— Até amanhã! Bom descanso!
— Pra você também, Shisui! Bom descanso! Vê se dorme viu? Amanhã você entra mais cedo.
O Uchiha riu negando com a cabeça enquanto terminava de organizar os utensílios da cozinha, e só então, ele retirou o avental que estava diante de suas roupas sem desviar o olhar de seu ajudante.
— Não se preocupe! Sou um homem bastante pontual. Quando foi que me atrasei, hum? — sorriu, vendo como o outro não poderia contestar aquilo. — vou ir ao bar, vou beber minha cervejinha gelada, vou jogar um baralho e ganhar uns trocados ganhando apostas. Trabalhador também merece esse lazer! Você, deveria fazer o mesmo, meu caro Yahiko.
Shisui deu duas batidinhas no ombro do seu ajudante e deixou aquele restaurante que já estava fechando pela porta dos fundos. Era cozinheiro desde a adolescência e trabalhava a quatro anos nesse determinado estabelecimento, tendo como seu tradicional horário a parte da tarde e toda a noite, indo embora somente pelo início da madrugada.
Ele poderia estar com sono, cansado, exausto! Eram poucas as vezes que o Uchiha se permitia ser vencido por isso e cedia ao descanso. Seu dia não seria completo se ele não perdesse ao menos uma horinha e meia no bar da esquina, bebendo uma boa cerveja gelada, comendo alguns petiscos e jogando baralho com seus conhecidos que sempre estavam lá por esse horário.
— Olha quem chegou!
— Ora se não é o melhor apostador!
— Hoje eu te venço, Shisui. Fica esperto!
Os comentários se alastram pelo humilde estabelecimento assim que Shisui da as caras no lugar. Isso porque o Uchiha era o ser mais carismático dali, mais gentil, amigável. O tipo de cara que mesmo não tendo toda a grana para inteirar o pagamento de sua conta de luz no fim do mês, tirava do seu pouco para emprestar para os amigos que precisavam.
Ele era tão bom, tão generoso. Não era em vão que a vizinha de Shisui, uma senhora de setenta anos, o chamava de benção, pois ele era exatamente isso na vida dela. Sempre a ajudava com as compras no mercado, em algum concerto doméstico que sabia resolver, só para poupa-la dos gastos. Era o filho que aquela senhora não tinha, ou melhor, que tinha, mas já não ligavam mais para ela.
— Quem disse que vai me vencer hoje? Aposto vintão que você perde logo na primeira partida! — Brincou ao puxar uma cadeira e se sentar ali na mesa com os rapazes. Abriu a garrafa de cerveja que havia pego para si e serviu seu copo americano do líquido, o bebendo em poucos segundos, soltando depois um arfar de satisfação. — quem vai mais?
Ele deixou a nota de vinte sobre a mesa e logo em seguida os demais deixaram quantias igualitárias sobre a nota.
As cartas foram embaralhadas e entregues. Shisui era bom e um puta sortudo. Eram poucas as vezes que havia perdido, e agora não era diferente.
A partida durou pouco mais que quinze minutos e se encerrou com um Shisui vencendo. Os demais reviraram os olhos enquanto o moreno ria e pegava as notas para si, as guardando na carteira, enchendo seu copo novamente logo em seguida.
— Mais uma?
— Eu passo! É fim de mês, não tô com muita grana sobrando para apostar. — um deles falou e os demais concordaram. Shisui não se opôs a isso, só entregou novamente as cartas para jogarem por lazer.
Então, as cartas novamente foram distribuídas enquanto os rapazes ali desfrutavam de histórias, uma boa cerveja gelada e uma bom samba que tocava no rádio velho do bar.
— Você pode ser o atrevido, desassociado de qualquer partido, o mais querido, o preferido, o preterido, o mais temido... — Um dos homens acompanhou a música do rádio, enquanto os demais faziam a mesa de pandeiro deixando aquilo ainda mais a animado. — Vai, Shisui! Solta a voz.
