Por mais que Deku tivesse oferecido sua ajuda a Bakugo, eles não puderam fazer muita coisa naquela noite. Coitado de Bakugo, estava todo inchado em suas partes íntimas, e Deku tentou segurar o riso ao ver aquilo tudo, mas ele quase soltou uma gargalhada mesmo assim, o que fez Bakugo ficar um tanto bravo com ele.
No final das contas eles foram dormir juntos, e Deku fez questão de fazer uma massagem em Bakugo - nas costas, porque toda a sua área íntima estava dolorida, mas o que valia era a intenção.
Também não seria muito indicado eles se cansarem demais naquela noite, já que a viagem iria continuar no dia seguinte, e Deku mais do que ninguém precisava estar bem descansado para poder guiar a tribo.
Sua mente não conseguia relaxar, contudo. Assim que deitou em suas peles com Bakugo, o guerreiro ao seu lado se virou e dormiu, roncando baixinho enquanto Deku ficava olhando para o teto de sua tenda. Havia tantas coisas em sua cabeça que ele nem sabia em qual delas pensar primeiro, mas as imagens do que aconteceu naquela tarde eram as mais pertinentes.
Por um lado Deku estava feliz que tantas pessoas tinham se voluntariado para aprender a lutar, do jeito que fosse, e gostou de ver como a tribo inteira estava interessada nisso. Seu coração se sentia mais aliviado ao entender que, se fosse preciso, mais pessoas poderiam ajudar, mais vidas poderiam ser poupadas, porque mesmo que eles estivessem acostumados as idas e vindas da vida, ninguém queria repetir o que aconteceu durante a invasão.
As lembranças daquele dia traziam mais pensamentos a Deku. O pequeno Kota, que já parecia tão forte mesmo com a tenra idade, era figura central na mente do chefe. Primeiro porque ele era uma criança que queria lutar, e segundo porque ele já tinha tanta força dentro de si, que certamente precisava direcionar ela para um lugar.
Mas Deku também não podia esquecer que Kota estava ali por um motivo: ele não tinha mais grande parte de sua família.
Deku também não tinha parte de sua família, mas cresceu com sua mãe e junto com o Grande Yagi, que foi figura central para ele, muito mais do que um pai poderia ter sido. E Kota só tinha uma parte de sua família distante, não havia mais ninguém com ele. Deku não podia deixar de sentir uma certa ligação com Kota. Se o Grande Yagi escolheu ele para se aproximar uma vez, Deku sentia que Kota era a sua escolha.
Talvez nem fosse para liderar a tribo, afinal de contas eles não tinham grande diferença de idade, e Deku não queria morrer assim tão logo. Mas uma vez alguém se dispôs a mostrar o mundo para Deku, a ensinar coisas a ele, a transformar Deku na pessoa que ele é hoje.
E parecia ser um sinal eles terem se encontrado naquele dia, porque Deku tinha sua mente sempre voltada a essa peregrinação da tribo, a encontrar um lugar para eles ficarem depois, e que garantiria o futuro deles, mas Deku não parou para pensar no que esse futuro poderia significar. Claro que o mais fácil agora era considerar o futuro próximo, chegar até a cidade mítica que os acolheria de braços abertos, e depois pensar no que eles iriam fazer.
Só que se juntar a uma sociedade já formada seria um obstáculo que eles nunca enfrentaram antes, especialmente para Deku, que era o chefe agora mas não fazia ideia do que sua liderança iria significar em um lugar em que eles não seriam os donos.
Por horas Deku ficou imaginando cenários diferentes, indo e voltando em suas posições e ideias para tentar encontrar um campo onde poderia explorar mais os seus pensamentos. Quando se cansou de pensar ele abraçou Bakugo e dormiu, mas a noite passou num piscar de olhos, e mais cedo do que ele gostaria a tribo começou a despertar para retornar a sua viagem.
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Dizer que Bakugo estava sofrendo era pouco. Ele tinha que andar com seu cavalo no grupo de trás, fechando a caravana da tribo, mas sentar na garupa do animal era um pouco sacrificante hoje. Quando ele acordou naquela manhã e viu Kota durante o café, Bakugo queria ter ido dar umas boas palmadas nele, mas já era ruim o bastante que os outros guerreiros da tribo tinham rido dele, Bakugo não queria dar ainda mais motivos para virar piada.
Imagina ele, o guerreiro mais forte da tribo comprando briga com uma criança.
