Por que ela era tão petulante? Como se eu fosse ficar esperando ela querer ter vontade de falar comigo.
No fim eu realmente esperei por ela.
O dia todo Lucy não me deu atenção, não veio até mim e me ignorou, eu me senti todo mal tratado.
Mesmo assim foi uma alegria indescritível que veio quando senti a presença dela, ao anoitecer, no convés esperando por mim.
Seus pés passearam cuidadosamente até a borda do navio. Eu me levantei no mesmo minuto me esquecendo sobre estar irritado por ela ter me deixado esperando até agora. Mas vendo de outro lado, não poderíamos ter aproveitado tanto se tivéssemos falado mais cedo.
Ao abrir a porta, Lucy já me aguardava virada de frente pra mim.
-Oi. -Falei me aproximando.
-Oi. -Respondeu sorrindo. -Então, aquilo do que você me prometeu... O que significa de verdade?
-Significa que eu posso te beijar e agarrar livremente sem levar tapas ou xingos. -Respondi animadamente.
-Ai, Natsu... -Ela reclamou revirando os olhos.
-Eu vou confiar em você de todo jeito que eu conseguir. Mas você tem que fazer um esforço também, sabe, confiar de volta e ter um pouco de paciência. Eu não fui criado pra ser um poço de carinho.
-Não parece. Você é carinhoso comigo.
-Só com você.
Finalmente consegui fazê-la corar pra mim.
-Você tinha me perguntado o que eu queria com você, antes eu não soube responder... -Comecei pegando sua mão e trazendo para minha boca. -Agora eu sei que posso ser e fazer tudo que tiver, pra que você esteja feliz comigo e eu fique assim com você também. Posso até te dar o altar e filhos, se quiser.
-Por enquanto é meio desnecessário. -Ela disse rindo.
Aproveitei a tranquilidade dela e passei a distribuir beijinhos pela mãozinha dela, esfregando meus dedos contra os dela.
-Hmmm... Sobre a Lisanna...
-Ah, quer falar disso agora? -Reclamei distraído acariciando a mão dela.
-Natsu. Eu gosto da Lis, e a Mira é como uma irmã pra mim.
-Tudo bem. -Assenti soltando a mão dela. -Querendo ou não, não preciso ficar esperando a Lisanna me deixar ficar com outra pessoa. Mas se quiser, podemos manter isso só entre nós... Até você achar que está pronta...
-Você não se incomoda? De estar assim comigo, mesmo a Lisanna gostando de você...
-Bem... -Falei com um suspiro. Nesse momento, eu vi Lucy se encolher e esfregar um pouco os braços. Estava com frio. -Vamos pra minha cabine, aqui está gelado demais pra você.
-Como é, seu abusado? Já vai começar com isso?
-Não vamos fazer nada. Eu queria te contar sobre a Lisanna, mas se não quer ouvir...
-Ah... -Ela murmurou assentindo. -Hmm, se tentar alguma gracinha...
-Não vou fazer nada. Juro.
Lucy me olhou com a sobrancelha arqueada, mas pegou na minha mão. Veio comigo até meu quarto onde estava mais quente e confortável.
-Vem. -Pedi sentando na cama. Lucy veio sem hesitar e sentou ao meu lado com perninhas de índio.
-Então? Sobre a Lisanna?
-Então, a Lisanna e eu nos conhecemos há dois anos. -Passei a dizer deitando na cama. -Mira e Elfman já estavam na tripulação desde pequenos, mas a Lisanna não. Ela preferiu ficar com a família adotiva na ilha em que nasceu. Na verdade ela nunca foi muito fã de aventuras com piratas.
Lucy repentinamente se deitou ao meu lado toda empolgada para ouvir a história.
-Não é uma história bonita, sabe... -Comentei rindo do entusiasmo dela.
-Vai Natsu, conta.
-Continuando... Nos conhecemos quando fomos visitar ela, Mira nos apresentou. Naquela época eu era um pouco mais aberto e ela era uma mulher doce, alegre, como você vê hoje. Não teve como evitar, eu me apaixonei tão rápido... E acreditei que ela gostava de mim também.
“Depois de três semanas juntos aconteceu um ataque no navio. Conseguimos nos defender bem, mas sabíamos que tinha algum traidor entre nós, já que os ladrões sabiam todos os nossos esconderijos. Era a Lisanna. Ela seria bem paga pra passar informações sobre nós para a quadrilha, foi o objetivo dela o tempo todo.”
-Sério? A Lisanna traiu vocês? Os irmãos dela? -Lucy questionou chocada.
-Sim. É difícil de acreditar, né? Ela sempre foi tão... Você sabe. Eu nem desconfiava. Meu irmão descobriu e ela admitiu.
