“Eu sempre penso que o sentimento gritado é um tanto dissimulado, desinteressante.
Sentir não exige plateia, não é chegado em grandes demonstrações,
elaborados espetáculos. O sentimento honesto entra sorrateiro,
acarícia os cabelos e pega na mão sem que ninguém perceba,
é sútil, cauteloso, música de melodia lenta que acalma os ouvintes
e instiga pares a dançar. Dois, e apenas dois, ao som de uma única melodia.
Ligados por um único sentimento que pertence somente a eles.
E assim permanece, até que resolva sorrateiramente sair, para não mais existir.”
—
— Mas Tae, você tem certeza que ele te disse exatamente isso? Tipo, com todas as letras? – O mais novo entre os dois indagou, sentando-se no tapete fofinho da sala do amigo e cruzando as pernas em forma de lótus, buscando uma posição confortável em que conseguisse encarar o outro, que estava deitado no sofá, escondido até o pescoço com uns dois cobertores pesados, mesmo que não fizesse tanto frio nos últimos dias.
Jungkook, o mais novo, possuía os cabelos escuros e os mantinha sempre bagunçados por pura preguiça de os pentear, além de uma expressão fofa que não condizia em nada com sua personalidade. Cursava Jogos Digitais na mesma faculdade que Taehyung, e foi cruzando os mesmos corredores, apesar de o loiro cursar Artes Plásticas, que acabaram se conhecendo. Com o tempo, criaram um laço de amizade muito forte.
— Não, não exatamente… – Taehyung respondeu depois de pensar por alguns segundos, buscando a melhor resposta que certamente não apareceu. Era tudo tão relativo e ele não tinha certeza de qual seria a resposta correta para aquela pergunta em especial.
— Então como você sabe que ele não te ama? – O moreno sorriu enquanto tentava alcançar a pequena gata de Taehyung que ardilosamente cruzava a sala em direção a cozinha, provavelmente em busca de comida. Jungkook a puxou, enfrentando a expressão furiosa que Kim Bubba o lançava, depositando a gata laranja entre suas pernas e a proporcionando um carinho que talvez, e só talvez, não fosse assim tão relevante para o animal.
— Nós estamos juntos há três anos, Jungkook. E ele nunca disse que me ama. Se o Jimin, em todo esse tempo que vocês namoram, nunca tivesse dito que te ama, o que você acharia disso? – Taehyung se ajeitou melhor nos cobertores, enquanto encarava a gata com certa piedade, como se estivesse se desculpando pelo melhor amigo.
— Eu provavelmente teria uma conversa com ele? – Jungkook não estava bem certo, Jimin era a pessoa mais gentil, carinhosa e amorosa que ele conhecia, jamais cogitaria passar por uma situação como aquela. – Bubbinha, sua mãe não te ensinou que é feio tentar morder os outros?
— Mas foi exatamente o que eu fiz, ué! – Taehyung crispou o lábio inferior e enrugou a testa em revolta. A verdade é que aquela história estava deixando o Kim sem dormir por noites seguidas. Simplesmente odiava quando Jungkook o desobedecia e continuava puxando o mesmo tipo de conversa. Como ele conseguiria superar tudo aquilo se o seu próprio melhor amigo não colaborava?
— Não foi não! – Acusou o mais novo. – Você terminou com o Hoseok só porque ele não respondeu a sua maldita pergunta! – Jungkook prendeu a gata entre os braços enquanto a mesma tentava se esquivar de suas carícias. A insistência por parte do moreno acabou fazendo com que Bubba levemente o arranhasse e aproveitasse para escapar com um miado alto no meio da confusão.
