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História Paralelos - Desdobrando o Passado - História escrita por CherryCool - Spirit Fanfics e Histórias
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História Paralelos - Desdobrando o Passado


Escrita por: CherryCool e GaelSparda

Capítulo 3 - Desdobrando o Passado


SUA MÃE LHE disse certa vez que há mais mistério no coração de uma mulher do que se imagina. Aquele conhecimento compartilhado por ela, há anos, acerca da natureza íntima de um indivíduo do gênero se provou tão coerente e exato quanto a incapacidade de Gael em pensar — como se existisse um erro no processamento de dados básicos. A adrenalina trabalhou a mil em seu organismo, convocando uma série de reações metabólicas como a sudorese e o coração acelerado. Nem toda disciplina do mundo conseguia refrear o efeito que uma figura de grande autoridade e que, em teoria, era o gatilho para os futuros eventos incluindo a sua própria concepção, possuía.

E, subitamente, se sentiu humano e vulnerável. 

Eva não se portava como uma aristocrata altiva e fria tampouco demonstrava dureza ao expor a verdade, havia uma luminescência miraculosa nas orbes safira que baixou suas defesas ao ponto de sentir como se voltasse a ser uma criança que carecia de amparo. Igual quando sua mãe transbordava o que ele chamava de “explosão afetiva materna”. De fato, enxergou a sua progenitora ali, naquele olhar doce e singelo.



Sorriu por sua farsa ter sido descoberta tão rapidamente. Talvez tivesse assumido um papel bastante arriscado e julgado mal a imagem ingênua que alimentou da matriarca Sparda, entretanto, nunca imaginou que seria colocado contra a parede em tais circunstâncias sem nenhum direito de retração. Para piorar, seus sentimentos travaram um conflito sem vencedores, traindo de imediato em prol do respeito que construiu pela avó, toda a fé cega baseada em que ouviu. A área racional de seu cérebro se recusava a atender as demandas emotivas que consistiam em um abalo significativo de sua estabilidade e protestou diante dessa afetação e por ser tão tolo por não ser mais reservado em sua atuação naquele período.


Seus lábios se abriram, sem emitir som. O que deveria fazer? Como contornar a situação? O que dizer?


Diversas dúvidas de como proceder rondavam sua mente até que, por fim, decidiu pôr as cartas na mesa apesar de que, assim como contato com parente por intermédio de viagens temporais era um perigo, colocar lacunas na história seria catastrófico. A breve relutância em refutar a convicta afirmação se mitigou até desvanecer totalmente, transformada em uma determinação vacilante.

— Eu compreendo se não puder contar. — murmurou com afabilidade. — Se tratando de viagens no tempo, tudo que disser pode modificar o futuro drasticamente.

Agradeceu mentalmente pela sabedoria assertiva de Eva em abordar o caso e como todo o peso que se suplantava sobre seus ombros sumiu.

— Conheço bastante sobre magia. Meu marido me contou sobre e me ensinou a percepção dela. — sorriu, vasculhando cuidadosamente um armário. — E, ao te ver, pude notar o mana. Mas o que te denunciou foi seu físico.

Gael recordou como todos o comparavam com Dante à medida que ficava mais velho, vendo como a genética favorecia seus traços inumanos e, portanto, se tornando quase a cópia exata dele, apesar de ter aspectos bem evidentes da mãe como o nariz e o formato dos olhos. Em termos de estudos do campo da hereditariedade, independente da mistura, os genes de Sparda eram sempre dominantes como moldes de fisionomia.

— Você é idêntico ao meu Dante, quase posso vê-lo mais velho.

Cerrou o punho. Aquilo lhe soou tão doloroso e cruel justamente por saber o destino dela e de que não teria a chance de assistir de perto o crescimento físico e psicológico dos filhos. A morte dela marcou tanto seu tio que testemunhava o excesso de zelo dele sobre si e reforçava a ideia de que precisava ser forte para não perder ninguém. Segundo sua mãe, demorou anos para Vergil confrontar suas mágoas e o trauma e quanto essa perda o converteu em um homem obcecado por poder a todo custo.

Enterrei a luz. Ele costumava dizer com frequência.

— Mesmo que não possa falar muito...

— Ele é meu pai. O Dante. — proferiu com cautela, encorajado pelo instinto. — Sou o primogênito. Tenho duas irmãs mais novas.

Escutou o arfar suave da avó acompanhado por um semblante de admiração, não somente, uma devoção emotiva.

— Meu Dante... Quem diria. — Eva retirou do armário uma espécie de baú diminuto, tirando de dentro dele um artefato semelhante a um bracelete com um tipo de bússola no centro. Soprou a fina camada de poeira que se acentuou naquele curto espaço. — Isso é o Bracelete Do Tempo, foi desenvolvido justamente para tal feito. Infelizmente não funciona como desejava, mas creio que dá-lo a você terá um propósito melhor que permanecer empoeirado aqui.

Gael tocou o artefato, impressionado com sua estrutura complexa em uma simplória aparência.