O Uchiha riu, ajeitando sua postura na cadeira antes de fazer um mero teatro ao massagear seu pomo-de-adão, pegando a garrafa da cerveja, passando assim a fazê-la de microfone.
— E você pode ser o que quiser, você pode ser vitorioso, vai remar contra a maré, roer o osso, é que pra vencer tem que ser carne de pescoço, moço...
— Essa música é do Shisui! — um deles comentou e os demais riram.
As cartas forma novamente embaralhadas e novas partidas rolaram ali na mesa, assim como novas garrafas de cerveja abertas. Já estavam ali a pouco mais de uma hora e Shisui sentiu o cansaço bater em sua porta. Iria jogar e beber a saideira para ir embora, quando foi surpreendido — assim como todos a mesa —, por um carro parando bem ali na frente.
A rua estava deserta devido a hora. Uma e vinte da madrugada, somente o bar estava aberto naquela, era o único lugar com movimento e poucos carros se passaram ali desde que Shisui havia chego. Entretanto, a estranheza não era um carro parar ali naquele momento.
Era ser um carro de luxo.
— A sério que você vai comprar bebida nesse bar meia boca? — Um cara disse do banco de trás do veículo ao abrir a janela, encarando o motorista que havia descido e se dirigido ao bar.
— Eu quero continuar bebendo, a noite está só começando, e esse é o único bar que encontramos aberto após tantas voltas. — o motorista respondeu breve, notoriamente embriagado. Ele adentrou no bar em busca das bebidas e enquanto aquelas pessoas que não eram dali estavam ali, todos a mesa ficaram calados durante a partida.
Shisui ia voltar a sua atenção ao jogo, se não fosse o fato de ter reparado em uma figura em específico ocupando um dos lugares dentro daquele carro.
Ele estreitou o olhar naquele campo de visão e franziu o cenho ao reconhecer quem era.
— Itachi?
— Que? Quem? — o rapaz que acabará de descartar uma das cartas de seu jogo perguntou confuso ao outro.
— Itachi.. meu primo. Eu acho que é ele naquele carro.
Os homens olharam para o veículo e voltaram rapidamente a atenção ao jogo.
— O lado playboy da sua família? — um deles falou com humor, fazendo Shisui rir e descartar uma carta.
— Sim.. na verdade minha família toda é rica. Exceto meu pai e eu. Mas eu não ligo pra isso. Cresci distante deles, não sinto falta. Tive poucos contatos e convites para reuniões, almoços ou comemorações na família. Não preciso deles para nada. Tenho meu emprego, minha casa.. não é a mansão deles mas.. é meu! E eu ganhei novamente!
Ele descartou a última carta em mãos fazendo todos darem risada e xinga-lo de forma brincalhona por ter ganho mais uma partida.
Shisui bebeu o último copo de sua cerveja e suspirou se levantando, ajeitando as suas roupas para poder ir embora. Adentrou no estabelecimento vendo o suposto amigo do seu primo terminar de pagar pelas bebidas e retornar ao carro.
— Esses garotos são meio sem noção. Compraram várias garrafas e estão dirigindo..
O dono do bar comentou enquanto Shisui fazia o pagamento de seu consumo. Aproveitou do momento para olhar para trás, flagrando os rapazes adentrando novamente no veículo, passando as garrafas para trás. Encarou uma última vez seu primo, que também o olhava lá de dentro, mas logo voltou a olhar para frente, pegando uma das garrafas das mãos do motorista.
Não imaginava que Itachi era do tipo que saia e enchia a cara assim, já que pelo que se lembra, ele era o primo mais recluso e que andava na linha. Mas também não seria surpresa essa atual realidade, tendo em vista que já se fazia anos que não via Itachi.
O tempo passa e as coisas mudam.
— Até amanhã!
Shisui dedicou um sorriso ao dono do bar e em seguida aos seus amigos que ainda ficariam ali. Ele caminhou novamente até o fim da rua, onde se localizava o restaurante que trabalhava e já estava fechado. Entretanto, sua bicicleta ainda estava no estacionamento do lugar. Costumava deixar ali por mais segurança.
