou uma almofada nele. — Você está me usando para afastar ele do seu namorado???
— Não estou! — Ele riu. — É só que eu jamais iria imaginar vocês dois juntos...
— Não estamos juntos... — Sunoo resmungou tímido.
— Mas você disse que sentiu vontade de... dormir com ele... e que vocês combinaram para uma próxima vez.
— EU SEI!!! — Sunoo puxou os próprios cabelos de forma dramática mais uma vez. — O que eu posso fazer? Ele é meio chato, mas é bonito. — Ele começou a listar, levantando um dedo para cada coisa. — E ele tem uma pegada que até agora ainda sinto a mão dele na minha cintura. E ele beija razoavelmente bem. E ele foi legal ontem, até me emprestou as roupas dele... Sabe o que é pior? Eu fiquei cheirando a blusa dele antes de dormir, e o cheiro era bom!!! — Ele fingiu chorar.
Jungwon cobriu a boca para não rir e balançou a cabeça.
— Bem, se ele é tudo isso que você diz, talvez não seja tão ruim investir nisso, né?
— Me sinto estúpido porque acho que fiquei balançado, mas ele não está interessado em mim, ele só quer dormir comigo...
— Será? Acho que você vai ter que descobrir. Quem sabe ele já tirou o Jake do coração dele? — Ele juntou as mãos como se fosse orar. — Eu espero que sim!
Sunoo ficou pensando sobre isso, mas não estava seguro. Não achava que alguém como Heeseung iria se interessar por ele; não combinavam em nada. No entanto, não era alguém que desistia tão fácil. Iria dar um jeito de descobrir como ele se sentia, por mais insano que tudo isso parecesse. Se soubesse que iria acabar se sentindo dessa forma, jamais teria aceitado o convite dele. Mas agora era tarde demais…
Depois de aconselhar o amigo e garantir que ele entrasse em segurança em um táxi para ir à rodoviária, Jungwon ficou refletindo sobre as mudanças. Só fazia um dia que tinha se mudado de cidade, e algo inesperado já tinha acontecido. Queria ter mais tempo para conversar com Sunoo e entender melhor seus sentimentos, fofocar com ele no intervalo das aulas e coisas assim, mas esse tempo não existia mais. Enquanto olhava para seu novo uniforme da escola, só conseguia pensar em seu primeiro dia na escola nova na manhã seguinte. Como serão as pessoas que encontrará por lá?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.