— Olha só, tanto faz, tá legal? Eu e você somos apenas pessoas diferentes… – Taehyung levantou do sofá com certa irritação, bufando em cansaço. Cruzando a cozinha, abriu a geladeira e retirou uma caixinha de leite da mesma. Depositou um pouco do leite em um pequeno recipiente rosa que possuía o nome de Bubba em letras personalizadas e contornadas com lantejoulas, que ele mesmo havia produzido. Sorriu fazendo um carinho nas orelhas da gata quando a mesma se aproximou ainda meio desconfiada. – Por exemplo, o Jimin é um fofo contigo, sabe? Ele te leva para jantar e diz coisas maravilhosas, ele te pediu em namoro na frente daquele restaurante inteiro e outro dia até te mandou flores…
— Seu invejoso! – O mais novo censurou em tom de brincadeira, sentando-se na pequena copa que dividia os dois ambientes, a sala e a cozinha, e também servia como uma espécie de mesa. Deixou os pés soltos no ar enquanto os balançava infantilmente, logo roubando uma maçã que repousava tranquilamente dentro de uma cestinha.
— Não é isso, Kookie-ah! – Taehyung roubou a maçã da mão do outro e a lavou rapidamente, logo entregando de volta para o mais novo. – Mas você sabe como é bom se sentir amado, não sabe? Você sente isso todos os dias. Você não precisa se sentir inseguro com o Jimin, ele super deixa claro o quanto te ama. Eu acho isso lindo, e ok, talvez eu até sinta uma certa invejinha. – O moreno riu, enquanto mordia um pedaço de sua maçã. – O Hoseok é tão frio, ele simplesmente não responde minhas mensagens, e quando responde é todo daquele jeito torto dele. Além do mais, ele não me dá segurança alguma, eu não sei nem se ele pretende ter um futuro comigo ou, sei lá, nem mesmo um presente…
— Você mandava, tipo, umas duzentas mensagens pra ele, Taehyung…
— Olha só, não era tanto assim, tá legal? E quando ele simplesmente some sem motivo algum? Ou quando dá mais atenção pra aquele estúdio maldito do que pra mim? – Taehyung tinha o olhar perdido, como se estivesse repensando em toda sua história com o ex namorado, buscando provas que exemplificassem o que ele estava tentando dizer.
— É o trabalho dele, Taehyung. Você bem sabia que ele era um compositor, e dos bons, quando conheceu ele. – Jungkook tentava ser o mais racional possível, uma vez que realmente não concordava com as atitudes do amigo. Taehyung parecia viver em um conto de fadas, precisava de uma atenção quase integral e Jungkook não achava que Hoseok havia sido um namorado ruim, de forma alguma. Apenas queria que o Kim enxergasse aquilo também, queria o amigo feliz. – De qualquer forma, você terminou com um cara que é o amor da sua vida e agora tá aí destruído, Tae.
— Eu acho que eu estou muito bem, se você quer saber.
— Taehyung, desde que terminou com ele, você só sai de casa para o trabalho e para a faculdade. – O mais novo desceu da bancada, ainda com a maçã em mãos e precisando aguentar o observar mortal de Bubba em sua direção. – Essa sua casa tá uma bagunça, olha isso… – Pegou algumas das muitas roupas que repousavam em cima do sofá e ainda apontou sugestivamente com a cabeça para algumas caixas de pizza e garrafas de Soju que pareciam estar ali algumas semanas. – E você tem comido direito? Te conheço o suficiente para saber que não, só ficou nessas porcarias aí. – Apostou.
— Isso não tem relação alguma com o Hoseok, tá legal? Eu só ando meio… meio cansado.
Jungkook deu uma olhada pelo apartamento do amigo, suspirando contrariado e formando ruguinhas de preocupação na testa. Constatou, em suas observações, que a sala quase não aparecia tamanha era a bagunça. Ele admitia que a casa do loiro possuía uma bagunça quase natural, exatamente como a personalidade de Taehyung. Não existia um estilo único de decoração, Taehyung apenas criava cores, coisas abstratas e objetos inúteis e os espalhava pelo pequeno apartamento. As almofadas seguiam uma linha e as estantes outra, muitas cores, coisas únicas, uma verdadeira poluição visual. Mas, ainda sim, costumava ser um ambiente habitável e aconchegante, além de bonito e vivo, anos-luz diferente daquela coisa mórbida que o moreno presenciava no momento.
