“Tudo pronto, assim como foi ordenado,” disse Denki quando chegou de volta ao grupo dos guerreiros, direcionando sua fala para Deku, que assentiu em confirmação. Os últimos detalhes da preparação deles foram definidos, e assim que os sentinelas nas montanhas viram guerreiros avançando pelo deserto ao longe, o que precisaria ser feito pela vila havia sido realizado.
O que pode ser visto pelo deserto era um grupo grande de soldados marchando. O ritmo deles não era tão forte, pelo menos não tão forte como um exército no seu caminho de dizimação, mas o número de pessoas no grupo era muito maior do que poderia ser ignorado.
Todos os planos feitos junto com os mestres tinham sido colocados em ação para a batalha, que Deku não tinha certeza como iria se dar, por isso eles precisavam tomar a dianteira e tentar surpreender o exército do Rei Tomura. Não que eles estivessem esperando um surpresa, sendo que eles eram os que queriam invadir terras, mas Deku e sua tribo trabalharam para conseguir criar o máximo de elementos que poderiam os salvar.
“Eu quero que um pequeno grupo de guerreiros se apresente aqui para checar as pessoas que ficarão dentro da cerca. Eu quero que todos estejam preparados para a batalha, mas seguros. Eles só entrarão na briga se formos invadidos, e nosso planos não contam com isso,” relatou Deku, olhando para seus guerreiros.
Alguns deles pisaram à frente, e Bakugo se ofereceu para liderar essa rápida investida. Ele olhou para seu chefe, e naquele olhar havia a confirmação de que tudo estava sob controle, por isso Deku não tinha que se preocupar.
“Vamos,” anunciou Bakugo, e os poucos guerreiros que se dispuseram a ir com ele se moveram, deixando Deku ali no centro da vila com os outros guerreiros.
“Nossas tochas foram acesas,” disse Aizawa, e Deku assentiu. “Fizemos o máximo de flechas que podíamos, e afiamos as pontas. Também preparamos os arcos, e os potes com líquido inflamável, pelo menos aquele que sobrou.”
“A gordura animal que restou eu também coloquei junto à cozinha,” disse Kayama.
“E todos estão com seu armamento preparado? Suas roupas também?” Pediu Deku, e os guerreiros ao seu redor assentiram.
Todos eles estavam com boas energias, bem alimentados e preparados da melhor forma, e precisariam estar, porque o exército do Rei Tomura era cinco ou dez vezes maior que o da tribo, e eles precisavam de mais do que apenas força humana para vencer.
Deku se voltou para sua vila e ficou a olhar enquanto Bakugo e os guerreiros conversavam com as pessoas que se preparavam. O dia recém tinha começado, mas era certo que antes do meio dia eles estariam no meio de uma batalha.
Tinha sido possível acompanhar o avanço das luzes pelo deserto à noite, pelo menos de longe. E na noite passada o exército inimigo havia parado para um rápido descanso, antes de voltar a marchar na direção do lago. Era impossível de saber se eles atacariam a vila de Deku primeiro ou a de Tsukauchi, porque elas eram próximas, e por mais que Deku não gostasse da ideia de sacrificar aquelas pessoas para sua sobrevivência, ele não iria correr na direção delas para ajudar.
Mesmo assim, boa parte de tudo que eles haviam planejado tinha uma certa forma de proteger a todos ali no fim do vale, pelo menos era aquilo que Deku queria. Porém, se tivesse que escolher entre um povo e outro, ele sabia muito bem quem seriam os escolhidos.
-
A caminhada parecia interminável. Fácil era para o Rei, que em seu cavalo viajava pelo deserto quente, e às vezes até ia de carroça, por isso ele tinha um ânimo interminável. Às vezes até parecia que em algum lugar de seu coração o rei tinha um certo modo de se importar pelas pessoas de seu exército, pois ele deixou os soldados descansarem por uma noite após semanas de caminhada, mas aquilo não era nada misericordioso.
Uma demonstração de respeito no meio de um mar de injustiça fazia apenas uma diferença levemente aparente, mas não importava no grande esquema das coisas. Afinal de contas, eles todos viviam em uma era de perseguição, e essa tribo para a qual eles marchavam agora estava pronta para sofrer o mesmo.
Haveria um prêmio pela vitória deles, mas se aquilo iria importar para alguma coisa, ninguém sabia. Eles todos eram escravos, e agora não sabiam nem mais para onde fugir, a não ser para a própria morte.
“Avante!” Gritou o rei no topo da montanha, apontando para o vale abaixo, e a curiosidade dos soldados cresceu.
