3 meses depois...
Era como se a cidade nunca tivesse tido um morador sequer. É como se o mundo estivesse em completo silencio. Tudo se foi. Não ouvimos mais sons de buzinas, pássaros, e ninguém apareceu durante esse período de tempo. Sem esse grupo que encontramos no supermercado, nunca mais vimos outra pessoa. Viva. Realmente viva, com todos os órgãos vitais funcionando e com sangue quente percorrendo as veias do corpo.
Eu estava sentada em uma caixa dentro do Walmart e minha mãe estava ao meu lado fazendo tarefas de casa comigo. Mesmo sem a escola, ela me fazia ter pelo menos duas horas de estudo todos os dias, porque disse que o mundo precisará de pessoas inteligentes futuramente. Olhei para o lado vendo Sarah e Jessica pendurando algumas roupas em um arame improvisado e Michael afiava uma faca que achou em uma das prateleiras. Não fomos para outro lugar a não ser aqui. Depois de um tempo praticando, eles limparam o estacionamento e fecharam as grades em volta para ficarmos seguros. Temos um espaço maior para ficar e tirando os mortos que aparecem na grade de vez em quando, não temos medo de uma grande quantidade deles entrar. Éramos 17 pessoas ao todo, que se ajudavam para que esse acampamento se tornasse um lugar em que podíamos tentar viver.
Meu pai se sentou de frente para mim abrindo um saco amarelo cheio de coisas dentro e eu desviei minha atenção dos livros para olhá-lo. Ele pegou algo e subiu uma antena franzindo o cenho.
-Para que serve essa coisa? –eu perguntei.
-Para se comunicar com pessoas que estão longe. –ele respondeu.
-Tipo um celular? –perguntei franzindo o cenho.
-Tipo um celular. –ele respondeu e me olhou abrindo um sorriso. Eu sorri de volta e voltei a escrever a tarefa.
-Acharam mais alguma coisa? –minha mãe perguntou o olhando.
-Fraldas, dois frascos de antibióticos que eu não faço ideia pra que servem, e bandagens em uma farmácia não muito longe daqui. –ele respondeu levantando o saco e mostrando. Nós ouvimos alguns barulhos estranhos e olhamos em direção a porta de saída. Meu pai se levantou indo para o estacionamento e nós o seguimos rapidamente para ver o que acontecia. Ele tinha uma grande habilidade de manter as pessoas calmas por aqui, por isso, a maioria delas o seguia, achando que suas escolhas seriam as melhores para o grupo.
-Fique perto de mim, querida. –minha mãe disse enquanto os outros saiam para olhar também.
-O que acham?! –Jerry, o velho que matou o zumbi no começo, perguntou em cima de uma plataforma de vigia improvisada que construíram com madeiras e placas de ferro. Ele tentava ver algo pela mira de um rifle grande, mas logo nos olhou esperando por uma resposta.
-Pelo visto alguém chegou à cidade grande. –Gale respondeu cerrando os olhos devido à luz do sol e soltando a enxada que usava para cortar lenha. -Devíamos colocar algumas placas na interestadual. A cidade virou um cemitério.
-Não devemos ir ajudar? –tia Clary perguntou nos olhando. -Vão acabar morrendo indo para a cidade sem fazer ideia do que há lá.
-O idiota atirando já tocou o sino do jantar. Esqueçam... –Frederick resmungou abrindo uma garrafa de cerveja e se sentando em uma cadeira de tomar sol. Meu o pai o encarou brevemente e depois negou com a cabeça.
-Não há como ajudar. Só podemos torcer que para quem quer que seja, consiga sair de lá inteiro. Um dia essa pessoa pode ser útil para nós caso ela sobreviva e nos ache, então vamos torcer por ela. –meu pai respondeu. -Agora vamos, temos muitas coisas para fazer por aqui. E quanto a você... –ele me olhou e se abaixou de frente para mim colocando o seu boné de beisebol na minha cabeça e o virando para trás. -Volte para as suas tarefas.
**
-Eu me senti desorientado quando tudo começou. –Jerry disse quando estávamos em volta de uma fogueira no estacionamento. -Achei que conseguiria chegar a tempo no hospital que minha mulher estava. Achei que chegaria lá antes dos mortos, mas não consegui. –minha mãe passou as mãos no meu cabelo e eu deitei a cabeça em seu colo para poder observar o céu estrelado. -Não consigo descrever o que vi. E o que senti aquele momento. Só sei que estou aqui agora e pretendo ficar, custe o quanto essa merda durar.-ele continuou atraindo algumas risadas. Jerry era uma pessoa legal, era como um avô para mim, e sempre sabia dizer coisas certas quando alguém parecia estar começando a surtar.