As tintas, os pincéis e o canto de pintura e criação em que Taehyung fazia seus trabalhos da faculdade e mantinha seus materiais e ferramentas simplesmente parecia estar estagnado no tempo, como se o Kim não mexesse mais ali. E ele sabia que era exatamente aquilo que acontecia. Taehyung estava desanimado, sem inspiração. E Jungkook só precisava que ele enxergasse isso, pois o Kim por si próprio era extremamente infantil e teimoso para o fazer.
— É sério, para com essa bobagem e vai se resolver com ele. – Tentou pela última vez. – Eu não imagino você sem o Hoseok…Vocês são, tipo, o casal perfeito.
— Ele não me ama, Jeon Jeongguk! Ele simplesmente não me ama, eu passei três anos amando e perdendo tempo com um cara que não tá nem aí pra mim e eu não quero mais insistir nessa história. Só esquece isso, tá legal? Eu vou arranjar um cara melhor, um cara que me trate bem, um cara que me ame.
— Você é um louco!
— Você sabe como eu me sinto? Você sabe o quanto é infernal se entregar pra alguém e simplesmente não receber ao menos um terço daquilo de volta? Ele não me valoriza, e ele simplesmente aceitou quando eu disse que nós deveríamos terminar. Ele ficou quieto e ele me deixou ir embora. Então você sabe o que eu vou fazer? Eu realmente vou embora. Nada nesse mundo me faz voltar atrás, e isso é sério. – Apontou um dedo na direção do outro, como se o avisasse de que aquela seria a última vez que aceitaria falar sobre o assunto.
— Tudo bem, tudo bem… – Jungkook suspirou, finalmente desistindo, erguendo as duas mãos em sinal de paz. – Eu fiquei de encontrar o Jimin daqui a pouco, mas se você tiver muito mal, posso ficar aqui contigo…
— Não precisa não, Kookie. Eu tô bem, você pode ir se encontrar com aquela coisa fofa. Se você deixar ele escapar, eu juro que pego ele para mim!
— Você não ouse, sua bicha atrevida! – Taehyung sorriu fraco, recebendo o abraço do amigo. – Fica bem, tá? Qualquer coisa, sabe que pode me ligar.
— Eu sei sim, obrigado. Não precisa se preocupar comigo, eu sou bem grandinho. – murmurou com um bico, observando o amigo abrir a porta principal de seu apartamento, enquanto ele mesmo se arrastava novamente até o sofá.
— Grandinho só de tamanho, você mais parece é uma criança birrenta. – Jungkook riu, logo fechando a porta e abandonando o apartamento do loiro antes que ele resolvesse o encher de tapas. O que, na maioria das vezes, realmente acontecia.
∞ ♫
Já passava das nove horas da noite daquele sábado e Taehyung continuava deitado no sofá. Não conseguia dormir, encontrar vontade para largar os cobertores ou mesmo concentrar sua atenção na televisão que iluminava o ambiente escuro tentando chamar atenção sem êxito algum, o que fez o Kim apenas desistir de assistir mesmo sem perceber que o fazia. O olhar do loiro estava perdido em um ponto qualquer da sala, enquanto as mãos faziam um leve carinho em Bubba, que em algum momento do dia cansou de dormir e apenas aconchegou melhor o corpo peludo nos braços do Kim. E ele nem mesmo reparou, porque haviam muitas coisas passeando pela sua mente para que ele pudesse prestar atenção no mundo real.
Certamente, se tivesse a oportunidade, o loiro escolheria não estar tão abalado. Em todas as letras, gostaria de dizer que Hoseok não significava absolutamente nada, que já nem recordava mais daquele sorriso maravilhoso ou de como se sentia bem apenas por estar na presença dele, mesmo nos malditos dias que Hoseok aparecia de mau humor e simplesmente o ignorava. Era tudo tão recente em sua memória, ele não esperava que fosse tão difícil superar, uma vez que Hoseok foi seu primeiro e único namorado, não tinha experiência com aquela situação, não fazia a menor ideia do quando doía. Além do mais, alguma coisa nele gritava para que esquecesse aquelas besteiras e fosse correndo para os braços do outro, porque lá e apenas lá se sentia bem. Uma paz quase palpável.