-E depois, vocês a aceitaram na tripulação mesmo assim?
-Mira ficou muito decepcionada com ela, assim como Elfman, mas eles ainda a amavam. Lisanna estava passando por dificuldades na ilha e imploraram pra que pudessem trazer ela conosco.
“Naquele momento eu estava tão irritado, triste, já que ela tinha sido a primeira mulher que eu amei, então disse que ela só poderia vir se fosse para trabalhar. Ela deveria ficar como minha serva e fazer o que eu mandasse. Claro que eu não contava com o fato de ela ter se apaixonado por mim de verdade, mesmo tendo me traído, e eu continuei com alguns sentimentos por ela. Por isso continuou acontecendo alguns... deslizes...”
-Várias noites juntos. Isso é o que você chama de deslize?
-O que importa é que nunca foi um namoro ou coisa assim. Por isso eu não confio tanto nela, também não gosto de me sentir responsável por ela depois da traição, doeu bastante...
-Eu entendo. -Ela murmurou ajeitando a cabeça no travesseiro ao meu lado. – Mas não posso evitar ficar surpresa. A Lisanna é um exemplo de ingenuidade e confiança pra mim.
-Eu já quebrei essa ideia faz tempo... -Falei tristemente recordando dos momentos que tive com ela.
Me distrai vendo Lucy se encolher um pouco. Ela ainda devia estar com frio.
-Se tiver com frio, é só me avisar. -Falei me levantando e pegando a última coberta que eu tinha. Cobri a loira cuidadosamente e a ouvi gemer um pouquinho ao se sentir aquecida. -Está confortável?
-Bem melhor do que a rede... -Resmungou sorrindo. -É bom pra dormir.
-Eu ouvi direito, senhorita? -Questionei com um sorriso de lado. -Vai dormir aqui?
-Só hoje. E vai ser só dormir. -Ela confirmou firmemente. -Você me deu um voto de confiança me contando isso. Acho que agora é a minha vez.
-Me sinto privilegiado por ter você aqui... -Sussurrei puxando sua mão para mim.
Finalmente, tive paz para acaricia-la a vontade e com cuidado. Lucy deu uma risadinha com o toque e se aquietou, aproveitando o carinho.
-Você gosta mesmo de mim, né? -Murmurei beijando seus dedos gelados.
-Sim, mas você gosta muito mais de mim.
Ela ainda continuava orgulhosa. E petulante.
-Não se sente triste agora que seus irmãos se foram? Não sabe quando vai os ver de novo.
-Eu sei onde eles moram. Posso visita-los. Eu sei voar, sabia? -Lucy arregalou os olhos.
-Eu tinha lido sobre isso e nem me lembrei. Você tem asas?
-Minha forma de demônio só aparece quando eu quero.
-Me mostra agora?
-Claro que não. -Respondi como se fosse o óbvio.
-Poxa, eu quero ver.
-Não, Lucy. Depois talvez. -Insisti sorrindo, por que Lucy era uma verdadeira criança quando se tratava da curiosidade dela. -Voltando a falar dos meus irmãos, eu estou feliz por eles.
-Vocês se separam quando pequenos?
-Sim.
-Por que?
-Lucy, já deu de pergunta por hoje. Eu te contei sobre a Lis...
-Ah, tudo bem, me desculpa. -Ela disse rapidamente. Pela primeira vez ela se desculpou comigo por ficar me perguntando sobre as minhas coisas.
-Outro dia eu te falo. -A tranquilizei tentando soar o mais calmo possível. -Agora, vamos só dormir como você pediu.
A loira assentiu levemente.
Lucy, minha gatinha, me encarou fechando os olhinhos suavemente, parecendo nem lembrar que eu estava ali.
Eu queria puxa-la pra mim e dar um abraço, mas ela iria me bater e me chamar de abusado.
Então me contentei em assistir ela adormecer, porque eu não consegui pegar no sono até ver ela dormir também. Tendo a certeza de que ela estava aquecida e segura, ao meu lado, eu pude finalmente cair no sono com sua mão entrelaçada na minha.
////
No outro dia a magia parecia ter acabado. Eu acordei sozinho, sem o calor dela, e assustado.
Era como se eu tivesse catorze anos de novo. Sempre que meus irmãos acordavam antes de mim ou sequer se mexiam a noite, eu acordava em estado de alerta para checar se estavam bem.
-Lucy. -Chamei sem vê-la ao meu lado ou sentir o toque dela.
-Oi. -A ouvi.
Me sentei na cama e vi a loira em pé perto da porta, terminando de arrumar o cabelo.
-Onde vai?
