– Ok, então são dois cafés expressos, um brownie e um croissant? – repetiu Percy para duas universitárias sentadas numa mesa em frente a janela, ambas dando um aceno de concordância com muita veemência na opinião de Percy.
Ele sabia que não era convencional, só não sabia que isso se estendia até arranjar aquele emprego.
Fazia 3 dias que havia chegado aquele mundo e havia decidido dar uma volta pela cidade, não só para conseguir um emprego, mas também para averiguar qualquer coisa ou situação remontante grega ou romana. Espionar ou reunir informações não era seu forte, e a todo momento ele desejou que Annabeth ou qualquer filho de Atena, até mesmo um filho de Hermes, estivesse ao seu lado.
No segundo dia fazendo sua ronda, Percy se deparou com uma cena que fez o seu sangue ferver. Dois homens mascarados emboscaram uma senhora de 40 e poucos anos, ambos armados com facas, prendendo a mulher contra a parede.
Ainda era fim da tarde, o sol nem havia desaparecido.
Primeiro, ele pensou em chegar sorrateiramente por trás e desarmá-los o mais rápido possível, sem atrair atenção demais pro ato. Quando viu que um dos homens tentou colocar a mão por baixo da saia da mulher, Percy se desligou completamente e partiu pra cima.
Aconteceu muito rápido na percepção de Percy que se acostumou a enfrentar vários combates corpo a corpo com filhos de Ares, especialmente Clarisse. Ele desarmou o primeiro homem, dando um soco fazendo-o cair de lado, já o segundo mirou a faca na barriga de Percy, que rapidamente desviou, dando por fim uma cotovelada tão forte nas costelas do bandido que ele jurou ter ouvido o som de um osso quebrado. Em questão de segundos havia dois bandidos no chão desacordados.
Em outro momento, Percy teria ficado orgulhoso da sua evolução, mas toda a sua atenção se concentrou na mulher que o encarava perplexa.
– Meus deuses, você está bem? Eles te machucaram em algum lugar? Precisa de um hospital? – perguntou gentil, não querendo colocar a mulher em uma situação mais estressante.
– Estou bem – disse por fim a mulher desconhecida, tentando se recompor – Muito obrigada por ter me ajudado. Já estava rezando pro Batman aparecer – brincou, e Percy já sabia que iria gostar dela – Meu nome é Charlotte.
– Percy – se apresentou e virando para os ladrões desacordados – Devíamos ligar pra polícia?
Charlotte bufou com a pergunta.
– Para eles serem soltos daqui 1 semana e virem atrás por vingança? – falou com raiva, chutando a perna do bandido mais próximo – Não, vamos os deixar aí e jogar as armas fora. Você bateu tão forte neles que agora pensarão duas vezes antes de assaltar alguém.
Percy não achou a atitude de deixar potenciais estupradores andando por aí lógica, e rezou muito para aquela mulher estar certa.
– Pode me acompanhar? Andar sozinha por aí meio que complica as coisas – Percy teria acompanhado Charlotte mesmo se ela não pedisse.
Sally o criou muito bem.
– Claro – assentiu e começou a acompanhar o andar dela, percebendo a roupa extravagante de Charlotte, ou melhor, a extravagância que era Charlotte.
As roupas eram uma mistura de rosa e roxo, assim como sua maquiagem, cabelos bem hidratados e loiros, quase brancos, brincos com várias pérolas coloridas que quando o sol batia, produzia pequenos arco-íris.
Se estivesse no seu mundo, certeza que ele apostaria que Íris era sua mãe divina.
– Você não é daqui, não é? –perguntou o analisando.
– Você não é a primeira a acertar – murmurou, já ficando farto de ser tão óbvio que ele era um estrangeiro – Aonde estamos indo?
– Eu esqueci meu celular na minha cafeteria, estava voltando pra pega-lo quando aqueles filhos da puta surgiram do nada – reclamou espumando de raiva – A maioria dos bandidos comuns tem medo dos Morcegos o suficiente para não agir de forma imprudente, mas sempre tem uns desgraçados que não tem medo de morrer.
– Morcegos? – perguntou levantando uma sobrancelha.
– É uma das formas que chamamos os vigilantes – explicou e Percy teve que reprimir uma risada quando pensou que o termo “vigilantes” parecia ser de uma história em quadrinhos.
O que, tecnicamente, era onde ele estava.
– Os vigilantes, sabe? Batman, Robin, Asa Noturna, Capuz Vermelho e Robin Vermelho – continuou Charlotte.
– Eu sei do Batman e do Robin, mas não lembrava que tinha tanta gente – Charlotte soltou um suspiro triste.
– Não precisamos de tanta proteção se não corressemos risco de vida só por sair de casa – resmungou melancólica – Mudando de assunto porque já tá ficando tenso, o que você iria fazer antes de dar uma de justiceiro?
– Bom, – Percy pensou por um momento o que iria dizer – antes de usar minhas aulas de judô, eu estava procurando um emprego.
Os olhos de Charlotte brilharam, um sorriso surgindo.
– Bom, acho que já sei como te agradecer.
