A madrugada havia sido a mais longa da vida de Violeta, pensava insistentemente em tudo que aconteceu naquela noite, as sensações que a invadiu ainda se fazia presente e a mulher não sabia lidar com o fato de que estava atraída por Eugênio. Em sua cabeça era algo impossível de acontecer, mas a realidade era que agora não conseguia afastar o gerente dos seus pensamentos.
Ainda podia ver os olhos dele perto dos seus, os dedos delicados lhe tocando a pele deixando um singelo carinho. Tudo ainda era completamente vivo, seu corpo reagia a cada momento que pensava nele e a mulher não sabia como evitar, Eugênio vinha lhe tirando mais coisas além da paciência.
Se certificando que horas eram, Violeta se levantou da cama e foi em direção ao banheiro, sabia que não conseguiria mais dormir então decidiu começar a se arrumar, já que o horário de ir a fábrica estava se avançando. Cada gesto que fazia dentro da casa seus pensamentos divagam para ele, todas as sensações ainda lhe perturbavam e não sabia como lidar, nunca havia sentido algo tão forte como aquele.
Já estava pronta na cozinha, fazendo o desjejum quando um som de mensagem soou em seu celular. Encarando a tela por alguns segundos, buscando coragem a mulher olhou diretamente para o visor, vendo que se tratava do homem que mais vinha lhe perturbando os pensamentos.
"Bom dia, madame. Passando apenas para avisar que estou a cinco minutos da sua casa. Espero que esteja pronta."
Poucas eram as vezes em que Eugênio avisava onde estava, sempre lhe enviava uma mensagem breve notificando que lhe esperava na porta do prédio, mas daquela vez havia sido diferente.
- Pelo amor, Violeta. Está tão agitada que acredita que há um motivo especial para essa mensagem? Não seja tola - Falou consigo mesma e alcançou a bolsa.
Como já estava completamente pronta, não havia porque não espera-lo na entrada do prédio. Chegando pela última vez sua aparência no espelho, a mulher se arrumou novamente e saiu, dentro de si havia uma grande ansiedade para encontrar com ele novamente.
Assim que viu o carro de Eugênio se aproximar, Violeta sentiu o coração disparar, tentando se manter o mais serena possível a mulher esperou ele estacionar para assim adentrar o carro. Violeta não entendia todo o seu frenesi, as borboletas dentro de si se fazia presente e ela sentia medo, não queria se decepcionar novamente.
Sem o encarar por muito tempo, a mulher o cumprimentou de maneira rápida, ação essa que incomodou Eugênio que logo a encarou, desligando o carro.
- Violeta? Está tudo bem? - O gerente a observava, tentando entender o porque daquela reação.
- Está... Podemos ir? Ainda temos que pegar a Heloisa - Respondeu de forma rápida sem o encarar.
- Olha para mim, quero ouvir olhando nos seus olhos - Ele tocou a sua mão mas rapidamente ela quebrou aquele contato.
Se sentindo vulnerável demais para o encarar, Violeta respirou fundo antes de olhar para ele, temia não conseguir controlar seus próprias emoções quando o olhasse.
- Eu não quero conversar agora. Podemos ir? - Sua expressão era séria.
Eugênio sentia o medo de ter invadido o espaço dela, havia algo diferente em Violeta e o mesmo não sabia identificar.
- É por conta de ontem que está estranha? Se for me...
- Eu não quero conversar, por favor, Eugênio - O cortou antes mesmo de escutar o que o homem desejava falar.
Temendo piorar a situação, o gerente deu partida no carro e seguiu em silêncio. Assim havia sido todo o percurso até a fábrica, Heloisa algumas vezes tentou introduzir algum assunto mas os dois se mostravam distantes. Eugênio deixava a dúvida dominar seus pensamentos quanto pensava a onde havia errado, queria entender o motivo daquela reação de Violeta, mas não conseguia encontrar justificativas. Já a mulher apenas torcia para chegar logo na fábrica, estava sendo tentador se manter afastada tendo o homem tão perto de si, mas a realidade era que nem mesmo ela entendia o que estava sentindo.
O silêncio os acompanharam até o momento de se separarem, entrando de maneira rápida em sua sala, Violeta deixou ambos do lado de fora com um olhar perdido. Suspirando pesadamente, Eugênio adentrou também a sua sala sendo seguido por Heloisa.