Só que não eram besteiras, e esse era o grande problema. Pensava em seu futuro. Pensava no presente. Pensava que amar tanto uma pessoa a ponto de se desvalorizar por ela não era algo que valia a pena. Nutrir um amor unilateral era outra coisa que não valia a pena, até quando brincariam de namorar? E se Hoseok já estivesse cansado da relação? Foram três anos, afinal. E havia aquele pequeno fato que martelava sem remorso algum pela cabeça do loiro: Hoseok não fez absolutamente nada quando ele ameaçou terminar o namoro, então sim, aquele era realmente o ponto final. Haviam cansado de lutar? Talvez. O que Taehyung sabia era que não voltaria atrás em sua decisão, por mais que estivesse sofrendo, e ele estava, deveria ser sua decisão definitiva. Não procuraria mais Hoseok, não mandaria as mais de duzentas mensagens, não encheria mais o saco.
Estava na hora de encontrar algo que fosse, no mínimo, recíproco.
E o Kim sabia que aquele não era o momento, só precisava de um tempo para recuperar aquele embrulho no estômago e a vontade de chorar constante que estava sentindo, depois pensaria em alguém para substituir aquele sentimento. Depois.
E ele sabia que não seria fácil, porque Jungkook estava absolutamente certo quando afirmou que Hoseok era o cara de sua vida, realmente o era. O único problema é que Taehyung não era o cara da vida de Hoseok.
E ele não aceitava menos do que isso.
Taehyung estranhou ouvir o som da campainha preencher o pequeno ambiente. Não fazia a menor ideia de quem pudesse ser, principalmente porque naquela noite em especial a preguiça havia sido tanta que nem discar o número da pizzaria ele se dignou. Então, se não era o entregador de pizza, sinceramente não haviam outras opções. Na dúvida, apenas calçou suas pantufas quentinhas e arrastou sem vontade alguma o próprio corpo até a porta do apartamento, abrindo-a com uma lentidão que acabou irritando Bubba – ela estava ansiosa, afinal – e encontrando apenas um envelope quadrado e branco em cima de seu tapete colorido que desejava boas vindas aos visitantes em letras grandes e negras, com dois olhos e um sorriso pintados. Obra, também, de Taehyung.
— Ué… – Estranhou, agarrando o pequeno envelope e caminhando para fora do apartamento. Alongou minimamente o pescoço, direcionando o olhar para cada canto do corredor, buscando algo ou alguém, qualquer coisa a mais que um simples envelope. Não encontrando, apenas deu de ombros e voltou para dentro do apartamento, trancando a porta e abrindo o envelope sem pressa alguma.
O conteúdo surpreendeu o loiro: um CD. Um CD simples e branco. E seria apenas aquilo, não fosse o fato de possuir algumas epígrafes em sua face principal. E foi esse fato que revirou o coração de Taehyung, uma vez que a caligrafia ali exposta, em grandes letras pretas e desalinhadas, ele reconheceria em qualquer lugar, era de Hoseok.
“I really love you but
I'm not good with words so
here you go”
Com os olhos e a boca arregalados, o loiro correu até o aparelho de som com uma Bubba curiosa atrás dele. Ligou o antigo aparelho, torcendo para que ainda funcionasse e, depositando o CD no lugar adequado, deixou que a melodia baixinha impregnasse o apartamento. Sentado no chão, involuntariamente fechou os olhos, apenas para apreciar o quão lindas eram cada uma daquelas notinhas que vagavam livres pelo ambiente, aumentando a sensação de ansiedade dentro do Kim.
“When your legs don’t work like they used to before
(Quando suas pernas não funcionarem como antes)
And I can’t sweep you off of your feet
(E eu não puder mais carregá-lo no colo)
Will your mouth still remember the taste of my love?
(Sua boca ainda lembrará do sabor do meu amor?)
Will your eyes still smile from your cheeks?
(Seus olhos ainda vão sorrir pelas suas bochechas?)”