É foi assim que em seis dias Percy não só conseguiu dois amigos, como de brinde um emprego numa cafetaria, cuja área movimentada era cheia de fofocas e informações.
Se ele não fosse Percy Jackson, herói da profecia, ele diria que o destino sorriu pra ele.
– Ok, já voltou com seus pedidos – disse sorrindo e voltando para o balcão, não notando os suspiros das duas garotas – Mais um pedido, Mike.
Um rapaz asiático de cabelos curtos, um pouco mais velho que Percy, surgiu, trazendo uma bandeja com bolo e chá.
– Mesa cinco, novato – disse com um sorriso maroto, trocando a bandeja pelo bilhete.
Os dois foram apresentados há apenas duas horas, mas já estavam em sincronia.
– Mais um pedido pra mesa oito – uma voz com sotaque sutil disse. Pertencia a outra atendente, Letícia, que até onde Percy sabia, era brasileira.
– De novo? – perguntou Percy ajeitando a bandeja – Eles estão aqui desde que Charlotte abriu.
– Adolescentes, não tem nada melhor para fazer – respondeu Letícia, o sotaque imperceptível, aparecendo somente quando se irritava – E eles estão cabulando aula, então serão mais três horas.
Os homens gemeram, já prevendo a bagunça que seria limpar a bagunça depois que o grupo de adolescente fosse embora.
Em resumo, estava sendo um bom primeiro dia de aula.
Os três se despediram e voltaram às suas funções. Mike preparando os cafés, Letícia recebendo novos clientes e Percy servindo as mesas. Havia um andar em cima da loja, onde Charlotte ficava a maior parte do tempo, lidando com as contas e qualquer parte burocrática.
A cafeteria poderia ter sido tirada de um livro. O ambiente era aconchegante com cores pastéis, tendo várias mesas espalhadas e alguns sofás para melhor conforto, algumas banquetas em frente ao balcão, caso a pessoa queira um lanche rápido ou conselhos de vida.
Percy e Letícia se entreolharam quando voltaram para o balcão, vendo pra onde aquela bandeja cheia de energético ia.
– Como você é novo, eu lhe dou as honras – Letícia empurrou de leve a bandeja na direção de Percy.
– Você é veterana, não pode deixar um novato ter tal honra – ele empurrou a bandeja pro lado.
– E por ser veterena, é que eu estou dando essa oportunidade de crescimento – disse empurrando a bandeja de volta – Vai logo, eles estão te esperando.
Percy suspirou pegando a bandeja.
– Pensei que os brasileiros fossem mais gentis.
– Olha o estereótipo, isso é xenofobia – sua voz era firme, mas Percy sabia que ela estava brincando.
Percy voltou-se para mesa circular com sofá, cinco adolescentes (3 garotos e 2 garotas) com olhares entediados, todos trajados em uniformes de escola particular.
Lembranças da Academia Yancy rodaram pela cabeça de Percy.
– Finalmente, já tava criando raízes – reclamou um dos garotos.
Percy usou todo o seu autocontrole para não mandar o garoto ver se ele estava na esquina.
– Foi mal a demora – disse terminando de servi-los – Precisam de mais alguma coisa?
– Seu número, de preferência – respondeu a garota mais próxima, dando uma piscadela para Percy.
Antes que ele pudesse responder que não gostava de crianças (a garota tinha 15 anos), Letícia surgiu ao seu lado.
– Percy, Mike precisa da sua ajuda – assentiu com a cabeça, agradecendo mentalmente a existência de Letícia.
– Qual a boa? – perguntou passando pelo balcão, ficando ao lado de Mike.
– Andressa tá quase botando fogo na cozinha, vou lá rapidinho e você cuida do balcão – o queixo de Percy caiu.
– É o meu primeiro dia, não to pronto pra isso – disse rápido, com medo de envenenar alguém sem querer (colocar leite no café e a pessoa ser intolerante a lactose).
– Só vai ser 10 minutinhos, tá de boa – antes que pudesse argumentar mais uma vez, Mike já havia corrido pra cozinha.
Percy se virou ao ouvir a campainha, um sorriso surgindo quando viu quem era.
Jason
Tim tava enlouquecendo, me levando junto.
Resolvi passar na mansão e o garoto parecia um zombie, sobrevivendo pela cafeína. Alfred aconselhou a Tim a dar uma volta e que eu poderia acompanhá-lo.
Tim respondeu que precisava resolver algumas coisas da empresa e eu respondi que não queria.
Agora caminhávamos pela calçada, Tim não calando a boca, criando várias teorias sobre, mais uma vez, o aviso de Diana.
– Não dá pra falar de outra coisa não, porra? Já tá repetido – esbravejei.
– Não dá pra você ser mais educado? – rebateu irritado.
Bufei.
O estômago de Tim roncou, sendo seguido pelo meu.
– Vamos voltar pra mansão ou comer alguma coisa? – perguntou.
Balancei a cabeça.
– Ainda tá cedo para voltar, vamos apenas comer alguma coisa leve – meus olhos recaíram sobre um prédio baixo e bonito – Aquele lugar parece bom.