- O que deu nela? - A irmã perguntou confusa.
- Se eu soubesse lhe contava... Está daquela maneira desde quando adentrou o carro - Preferiu não contar as suas suspeitas.
- Vocês conversaram algo antes de me pegar? - Heloisa tentava encontrar um porque da reação da irmã.
- Não, mal consegui dar bom dia - Comentou se sentindo frustrado.
O homem não sabia lidar com aquele silêncio de Violeta, desde o primeiro dia que se conheceram a mulher sempre havia sido completamente transparente e esse fato o preocupava. Sabia lidar com os gritos, as broncas, mas não sabia conviver com o silêncio dela.
- Irei tentar conversar com ela - A mulher ameaçou sair da sala mas Eugênio não permitiu.
- Melhor deixar ela sozinha um pouco, não acha? Ela estava bastante calada, duvido que irá querer conversar agora- Eugênio argumentou.
- Realmente ela estava bem quieta... Mas é exatamente isso que me preocupa, Eugênio. A Violeta não é uma pessoa calma, nunca ficou em silêncio - Era visível como Heloisa se preocupava.
- Mas tenta respeitar esse momento dela, depois pode procura-la - Orientou e a mulher o encarou séria.
- Você sabe alguma coisa que eu não sei - Pontuou vendo Eugênio ficar mais sério.
- Não sei de nada - Deu de ombros se sentando em sua cadeira.
Mesmo sabendo que havia algo de errado entre eles dois, Heloisa preferiu não insistir, concordando com as palavras de Eugênio, a mulher deixou a sala em silêncio mas se prometia na mente que iria encontrar o porque.
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Ao longo do dia, Violeta se manteve afastada de todos, deixando de almoçar, a mulher se trancou no estoque de tecidos e permaneceu o resto da tarde em meio aos seus pensamentos e silêncio do local. Tentava de todas as maneiras compreender a sua bagunça interna, estava da mesma maneira em que esteve a madrugada inteira, confusa e desejando estar perto de Eugênio.
O olhar castanho não saia de sua mente e Violeta só gostaria de ser mais forte, assim conseguiria enfrentar seus fantasmas do passado e se permitir viver todas aquelas sensações em que Eugênio vinha lhe causando. Sentada na mesa improvisada que tinha ali, a mulher encarava os rolos a sua frente, tentando focar no trabalho.
Em dado momento, ela não sabia quando começou a se escutar um barulho ao lado de fora, passos se aproximavam e uma sombra se fez presente na porta, batendo duas vezes como forma de permissão para entrar. Caminhando até o local, ela abriu revelando um Eugênio um tanto quanto preocupado em sua frente.
- Desconfiei que estivesse aqui mesmo! Está ocupada? - O homem a questionou, observando cada detalhe dela afim de procurar alguma resposta.
- Não, entra - Ela sorriu meio contida e deu passagem para ele antes de fechar a porta.
- Trouxe comida, presumi que você não havia saído para almoçar! Não sei se é do seu agrado mas decidi arriscar - Eugênio estava receoso, não sabia como seria a reação dela.
Após toda a conversa que tiveram no carro o homem havia ficado em estado de alerta, temia que qualquer ação sua a deixasse mais distante e isso era o que ele menos desejava. Queria estar perto de Violeta, poder conversar e ouvi-la como haviam feito na noite passada.
- Não precisava ter se preocupado, Eugênio - Violeta comentou pegando a sacola que ele lhe oferecia.
- Me preocupa porque não quero te ver mal! Não faz bem pular as refeições - Disse em tom preocupado, a observando.
- Depois ia procurar algo para comer - Mentiu dando de ombros.
Ambos se encaram com receio, havia muitas palavras para serem ditas mas Eugênio não queria invadir o espaço dela, assim como sentia que havia feito na noite anterior. Sua preocupação era verdadeira, assim como seus sentimentos, mas ele a respeitava, não tomaria nenhuma atitude que pudesse a repelir ainda mais.
- Você está bem? - Perguntou se aproximando um pouco mais, admirando cada traço do rosto da mesma.
