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História Peregrinos - Um novo chefe - História escrita por makkachin - Spirit Fanfics e Histórias
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História Peregrinos - Um novo chefe


Escrita por: makkachin

Capítulo 3 - Um novo chefe


Muitas pessoas se reuniram no pátio central da tribo, local onde o corpo do Grande Yagi seria queimado antes da procissão seguir para a pilha de corpos que estavam na área externa, já que havia mais espaço por lá. Bakugo não podia negar que vez ou outra conforme o vento se movia pelo ar ele tinha que prender a respiração por causa do cheiro.

Assim que o novo chefe da tribo fosse apontado todos teriam que se mudar para um novo lugar. Era comum a tribo fazer jus à seu status nômade a cada dois ou três verões, achar um novo lugar com pastagens frescas para os animais, o que no deserto nem sempre era tão fácil de encontrar, mas se eles se moviam com mais frequência era mais fácil deixar que a natureza cuidasse de si mesma para que eles pudessem ter novas paragens para se instalar.

Sem falar que, dessa vez seria difícil ficar por ali, não apenas pelas memórias, mas pelo fato de que muitas vezes as pessoas ficavam doentes quando entravam em contato com corpos, e se a tribo estivesse fraca isso não seria bom para eles.

O grupo que esperava pela celebração ia aumentando já que depois da refeição a maior parte das pessoas ficou ali pelo pátio central. Num dia como aquele não havia muito trabalho a ser feito, a não ser tomar conta dos animais como de costume, mas ninguém tinha cabeça para fabricar roupas ou coletar plantas ao redor.

Os guerreiros estavam todos no mesmo grupo, vestidos com suas melhores roupas, ainda que boa parte delas estivesse rasgada por causa da batalha. Ainda assim eles foram se lavar no riacho ali por perto, já que era tradição estar bem vestido para a despedida.

Apenas pensar naquilo era difícil para Bakugo, porque ele não conseguia nem acreditar que isso tudo era verdade.

“Quem você acha que vai ser o nosso novo líder?” Bakugo ouviu a conversa entre Momo e Shoto, os dois falando em baixo tom. Momo estava com seus olhos vermelhos de tristeza, e Shoto parecia mais introspectivo do que o normal.

“Eu não sei,” respondeu Shoto.

“Acho que talvez vá ser Mestre Aizawa, já que ele era o mais próximo do Grande Yagi,” disse Momo, apenas colocando a ideia no ar.

Bakugo tinha certeza que Mestre Aizawa seria uma boa pessoa para guiar a aldeia, mas uma parte dele não podia deixar de se sentir um pouco roubado da chance, já que ele ainda era um guerreiro jovem e mesmo ser ter muita experiência com as reuniões dos líderes seria alguém que poderia virar um chefe no futuro.

Sem falar que Bakugo nunca tinha expressado aquele desejo para ninguém, mas talvez fosse mais porque ele quisesse poder fazer o melhor para sua tribo, e ficar ali parado não ajudaria ninguém.

“Não sei,” Shoto respondeu. “Na história de nossa tribo isso raramente acontece - alguém da mesma geração do chefe atual tomar o lugar dele - e eu não vejo isso acontecendo agora. Grande Yagi deveria estar treinando alguém para tomar seu lugar, ou pelo menos pensando em alguém.”

Momo ficou pensativa por um momento, como se estivesse analisando quem poderia ser essa pessoa, mas pela cara dela não havia uma resposta. Bakugo também não sabia quem poderia ser, porque mesmo que ele conhecesse todos os jovens da idade dele, ninguém tinha exatamente muito tempo de treinamento com Yagi - a não ser Deku, mas ele dificilmente seria apontado como o chefe da tribo sendo que ainda nem sabia se defender com uma espada.

Tamanha foi sua surpresa então quando Mestre Aizawa e Deku saíram lado a lado da tenda dos líderes. Aquilo causou o silenciamento de todas as pessoas que estavam no pátio.

Nos rostos de todo mundo era possível ver ideias se acendendo, as pessoas imaginando o que estava para acontecer ali. O normal seria todos os líderes estarem juntos para coroar Mestre Aizawa, mas com o homem aparecendo apenas ao lado de Deku, aquilo significava algo diferente.