“Darlin', I, will be lovin’ you till we’re seventy
(Querido, ainda te amarei até que tenhamos setenta anos)
And, baby, my heart could still feel as hard at twenty three
(E amor, eu ainda estarei apaixonado como se tivéssemos vinte e três anos)
And I’m thinking about how people fall in love in mysterious ways
(E eu fico pensando como as pessoas se apaixonam de jeitos misteriosos)
Maybe just the touch of a hand
(Talvez por um simples toque das mãos)
Well, me, I fall in love with you every single day
(Bem, eu me apaixono por você todos os dias)
And I just wanna tell you I am
(E eu só quero dizê-lo que eu estou)”
Taehyung pôde escutar os mesmos acordes presentes na música, mas estavam relativamente mais longe, mais reais. Bubba miou como se aquele barulho todo a estivesse irritando, e o Kim, com o coração acelerado, caminhou em passos lentos até a janela, encontrando Hoseok apenas com um violão sob sua janela. O moreno dedilhava as cordas e cantava a mesma música gravada no CD, mas sem os outros instrumentos de fundo, apenas com a simplicidade do violão.
O loiro agarrou a gata alaranjada que tentava se pendurar na janela para entender o que acontecia, apertando-a em seus braços e tentando esconder a vergonha que era encontrar os olhos de Hoseok cravados em si enquanto lhe dizia as coisas mais lindas que já havia escutado em toda sua vida. O Kim sentia-se apenas como uma adolescente apaixonada, vivendo um romance proibido com um cara que certamente sua família não aprovaria, mas que certamente o completava em todas as maneiras possíveis.
“So, honey, now
(Então, querido… agora)
Take me into your lovin’ arms
(Leve-me em seus braços amorosos)
Kiss me under the light of a thousand stars
(Beije-me sob a luz de milhares de estrelas)
Place your head on my beating heart
(Coloque sua cabeça no meu coração palpitante)
I’m thinking out loud
(Eu estou pensando em voz alta)
Maybe we found love right where we are
(Talvez nós encontramos o amor bem aqui onde estamos)”
“When my hairs all but gone and my memory fades
(Quando meu cabelo cair e minha memória falhar)
And the crowds don’t remember my name
(E as multidões não lembrarem meu nome)
When my hands don’t play the strings the same way
(Quando eu não conseguir mais tocar do mesmo jeito)
I know you will still love me the same
(Eu sei que você continuará me amando igual)
Cos, honey, your soul could never grow old
(Porque, querido, a sua alma nunca envelhece)
It’s evergreen
(É sempre jovem)
And, baby, your smiles forever in my mind and memory
(E amor, seu sorriso sempre estará em meus pensamentos e lembranças)”
— We found love right where we are… – Dedilhou uma última vez as cordas, terminando a música em um tom baixinho e encarando Taehyung com um sorriso satisfeito, como se tivesse conseguido executar com perfeição todos os planos que passaram em sua mente, apesar de estar um pouco inseguro.
Taehyung era um romântico incorrigível, amante dos contos de fadas e uma eterna criança. Claramente já havia mandado todas as suas incertezas para o espaço no preciso momento em que escutou as primeiras notinhas da música. Era tão óbvio que já havia perdoado Hoseok. Bubba, por sua vez, precisava de mais incentivos para que fosse novamente conquistada, e em toda sua irracional inocência, acabou acertando a pata em alguns vasos de flores que repousavam no parapeito da janela, derrubando-os todos em cima de Hoseok que, por sorte, conseguiu desviar de alguns, mas não deixando de ficar menos sujo com a água e o bocado de terra provindos dos vasinhos.
— Meu Deus, Bubba! Olha o que você fez… Vai matar o meu sapo justo quando ele resolve virar príncipe? – Taehyung ralhou antes de correr pelas escadas com uma pressa anormal para quem antes havia passado o dia inteiro inerte no sofá e sem vontade alguma de viver. Abriu a porta principal do prédio, encontrando um Hoseok todo sujo, batendo as roupas e tentando proteger o violão, mas o semblante sereno não exibia qualquer indício de raiva ou irritação. – Quer subir? – Indagou o loiro com um sorriso bobo, encostando a cabeça na lateral da porta de ferro.
— Eu acho que vou aceitar, sabe? Tô precisando de um banho… – Coçou a nuca sem graça, enquanto Taehyung ria de forma quase escandalosa, entendendo a malícia implícita naquela frase. Estavam algumas semanas sem se ver, afinal.