- Estou... - Sua voz quase não saia, a proximidade a deixava nervosa, sentia que a qualquer momento seu corpo lhe trairia e se aproximaria dele.
- Olha, Violeta, sei que pediu para que eu não tocasse mais nesse assunto, mas preciso falar - O gerente iniciou a conversa, observando cada reação dela - Me desculpa se eu invadi o seu espaço em algum momento, eu...
A mulher não o deixou concluir, sentindo seu peito apertado em ansiedade a única atitude que pensou em tomar era abraçá-lo, deixando seus braços circundarem o pescoço de Eugênio, a mulher se entregou a aquele enlace. Queria de alguma forma contar para ele o que se passava mas não sabia como. Então fechou os olhos e sentiu as mãos dele lhe abraçarem a cintura, deixando mais aconchegante aquele contato que era tão novo para eles.
Os corpos compartilhavam uma forte corrente elétrica, Eugênio ainda estava surpreso com a atitude da mulher mas não a questionaria, apenas se permitia sentir todas as sensações boas que aquele enlace lhe trazia. Nunca haviam se sentido tão à vontade e em casa como naquele momento, percebiam o quão bom estava sendo aquele contato.
- Eu que preciso me desculpar - Começou de maneira baixa, recebendo total atenção dele - Ainda há muitas coisas que você não sabe, Eugênio. Há medos dentro de mim que não me permitem me aproximar de você, e eu não sei lidar com eles... A única coisa que posso fazer é me desculpar por hoje e pedir para que você me entenda.
Violeta sabia dos efeitos que o homem tinha sobre si e o de conseguir destruir seus muros e armaduras era um deles, ele tinha a capacidade de fazê-la se sentir em casa, confortável e livre para falar o que sentia. Diante dele, Violeta era vulnerável, era apenas uma mulher machucada pela vida, mas ela não sabia como lidar com isso, tinha medo que ele a julgasse de alguma maneira e por esse motivo se afastava.
- Acho que ontem consegui deixar claro o quanto você me afeta! Não sei o que me atrai em você, nem quando surgiu isso mas quero que saiba que eu também tenho traumas, tenho meus medos e inseguranças mas você - Apontou para ela, o abraço já havia se encerrado a um tempo - Você mexe comigo, ainda não aprendi a compreender o que sinto quando estou perto de você, Violeta! Só sei que nunca senti antes em toda a minha vida.
Eugênio falava a encarnado nos olhos, segurava uma das mãos da mulher e deixava todo o seu coração falar. Já havia se aberto para ela uma vez, aquela não seria diferente e ele sabia disso. Violeta o instigava, lhe perturbava a mente em um sentido bom e a única coisa que Eugênio desejava era se entregar a aquele novo sentimento.
Novamente o homem havia conseguido a deixar sem palavras, Violeta se sentia embalada por todos aqueles sentimentos avassaladores, a cada momento o coração acelerava ainda mais porém ainda existia medo e o olhar a denunciava.
- Não precisa responder - Eugênio se adiantou assim que viu que ela não responderia - Janta comigo hoje? Após o final do expediente vamos sair juntos, assim podemos conversar melhor. O que acha?
- Depois que sairmos daqui? - Violeta parecia não estar naquele ambiente, sua mente ainda vagava nas palavras dele, a deixando sem norte.
- Isso! Deixamos a Heloisa na casa dela e vamos jantar - Se mostrou animado com a ideia, tentando a convencer.
- Não sei se é uma boa ideia...
- Concorda que precisamos resolver isso entre nós? - Perguntou a vendo assentir - Então vamos! A gente come e conversa. Sem armaduras, medos, ressentimentos e qualquer coisa que nos impeça de sermos nós mesmos.
Ele ainda falava enquanto segurava na mão da mulher, estava disposto a tentar compreender todo o medo que rodeava Violeta.
- Tudo bem... Podemos jantar - Aceitou ouvindo ele suspirar em alívio.
- Combinado! Agora come o almoço que eu trouxe para você, daqui a pouco esfria e não ficará tão bom - Sorriu gentil e depositou um beijo carinhoso em sua mão antes de sair.