Ele subiu sobre a mesma e começou a pedalar pelas ruas escuras, frias e desertas. Não morava tão longe do seu trabalho, de dez a quinze minutos aproximadamente, porém, quando se estava de bicicleta e cansado, tudo aquilo parecia triplicar.
Estava distraído, focando unicamente em chegar logo em sua casa para tomar um banho e dormir para mais um dia de trabalho amanhã. Mais algumas ruas e chegaria, porém, parou completamente quando viu uma figura sentada na guia de uma calçada, tendo seu rosto iluminado só pelo brilho da tela do celular.
— Mas que porra! Lugar lixo! — ele erguia o celular notoriamente em busca de sinal e logo em seguida bufava. — que merda!
— Itachi? — Shisui estreitou seu olhar bastante surpreso ao ver seu primo no fim daquela rua. Ele não estava com seus amigos? De carro? O que havia acontecido nesses dez minutos? — Ei! Itachi? — chamou, ao voltar a pedalar e parar na frente do rapaz, confirmando ser seu primo.
— Era só o que me faltava... — revirou os olhos e suspirou. — O que está fazendo aqui? Não estava no bar?
— Acho que sou eu quem devo perguntar isso, não acha? O que faz aqui? Você mora do outro lado da cidade. É madrugada e aqui é perigoso. Cadê os seus amigos?
— Tsc...
Shisui observou o rapaz se manter calado enquanto desviava o olhar de si. Ele abaixou sua cabeça, deixando seus cabelos longos cobrirem seu rosto enquanto seu pé incessante se chocava contra o chão demostrando seu extremo nervosismo.
— Alguém está vindo te buscar?
— Sim! Já já alguém vem.. quando eu conseguir sinal e poder pedir um táxi.
Shisui o encarou novamente e em seguida encarou aquela rua deserta. Ele não temia o próprio bairro em que morava mas sabia que para pessoas como Itachi, ali era perigoso e ele era um alvo fácil.
— Quer ir para minha casa? Talvez lá tenha sinal ou você pode usar meu celular. Eu só preciso por ele para carregar um pouco, está sem bateria.
— Não se preocupe. Não preciso da sua ajuda! — sorriu amarelo erguendo seu olhar para Shisui. — pode pedalar pra sua casa sozinho enquanto eu espero meu táxi.
Shisui suspirou esfregando as palmas das mãos sobre o rosto. Mas que merda, tinha esquecido completamente de como essa parte de sua família podia ser arrogante e mesquinha. Ainda assim, não se perdoaria se ignorasse Itachi e o deixasse ali, correndo risco de algo acontecer. Afinal, ainda era sangue do seu sangue.
— É perigoso você ficar aqui sozinho, Itachi. Não seja teimoso. Vem logo.
Itachi franziu o cenho ao ouvir o chamado do seu primo. "Vem logo"? Ele estreitou o olhar ao homem e em seguida desceu seu olhar para a bicicleta, confuso, o que fizeram Shisui rir por imaginar aquela situação.
— É só você sentar aqui no quadro da bicicleta.
— Eu não vou sentar aí nesse troço. Eu detesto bicicletas.
Shisui iria contestar, porém, a luz do poste o permitiu ver no muro atrás de Itachi, uma barata considerávelmente grande. Ele voltou a olhar para seu primo e deu de ombros.
— Ótimo. Fiquei aí com essas baratas então até conseguir sinal. Boa noite Itachi!
— Baratas? — quando o Uchiha mais jovem se permitiu olhar para trás, sentiu seu coração beirar a garganta. Ele se levantou em um sobressalto batendo nas próprias roupas para garantir que não haviam baratas em si mesmo e se aproximou de Shisui, se sentando sobre o quadro daquela bicicleta enquanto olhava o muro temeroso. — vamos logo com isso.
Shisui reprimiu os lábios para não rir daquele pavor todo e frustrar ainda mais Itachi. Era só uma baratinha...