Muitos deles conheciam partes do deserto, mas nunca foram tão longe pelo vale. Poucos deles sabiam desse lago ao final das montanhas, e quase ninguém tinha ido além dele, porque essa parte do continente era desconhecida. Claro, antes de sentirem a necessidade de fugir para um lugar melhor, todos podiam ter suas vidas normais, e não havia a necessidade de vagar pelas partes mais difíceis do deserto, mas agora estavam todos ali.
A descida pela colina foi a parte mais fácil da caminhada, e assim que era possível avistar as aglomerações de casas ao longe, algo dentro do corpo dos guerreiros se acendeu. Naqueles que sabiam da importância de deixar o rei satisfeito, o desejo de sangue soou mais alto, mas nos outros que ainda tinham a perseverança de que algum dia as coisas seriam diferentes, eles viam aqueles pequenos poços de vida humana como mais uma das coisas boas que eles teriam que destruir.
As duas vilas eram diferentes uma da outra, a mais estabelecida parecia velha e descuidada, enquanto a que parecia mais recente estava protegida, mas com um exército assim grande, seria impossível protegê-las.
Enquanto o cavalo do rei corria pela descida, os soldados iam atrás. Assim que chegaram ao sopé das montanhas, o Rei Tomura virou seu cavalo para os soldados e ordenou a divisão deles em dois grupos, cada um partindo para atacar uma das vilas. Seus comandantes mais altos guiaram cada um dos grupos, enquanto o Rei foi mais atrás junto com as tropas.
Eles haviam planejado essa divisão antes, por isso agora era só seguir as ordens.
Contudo, o que eles não contavam era com o mundo explodindo em chamas ao redor de todos.
-
Bakugo passou boa parte da noite anterior carregando jarros de frutas fermentadas e gordura animal para ser espalhada pelos campos ao redor da tribo. Eles conseguiram cobrir a maior parte do chão até perto da outra vila, depois de terem avisado que as tropas do Rei Tomura estavam vindo, mas os velhotes de lá continuavam com a crença de que eles seriam poupados por causa de seus sacrifícios.
Tsukauchi parecia preocupado, mas nem Bakugo e nem Deku ficaram por lá para saber o que o homem iria fazer. Eles estavam pressionados a conseguir executar os últimos preparativos, e por isso carregar todas aquelas frutas fermentadas era importante.
Eles conseguiram pintar o chão de quase toda a planície, pelo menos de alguma forma, e já tinham catapultas com panos embebidos naquela mistura, bolas de barro misturadas com gordura animal e mais frutas fermentadas, tudo que eles puderam fazer com aquela descoberta foi feito, e por isso, assim que os soldados do Rei Tomura apareceram pela colina, Deku ordenou que os arqueiros ficassem de prontidão.
O principal elemento para esse plano funcionar era o máximo de soldados estar na planície antes da vila, longe o bastante para que pudessem ficar protegidos, mas perto o bastante para chegarem nos campos molhados. Bakugo sentiu um certo nervosismo enquanto todos ficaram ali olhando para o mar de soldados que descia das montanhas, mas Deku parecia certo do que tinha que fazer, e assim que a horda de homens chegou ao meio da planície, se aproximando cada vez mais da vila, Deku deu seu sinal aos arqueiros, que tinham flechas prontas para pegarem fogo, e eles as lançaram pelo ar.
A parábola feita pelas flechas em chamas chegou ao seu fim no chão, acertando algum soldados, mas a maior parte delas foi à terra. E como num passe de mágica, o fogo consumiu o líquido fermentado e se propagou pelo campo, correndo como um rio tempestuoso, engolindo os homens que estavam na planície como uma tempestade de areia, só que muito mais letal.
Alguns dos guerreiros festejaram atrás de Bakugo, mas aquele momento ainda não era para comemorar.
“Agora temos que jogar as bolas da mistura explosiva no meio do campo em chamas,” ordenou Deku, e a fila de homens ali perto da cerca se preparou em volta das catapultas. Eles começaram a lançar as bolas de barro, pano, e a mistura que colocaram na planície para que assim que atiradas, pegassem fogo e explodissem.
O plano tinha sido feito por Deku e Kayama, mas eles não puderam testá-lo nessa escala, afinal de contas a guerra seria apenas uma, e não era indicado perder tanto material de batalha.
Bakugo pode ver que Deku suspirou com alívio ao ver que seu plano estava funcionando.
De longe, ele podia ver muitos soldados se perdendo no meio do caminho enquanto tentavam lutar com as chamas que os queimavam. Outros, pegos nas explosões, perdiam os sentidos e acabavam se confundindo, batendo uns nos outros e transformando a frente de batalha numa bagunça.