Violeta apenas sorria enquanto o observava sair da sala e fechar a porta. Encarando a sacola ela suspirou, a atitude dele havia te deixado feliz, se sentia especial novamente, alguém se preocupava consigo e isso a emocionava. Mantendo o sorriso nos lábios a mulher se sentou, sentindo o cheiro da comida invadir as narinas, conseguia ouvir o estômago reclamando, Eugênio havia acertado, aquela era uma de suas comidas preferidas.
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Assim que deixaram Heloisa em casa, Eugênio seguiu rumo ao restaurante onde tinha feito as reservas. No banco do motorista o homem estava agitado, segurando com força no volante apenas conseguia pensar em tudo que seria dito naquele jantar, estava ansioso, preocupado mas acima de tudo estava feliz, finalmente estaria jantando com ela após todos os sentimentos expostos.
Aquele amor era novo, surgiu de uma maneira rápida deixando o gerente confuso, em um dia era um homem machucado, traído pela mulher que julgava ser o amor da sua vida, ele se sentia desconfiado. Dormi com algumas apenas pelo ato carnal, não havia diálogos envolventes, provocações que o tirava do sério, tão pouco vontade de estar perto. Mas com Violeta estava sendo diferente, da noite para o dia a mulher invadiu seus pensamentos, e o cheiro dela era a parte mais marcante para ele, não era apenas o nome que remetia a flor, o aroma também, suave, levemente doce e muito envolvente.
Envolvido foi exatamente como Eugênio se sentiu quando percebeu que não conseguia se manter afastado dela, naquele dia, após uma das inúmeras caronas que lhe dava, o homem sentiu ausência da implicância da mesma, queria ouvir a sonora voz o provocando enquanto desfrutava de um momento entre eles. Foram poucas as vezes em que permaneceram somente os dois naquele carro, mas todas para ele haviam sido importantes. E o homem se sentia feliz, finalmente estava dando um novo passo na sua vida, o medo de amar não o perturbava mais, diferente de Violeta.
Não fazia muito tempo em que havia se dado conta de que estava envolvida sentimentalmente pelo homem, havia se dado conta naquele dia, na noite em que conversaram por telefone no hospital, Violeta percebeu o quanto ele lhe fazia bem. Fora uma conversa curta, sem muitas insinuações e provocações, havia sido leve, calmo e envolvente de uma maneira que não estava acostumada. No final daquela ligação, quando retornou para o quarto do pai, percebeu o quanto desejava passar mais horas falando com ele, ouvindo sua respiração enquanto o ouvia falar de qualquer assunto bobo mas que por ser contato por ele, era o mais interessante de todos.
Agora ali, sentada no carro, ela permitiu por alguns segundos o observar antes de descer, o homem parecia mais agitado do que as borboletas em seu estômago e ela então, estava um poço de sentimentos e turbilhões.
Assim que o veículo foi estacionado, rapidamente Eugênio saiu e abriu a porta para ela, a pegando de surpresa pela ação repentina. Sorrindo de forma doce, aceitou a mão dele e se apoiou para descer.
- Que cavalheiro, Senhor Eugênio - Brincou tentando descontrair.
- Sou mais do que você imagina, Violeta - Sorriu para ela que espelhou a ação.
- Não conhecia esse lado, apenas do irritante e sem direção - Agarrou a oportunidade de o provocar.
- Ainda há muita coisa que você não sabe... - O olhar dele parecia lhe despir de tudo.
- Espero conhecer cada uma deles - Piscou se sentindo mais relaxada.
Após se encararem um pouco mais, caminharam juntos para dentro do restaurante. Foram guiados para um mesa para dois, um pouco mais afastado de todos que estavam ali, essa havia sido a exigência de Eugênio, um lugar mais privado para assim conversarem sem serem interrompidos.
Puxando a cadeira para ela se sentar, o gerente esperou a mesma se arrumar e então se sentou em sua frente, observando aquele rosto tão lindo por alguns segundos.
- Quer fazer o pedido primeiro? - Havia um clima um pouco estranho entre eles, ambos sentiam que aquela conversa seria um passo importante na relação que tinham.
- Podemos pegar um vinho? - Violeta perguntou já olhando o cardápio.
- Deixo essa tarefa para você, confio no seu paladar - Piscou para ela e observou também o cardápio para escolher o seu prato.
- Vai pedir uma massa? Posso pedir um especial desse cardápio que combinaria perfeitamente - Comentou abaixando o cardápio para o encarar.