Deixou que o Uchiha se ajeitasse sobre a bicicleta e então segurou firme no guidão voltando a pedalar. Olhava vez ou outra para baixo vendo como Itachi estava tenso ali com certo medo de cair ou algo assim, mas aquilo não durou muito. Como Shisui havia dito, já estavam perto de sua casa.
O Uchiha parou a bicicleta e encarou Itachi que rapidamente desceu dali. Observou Shisui descer e abrir o portão de sua casa, deixando a bicicleta em uma parte coberta do quintal, antes de ambos irem até a porta de entrada que logo fora destrancada permitindo que os dois adentrasse ali.
— Então.. é aqui que você mora? — perguntou olhando tudo, andando minuciosamente pelo local como se uma armadilha estivesse o aguardando por ali.
— Sim.
— E o seu pai?
— Sai da casa dele com dezesseis anos. Mas ele não mora longe. Pode ficar a vontade. Vou colocar meu celular para carregar e você pode conectar no wi-fi e tentar pedir seu táxi. A senha está anotada no modem.
Itachi assentiu enquanto observava Shisui sumir no corredor escuro, provavelmente indo para seu quarto. Ele encarou todo aquele lugar receosamente, achando estranho como tudo era simples demais e pequeno demais comparado a sua casa. Quer dizer, só o seu quarto era do tamanho de toda aquela casa ou quase isso.
Ele conectou o wi-fi em seu celular e se permitiu sentar em um dos sofás, vendo como agora conseguiu entrar no aplicativo para chamar um táxi, porém, logo começou a se frustrar ao ver os demais cancelamentos para sua corrida.
"Nem os motoristas querem vir para esse fim de mundo".
Pensava consigo mesmo enquanto tentava teimosamente pedir um táxi, e no fim das contas, acabou desistindo. Seria melhor esperar amanhecer, esperar Sasuke acordar e pedir para seu irmão vir lhe buscar.
"Eu deveria ter saído com meu próprio carro e não dependente dos outros! Inferno!"
Deixou seu celular de lado e se jogou para trás naquele sofá, encarando o teto, notando algumas rachaduras, algumas marcas sutis de infiltrações, o que o fez temer que aquele teto pudesse cair sobre sua cabeça.
— Conseguiu chamar um táxi?
— Não. — disse ainda encarando o teto. — logo amanhece. Eu vou ficar até meu irmão acordar e peço para ele vir me buscar. Se eu não for te incomodar e puder ficar, claro. — disse simples, e antes mesmo de obter uma resposta do seu primo ou olha-lo, comentou sobre seu mais novo receio ali dentro. — esse teto não vai cair nas nossas cabeças? Ele está todo rachado e úmido.. não quero morrer soterrado.
Só após a reclamação, Itachi voltou seu olhar para Shisui, agora, arregalando os olhos ao ver o Uchiha vestir só uma calça moletom preta, deixando todo seu torso nu. Sua pele estava úmida e os seus cabelos molhados estavam sendo secos por uma toalha média que habitava na mão do Uchiha mais velho, que o olha com descrença sobre aquilo.
— Você pode ficar, Itachi. Fui eu quem te convidei. Isso se o seu medo da minha casa velha não desabar te impedir disso. — retrucou o encarando. — não vai cair. Essa rachadura é nova e a infiltração também. Só estou esperando chegar dia quinze, dia do meu pagamento para comprar os materias necessários e resolver isso.
— Conheço um bom profissional. Ele concertou um vazamento que aconteceu recentemente em nossa casa. Se eu conversar com ele, talvez ele aceite vir aqui mesmo que não seja a zona que ele está acostumado a trabalhar.
Shisui o olhou com ainda mais incredulidade, mas ao invés de se irritar, acabou rindo em total descrença com a força que Itachi tentava ser gentil mas ainda exalava seu leve incomodo ou pensamento fechado com a classe baixa que Shisui vivia.
