História Perfectly Wrong - O entregador de pizza

Karlla

Acordei, já estava de noite.

Decidi pedir uma pizza, pois estava com preguiça de fazer o jantar. O interfone tocou e eu atendi:

- Alô?

- Oi moça. Tem um cara aqui dizendo que pediram uma pizza no nº 13. Posso mandar subir?

- Ah, não. Diga para ele que eu mesma vou buscar.

- Tudo bem.

- Obrigada.- desliguei.

Peguei um moletom e calcei o chinelo. Abri a porta e saí, a trancado antes.

Fui para o elevador, descendo para o primeiro andar. Quando cheguei lá, avistei o entregador.

- Olá, boa noite.- falei sorrindo.

Ele sorriu também.

- Sua pizza.- peguei a mesma.

- Quanto deu?

- 15 dólares.- barato. SUPER barato.

- No Brasil isso custaria mais do que 30.- falei pegando o dinheiro.

E o cara riu.

- Você já morou lá?

- Eu nasci lá.

- Sério?

- Huhum.

- Que massa. Lá é legal?

- É agitado, mas é legal sim.

- Gostaria de ir para lá um dia.

- Você vai conseguir, estou torcendo por você.- ele sorriu para mim de uma maneira fofa.- Aqui.- falei o entregando o dinheiro.

- Obrigado.

- De nada.- o celular dele apitou.

- Tenho que ir.- ele veio até mim e me deu um papelzinho amarelo. Um post- it.- Tchau Moça Bonita.

E saiu.

Eu o observei partir e quando me dei conta de que o encarava feito sonsa, acordei e voltei para o elevador.

Quando cheguei no meu andar, o elevador abriu e eu vi o Shawn, com um garoto ruivo. Eles pareciam estar tendo uma conversa empolgante, mas quando Shawn cruzou o seu olhar com o meu, ficou totalmente em silêncio.

Saí do  elevador, chegando perto dele.

- Oi.- falei primeiro, com um pequeno sorriso. Era o mínimo né, eu saí e deixei ele sem avisar nada.

- Oi.- ele falou com os olhos cravados em mim.

- Nós temos que conversar.- afirmei, lhe mostrando que não fugiria do assunto e, nem dele.

- Claro - falou concordando.-, quando?

- Ah, a gente vê... depois. Quando você puder.

- É, eu... te procuro, pode ser?

- Pode, pode. A gente toma um café, quem sabe.

Eu sorri para ele, que logo abriu um sorriso para mi também,

- É.- ele se tocou que haviam três pessoas ali.- Bom, até.- sorri.

- Até.- ele e o garoto entraram no elevador, e ao passar por mim, Shawn pegou na minha mão.

Peguei na mão dele também, e a segurei até onde fosse possível.

Até que ele entrou no elevador completamente, e nossas mãos se soltaram.

O elevador se fechou e ele se foi.

Soltei um suspiro e fui ao meu apartamento. Entrei lá e o tranquei.

- Hum... pizza fresquinha.- fiquei tão animada para comê- la.

Coloquei- a na mesinha da sala e fui até a cozinha. Peguei o refrigerante na geladeira e um copo. Aí eu me dei ao luxo de pegar vários cubos de gelo e coloquei dentro do copo. E me servi. Ah, dá licença, eu mereço.

Depois fui para a sala novamente e liguei a televisão, colocando em um filme qualquer. E me degustei com aquela refeição maravilhosa, que me deixaria gorda, se eu conseguisse ficar gorda.

Eu não me preocupo com refeições gordurosas, eu não consigo ficar gorda nem se eu me empanturrasse de pão. E isso não é um problema para mim. Não agora, que sou adulta.

E comi, feliz. Depois decidi sair por Toronto.

Shawn

- Era ela?- Brian perguntou.

- Sim.

- Bonita ela.- olhei par ele, meio bravo.- Relaxa, é só um elogio.

- Você nem começa.

- Tá bom. Mas pelo menos ela vai querer te encontra de novo.

- Como assim?

- Ela não está fugindo de você.

- Ah sim.

Saímos do prédio e fomos para um restaurante da cidade. Nos encontramos lá com alguns de nossos amigos, jantamos e conversamos.

Depois voltamos para casa.

- Vou sair um pouco.- falei pegando um casaco.

- Tem certeza?- Brian perguntou assistindo televisão.

- É, estou precisando.

- Tudo bem.- abri a porta.

- Tchau.- saí e fui para o elevador.

De lá, cheguei à portaria. Fui até o estacionamento e peguei meu carro, indo para algum lugar calmo da cidade.

Pensei na ponte, mas havia muitos carros. Então, fui ao Riverdale Park East.

- Legal, totalmente vazio.- me sentei num dos solitários bancos que se encontravam no escuro da noite.

Fiquei observando tudo.

Um breu do caramba, num delicioso silêncio. Maravilha.

A única coisa que faltava agora, era Karlla aqui comigo.

- Falando nisso, tenho que procurá- la.- disse para mim mesmo.