- Com essa informação irei pedir sim! Me acompanha no mesmo? - Perguntou já fazendo sinal para o garçom.
- Por mim está ótimo - Sorriu e esperou ele pedir os pratos para assim pedir o vinho.
Após fazerem todos os pedidos, decidiram deixar a sobremesa para ser escolhida depois, até lá havia tanto a ser falado que não sabiam se chegariam a aquele momento.
- Antes de você começar, eu queria dizer que está linda hoje - A elogiou cordialmente e ela sorriu envergonhada.
- Após um intenso dia de trabalho? Devo estar tudo menos bonita - Comentou arrumando um pouco os cabelos.
- Continua linda. Da mesma forma que deve ser encantador te observar toda a vontade em um dia caseiro - Se permitiu dizer algo que imaginava sempre.
- Acho que você não gostaria de me ver assim - Alertou sorrindo ainda envergonhada.
- Ainda irei te convencer que você é linda de qualquer jeito - Deu a cartada final e ela apenas agradeceu.
Se encarando por algum tempo, os olhos gritavam palavras que não eram capazes de dizer ainda, a ansiedade pelo momento crescia ainda mais, porém sentiam que precisavam descontrair um pouco mais. Conversando sobre assuntos corriqueiros do dia a dia, passaram entre a saúde do pai de Violeta, para o conserto do carro dela e finalizaram em Fernando Pessoa e poesias, compartilhando novos autores e trabalhos que gostavam.
Logo os pratos chegaram e eles dedicaram um tempo para deliciarem a massa que era servida, Violeta estava certa quando disse que o vinho combinaria com aquela refeição. Aguçando a imaginação do homem que se questionava onde ela havia aprendido sobre aquele assunto.
- Realmente, Violeta, esse vinho combina perfeitamente com o prato escolhido. Uma ótima escolha - Elogiou bebendo um pouco mais da bebida.
- Muito obrigada, Eugênio - Agradeceu o observando.
- A onde aprendeu tão bem sobre eles? - Perguntou se mostrando interessado.
- É... Foi com o meu ex noivo... - Disse receosa, sem saber se era aquele o momento.
- Quer falar sobre? - Percebeu o incomodo dela e não sabia se era hora de tocar naquele assunto.
- Acho que esse é o momento, não é? Já que tocamos nesse assunto - Respirou fundo tomando coragem para começar.
Foi quando sentiu a mão de Eugênio sobre a sua, como um gesto de apoio ele acariciou levemente o dorso enquanto a encarava atentamente, mostrando sua total atenção e interesse pelo assunto.
- Ficamos juntos por quase cinco anos, foi o tempo de duração do namoro e noivado... Nos conhecemos logo após o aniversário de morte da minha mãe, essa data sempre me deixa triste e ele apareceu justamente naquele momento - Suspirou quando tocou naquele assunto que ainda lhe doía - A fábrica estava quebrada, estávamos passando por uma crise forte e com medo de uma possível falência.
Iniciou o assunto com o coração acelerado, suas mãos estavam geladas, em contraste com a do homem que a esquentava de uma maneira reconfortante, como se ele aquecesse algo além do físico.
- Fernando é de uma família influente da região, eles nos ajudaram a passar por essa crise e foi assim que nos envolvemos mais ainda... No começo era tudo lindo, ele era gentil, carinhoso, cavalheiro e me tratava feito uma princesa. Era dessa maneira que ele me chamava, creio que no fundo ele tinha o pensamento que após nos casarmos eu seria assim, recatada, mulher de casa e da família.
Respirou fundo pensando que no pior estava por vir, seu coração começava a disparar e ela optou por fazer uma pausa. Soltando a mão de Eugênio ela bebeu um pouco de vinho antes de continuar.
- Como disse, o começo era assim - Brincava com a taça sem coragem de o encarar - Depois foi mudando, a fábrica estava indo de vento a polpa e então ele decidiu me pedir em casamento. Foi assim que começou a se envolver nos negócios da empresa, meu pai queria que ele fizesse parte da nossa história e então o introduziu aos negócios da família. E foi aí que tudo começou a mudar.