— Obrigado mas eu recuso. Eu mesmo irei arrumar isso.
— E você sabe arrumar isso? Pensei que fosse chefe de cozinha e não pedreiro ou algo assim.
— Eu não sou um chefe, eu apenas cozinho em um restaurante. E eu sei muitas coisas, Itachi. Não tenho culpa que você é tão limitado ao escritório da empresa do seu pai. Administração deve ser uma chatice.
— Mas mantém o nome da família no topo e me renderá bom dinheiro e estabilidade futuramente.
— Mas e felicidade e sensação de estar satisfeito com tudo o que faz? Você terá também?
Itachi afastou os lábios antes de responder, mas nada lhe veio na mente naquele momento. Ele fechou a boca sem tirar os olhos de Shisui, este que sorriu por entender ter deixado o outro sem palavras.
— Está com fome?
— Não... Eu.. só estou com minha cabeça doendo um pouco. Tem algum quarto onde eu possa descansar até o amanhecer?
— Só tem o meu quarto, Itachi. Não tem quarto de hóspedes. Mas você pode dormir no sofá ou posso pegar um colchão de solteiro e por no quarto comigo. Minha cama é de casal mas eu creio que não queira dividir ela.
Itachi respirou fundo ao saber suas opções de descanso. Bem, era melhor do que estar na rua com baratas até agora e ficar com o corpo doendo por não ter onde se deitar e descansar. O sofá era duro então ele logo descartou essa possibilidade.
— Aceito o colchão de solteiro. Eu vou beber uma água.
— Certo, vou arrumar o colchão para você. Tome isso, vai te fazer acordar bem amanhã.
Itachi encarou o primo lhe entregando um comprimido para dor de cabeça e sorriu fraco em agradecimento. Ele se guiou a cozinha, onde Shisui havia lhe apontado e então, pegou um copo no escorredor de louças, olhando tudo minimamente, se questionando como Shisui conseguia viver ali, ou melhor, viver e ser feliz.
Ele encheu seu copo d'água em um filtro de barro e ao ingerir o comprido e beber o líquido, franziu o cenho confuso encarando aquele filtro. A água tinha um gosto diferente do sabor que o filtro elétrico de sua casa. Era mais saborosa e refrescante.
Bebeu mais um copo e em seguida o deixou sobre a pia, seguindo agora em direção ao quarto, onde flagrou seu primo ajeitando um pequeno colchão de solteiro no chão, ao lado de sua cama de casal.
Observou as costas desnudas de Shisui. Notou como os braços dele eram definidos por puro trabalho braçal e não exercícios feitos em academia. Notou como seu corpo era bem desenhados, como algumas veias saltavam na região dos pulsos subindo pelo antebraço. Observou o mais velho se virar para pegar uma coberta no guarda-roupas e pôde apreciar agora aquele peitoral largo e definido. Uma pele bronzeada, o abdômen bem trincado.
Shisui era belo... E Itachi se questionava porque estava olhando e admirando o corpo do seu primo. Um homem. A porra de um homem!
Quando caiu na realidade, desviou seu olhar corando levemente. Encarou os próprios pés e sorriu fraco quando Shisui terminou de arrumar o colchão para si, se dirigindo ali após tirar seus coturnos e jaqueta preta, a jogando sobre a coberta.
— Espero que dê para descansar. Tem uma toalha seca no banheiro e uma camisa minha que é bem larga caso queira tomar um banho e vestir algo mais confortável para dormir.
— Ah.. obrigado. Acho que tudo está bom. Vou tomar um banho sim. Aliás, não corro o risco de ter alguma barata subindo em mim pela madrugada não né?
Shisui arqueou a sobrancelha o encarando de sua própria cama e riu negando com a cabeça.
— Não, Itachi. É bem raro aparecer baratas aqui em casa. Eu coloco veneno frequentemente nos ralos.
O Uchiha soltou o ar em alívio e se dirigiu ao pequeno banheiro do quarto. Mais uma vez, não deixou de notar absolutamente tudo, mas o que mais o intrigou, foi o fato de Shisui não ter um box, mas sim, uma cortina de plástico isolando a área do chuveiro.