Tudo fez ainda mais sentido quando Bakugo viu o que estava nas mãos de Deku: a adaga do chefe e a obsidiana. Aqueles objetos eram usado apenas quando se fazia a celebração da despedida de alguém, e o chefe é quem acendia a chama da purificação.

Se aquilo estava na mão dele, só havia um significado.

Bakugo não podia acreditar. Subitamente o sangue subiu a cabeça. O que havia passado pela cabeça do chefe?

A decisão pareceria óbvia do ponto de vista de tudo que havia acontecido no passado, mas para o momento Bakugo não acreditava que Deku seria a melhor pessoa para os guiar. Eles tinham a mesma idade, mas Deku não tinha experiência alguma com nada. Ele era um nada, mas Bakugo apenas lembrou as últimas palavras de Grande Yagi para ele, e como seria difícil respeitar elas.

Quase impossível.

“Dos momentos mais difíceis é que nasce a esperança de um novo amanhã,” anunciou Mestre Aizawa para a tribo.

Quem não estava ali ainda foi chegando, quem estava fez lugar para os outros poderem chegar mais perto. Bakugo sentiu uma mão na sua, e só então ele percebeu que estava apertando o cabo de sua espada tão forte que seus dedos estavam brancos.

Momo tocou levemente na mão dele, assim como Eijirou que chegou perto dele. Bakugo soltou sua espada, e respirou fundo, mas não disse nada.

“A decisão do Grande Yagi foi feita, e como vocês podem ver nós estamos caminhando para um novo futuro.” Mestre Aizawa andou para o meio da tribo, perto de onde o corpo de Grande Yagi estava no meio da pilha de lenhas. Ele se virou para todos, mas olhou para Deku. “Na despedida de alguém sempre sabemos que a saudade será grande, mas a visão de um novo amanhã nos incita a dar o próximo passo.”

Ele chamou Deku com um gesto de sua mão, e Bakugo conseguia ver como ele tinha medo. Algo no interior de Bakugo até se sentia mal por ele, mas o resto de suas emoções não podia deixar a compaixão ser maior. Assim como Bakugo, muitas pessoas pareciam surpresas e até temerosas do que o futuro aguardava, mas não era escolha dele ou de qualquer uma delas.

Deku não disse nada, apenas se virou para a pilha de lenhas e segurou a adaga em mãos. Ele precisava riscar a adaga na obsidiana para fazer fogo, e logo na sua primeira tentativa nada aconteceu.

De longe era possível ver suas mãos tremendo, e o medo dentro do próprio Bakugo apareceu por um piscar de olhos. Aquele era o chefe dele, agora ele teria que se ajoelhar para Deku, mas em momento algum ele sentiu confiança naquilo.

Depois de algumas tentativas frustradas Deku finalmente conseguiu fazer as palhas no fundo da pira se acenderem, e quando ele se levantou os olhos estavam marejados. Grande Yagi estava se despedindo deles, e mesmo que Bakugo sentisse falta do homem, a severidade do momento se perdia em suas preocupações.

Ao fundo, uma das curandeiras da tribo começou a cantar uma das velhas canções na língua dos antepassados, trazendo o resto da tribo para cantar junto enquanto eles assistiam a pira se acender. Como o corpo estava preparado e embebido em líquidos inflamáveis, em poucos instantes o fogo tomou conta e rugiu alto.

O trabalho de Deku estava apenas começando, porque Mestre Aizawa o guiou ao redor da pira e os dois seguiram caminhando para a área externa da tribo, onde a pilha de corpos estava. Todos seguiram atrás deles, cantando a canção que as curandeiras iniciaram.

Bakugo não sabia a letra, já que ele era da geração mais jovem, mas mesmo sem entender muito ele conseguia sentir a importância daquilo para a tribo. Todos estavam unidos em volta de um mesmo coração, todos se voltavam para o mesmo lugar, e sua sobrevivência dependia de cada um.

Os guerreiros seguiram ao lado dele, os mais velhos na frente e os jovens atrás, cada um um com seu silêncio. De longe ele podia ver Deku chegando perto da pilha de corpos, e a visão daquilo ainda causava um certo espanto em Bakugo, porque ele nunca havia visto algo assim antes. Ninguém sabia reagir da melhor forma àquela visão.

Mestre Aizawa dirigiu Deku para o melhor local onde ele poderia acender a chama, e quando Bakugo chegou mais perto o fogo já tinha começado a se espalhar - talvez Deku tinha aprendido a lidar com a adaga.