Claro, nem todo o campo pegou fogo, mas chegou até bem próximo a outra tribo, ainda que deixando um espaço onde exército podia passar, fazendo com que eles fossem direto a vila de Tsukauchi. Bakugo viu no rosto de Deku que ele não gostou daquilo, mas a batalha era impossível de se controlar, e agora cada um tinha que fazer o seu melhor para sobreviver.
Bakugo deixou seu posto perto de uma catapulta e indicou outro guerreiro para tomar o lugar, indo na direção do chefe.
“Tudo está funcionando,” Bakugo falou. “Mas ainda tem soldados descendo a montanha, e eles vão desviar pelo lado assim que perceberem que não tem como passar pelo meio.”
Deku assentiu. “Sim, eu estou aqui checando os extremos para ver o que eles vão fazer. Só vi o Rei Tomura de longe, não faço ideia se ele está no meio, mas pouco importa. Temos que estar preparados para o que virá.”
Todos os guerreiros continuavam lançando as bolas de lama explosiva, mas logo Deku anunciou uma paura, deixando todos à espera de novos desenvolvimentos. O fogo ainda queimava alto, e seria impossível passar ali pelo meio, mas os soldados que não tinham sido pegos poderiam desviar o campo, e por enquanto eles estavam fazendo isso na direção da outra vila.
Bakugo não sabia quanto tempo eles teriam a proteção desse desvio de rota.
-
Os homens mais a frente, aqueles que tinham força para correr ainda, foram pegos pelas chamas. O caos tomou conta da pouca organização das tropas, porque alguns queriam se jogar ao fogo, enquantos outros queriam voltar para trás, e nem generais ou o próprio rei sabiam como comandar a todos.
Alguns homens pereceram logo no início, especialmente aqueles que foram atingidos pelas explosões. Ninguém havia visto nada parecido com isso até hoje. Um material que pudesse explodir daquela forma, pegar fogo como se fosse feito de palha seca, e tendo aquela força destrutiva.
Era uma surpresa para todos, e uma bem desgradável.
Quem estava mais para trás recuou, mas logo, mais guerreiros vieram e empurraram o grupo para algum lugar, porque era impossível ficar ali parado. Os que encontraram uma saída, fugiram para um lado, e naquele momento de confusão, alguns homens que viram sua esperança de escapar mais próxima do que nunca, tentaram seu destino pelo deserto.
Mas aquilo não era indicado aos fracos. Eles não poderiam desertar para os povos que estavam sendo atacados agora, porque estariam no meio da guerra, mas para onde iriam sem comida e sem rumo? O deserto não era fácil com um grupo grande de pessoas que poderiam cuidar umas das outras, sozinho aquilo era impossível.
Mesmo assim, alguns homens se aventuraram, porém eles eram poucos. O sentimento de medo ainda tomava conta da maioria, sem falar da necessidade de se ter apenas um objetivo, de seguir as ordens para poder sobreviver, aquilo era mais importante que qualquer outra coisa. Mas talvez valorizar os desejos de seu mestre escravocrata nunca deveria ser algo digno de nota, ainda que a mente de todos esses homens já estivesse perdida de qualquer maneira.
Os que conseguiram fugir para a outra vila, foram em direção a eles sem medo. Suas armas de madeira, espadas e os próprios punhos eram o bastante para trucidar tudo que viam pela frente. Ao invés de oferecer algo melhor para aquelas pessoas, o Rei queria terminar com eles, por isso ninguém ficou pensando em salvar ninguém, apenas destruíram o que seus olhos viam, casas ou cercas, soltavam animais, buscavam matar o máximo de pessoas.
Pobres crianças e velhos e mulheres e inocentes que se perderam no meio daquela batalha, porque o desejo de sangue era mais forte que qualquer outra coisa, e por mais que fosse errado matar tanta gente, por mais que fossem inimigos e essas fossem as ordens, aquele destino era apenas o que eles tinham.
Uns poucos homens lutaram ali contra eles, mas eram tão poucos que foi fácil matar tudo que vinha pela frente. Em pouco tempo aquelas pessoas estavam exterminadas, mortas pelo chão e o sangue de suas veias pintando de vermelho a terra, assim como o fogo ainda queimava em vermelho logo ali perto.
Assim que terminaram aquele massacre, os primeiros gritos guturais, quase animalísticos foram ouvidos pelo ar, sinalizando o final de uma batalha, o final de uma parte dessa missão, e por mais que fosse errado celebrar a morte, até mesmo aqueles que queriam fugir desse mundo comemoraram, porque o homem é uma criatura simples, no fim das contas.