∞ ♫
Algumas horas depois, Taehyung estava deitado sobre o peitoral do mais velho, enquanto o mesmo brincava com suas mãos. Estavam cansados, extasiados, silenciosos, mas absurdamente felizes, apenas aproveitando aquela sensação entorpecente que era sentir o corpo colado e os toques um do outro novamente, o prazer de sentir as respirações cansadas e o cheiro de sexo que impregnava o quarto depois de novamente se tornarem um único corpo.
— Senti tanto a tua falta… – Hoseok murmurou, apertando o menor em seus braços com uma força quase desnecessária, que o outro não se importou infimamente.
— Vivi de pizza e cerveja por sua causa, nem as minhas pinturas dos seus sorrisos eu conseguia fazer mais… – murmurou com um bico.
— Isso porque você é besta, fica me perguntando coisas idiotas, achando que eu não te amo… – Afastou os cabelos molhados da testa do Kim, depositando um beijinho ali.
— Então você ama? – Perguntou, os pequenos olhinhos brilhando em expectativa. Era apenas aquilo que faltava para o menor, somente uma certeza, era só o que ele precisava.
— Taehyung… – Chamou baixinho, depositando as mãos uma em cada bochecha do loiro e o encarando com seriedade.
— Olha, tudo bem se você não consegue dizer, é só que é estranho pra mim você amar alguém e não conseguir dizer isso, quer dizer, sabe? Você me entende?
— Mas eu amo! – Interrompeu o outro sem hesitação alguma. – É lógico que eu te amo e eu sempre vou te amar. – O olhar estava perdido, como se estivesse travando uma batalha interna para escolher as melhores palavras. – Você tem uma parte de mim que ninguém mais tem, e eu sinto muito se eu não consigo demonstrar isso, eu sinto mesmo. – Molhou os lábios, estava tão inseguro e as mãos tremiam ao pressionar as bochechas do menor. – Gostaria de poder suprir todas essas tuas fantasias, queria mesmo que o nosso namoro fosse como essas histórias que tu vive lendo por aí, mas a verdade é que eu não sou assim. Eu tenho defeitos, tenho dias ruins, sou humano. Eu só queria que tu entendesse que eu não posso te pedir para ficar se tu não quiser ficar, eu não posso deixar o meu trabalho assim como você não pode deixar o seu, porque o que nós fazemos e as experiências que vamos acumulando na vida são coisas que nos formam como pessoa. Escrever e produzir músicas é como uma segunda parte de mim, assim como criar suas coisinhas estranhas e bagunçar tudo que vê pela frente é uma parte enorme de você, e nós vamos ter que aprender a conviver com isso. Mas, principalmente, eu não posso te ver infeliz e implorar para que tu fique, eu não posso. Eu só aceito estar na sua vida se for para te fazer feliz e–
— Eu não preciso que você mude, eu te amo exatamente dessa forma… – Hoseok uniu as sobrancelhas em confusão. – Eu sei que sou chato e fico te cobrando essas coisas bestas… – fez um bico. – Mas eu não preciso de mais nada, sério… Eu não quero que você seja uma coisa que não é. E apesar de eu me sentir inseguro a maior parte do tempo, eu juro que vou parar de ignorar noites como essas, em que você apenas me dá todas as certezas que me deixam totalmente paranoico durante o dia. E eu realmente só precisava desse eu te amo. Só isso. E você já me deu, agora você pode voltar a ser o idiota de sempre porque por nada nesse mundo eu vou te largar.
— Já que tenho permissão para ser idiota novamente… – O moreno pareceu pensar. – Deixa eu te dizer que isso aqui tá muito, muito gay. Muito gay mesmo!
— Muito hétero que você é né senhor vou te amar até os setenta anos, blah blah blah… – Debochou, abraçando o outro pelo pescoço e depositando vários beijos pelo rosto do maior.
— Ei… – Hoseok pareceu lembrar – Escutou o CD inteiro?
— Pera, tinha mais?
— Só umas quarenta e quatro músicas sobre o quanto eu amo você.
I’m thinking out loud
Maybe we found love right where we are…
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.