Por aquele motivo ele não falou nada sobre subir no cavalo e fazer seu trabalho, mas ele também não conseguia ignorar a dor completamente. E somava a aquilo o frio que tomava conta do deserto, então Bakugo estava de mau humor.
Pelo menos não houve problemas em fazer a tribo caminhar, já que todos sabiam que tinham que continuar, mesmo que algumas pessoas estivessem fazendo corpo mole. Todos seguiram atrás dos mestres, e de Deku, que estava junto com o pelotão da frente.
Bakugo nem pode aproveitar da companhia dele na cama, já que tudo lá embaixo estava doendo, mas acordar ao lado de Deku se provava cada vez mais algo que Bakugo não queria perder. Seu corpo já estava surpresamente acostumado a ter alguém do lado, e nunca antes ele se sentiu atraído por uma pessoa através das coisas que ela falava ou do modo de ser.
A cada vez que ele passava um tempo com Bakugo sua mente estava sempre gravando cada momento para que pudesse se lembrar depois, e toda vez que via o chefe o seu peito se enchia de calor. Aqueles sentimentos eram bons.
Infelizmente não eram o bastante para ele não sentir a dor.
“Algum problema aí?” Perguntou Eijirou com um sorriso em sua voz. Ele estava entre Bakugo e Denki, os três puxando a retaguarda.
“Problema com o que? Só se for com essas suas perguntas!” Disse Bakugo com pouca paciência em sua voz, mas não colocando todas as suas frustrações ali, porque não era culpa de ninguém por ali.
“Ei, ei, não fui eu que chutei suas batatas, não,” reclamou Eijirou, mas logo ele riu, e Bakugo sabia que ele só estava fazendo piadas. “Pelo menos tem alguém que pode dar uns beijinhos nelas, não é?”
As perguntas de Eijirou tinham aquele ar cômico, mas suas falas sardônicas não estavam fazendo bem para o humor de Bakugo naquele dia, por isso ele nem disse nada, apenas ficou olhando para a frente. Ele poderia ter feito alguma piada sobre Eijirou e Denki, mas Bakugo nem estava muito naquele humor, só queria que esse dia chegasse logo ao fim para ele poder descansar.
Mas as coisas não seriam assim simples, de fato.
Num momento Bakugo estava olhando para as pessoas à frente, checando para ver se alguém precisava de ajuda, e no próximo momento ele escutou um zunido pelo ar. Antes mesmo que pudesse entender o que estava acontecendo ele sentiu uma dor em seu ombro esquerdo. Bakugo virou seus olhos para ver uma flecha perfurando a pele dele, vinda de trás.
“Inimigos!” Ele gritou, antes mesmo de sentir a dor de verdade, e todos os guerreiros ali atrás já viraram seus cavalos, enquanto as pessoas começaram uma comoção ao tentar se defender.
Bakugo viu ao longe alguns homens com cavalos, um grupo que tinha entre vinte e trinta soldados. Não era possível distinguir por suas vestes se eram guerreiros do Rei Tomura, mas não era comum uma tribo qualquer sair avançando por cima de outra no deserto.
Todos viviam em certa harmonia por aquele motivo, mas o fato é que depois que o Rei Tomura começou suas incursões a paz se esvaiu.
“Bakugo você está bem?” Pediu Eijirou ao seu lado, mas ele nem pensou em responder, porque ao longe ele podia ver que aquele grupo de guerreiros estava virando as costas para eles, se preparando para fugir, e Bakugo não conseguiu nem pensar em outra alternativa.
“Pra cima deles!” Ele gritou, e todos os guerreiros que estavam ao redor responderam ao chamado.
Com suas pernas Bakugo fez o cavalo partir em disparada, e ao seu lado ouviu os outros guerreiros fazendo o mesmo. O grupo de forasteiros percebeu o avanço das tropas e se preparou para fugir. Esse pequeno grupo deveria estar respondendo ao seu líder, porque se fosse qualquer outra tribo eles não teriam atirado antes tentar conversar.
Bakugo ficou pensando porque eles atiraram em primeiro lugar, pois se quisessem fugir seria mais fácil o fazer sem deixar rastros.
Rapidamente eles se aproximaram, mas os inimigos partiram para longe, contudo Bakugo não desistiu. Mesmo com seu ombro doendo, ele tirou a espada de sua cintura, e assim que chegou perto de um dos últimos cavalos inimigos ele puxou seu braço direito para trás e cortou o ar com a espada, junto com a cabeça de um dos inimigos.
