Após uma manhã agitada ao lado de Eugênio, Violeta desejava mais que tudo se manter afastada do homem o máximo que conseguisse, mesmo sem entender havia algo nele que a deixava profundamente irritava, fora de si e do sério. Haviam trabalhado o período diurno inteiro juntos, aquele dia estava agitado e para garantir que tudo seria feito da maneira correta, a mulher permaneceu ao lado dele a cada segundo.
Era nítido que ele tinha capacidade para lidar com tudo sozinho, mas Violeta queria ter certeza disso, qualquer pessoa pode alterar fatos em um currículo porém na prática era impossível ocultar. Mesmo que não quisesse admitir a capacidade de Eugênio a deixava encantada, nunca em vários anos de empresa havia se impressionado tanto com a intelectualidade e habilidade de alguém, a maestria com que o homem executava seu trabalho a deixava sem palavras. E por esse motivo, Violeta desejava tanto se manter afastada, não havia porque se fascinar tanto com alguém, principalmente com ele.
Tentava a todo custo durante o almoço espantar os pensamentos que insistia em leva-la em direção a ele, todas as suas provocações e insinuações rondavam a cabeça dela a deixando irritada só em pensar, a petulância de Eugênio a tirava do sério. A manhã inteira passaram feito gato e rato, como se fosse impossível dividirem o mesmo espaço durante muito tempo.
- Violeta? Está tudo bem? - Heloisa despertou a irmã de seus pensamentos - Estou a meia hora falando com você e não de você me responder.
- Perdão, Heloisa. Estava pensando em algumas coisas da fábrica e acabei de distraindo - Ocultou o motivo de sua distração.
- Hoje foi uma manhã agitada, não é? Tive nem tempo para respirar direito, não via a hora de vir comer. Pelo menos assim a gente descansa.
- Nem me fala. Só queria vir comer e me livrar um pouco do Eugênio - Comentou tomando um gole do suco.
- Falando nele, ainda não tive a oportunidade de conhece-lo.
- E nem queira ter esse desprazer - Disse revirando os olhos.
- Eita... Porque? Ele é chato? - Perguntou curiosa.
- Irritante, petulante, sem noção, sem senso de direção e mais infinitas coisas - Pontuou quase sem paciência.
- Papai havia me dito que ele era um homem ótimo, super competente e legal. Queria saber quais dos dois estão certos - A encarou tentando observar além do que a irmã falava.
- Depois você tire a suas próprias conclusões - Deu de ombros - E acredite que por falta de sorte, esse cara é o mesmo que bateu no meu carro ontem?
- Como assim? É ele o tal " Sem direção" que você me disse?
- Sim! Fiquei sabendo quando ele entrou na sala do papai ontem. Mais um motivo para não gostar dele, além de ter que atura-lo o dia inteiro, ainda terei que resolver o assunto do carro com ele - Era visível o quão irritada ela estava.
- Agora estou mais curiosa ainda para conhece-lo. Quero saber o motivo de tira-la fora do sério - Comentou rindo da cara que a mulher em sua frente fazia.
- Vamos deixar esse assunto de lado? Não estou afim de ficar com indigestão - Cortou o assunto querendo esquecer do mesmo.
Finalizaram o almoço em silêncio, Heloisa observava a irmã de maneira atenta enquanto decifrava palavras que a boca da mesma não havia proferido. A conhecia como ninguém, haviam crescido juntas e a irmã mais nova sempre foi bem observadora, sabia quando algo incomodava Violeta ou afetava a mesma apenas pela maneira dela se portar. E ali, a observando naquele almoço, sabia que havia algo além do que Violeta poderia notar.
Retornaram para a empresa o mais rápido que puderam, a mais velha desejava adiantar alguns trabalhos então optou por não demorar na rua. Seguiram para o elevador em uma conversa animada, onde Heloisa contava sobre um cliente que havia entrado em contato para encomendar modelos criados especialmente por ela.
- Licença, senhoritas. Atrapalho? - Eugênio interrompeu a conversa, recebendo a atenção de ambas.