-Descer, ué. Se eu ficar aqui todos vão saber que passamos a noite juntos.
-Mas tá cedo... -Insisti.
-Justamente. Vou antes deles acordarem. -Respondeu após ajeitar as mechas. -Pode voltar a dormir Natsu. Tenha um bom dia.
-Espera! -Pedi vendo que ela já iria sair. -Não podemos ficar juntos no convés? Ou lá embaixo, só dizemos que acordamos cedo e...
-Natsu, que carência. -Ela reclamou com uma risada.
Tsc. Era verdade. Eu estava igual um cachorro em cima dela.
-Perdão. Pode ir então. Nos vemos depois. -Assenti em desistência.
Eu me joguei de volta na cama sabendo que não poderia aproveitar mais Lucy com privacidade pelo resto do dia.
Essa agonia passou, quando de repente ela se aproximou e ficou em pé ao meu lado.
-Hmm?
-Desculpa. Eu não te dei nem um beijo de bom dia. -Ela murmurou passando a mão na minha cabeça.
Era um toque muito bom. Sentia meu coração balançar no peito enquanto ela me dava um selinho que eu nem tive que pedir para ter.
-Desculpa por eu ser... Grudento, eu acho.
-Não. Você é ótimo, eu que me sinto culpada e um pouco mal às vezes. Acabo me esquecendo que tenho você.
-Culpada...?
-São coisas minhas. Eu me preocupo muito com a minha verdadeira identidade. Eu sinto que já sou um estorvo pra vocês, então não gosto de comentar tudo que me afeta...
-Lucy, você não é estorvo. -Falei firmemente. -Eu sei que não passei uma boa impressão de início, mas você é importante pra gente.
Passei a mão levemente pelo seu rosto.
-Se precisar de ajuda, me diz, tá bom?
-Hmmm. -Murmurou fazendo um “sim” com a cabeça.
Lucy então me deu um último beijinho, antes de ir, porque mesmo que eu a quisesse aqui, devíamos manter descrição sobre nós dois.
////
-Safado, coitada da Lucy que está te aturando agora. -Juvia disse toda animada do meu lado. -Mas vocês são tão lindos juntos, ela gosta muito de você...
-Ela fale de mim? -Perguntei finalmente achando interesse naquele papo.
-Claro. Eu falo sobre os meus namorinhos também.
-O que ela fala?
-No início que você era chato, irritante, bipolar, egoísta, metido...
-Tá, tá. Já entendi. -A parei antes que me humilhasse ainda mais.
-Hoje em dia ela não fala muito não. Ela é do tipo que gosta de guardar a intimidade.
Me senti desconfortável pelo tom dela, imaginando se Lucy teria contato sobre a noite em que a agarrei na minha cabine.
-Hm, você não quer ir ali ficar de olho no Gray? -Sugeri incomodado.
-Aquele palerma? Eu não. Ai, que vergonha ele tem me feito passar com esses escândalos, é o cúmulo...
Foi uma péssima ideia colocar ele na discussão.
Agora, Juvia ficaria ali me enchendo (como metade desse navio faz enquanto eu estou velejando) falando sobre suas mil e uma dificuldades com o moreno.
Eu só não me incomodava quando ela estava ali.
-Acabaram as uvas. -Lucy anunciou com um biquinho.
-Você comeu todas. -Juvia retrucou.
Estava muito alegre com a Lucy ali. A companhia dela sempre era agradável, mas agora, sabendo que eu a tinha comigo, era muito melhor. Eu me sentia leve.
Seguiu-se assim, o que deveria ser um dos dias mais gostosos da viagem, pelo sol fresco presente e a água gelada do mar batendo no navio, e claro, pela minha Lucy perto de mim o tempo todo.
As pessoas vinham, conversavam, depois saiam, num perfeito rodízio de amigos conversando e bebendo.
-Você vem me visitar a noite, né? -Perguntei baixinho no ouvido dela.
-Eu penso no seu caso.
Mesmo que só pudéssemos nos aproveitar verdadeiramente a noite, no claro do dia ainda Lucy conseguia passar a mão dela pela minha levemente, às vezes se aproximava um pouquinho mais a ponto de que eu pudesse sentir seu cheiro.
Em certo momento ela apoiou a cabeça levemente no meu ombro. Se mexeu um pouco ali como se pedisse carinho e depois voltou para seu lado.
-Quer descer um pouco? Pra ficarmos sozinhos.
-Natsu... -Alertou com os olhos cerrados.
-Desculpa. Não tá mais aqui quem falou.
Lucy sorriu levemente e esticou os braços pelo meu leme, apoiando a cabeça neles.
Eu espero que isso nunca acabe...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.