-Às vezes as palavras são insuficientes. –Sarah falou sentada ao lado dele. -Não podem se aplicar em tudo.
-Foi como se arrancassem a minha vida e a colocassem em um lugar diferente. –Jerry continuou. -Espero que ela esteja em um lugar melhor agora.
-Todos nós esperamos, Jerry. –minha mãe falou e estendeu sua mão para ele.
-Não consigo expressar o quanto eu sou grato ao Peter. –meu tio falou e meu pai o olhou assim que ouviu essas palavras. -Ele nos tirou de Atlanta, nos tirou do centro de refugiados e estamos bem agora, graças a ele. Minha família esta segura e esta bem por causa desse cara. Obrigado mais uma vez Peter. Não teríamos chegado aqui sem você.
-E mais uma vez as palavras se tornam insuficientes. –Jerry disse abrindo uma lata de suco para tomar e mais risadas ecoaram pelo estacionamento.
Assim que amanheceu, eu, Nicole e Jensen estávamos brincando nos fundos do Walmart. Eu corria em volta de alguns carros abandonados tentando impedir Nicole de me pegar. Jensen gritou rindo no momento em que a irmã se aproximou dele e eu me calei ao ouvir o barulho de algo se chocando contra uma placa de papelão, que havia sido presa para bloquear a passagem para a fora. Eu corri para o lado deles olhando e a placa tombou de repente fazendo um zumbi entrar. Ele nos olhou batendo os dentes um contra o outro e esticando seus braços acizentados em nossa direção pronto o suficiente para arrancar um pedaço da nossa pele.
Nicole foi a primeira a gritar. Foi um grito agudo, de pânico e desespero que provavelmente ecoou por alguns metros de distancia fazendo as pessoas que estavam no supermercado levarem um baita de um susto.
-Papai! –eu gritei sentindo minha voz rouca e o zumbi agarrou Jensen pela blusa. O garoto gritou chorando enquanto eu entrava em choque por não ter ideia do que fazer. Ou por não ter coragem o suficiente para tentar algo.
-Noora?! –eu os ouvi me gritando enquanto eu me afastava ouvindo o som do all-star se arrastando no asfalto.
-Eles estão nos fundos! –Jerry gritou em desespero.-Correm!
-Filha?! –ouvi a voz da minha mãe em pânico enquanto Jensen tentava sair das garras do zumbi. Tanto eu e Nicole estávamos amendontradas o bastante para nos aproximarmos dele, e só nos afastávamos cada vez mais.
-Mamãe corre! –Nicole gritou chorando. Vi o grupo aparecendo correndo e Frederick agarrou o zumbi e o jogou para trás antes que a boca dele alcançasse a testa do menino chorando. Minha mãe se ajoelhou de frente para mim me analisando e Michael correu ate os outros com uma pá.
-Foi mordida, ou arranhada? –eu neguei com a cabeça repetidamente.
-É só um? –meu pai perguntou olhando em volta e os outros assentiram. O zumbi se levantou do chão e tio Gale o acertou. Ele tombou para o lado enquanto minha tia o olhava, abraçada com os dois filhos, agradecendo mentalmente por estarem bem. Michael segurou o zumbi o empurrando para trás e o acertou com um pedaço de madeira. O som foi igual ao de um taco de beisebol acertando uma bola molhada, e o jato de sangue espirrou manchando o asfalto seguido por um baque surdo, molhado e tenebroso ao mesmo tempo, que foi capaz de me causar calafrios. Ele enfiou o pedaço de madeira contra a cabeça atingindo o crânio duro, que foi forte o suficiente para atravessar a camada de dura-máter ate parar na gelatina vermelha acizentada. Eu fiz uma careta e Michael nos olhou arregalando os olhos enquanto recuperava o fôlego.
-Como ele entrou? A placa estava reforçada. –Jerry disse apontando para o corpo.
-A água da chuva deve tê-la enfraquecido. –meu pai falou olhando a placa no chão. -Com o som das crianças brincando, deve ter chamado a atenção dele. Com alguns empurrões ficou fácil entrar.
-Devemos colocar outra dessa. Não podemos deixar esse buraco aberto. –Michael respondeu. -Mais deles vão entrar e vamos acabar nos ferrando.
-Fale algo que ainda não saibamos. –Frederick disse o olhando e Michael revirou seus olhos.
-Talvez algo mais forte. –Jessica sugeriu. -Uma prateleira ou algo do tipo.