- Jurei que teria mais alguns minutos de paz - Violeta proferiu o encarando.
- Também é um prazer te ver, parceira - Sorriu ironicamente e olhou para Heloisa - Você deve ser a outra filha do Senhor Afonso, certo?
- Isso mesmo. Prazer, Heloisa Camargo - Esticou a mão para cumprimenta-lo.
- Sou Eugênio Barbosa, o novo gerente de vendas. Prazer em conhece-la - Cumprimentou a mulher que sorriu.
- Você então é o famoso Eugênio! Pensei que nunca ia te conhecer - Comentou fazendo Violeta revirar os olhos.
- Famoso? Posso deduzir que uma fama não tão boa, já que a pessoa que te acompanha não gosta tanto de mim - Não perdeu a oportunidade de alfinetar Violeta.
- Imagina, não foi só ela que me falou de você - Recebeu um aperto da irmã logo após o que disse.
- Anda falando de mim, Violeta? - Questionou e adentrou o elevador junto as duas mulheres.
- Apenas aconselhando a minha linda irmã a manter a distância de você - Fingiu um sorriso doce mas logo fechou a cara.
- Pois te peço para desconsiderar qualquer coisa que ela tenha falado. Certamente me pintou de maneira errada - Falou para Heloisa mas ainda olhava a parceira.
- Você dois são engraçados sabia? Esses implicâncias até parecem que se gostam - A mais nova comentou recebendo um olhar bravo de Violeta, se ela pudesse havia feito Heloisa desaparecer apenas com aquela olhada.
- Pelo amor, Heloisa. Me poupe desses comentários, não temos nada em comum e ainda bem por isso - Disse irritada saindo do elevador.
- Apenas quis fazer uma analisa, nada demais - Se justificou sem entender o porque a irmã se afetou tanto.
- Pois eu me senti lisonjeado. Ter uma relação com uma mulher igual a Violeta deve ser incrível - Observou Violeta de cima a baixo e sorriu.
- Será o benedito. - O encarou brava - Aqui não fico mais, ter que ficar ouvindo essas bobagens! Precisarem de mim estou na minha sala.
A mulher disse e saiu pisando firme, largando os dois para trás, que a observava com o riso preso. Heloisa e Eugênio tinham algo em comum, e era o dom de tirar Violeta do sério.
- Licença, posso entrar? - Heloisa colocou um pedação do corpo para dentro.
- Já terminou seu papinho com o Eugênio? - Encarou a irmã que segurou um riso.
- Sim, já terminamos de conversar - Adentrou a sala e parou na frente da mesa de Violeta - Vim apenas te falar uma coisa.
- Então fala logo, preciso terminar de ler esses papéis antes de ir para o estoque - Direcionou os olhos para a irmã.
- O que no Eugênio te tira tanto do sério? Nunca te vi tão irritada assim - Comentou despretensiosamente.
- Veio aqui para falar dele? Sério? - Se mostrou sem paciência para o assunto.
- Apenas uma curiosidade - Deu de ombros - Mas de verdade, algo nele mexe com você?
- Sim... - Manteve os olhos no rosto da mulher que a encarava com curiosidade - A petulância dele é o que me tira do sério. Aqueles olhos curiosos e o tom de voz manso, é isso que me irrita. Além daquela cara de bobo amigo que ele tem.
- Entendi! Tem algo a mais? - Insistiu
- O que é, Heloisa? Agora deu para ficar me analisando?
- Não, Violeta. É que parece que ele te afeta de outra maneira, não desses que você citou - Insinuou vendo a irmã se irritar mais ainda.
- Sinceramente? Me deixa sozinha. Esse assunto não tem pé nem cabeça - Pediu séria.
- Tudo bem... Preciso ir mesmo - Preferiu não insistir.
- Iremos embora juntas hoje? - Violeta perguntou
- Sim, passo aqui para irmos juntas - Sorriu para a irmã e saiu da sala.