Tim assentiu e seguiu ao meu lado.
Assim que abri a porta, tive que segurar o sorriso que surgia.
Depois daquela noite, Percy sempre aparecia na minha porta com algum doce ou pergunta, e eu suspeitava que ele aparecia apenas para conversar. As conversas eram curtas, mas Percy sempre conseguia arrancar uma risada minha.
Ainda estava me decidindo como eu deveria me sentir sobre isso.
– Belo avental – disse, me sentando na banqueta.
– Cuidado Jason, posso me acostumar a ser elogiado – piscou pra mim, sua cabeça pendendo pro lado – Quem é seu amigo?
Virei a cabeça, lembrando de Tim. Ele me encarava cético, sentando-se ao meu lado.
– Eu poderia perguntar a mesma coisa – disse me encarando, se voltando para Percy – Sou irmão dele. Meu nome é Timothy, mas prefiro que me chamem de Tim.
– Sei como é – Percy estendeu a mão – Meu nome é Perseu, mas me chame de Percy.
– Perseu como filho de Zeus? – perguntou curioso, apertando a mão.
– Infelizmente, sim – concordou largando a mão de Drake.
– Não sabia que tinha conseguido um trabalho – falei.
– Hoje é meu primeiro dia, ainda tenho chance de ser dispensado – disse simplesmente, o meio sorriso ainda presente – Vão querer alguma coisa?
– Hum – ponderou Tim, pegando um cardápio que estava na mesa – Vou querer um café grande puro e um sanduíche natural.
– Mesma coisa, só troque o café grande por um pequeno – Percy assentiu e se distanciou.
Tim se virou pra mim, o olhar acusatório.
– Fala logo, inferno – disse.
– Estou tentando entender o que aconteceu aqui – falou apontando a cabeça em direção a Percy – Desde quando você tem amigos?
– Desde que ele se mudou pro apartamento ao lado – respondi revirando os olhos.
Tim estava exagerando.
– Aquele que quando eu perguntei se poderia investigar e quase que você pulou no meu pescoço? – perguntou indignado.
Dei de ombros.
– Por aí.
Ele ficou me encarando.
– Você é um idiota possessivo.
Antes que eu pudesse entender o que ele queria dizer, Percy voltou com os nossos pedidos.
– Espero que gostem, pois os cozinheiros quase morreram fazendo-a – ele nos serviu, sempre sarcástico.
– É tão difícil fazer um sanduíche – perguntou Tim já começando a comer.
– Quando tem duas pessoas pavio curto cozinhando, então a resposta é sim – respondeu, um estrondo vindo da cozinha – Esses dois vão se matar.
Nossa conversa foi interrompida por um grupo de risadas, uma atendente irritada surgindo ao lado de Percy.
– O que foi agora? – a voz de Percy adquiriu um tom dramático.
– Eles pediram a conta e quando a fui entregá-la, disseram que ficaram surpresos por uma “latina que fala espanhol” entendê-los – o sotaque visível enquanto explicava fazendo aspas com a mão – E quando eu respondi que eu era brasileira e que não falava espanhol, eles simplesmente riram da minha cara! Ainda bem que já tão indo embora.
Percy ergueu a sobrancelha, um sorriso ladino surgindo.
– Não é você que tá cuidando do caixa?
Os ombros da garota caíram, sussurrou alguma coisa que eu não entendi e se afastou.
– Primeiro dia e já está familiarizado? – ele encarou a companheira de trabalho com pesar.
– A dor aproxima as pessoas – ri da sua fala – Ei! Tenha um pouco de empatia.
Ri mais uma vez, os olhos de Tim me perfurando.
Tomei um gole de café, notando que os adolescentes já estavam indo embora, com exceção de uma garota que se aproximava, um sorriso enjoativo nos lábios.
Ela sentou do meu lado e se inclinou na direção de Percy, um desconforto me atingiu.
– Este é meu número. Me liga, bonitão – deu uma piscadela e saiu com seus colegas, deixando Percy perplexo.
Um silêncio desconfortável, sendo quebrado por uma tosse de Tim.
– Então, foi você que fez os cookies? – perguntou, tentando mudar de assunto.
– Modéstia a parte, cookie azul é minha marca registrada – respondeu se afastando do papel – Jason deu para você?
– Nah, o egoísta queria os cookies só pra ele – dei um tapa na nuca de Tim e isso só o divertiu Percy.
– Claro, se eu deixasse não sobraria nada para mim – o sorriso do homem à minha frente aumentava.
– Bom saber que eu ainda consigo causar uma discórdia familiar.
Percy se despediu e foi arrumar as mesas.
Eu e Tim comemos em silêncio e em 5 minutos estávamos de saída.
Fomos para o caixa e ao terminar de pagar, Percy apareceu.
– Nós vemos depois?
– Não vejo a hora – trocamos um cumprimento e nos afastamos.
Meu celular tocou assim que eu e o Tim pisamos na rua.
– O que foi agora Dick? – minha irritação voltando.
– Temos um novo caso e Alfred quer vocês de volta para almoçar – assim que terminou ele desligou na minha cara.
Filho da mãe.
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