-É. Isso pode servir. –meu pai disse a olhando. -Vamos providenciar isso. E quanto ao grupo que irá fazer as buscas comigo, vamos logo antes que anoiteça.
**
Quando o próximo mês chegou, as coisas começaram a ficar diferentes no grupo. A boa convivência passou a se tornar cada vez mais rara e quando meu pai pegou Frederick implicando com Jessica, ele acabou com sua mão com a quantidade de socos que distribuiu na cara dele. Foi a cena mais assustadora que eu vi em semanas e foi estranho ver o meu pai tão descontrolado capaz de causar uma briga.
Havia um tempo, em que eu costumava a olhar nos olhos dele de maneira diferente. Em um lar feliz, onde tristeza, morte, sofrimento, dor e qualquer outra palavra que possa descrever o sentimento de solidão e medo, não existiam. Mas esses dias se foram, e agora as memórias que eu tenho ficam em algumas fotos amassadas na mochila. Eu me lembro como se fosse ontem, pois ainda consigo ouvir as canções felizes que cantávamos nos almoços de domingo quando estávamos “vivos”. E aqui, onde estamos acampados em um estacionamento de um supermercado perto de Atlanta, nos primeiros meses do apocalipse, foi onde o meu coração se partiu pela primeira vez. Eu lembro de como tudo mudou de repente e aprendi que não é o mais forte que sobrevive. Nem o mais inteligente. Quem sobrevive é o que melhor se adapta a mudanças, porque a cada segundo que você passa aqui, mais vazio, mais infectado e mais solitário você se sente. Você vai morrer de qualquer jeito, ficando aqui, só torna o processo mais lento e doloroso.
O quanto você agüentaria?
Eu andava em uma estrada vazia ao lado dos meus pais. Minhas mãos tremiam de medo e eu sentia minhas calças molhadas por não ter conseguido segurar o xixi na hora do pânico. As lagrimas surgiam nos meus olhos e quando olhei para trás, vi apenas Sarah, Jerry, Jessica, Michael, Gale, Clary, Jensen, mãe, pai, gêmeas e os zumbis entrando no estacionamento do Walmart. Meu braço estava manchado de sangue igual ao dos outros e quando desci o olhar para minhas mãos, vi o sangue seco de Nicole. Por um erro, os portões ficaram destrancados durante a noite, e todos acordaram com gritos de dor ecoando pelo lugar. Cinco pessoas morreram lá. Tudo parou e elas estavam mortas. Meu pai apressou os passos ate mim e eu ergui o olhar em sua direção deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Ele segurou minha mão e eu enxuguei meu rosto soluçando.
-Não se preocupe. –ele disse. -Nós vamos ficar bem.
4 meses depois...
Eu estava sentada em um carro olhando um mapa junto com Jessica. Estávamos parados em um congestionamento de carros por falta de gasolina e agora analisávamos a melhor maneira de achar um caminho onde haveria algum posto de gasolina. Meu cabelo estava preso em um rabo e eu olhei brevemente os outros conversando do lado de fora tentando discutir um lugar que poderíamos tentar ir.
Eu desci do carro vendo algumas manchas de sangue no chão e olhei o vidro de um carro amarelo embaçado com alguns escritos de tinta branca.
“Sophia espere...”
Eu abaixei o olhar e então olhei minha mãe trocando as gêmeas em um trailer que achamos em Atlanta. Eu estava tentando imaginar se essa Sophia havia conseguido retornar para o seu grupo, e se as pessoas que aguardavam por ela estavam vivas ainda. Durante esses meses, ficamos praticamente andando em círculos, não tivemos um lugar fixo desde o Walmart. Dormimos em florestas, carros, lojas e armários não encontrando nenhuma pessoa sequer no caminho. As coisas pareciam estar ficando mais difíceis com o passar do tempo. Eu conseguia ver a esperança se perdendo nos olhos do meu pai, e ele se esforçava ao máximo para não termos que enfrentar coisas piores do que já havíamos passado. Mas sabemos que isso é o que esta na nossa frente. Não há como evitar.
Tentamos o CCD mês passado por uma sugestão do Jerry. Ele disse que pouco antes de sair do trabalho aquele dia, um cientista chamado Jenner, o avisou que ficaria por lá aquela noite. Achávamos que poderia haver mais sobreviventes, mas tudo que encontramos foi o lugar em cinzas. Há poucos de nós agora. Somos 12 pessoas contando com as gêmeas. E sabemos que precisamos ficar juntos, lutar uns pelos outros, estar disposto a se sacrificar se for preciso. É a única chance que temos de continuarmos aqui.