- Merda, que susto.- olhei para o lado, havia uma pessoa lá.

Era uma garota. Baixinha.

- Desculpa...- eu falei, tentando ver seu rosto.

- Não, tudo bem. Eu quem peço desculpas.

Ela chegou mais perto, assim, revelando a cor de sua pele.

- Posso me sentar aqui?- ela perguntou.

- Claro, fique à vontade.- ela riu, se sentando.

E só então eu percebi.

- Hey - chamei e ela olhou para mim. 

    Abri um sorriso.

- Karlla.

- Shawn.- falamos juntos e da mesma maneira.

Abri meus braços para abraçá- la, e ela veio, sem hesitar.

- O que o bonitão está fazendo aqui em?

- Ah, para ser sincero, eu só vim dar uma volta.

- Ah é?- perguntou, brincalhona.

- É.- falei fazendo cócegas nela, que riu.

Que risada gostosa meu Deus.

- E você? O que a lindona faz aqui?

Ela sorriu, olhando para frente e talvez processando a resposta.

- Ah, vim passar o tempo. Sábado de noite, nada para fazer... E eu quase nem saio de casa, não tenho amigos e nem parentes aqui.

- Nenhum?

- Nenhum.

- Você os perdeu?

- Não,- ela falou rindo um pouco. Tão linda.- eles moram em outro país.

- Qual país?

- Brasil.- me espantei e ela riu de novo.

- Não - neguei, afirmando.

- Sim.- ela afirmou também, só que rindo.

- Meu Deus, você é brasileira?!

- Sou.

- Não acredito.- ela me olhou sorrindo daquele jeito, que faz seus olhos diminuírem.

- É bonitão. É.

- Fala algo em português então.

- O que você quer que eu fale?

- Diga '' I love you'' em português.

Ela me encarou por um tempo, mas depois se preparou e disse:

- Eu te amo.- eu sorri para ela, que falou sorrindo também.- Ou ''eu amo você''.

- Como se fala o verbo ''love''?

- Amar. Eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles am...

- Eu te amo.- a interrompi.

- O que disse?

- Eu disse que te amo.

- Por que você disse isso?

- Porque eu te amo.

- Ama?!- ela meio que, se assustou.

- Amo. Quer dizer, amo ficar com você, ficar perto de você sabe?- merda, me embolei todo.

Ela olhou para frente, processando, pensando. Ela suspirou, e balançou a cabeça, e piscou várias vezes. E finalmente disse:

- Ninguém nunca me disse isso.- falou tristonha. Ver ela daquele jeito pela primeira vez não foi muito bom.

- Ninguém?- me aproximei dela, que assentiu, balançando a cabeça.- Nunca?!

- Não desde quando cheguei aqui.

- Não até agora.- acrescentei.

E ela olhou para mim.

- Você não está mentindo para mim, está?

- Claro que não.

- Eu espero. Não quero sentir raiva de um cara tão bonito.- eu sorri e peguei ela pela cintura, a puxando para perto de mim.

- Eu juro que amo passar um tempo com você.- falei beijando sua bochecha.

- Se importa se eu não responder? Não ainda?

- Tudo bem, eu não me importo.

Ela deitou a cabeça no meu braço e fechou os olhos. Deitei minha cabeça na dela, e fechei os olhos também.

- Você tem um cheiro bom, bonito.- eu sorri.

- Você acha?

- Acho.

Ficamos lá, abraçados um com o outro, até ela se afastar.

- Está tarde, Bem.- ela falou brincando com um botão do meu casaco.

Ela me chamou de Bem...

- É verdade. Você veio andando?

- Sim. Faz bem andar um pouco.

- Eu estou de carro, posso levar você.

- Não precisa.- me levantei.

- Não, eu faço questão.- a puxei para levantar.

- Para, não precisa.

- Vamos.- ela fez cara de brava.

- Eu já falei que não precisa.

- Mas eu vou levar você.

Ela cruzou os braços e ficou pensando. Como ela consegue ser tão linda?

- Vamos comigo.

- Não tem que fazer isso.

- É só uma carona.- simplifiquei.

- É, tem razão.- pus a mão nas costas dela.

Fomos para o carro, e eu comecei a dirigir.

- Quem era aquele cara ruivo com você?

- Brian, ele é meu melhor amigo.

- Ele foi visitar você?

- Não. Ele chegou de viagem hoje e vai ficar hospedado lá e casa.

- Pensei que morava sozinho.

- Eu moro sozinho.

- E o tal  do Brian?

- Vai ficar lá por um tempo até encontrar sua namorada. E aí ele vai para a casa dela.

- Hum.- falou mostrando que havia entendido, mas ainda estava brava.

- Que foi? Hum?

- Nada.- ela resmungou.

- Eu fiz alguma coisa?

- Não, relaxa.

Quando chegamos, coloquei o carro no estacionamento.

- Prontinho.

- Obrigada.- falou com um sorriso no rosto.

- De nada lindeza.