Após a conversa, a mulher tentou retomar o que fazia, mas as palavras de Heloisa rondava a sua cabeça de uma forma insistente. Tentava entender o porque daquele questionamento, o motivo dela ter se interessado tanto em saber dos seus sentimentos por Eugênio. Eles eram colegas de trabalho, nada além disso.
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O celular de Violeta tocava insistentemente encima da mesa, a mulher se encontrava em outra orbita enquanto encarava o tecido de seda em sua frente. O pedaço de pano em sua mão lhe trazia uma nostálgica memória, de quando seu mãe ainda era viva, tinha a clara imagem da mulher mais velha naquelas vestes. Um vestido longo, misturado com rendas onde tampava todo o corpo da mesma.
Se lembrava de quando fugia a noite para dormir com os pais, de como era bem recebida pelos braços da mãe e o calor que eles traziam, se recordava da sensação do tecido em sua pele, a mesma sensação que sentia naquele momento enquanto, de olhos fechados, passava o pano em sua face, se recordando de cada vivência mesmo que fosse poucas.
Se recordava de poucas memórias ao lado da mulher, a morte de sua mãe havia sido muito cedo, quando ainda era uma criança então era difícil se lembrar da mulher. Se recordava de sua rosto através das poucas fotografias que tinha, além de se lembrar de cada história que seu pai havia lhe contato. Cecília era apaixonada por tecidos, costura e tudo que envolvia aquela prática, por assim ali, no meio daqueles panos, se sentia tão bem e protegida, eles lembravam o seu maior amor, recordavam um amor intenso vivido pelos seus pais e a permitia divagar nos pensamentos de como seria se ela ainda estivesse ali. A paixão pelos panos havia herdado dela, assim como Heloisa tinha paixão pela costura, no fundo, ambas as Camargo era uma nítida mistura que Cecília havia deixado.
- Violeta, você está ai? - A voz feminina a tirou de seus pensamentos, fazendo caminhar até a porta e abri-la.
- O que foi? Porque está tão ofegante? - Perguntou confusa observando a irmã.
- Eu te ligue, te mandei mensagem, te procurei por toda essa fábrica e não te encontrei em lugar nenhum. Fiquei preocupada porque me falaram que você não estava aqui. Ainda bem que decidi vir verificar - Respirou aliviada se encostando na parede.
- Mas eu te avisei que estaria aqui. Aconteceu alguma coisa?
- Sabe que horas são? - Perguntou confusa.
- Não! Estava mexendo nos tecidos e não me atentei no horário - Pegou o celular se certificando sobre as horas.
- Como sabia que você tinha se perdido no horário, tomei a liberdade de pegar sua bolsa antes de vir. Só estamos nós duas aqui na fábrica - Desligou a luz e puxou Violeta pela mão.
- Porque está com tanta pressa? - Estranhou a atitude da irmã.
- Apenas quero chegar logo em casa... Vamos - Deu de ombros e chamou o elevador.
Mesmo estranhando a atitude da irmã preferiu ignorar, já estava tarde e só queria chegar logo em casa para relaxar. No fundo Heloisa estava certa, estava na hora mesmo de encerrar o expediente, assim poderia se desligar de tudo para evitar pensamentos inoportunos.
Após deixar Heloisa em casa, a mulher seguiu direto para casa, sem muito apetite preparou algo leve para jantar e tomou um banho relaxante. Desejava descansar logo então após organizar toda a cozinha, se deitou na cama para ler um livro, assim se esqueceria dos problemas do dia. Mas logo foi retirada de seus pensamentos com o som de uma mensagem chegando em seu celular.
" Boa noite, Violeta. Espero que esteja tendo um ótimo final de dia! Tomei a liberdade de pegar seu número com a Heloisa, precisava tratar sobre o assunto do seu carro. Quando puder, por favor me retorno. Acredito que assim como eu, você também desejava resolver logo esse assunto, então estarei esperando sua mensagem. Espero que esteja bem! Tenha uma boa noite de sono e até amanhã. Abraços, Eugênio."
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