Meu pai andou de um lado para o outro me olhando. Ele usava jeans surrados e uma camiseta branca um pouco suja. Sua barba começava a crescer e abaixo dos seus olhos estava meio roxo, devido às noites mal dormidas. Eu o olhei de volta e ele veio na minha direção em passos calmos.
-Noora, vamos dar uma volta... –ele disse e eu assenti vendo Jerry ensinando Jessica a desmontar e a montar uma arma. Ele pulou o acostamento e desceu um barranco, se virando para me ajudar logo em seguida. Nós começamos a caminhar pela mata e ele soltou um suspiro antes de começar a falar enquanto eu olhava em volta temendo que houvesse algum zumbi por ali. -Eu sei... Que você ainda esta assustada com o que aconteceu naquele supermercado. –ele disse calmamente. -Sei que os zumbis a assustam, porque você não teve coragem de matá-los quando sugeri que você aprendesse a usar facas algumas semanas atrás. Mas eu preciso que aprenda, meu amor. –eu o olhei ouvindo o som do all-star esmagar as folhas secas no chão e então parei de andar. -Quero que aprenda para que eu saiba que ficará segura. Para eu não ter que me preocupar com você por aí sozinha, para eu não ter que me sentir mal por morrer e a deixar aqui. Então pegue. –ele me estendeu uma arma e eu o olhei engolindo em seco. Eu não sabia se eu teria coragem o suficiente para pegá-la. Por que sei que teria que usá-la já que ela me pertenceria. -Por isso eu vou pedir a você agora. Chega de coisas de crianças. –ele disse e eu encarei seus olhos claros, um pouco úmidos por estar me pedindo algo assim. -Chega de jogos, chega de brincadeiras, chega de bonecas. A coisa que eu mais queria é que você, Chloe, Charlotte e Jensen tivessem a infância que eu tive, mas isso não existe mais, tudo bem? Sabemos que não vai acontecer então não vamos esperar por isso. –ele colocou a mão no meu ombro e olhou no fundo dos meus olhos se curvando um pouco para ficar da minha altura. -Pessoas vão morrer Nory. Eu vou morrer. A mamãe... Jessica, Michael. E não tem um jeito de você se preparar para isso. Eu tentei, mas eu não posso. Eu preciso que você seja mais rápida, mais inteligente, e mais corajosa que as pessoas que vão tentar lhe fazer mal. Porque você sabe que vão existir essas pessoas. Eu esperava que eu tivesse algo melhor para dizer a você. Meu pai seria bom com isso. Mas eu estou cansado, filha. Então pegue essa arma e aprenda a usá-la. –eu o olhei por um tempo e abaixei o olhar para sua mão. Engoli em seco a pegando e ele me abraçou de lado voltando a caminhar comigo.
Eu sabia que ele estava certo. Meu pai é a melhor pessoa que eu conheci em toda a minha vida. E as palavras que ele disse se tornaram reais. Pessoas tentaram nos machucar e com isso tia Clary morreu. Era como se eu conseguisse ouvir os gritos que Gale soltou entrar na minha cabeça e a chacoalhar. Ele perdeu quase toda a sua família, perdeu as esperanças e era como se fossemos obrigados a arrastá-lo para que ele continuasse a viver.
-Estamos morrendo. –Sarah disse quando estávamos em volta de uma fogueira no meio da floresta após enterrarmos tia Clary no acostamento da estrada. -Só não queremos admitir. Mas se não morrermos pelos zumbis, pessoas irão nos matar. –eu ajeitei Charlotte no meu colo e olhei para minha mãe sentada não muito longe de mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados e ela havia demorado bastante tempo para conseguir parar de chorar após sua irmã morrer. -Igual matamos aquelas pessoas naquela cidadezinha de merda.
-Não fale palavrão perto das crianças. –Jerry disse a olhando.
-Precisamos passar dos limites às vezes. –Michael falou virando seu boné para trás. -Era o sangue deles ou o nosso. Que sangue prefere ter nas mãos?
-O de ninguém. –Sarah respondeu firmemente o olhando enquanto suas lagrimas escorriam. -Disseram que estavam procurando por um garoto chamado Randall.
-E acharam que nós o pegamos. –meu pai continuou e ela o olhou. -O que era mentira obviamente. Estar naquele bar... Lugar errado, hora errada. Simples assim. Alguma coisa aconteceu antes lá. Viram os corpos de zumbis no chão e as marcas de tiros. Com certeza deve ter algo haver com aquele carro capotado na estrada. Algumas coisas simplesmente não precisam ser ditas, Sarah. –eu olhei Jensen calado no canto e meu tio ao seu lado encarando a fogueira parecendo estar entrando em choque.