Eugênio que escutava tudo com atenção sentiu um frio lhe correr a espinha assim que viu o olhar dela mudar, antes havia ressentimento, frieza mas agora não, havia medo, mágoa e algo a mais que ele não sabia identificar. Aquela Violeta em sua frente era desconhecida e isso o deixava mais intrigado para saber o que aconteceu.
- Fernando começou a se deslumbrar, se envolvia cada vez mais com as papeladas e negócios. Acredito que tenha ficado impressionado com tanto poder, se é assim que podemos chamar. O cargo que ele tinha não era tanta coisa, mas mesmo assim, para um homem que viveu as custas do pai, aquilo era um mundo completamente novo, e foi aí que tudo mudou... Ele começou a tentar mandar em mim, os passeios para vinícolas e parques se tornou brigas, ele tentava impor regras sobre mim, como se de alguma forma fosse meu dono. E eu não deixei, mas era óbvio que não iria abaixar a cabeça para ele. E em uma dessas brigas foi quando ele avançou sobre mim... Uma das inúmeras vezes que tentou me convencer com a sua força masculina - Segurou um choro de raiva que começava a querer lhe invadir.
- Quer parar? Não precisa contar mais - Eugênio começava a se irritar, querendo nunca mais encontrar aquele homem em sua frente.
- Não! Preciso que você entenda tudo - Insistiu se recompondo - O nosso relacionamento não ia bem e foi aí que adoeci, ele começou a tomar conta das minhas funções também, se aproximando ainda mais do cargo que ele tanto almejava ocupar. Foi nessa época, quando estava doente, que ele tentou dar um golpe na fábrica - Contou recebendo um olhar assustado do gerente - Um contrato totalmente distorcido do que foi pedido para ele, sorte que meu pai não assinou porque naquele dia eu passei mal e precisei ser socorrida.
Reviver toda aquela história a machucava demais, Violeta sentia todo o seu passado vindo à tona, um passado doloroso que por muito tempo a perseguiu.
- O resto já deve imaginar! Quando descobri nos separamos, ele me ameaçou, ameaçou meu pai e a nossa fábrica, mas o advogado entrou com uma ação contra ele. Foi quando ele sossegou e nos deixou em paz, por enquanto... Até aquele dia da tal visita do amigo da família - Resumiu já não sentindo forças para continuar aquela história.
- Era ele? O amigo na verdade era seu ex? - Olhou confuso e ela assentiu - Porque não me contou? Jamais teria deixado você sozinha com aquele homem, Violeta.
- E você iria fazer o que? O Fernando é baixo, Eugênio. Não permitiria que você se envolvesse nesse assunto - Deixou claro que não desejava o homem envolvido naquela história.
- Eu percebi o jeito que você estava na sala, a forma com que ele reagiu quando entrei foi suspeita mas pensei que fosse apenas um assunto pessoal ou algo tipo - Analisava toda a situação se lembrando do ocorrido.
- Ele havia ido me ameaçar, porém nada que surtisse efeito. Não me afeto mais - Deu de ombros querendo encerrar aquele assunto.
Percebendo o quão cansada mentalmente a mulher parecia estar, Eugênio decidiu que deixaria aquele assunto morrer ali, ela havia se aberto sobre a sua história e agora era a vez dele.
- Eu te entendo como é ser traído por alguém que ama... Mesmo que minha situação tenha sido diferente, eu também sofri - Comentou recebendo um olhar curioso dela - Antes de começar a trabalhar com vocês eu estava noivo, Lara era o nome dela! Trabalhava na empresa da família, estava noivo e nosso casamento seria mês que vem. Sempre fui dedicado a ela, completamente apaixonado e capaz de fazer de tudo para que ela estivesse feliz.
Naquele momento, Violeta tencionou a mandíbula, apenas em imaginar Eugênio sendo tão encantado por outra mulher que não fosse ela se sentia enciumada, mesmo que aquele relacionamento já tenha acabado.
- Estava tudo indo bem, até quando surgiram rumores na empresa que ela estava me traindo. No começo não acreditei, afinal Lara não trabalhava lá, tão pouco aparecia para visitar o pai ou me fazer uma surpresa. Mas então tudo começou a ficar mais intenso, nossas conversas diminuíram e ela mudou, estava mais fria, mais distante e eu não entendi o porquê.