— Não sei se deveria aceitar. — renunciou modesto, fitando a matriarca com pesar.

— Por favor, aceite. Ficaria feliz se permanecesse na família. — depositou o artefato sobre a mão de Gael que retesou. — Ainda mais com um neto.

— Agradeço. — aceitou resignado o objeto.

Antes que pudesse se deter, uma visão de seu pai fora evocada e seu estômago se encolheu em amargura. Não conseguia se dar totalmente bem com ele desde que o conheceu e também não fazia questão de restaurar uma relação fraterna que nunca existiu, mesmo com sua mãe contestando e dizendo que Dante cuidou dele durante um breve período e que sua atitude de rechaçá-lo só danificaria tudo que poderiam construir futuramente, não encarava as coisas desse jeito e ignorar os anos longe estava fora de questão. Chacoalhou a cabeça para afugentar pensamentos invasivos, encaixando o bracelete em si com bastante expectativa.

— Mãe! — uma voz gritou alto e claro.

— Desculpe, eu preciso ver o que houve. — fez um gesto apologético e saiu atrás das duas crianças, deixando Gael com seus pensamentos.

— Não! Não quero! — um traço de birra se acentuou no modo como um dos gêmeos falou. Eva retornou com Dante que não parecia muito feliz em ser arrastado para o local.

— Querido, você tem que parar de pegar no pé do seu irmão. — Eva repreendeu. — Você é um menino crescido.

— Não quero ajudar na estufa, mãe. É chato.

Assistindo o desenrolar da conversa, Gael imbuído de uma coragem tão ridiculamente estúpida para a situação, piscou e disse:

— Eu posso ajudar? — se deu um tapa mental por sua atitude impulsiva.

— Pode sim. — Eva sorriu.

Dante arregalou ligeiramente os olhos.

— Eu também vou!


×××


Dante não seguia muito o exemplo de alguém com sensibilidade ou dom com as plantas, suas mãos hiperativas agarravam as ervas delicadas com rudeza sem o mínimo de cuidado, o que rendeu muito sermão por parte de Eva pelos seus modos grosseiros com suas flores. Por mais que tentasse se convencer de que aquilo, de modo geral, se tratava de uma ocorrência boba, acabou rindo das maneiras do garoto que estava com terra desde a cabeça aos pés e resmungava por não ser liberado de seu castigo para fazer coisas mais divertidas. Ele não aparentava estar muito comprometido com a tarefa, porém, com a presença de Gael, quis, meio desajeitado e pouco prático, ser incluído em qualquer atividade por mais complexa que fosse.


— Ele parece determinado. — Gael comentou discretamente para Eva.


Eva mirou o filho como o estivesse lendo, vendo sua verdadeira intenção por trás das atitudes dele.


— Ele provavelmente está fazendo isso por você estar aqui.


Gael franziu o cenho.


— Ele está com ciúmes? — sorriu como se a ideia o instigasse a ironizar as circunstâncias, porém conteve seu ácido senso de humor. Observou com interesse o comportamento do garoto, desfrutando um pouco da evidente superproteção dele para com a Mãe.

Seu senso de responsabilidade apitou ao relembrar sua missão e o maior dos seus propósitos, visto que a cena em si o transportava ao passado onde ele próprio também se colocava na defensiva para que ninguém pudesse fazer algum mal à sua falecida progenitora.

Nunca antes vira sua mãe chorar tanto. Ela frequentemente ocultava boa parte de suas lamúrias para si, se recusando a dividi-las ou externá-las em público, exceto quando se tratava de Vergil. Tinha uma vaga ideia de que essa reclusão por parte dela se originou da preocupação em mantê-lo longe desse círculo de dor que somente seu tio conhecia tão bem — e que entendia que seria para seu bem. Não queria tê-la ferido verbalizando palavras tão ferinas e insensíveis que, nem seus sentimentos hostis que lentamente se dissolviam, justificavam tampouco sustentavam seu argumento.

— Desculpe, mãe. — impotente diante de seu perpétuo desgosto, desejando mudar suas ações ao encará-la. — Não foi minha intenção.

— Está tudo bem, querido. — enxugou as lágrimas. — Não tenho direito de mudar seu ponto de vista, só não quero que veja as coisas como se Dante tivesse te abandonado.

Fechou os olhos, apertando as pálpebras com pesar.

Por que lembrou disso? Por que agora?

— Está tudo bem, querido?

Arregalou os olhos, enxergando por um instante a imagem de sua mãe no lugar de Eva, o que arrancou o ar de seus pulmões.

Recuperado do susto, assentiu sorrindo.

Por mais que desejasse com todo seu ser não comparar as duas mulheres, os pequenos gestos e os sorrisos que Eva compartilhava tanto a Dante quanto a si, desarmaram suas defesas e se via a mercê de cada singela ação perpetrada pela avó, revivendo sua infância nos minutos que se arrastaram.

— Eu gostaria de saber... — murmurou, atraindo a atenção de Eva que terminava de examinar suas lavandas. — Sparda... Por que ele abandonou você e os gêmeos?



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