-Não podemos ficar por aqui. –Jessica disse.
-Iremos atrás de gasolina amanha cedo, e então vamos para o Fort Benning. Quero ver o que há lá. –meu pai respondeu.
-Vamos deixar nossas bundas à mostra? –Jensen perguntou se pronunciando pela primeira vez depois de algumas horas.
-Olha a sua boca. –tio Gale o repreendeu.
-De manhã então procuraremos gasolina e suprimentos para continuar. –meu pai falou e eu peguei a mamadeira estendida por minha mãe.
-Eu e Michael podemos sair para procurar gasolina. –Jessica falou pegando uma coberta e se enrolando nela. O tempo estava frio, e provavelmente o inverno estaria chegando.
-Não, ficaremos juntos. Se alguém se separar pode acabar encurralado e morto. –meu pai a respondeu e ela abaixou seu olhar.
-Peter, já estamos encurralados. –Gale falou.
-Eu sei que parece ruim, todos nós já estivemos no inferno, mas ao menos estamos juntos. –ele continuou. -Estamos juntos e ficaremos assim. Acharemos algum abrigo, deve ter um lugar, só precisamos achar.
-Peter cala a droga da boca e olhe em volta, cara! –Gale disse alto e minha mãe o encarou devido ao fato de seu cunhado estar se descontrolando. -Há zumbis por toda parte, estão migrando ou algo do tipo.
-Deve haver algum lugar. Não para apenas nos escondermos, mas para nos fortalecermos. –meu pai o respondeu no mesmo tom, mas sussurrando. - Para podermos nos recompor, construir uma vida! Nós só precisamos encontrá-lo, esta aqui, só não estamos vendo.
-E por quanto tempo acha que ele será seguro?! –meu tio perguntou. -Olha o que aconteceu no estacionamento. Nós nos enganamos cara. E minha filha morreu lá, minha mulher morreu com um tiro. Aqui fora é tão perigoso como qualquer lugar.
-Não voltaremos a cometer esse erro. –Jerry disse.
-Precisamos ir. Quer dizer, o que estamos esperando? –Sarah perguntou e um barulho ecoou na mata. Eu olhei em volta e me levantei caso precisássemos sair daqui apressadamente.
-O que foi isso? –eu perguntei.
-Pode ter sido um gambá, ou uma coruja. –Jerry disse também se levantando e tentando enxergar algo no escuro.
-Ou um zumbi. –Michael falou.
-Vamos... –Sarah se abaixou pegando uma mochila e meu pai a olhou.
-Parem de se desesperar, a ultima coisa que precisamos é que todos saiam correndo no escuro e com medo. –ele disse. -Ninguém vai a lugar nenhum!
-Então faça algo! –Sarah disse o encarando. -Vamos morrer aqui!
-Eu estou fazendo algo! Estou mantendo esse grupo unido, vivo! Fiz isso o tempo todo, desde Atlanta. Eu não pedi por isso! Não pedi por um apocalipse que nos obrigasse a matar, nos obrigasse a fazer coisas que não queríamos! Eu matei três pessoas, para a segurança de vocês! –eu o olhei engolindo em seco e abaixei minha cabeça me sentando novamente ao lado de Jessica. -Se eu os deixassem vivos, eles iriam matar todos nós! Fariam coisas muito piores com as garotas. Sabe o que estou querendo dizer não sabe? –minha irmã o olhou assustada e eu comecei a chorar ao imaginar se haveria mais deles. Ela me puxou para um abraço e então senti Michael segurando minha mão enquanto estava tão assustado quanto os outros. -Minhas mãos estão limpas. Agora se querem ir, vão. Vamos ver o quanto duram sozinhos. Me mandem um cartão postal do paraíso, ou me convidem para passar as férias na porcaria do lugar que possam encontrar se tiverem sorte. Estão com medo de morrer aqui?! Então eu digo a vocês que a morte não tem nada de glorioso, qualquer um pode morrer. Agora porque não vão descobrir por conta própria?! –todos se mantiveram calados e parados no mesmo lugar sem mover um músculo. -Ninguém vai, ótimo. Mas vamos deixar algo bem claro por aqui, isso não vai ser mais uma democracia. –meu pai saiu andando e minha mãe abaixou a cabeça passando a mão no rosto. Eu me separei da minha irmã e olhei o resto do grupo que havia se entregado ao silencio assustador da noite. A certeza que eu tinha era de que meu pai faria de tudo para nos deixar a salvo. Mas será que nossas almas também ficariam?
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