Ele tentou não deixar sua indignação tomar conta de si e se despiu rapidamente, prendendo os cabelos em um coque alto para não molha-los, afinal, usava os mais caros produtos para manter seus fios como desejado. Não poderia usar algum shampoo barato anticaspa de seu primo e ressecar e suas madeixas.
Ele iniciou um banho quente sentindo um alívio gostoso em seu corpo. Estava relaxado enquanto ensaboava seu corpo, tentando novamente não se incomodar com o fato de que aquele chuveiro não era tão grande como o seu chuveiro que parecia dar três jatos d'água do que este.
Secou todo o corpo após o banho e vestiu novamente sua cueca já que não tinha outra opção e se recusava a ficar nu mesmo que a camisa de Shisui beirasse abaixo de suas coxas. Ele sorriu fraco ao ver uma escova de dentes nova sobre a pia, em uma embalagem de algum lugar que ele precisou ler bem de perto para identificar, e só então percebeu de onde Shisui havia pego aquilo.
— Asians motel.
Sussurrou baixo, corando levemente ao notar que aparentemente, Shisui tinha uma vida sexual ativa. Será que ele namorava?
Escovou os dentes enquanto refletia sobre isso e só então deixou o banheiro, vendo que Shisui estava já acomodado em sua cama, mexendo no celular, o qual era a única iluminação do cômodo.
Itachi caminhou devagar até seu colchão no chão e se jogou ali, respirando fundo ao sentir como estava cansado. Não era acostumado a sair e quando se permitiu, toda essa merda aconteceu. Agora estava ali, dormindo em um colchão no chão na casa de seu primo que a tantos anos sequer sabia notícias.
— Boa noite, Itachi. Durma bem.
— Boa noite...
Itachi cobriu seu corpo e tentou dormir ali. Se virou de um lado para o outro mas não obteve sucesso. Ficou por longos minutos encarando o teto esperando o sono vir, mas isso não ocorria mesmo com seu corpo cansado.
— Shisui? — sussurrou baixinho, apertando o próprio cobertor próximo ao rosto. — Shisui? Você já dormiu?
Ele não obteve respostas. Suspirou imaginando que seu primo já havia dormido, e então, fechou os olhos na tentativa de pegar no sono. Mas seu pavor se instalou quando ouviu um barulho vindo do lado de fora. Talvez fosse o vento empurrando alguma latinha jogada pela rua deserta, mas na cabeça de Itachi, aquilo podia ser algum ladrão tentando arrombar a casa de Shisui ou até mesmo um rato tentando entrar no quarto roendo as janelas.
Pensando nisso, ele não se limitou em subir às pressas para a cama de Shisui, deitando ali no espaço vazio enquanto se encolhia pelo medo.
— Itachi? O que você está fazendo? — a voz sonolenta de Shisui formou aquele sussurro, fazendo itachi corar até a ponta das orelhas pela vergonha de estar na mesma cama que o outro.
— Estou com medo. Ouvi um barulho. Não consigo dormir no colchão.
Shisui suspirou revirando os olhos mas sequer o respondeu. Instintivamente, o puxou para si, acolhendo o mais novo em seus braços, sentindo como Itachi ficou tenso com aquela aproximação.
— Não tem que temer nada aqui. Agora durma.
E Itachi estava em um interno pânico pelo medo do barulho e por estar com a cabeça sobre o peito quente de Shisui com um dos braços dele sendo passado por trás de si, o acolhendo. Mas aos poucos, ele foi ouvindo os batimentos cardíacos do mais velho, aquilo estranhamente foi o acalmando. Ouvir o som do coração de Shisui e a respiração dele era bom. O acalmava e o fazia ter sono. Sendo assim, Itachi aproveitou do momento de calmaria, abraçando o corpo do outro e fechando os olhos, não demorando para adormecer bem naquele abraço.
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