Dessa vez Eugênio que estava nervoso, reviver a traição da ex ainda o machucava demais e estar revelando aquilo para Violeta o feria ainda mais, se deixando completamente vulnerável.
- Foi quando decidi que iria mais afundo no assunto da traição, comecei a procurar indícios de possíveis acontecimentos que talvez havia deixado passar e foi quando decidi ficar até mais tarde na empresa. Naquele dia eu peguei ela no escritório do sócio do meu sogro... Você deve imaginar o que eles faziam.
- Eu sinto muito, Eugênio - Foi então que ela tocou na mão dele, entrelaçando os dedos aos dele.
- Sofri muito quando vi aquela cena, foi doloroso ver ela ali... Foi difícil ver que todos aqueles rumores eram reais, me doeu saber que a mulher que tanto amava estava me traindo ali, na minha frente e eu não percebi - Desabafou e ela o confortou ainda mais.
O observando por longos segundos a mulher conseguiu sentir a semelhança naquela relação, ambos estavam machucados por um amor que se mostrou ser verdadeiro. Haviam feito planos e foram todos por água abaixo após a traição que sofreram. Esse era o motivo dele a compreender tanto, de certa forma Eugênio a entendia mais do que ninguém justamente pelo fato de ter sofrido tanto quanto ela.
- Acho que por isso você é tão familiar para mim... A sua dor é parecida com a minha - Violeta comentou encarando os castanhos em sua frente.
- Ambos somos quebrados pelo amor, Violeta - Ele pontuou e ela sorriu.
- Mas diferente de mim você é corajoso, se permitiu me enfrentar por conta dos sentimentos que sente por mim - Ressaltou mas o homem negou com a cabeça.
- É aí que você se engana! Você é a mais corajosa por ter se aberto dessa maneira para mim, me sinto privilegiado por conhecer essa sua nova versão, por ter escutado a sua história. De certa forma você compartilhou a sua dor comigo e isso é de extrema coragem, Violeta.
As palavras do gerente o atingia de uma maneira inexplicável, ela se sentia acolhida não só pelo toque dele como também pelos belos dizeres, Eugênio era diferente e ela sabia disso, diferente de todos, o homem havia a observado e entendido como ninguém.
- Obrigada, Eugênio. Pelo jantar, pela conversa, por me ouvir e por se mostrar tão envolvido por cada palavra minha... Não sabe o quão importante foi esse jantar para mim - Sorriu gentil o deixando completamente encantado.
- Agora você me permite se aproximar? Quero te conhecer melhor, Violeta. Fazer parte dessa sua história de alguma forma - Insistiu e a ouviu suspirar.
- A noite de ontem foi especial para mim... Foi tudo muito bom mas eu tenho medo, Eugênio! Não quero te trazer para a confusão que é minha vida - Tinha medo de o machucar de alguma forma - Não sei se é o certo a se fazer...
- Me deixa tentar te mostrar que podemos ser algo juntos, não precisa pensar nisso agora. Quero apenas me aproximar um pouco mais de você, curtir todas essas sensações boas que você me causa - Confessou e ela corou.
- Não irá desistir, não é mesmo? - Disse em meio a risos.
- Sou um homem difícil, não é no primeiro obstáculo que eu desisto - Se gabou e ela riu ainda mais.
- Podemos deixar assim? Fluir e ser leve - Pediu em tom baixo.
- Isso é um sim? - Perguntou animado e ela concordou com a cabeça.
- Sim! Isso é um sim, Eugênio Barbosa - Riu da alegria que ele expressava.
- Não acredito nisso!! Terei que pedir mais uma taça de vinho para comemorar - Disse animado chamando o garçom.
A atmosfera entre eles mudava, sorrisos habitavam no rosto de ambos que sentiam o coração acelerado, as borboletas ainda se faziam presentes mas dessa vez era por um motivo diferente. Eles estavam dando um grande passo naquela história, deixando as feridas abertas para cicatrizarem, se davam a chance de mais uma vez se abrirem para o amor. Daquela vez era diferente, sentiam que era diferente e por isso estavam dispostos a tentar, aquela poderia ser uma nova chance que a vida lhes davam. Os caminham haviam se cruzado por um motivo e eles começavam a entender o porquê.
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