“Matem todos!” Gritou Bakugo, ao mesmo tempo em que os guerreiros da tribo chegaram por ali.
A maior parte dos inimigos se virou para eles, querendo tomar parte da briga, mas Bakugo viu que dois daqueles forasteiros não ficaram para trás, partindo rapidamente com seus cavalos em fuga.
Bakugo não se deixou enganar.
Sem falar nada ele partiu pelo meio dos inimigos que faziam uma barreira para não deixá-los passar, esfolando um deles no estômago e outro no braço, mas Bakugo não se abateu. Ele obrigou seu cavalo a correr ainda mais tentando ao máximo seguir aqueles dois que fugiram.
A perseguição se estendeu deserto adentro, e logo eles iriam chegar aonde tinham acampado nos dias anteriores. Bakugo teve uma ideia um tanto insana, mas era a única que ele tinha. Primeiro ele pegou sua espada e tentou se concentrar, mirando no homem que estava mais perto.
Ele atirou ela pelos ares e a lâmina se virou até encontrar o alvo nas costas do inimigo, perfurando ele por completo e fazendo o homem cair de seu cavalo ao chão. Bakugo não tinha tempo de pegar a espada para buscar o outro fugitivo, mas ele tinha o terreno do seu lado.
Os cavalos iriam diminuir o ritmo quando chegassem no pequeno riacho, e Bakugo queria usar aquilo a seu favor. Ele fez seu animal dar tudo de suas forças para chegar o mais próximo do outro inimigo, e assim que o homem teve que diminuir o passo ao chegar no riacho, Bakugo pulou nas costas de seu cavalo e se atirou em direção ao outro homem, pegando na perna dele antes de cair ao chão, arrastando o inimigo com ele.
Os dois caíram nas águas gélidas do rio, e o braço de Bakugo estava começando a doer, mas ele tentou não olhar para a flecha.
“Quem mandou você aqui?” Bakugo pediu ao prender o homem contra uma pedra.
O inimigo parecia surpreso com o ataque, e o medo apareceu em seu rosto. Estava ali o motivo de eles terem pouco sucesso em sua empreitada, todos os soldados eram novatos e inexperientes, provavelmente fazendo alguma coisa que nem queriam.
“O Rei Tomura está atrás de vocês,” disse o homem, tremendo de frio.
“Isso eu sei, mas por que ele manda homens que nem podem fazer o serviço direito?” Bakugo pediu, e a vergonha apareceu no rosto do soldado inimigo.
Bakugo soltou o homem, que continuou ali no rio. Ele se levantou com dificuldade e suspirou com irritação.
“Por favor me mate,” pediu o homem, chamando a atenção de Bakugo.
“Como?”
“Eu não vou sobreviver o caminho do deserto sozinho. E se eu voltar sem o que nos foi ordenado, eu vou ser morto na mesma.”
Bakugo chegou perto do homem outra vez.
“Quais eram as ordens de vocês?”
“A cabeça de um guerreiro e a localização da tribo.”
A resposta era óbvia, e uma parte de Bakugo sentia por esse guerreiro, certamente arrastado de outra tribo que se rendeu ao Rei Tomura e agora tinha que fazer o trabalho sujo dele. Só que também não era culpa dele que Bakugo e a tribo sabiam se defender.
O homem nem se levantou, nem protestou, apenas ficou ali esperando.
“A essa altura todos os seus guerreiros devem ter morrido também,” disse Bakugo.
“Então vai ser uma honra me juntar a eles.” O inimigo fechou seus olhos.
Bakugo respirou fundo por um momento, pensando em todas as outras pessoas que haviam sido arrastadas para um lugar do qual não faziam parte, ao qual nem pertenciam, e entendeu o sofrimento do homem. Mas ele também tinha seu trabalho a fazer.
“Que seus deuses tomem conta de você,” disse Bakugo, momentos antes de tirar a pequena adaga de sua cintura e socá-la com força no peito do homem, bem onde seu coração estava. Ele tentou fazer com que a morte fosse rápida, mesmo que não indolor.
Foi apenas no momento em que finalmente deixou o corpo do inimigo para trás que Bakugo sentiu sua cabeça anuviada, seus membros perdendo a força. Ele viu ao longe cavalos vindo em sua direção, mas antes que pudesse ver se eram seus guerreiros, Bakugo foi ao chão.
O mundo havia perdido cor e som.
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