Ao longe era possível ver o Rei Tomura olhando de um lado para outro, seus olhos se perdendo na imensidão vermelha ao longe. O fogo não parecia parar de queimar, e seria arriscado atravessar o campo naquele momento.
E talvez no seu momento de maior lucidez, o homem ergueu sua voz e anunciou uma pausa.
“Vamos fazer uma refeição agora, achem toda a comida que puder, comam, descansem até o fogo abaixar, então iremos lutar!” Ele disse, e armas e braços foram ao ar.
O mais difícil seria conseguir engolir alguma coisa suja com sangue. Mas eles precisavam da força para seguir em frente.
Se alguém foi capaz de colocar a terra em fogo para se proteger, eles não poderiam ser subestimados.
-
“Todos comam o que puderem, tomem água, tentem descansar,” anunciou Deku para seus guerreiros. “Retomem suas energias, que assim que o fogo terminar, eu tenho certeza que eles virão na nossa direção.”
E Deku sabia que eles não teriam pena de ninguém, porque ele podia ver que não havia sobrado pedra sobre pedra na tribo de Tsukauchi. O coração de Deku ia para aquelas pessoas, pobres inocentes que nem se defender puderam, foram amassados por um redemoinho de destruição que terminou com eles sem pestanejar.
Não tinha como não pensar neles, Deku até tentava se controlar, imaginar qualquer coisa a não ser essas pessoas e como elas tinham perdido suas vidas por nada, mas o mundo era daquele jeito, e nada iria mudar.
“Tudo bem?” Pediu Bakugo assim que se aproximou de Deku, que virou para ele.
“Sim,” Deku apenas ficou um momento olhando para seu guerreiro, já que logo em seguida ele continuou a checar se os outros guerreiros estavam se alimentando, ou se o fogo ainda queimava.
Ele tinha que admitir que não estava esperando pelo exército retornar para trás do fogo para esperar. Aquilo dava tempo para eles se prepararem--para todos se prepararem--o que tornava a próxima parte da batalha ainda mais complexa, porque a disputa seria frente a frente. Mas Deku não iria se prostrar aos pés do Rei Tomura e entregar sua tribo a ele.
“Preocupado?” Bakugo pediu, colocando sua mão na nuca de Deku e trazendo o chefe para perto de si. Por um momento apenas, Deku se permitiu diminuir a distância e chegar pertinho de Bakugo, apenas para ter certeza de que tudo estava acontecendo e que eles ainda estavam ali.
“Estou sempre pensando em alguma coisa,” disse Deku. “Quero que isso termine logo, só para que a gente possa deixar toda a destruição para trás,” ele falou. Naquela admissão, Deku considerava que a vitória seria deles, mas claro, em seu coração aquela confiança não parecia tão certeira, só que ele não queria ter que dizer que tinha medo.
“Todos estamos unidos nesse mesmo propósito,” disse Bakugo. “Não sei se vai ser fácil, mas não podemos fugir disso, não? Algumas pessoas tentaram ignorar a batalha, ignorar essa guerra, e infelizmente…” Bakugo nem completou sua frase, mas viu nos olhos de Deku a tristeza.
Sempre existiu a esperança de se juntar a outra vila, construir algo importante que fosse bom para todos, construir um futuro, fazer todas as pessoas sentirem esperança pelo que fosse vir, mas agora aquilo nem fazia sentido para eles, porque nada mais de um futuro teriam.
“Nós nunca ignoramos o que veio a nosso encontro, não é?” Deku pediu, mais para si mesmo que para qualquer outra pessoa. “Nós sempre estivemos prontos para o que viesse, e prontos para mudanças, pois eu sou um exemplo delas. Não significa que isso é fácil, porque não é. Queria poder mudar as coisas da maneira mais simples, mas não é possível.”
“Mesmo assim, você está dando sua vida pela nossa. Por todos, e isso importa de alguma coisa. Você não quer sacrificar ninguém para se proteger, você é nosso líder. E você vai nos tirar desse momento ruim, porque existe um mundo de coisas boas pela frente,” falou Bakugo.
Os olhos dos dois se encontraram, e Deku apenas empurrou seus lábios contra os de Bakugo, num beijo rápido mas real.
“O fogo está se extinguindo,” anunciou Aizawa. E logo, Deku e Bakugo se soltaram, voltando a seus lugares entre os guerreiros, mais prontos para essa luta do que antes estiveram.
“Então cada um coloque-se em seu posto,” disse Deku. “Nós temos muito à nossa frente. Temos uma batalha para lutar, e um povo para defender.”
Então Deku levantou seu punho fechado e gritou, soltando a energia presa em seu peito.
A tribo o seguiu.
Eles estavam prontos para a guerra.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.