Ainda assim era bizarro ver quem era essencialmente uma criança no lugar de um líder tão importante como Grande Yagi. Talvez Bakugo nunca fosse se acostumar aquilo. Uma parte dele nem queria.

-

Deku não conseguia controlar o tremor em suas mãos. Sua cabeça girava de um lado para outro, e a qualquer momento ele tinha medo de desmaiar por causa do cheiro de carne a apodrecer, mesmo que mal tivesse passado um dia do que aconteceu. A cabeça dele não sabia nem o que pensar, porque tanto havia mudado no espaço de um dia que até parecia que ele havia perdido dois, três verões de sua vida num respiro.

Ele tinha medo de olhar para as pessoas ao redor, medo de enxergar no rosto delas o desapontamento com a decisão do Grande Yagi, de ver o julgamento delas à respeito do novo chefe. Deku tinha medo de pensar muito no futuro, porque ele teria que fazer decisões sobre a tribo, teria que escolher um caminho a seguir, mas neste momento ele tinha até dificuldade em não trançar suas pernas ao andar.

Deku deu uns passos para trás para ficar longe do fogo. Mestre Aizawa ainda estava ao seu lado, mas Deku se sentia sozinho como nunca. Uma de suas reações seria correr para o colo da mãe, mas aquilo não servia mais para um chefe da tribo. Seu olhar percorria a redondeza, e entre as tendas queimadas, a tribo dele dividida entre vivos e mortos, e a insegurança de estar ali no meio de um deserto que parecia até não ser mais a casa de ninguém, Deku não sabia nem qual seria a primeira coisa que deveria fazer.

Por mais que ele tivesse participado de reuniões com os líderes, por mais que ele se lembre das coisas que Grande Yagi lhe falou sobre como cuidar do seu povo, sobre como levar a tribo à frente, Deku não fazia ideia de como essas coisas se transferiram para a realidade.

“Sob o fogo dos que se vão, nasce um novo líder para todos nós,” anunciou Mestre Aizawa, trazendo os olhos de Deku para ele, assim como a atenção da tribo. Ele caminhou para o lado de Deku, colocou uma mão em seu ombro e sorriu para ele. Seu sorriso parecia incerto, mas esperançoso.

Deku não queria desapontar ninguém, disso ele tinha certeza.

“Eu apresento a todos vocês, Chefe Deku. Ele é quem irá nos guiar neste momento difícil, quem irá nos proteger e acolher a todos que precisam de ajuda. Assim como Grande Yagi nos levou por um caminho próspero, Chefe Deku irá nos carregar para o alto dos céus. Ele será um grande líder.”

As pessoas olhavam para Deku, algumas com a atitude submissa ao aceitar o novo chefe e confiar nele, mas Deku conseguia ver nos olhos de outras a desconfiança. Especialmente nos guerreiros, nas pessoas que já lutavam pela tribo e simplesmente não conheciam Deku, assim como ele não os conhecia.

O olhar de Deku encontrou o de Bakugo, e se ele viu desconfiança em outras, ali ele via algo parecido com raiva, desgosto. O último encontro entre eles dois havia sido no alto da batalha, quando Deku estava desprotegido e Bakugo apareceu. Agora os papéis se inverteram, porque Deku deveria significar a salvação da tribo, e Bakugo parecia se sentir em perigo.

Mestre Aizawa apertou seu ombro. Deku sabia o que tinha que fazer.

Ele respirou fundo antes de abrir sua boca. “Um por todos!” Ele exclamou, sua voz tendo dificuldade para alcançar a todos.

“Um por todos,” respondeu a tribo, dividida, indecisa, sem forças. Aquilo poderia ser o retrato da invasão, mas Deku tinha suas dúvidas.

Era óbvio que a tribo ainda não confiava nele.

O próprio Deku não confiava em si mesmo. E uma tribo sem um chefe que chegasse a todos significava o fim para eles. E talvez eles estivessem mais próximo do fim do que nunca antes.

 


Notas Finais


Aqui encerra o primeiro mini-arco da história - e só publiquei os três primeiros capítulos assim juntos pra encerrar essa parte aqui. Agora acho que vou seguir o meu calendário comum de um/dois capítulos por semana.


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