- Quer ir para casa?- Shawn perguntou sentado no banco, ao meu lado.
- Se você quiser, nós vamos.
E então, nós fomos.
- Shawn, obrigada tá?
- Pelo que bonita?- perguntou, dirigindo.
- Por me trazer aqui, por me fazer realizar coisas que eu nunca fiz antes.
- Que bom que você gostou.
Shawn.
O que falar desse cara?
Ah, ele foi a melhor coisa que me aconteceu depois que eu cheguei aqui.
Deus me fez realizar o meu sonho, e ainda me deu o que eu mais desejava quando eu tinha 14 anos: um amor, e recíproco. Fico muito agradecida por tudo o que está acontecendo. E como eu estou feliz.
Shawn é um cara simples, ao meu ver. Tem 24 anos, mora em um apê e vive sua vida normalmente.
Não sei nada sobre ele, mas estou disposta a ficar com ele, independente do seu modo de viver, que não me parece perigoso. E eu nem preciso citar o quanto eu quero amá- lo e viver ao seu lado. Como se ele fosse o cara certo.
E espero que ele queira também.
Chegamos no prédio, e entramos no elevador.
- No meu ou no seu?- ele perguntou.
- Por que eu sempre tomo as decisões em?- ele riu um pouco.
- Eu não sei, só quero saber a sua opinião.
- E a sua opinião?- ele me encarou, com certeza impressionado.
- Você está completamente certa. Mas e se você não concordar com a minha opinião?
- Eu não tenho que concordar com nada.
- Mas...- o interrompi.
- Onde você quer dormir?
- Não sei.
- Pode falar.
- No meu.- eu sorri, então balancei a cabeça, concordando.
- Tudo bem então.
Enfim, fomos dormir no apê dele.
- Eu preciso trocar de roupa.- eu disse tirando o meu tênis.
- Eu arrumo uma roupa para você.- fomos para o quarto dele.- Aqui,- ele falou me oferecendo uma blusa preta.- vê se você gosta.
Peguei a blusa e a coloquei em cima da cama. Sem vergonha, como sempre tive, tirei a minha blusa e visto a camisa na frente dele.
E depois, tirei meu sutiã por baixo da blusa, fazendo questão de mostrar para ele. Ele, também sem camisa, me observa com um sorriso.
- O jeito que você faz isso me deixa tão feliz.
Depois eu tirei minha calça, e a dobrei junto com a blusa e o sutiã. E pus num canto do quarto.
Shawn estava com uma bermuda preta e sem camisa. Enquanto eu usava uma camisa muito grande dele e preta também, apenas com calcinha por baixo.
- Eu adoro dormir sem sutiã.- falei subindo na cama depois de apagar a luz.- Acho que toda mulher gosta.
- Por quê?- falou ele, me abraçando.
- Ah, porque é como se você desse liberdade para os seus seios.- ele riu.- É sério, sutiã é uma tortura.
Nos abraçamos.
- Amanhã eu trabalho.- indaguei.- Então provavelmente não me verá aqui quando acordar.
- Onde você trabalha?
- Em uma biblioteca.
- Você gosta de ler?
- Eu adoro ler.- olhei para ele, para confirmar se ele estava sorrindo.
- O que mais eu posso saber sobre você?
- O que você quer saber?
- Não sei, me fala.
- Tá.
Shawn
- Meu nome é Karlla, você já sabe,- eu assenti.- com K e dois L's.
- Espera, é sério?
- É ué.- deu de ombros.
- Eu não sabia.
- Mas agora sabe. Não vai esquecer em.- eu sorri.
- Nunca.
- Sou brasileira,- assenti, fazendo ''huhum''.- Tenho 23 anos, moro sozinha e trabalho numa biblioteca.
- Huhum.
- Tenho 1, 58.- franzi o cenho.
- Como é?
- Ah, é mesmo, eu me esqueci.- se desculpou.- É que lá no Brasil eu tenho 58 centímetros de altura.
Abri um sorriso. Mais um pretexto para zoar ela.
- Você é tão pequena assim?
- Não começa.- eu ri.- No caso, eu tenho 5' 2,2'' de altura.
- Baixinha.- indaguei, abusando dela.
- Para, idiota.- ela brigou comigo.
- Me fala, o que você gosta de fazer?
- Eu gosto de cantar, tocar violão, de ler...
- Você sabe tocar violão?
- Eu sei.
- Você vai tocar para mim um dia.
- Só você né Shawn?
- Eu quero ver você tocando.
- Enfim, também gosto de escrever.
- Como assim?
- Escrever, criar histórias. Tipo isso.
- Tipo livro? Escritora?
- É,- falou entre risos, como fez na praça.- tipo isso.
- E o que você escreve?
- O meu tema preferido: romance.
- Ah é?
- Sim.
- E você já mostrou para alguém?
- Não. Não depois dos 14.
- À quanto tempo você escreve?!
- Desde os meus 11 anos de vida...?- falou devagar e receosa.
- Como assim?!?- falei surpreso.- Você tem que lançar um livro.
- Para, nada haver.
- Quero ver uma dessas obras um dia.
- Enfim.- falou com a intenção de mudar de assunto.- Eu sou canhota, tive depressão e ansiedade.
Aí ela me pegou.
- Depressão?
- Sim, mas como eu te disse, eu tive. Não tenho mais.
- Como isso aconteceu?
- Eu tinha 13 anos.
- Tão nova assim?
- Isso ai.
- Com 13 anos eu estava, o quê? Aprendendo a tocar violão. Enquanto você pegou depressão.
- Eu também aprendi a tocar violão com 13 anos.- sorrimos um para o outro.
- Mas então, você deve ser uma pessoa muito forte, e madura.
- É, eu tive responsabilidades muito cedo.
- Sua vida era difícil?
- Resumindo a minha história, o meu passado, eu era uma garota de 13 anos que tinha 6 irmãos, porque eles é quem eram minha maior responsabilidade.
Me surpreendi de novo. Essa garota só me surpreende.
- Você tem 6 irmãos?!
- Tenho.
- Caramba, que vida em.- e eu reclamando da única irmã que eu tenho, e que nem mora comigo.
- E nem se fala na pressão que eu sofria da minha mãe, da escola... Porra! Eu era uma fracassada.- falou ela, se dando conta do quão difícil era a sua vida, talvez.
Karlla é uma daquelas pessoas que você acha muito engraçada, e, ao ver que ela tem a capacidade de fazer as pessoas rirem, pensa que ela é a pessoa mais feliz do mundo. Mas ao ouvir a história dela, dá vontade de chorar.
E no fim de tudo isso, você a vê com outros olhos. Você a admira por ser uma mulher tão destemida, que mesmo depois de tudo de ruim que já lhe aconteceu, ela continua com o seu lindo sorriso no seu lindo rosto. E ainda tem mais.
Ela ainda te faz rir, te faz feliz. Ah, ela é incrível.
- Você é incrível, sabia disso?- eu a fiz saber.
- Não, eu não sabia.
- Então agora você sabe. E você merece tudo de bom. Você merece tudo o que quiser, e ainda mais.
- Eu não preciso de mais Shawn. Porque tudo o que eu quero eu já tenho.
- O que é?
- Realizei o meu sonho, e ainda ganhei você.- eu sorri.
- Qual era o seu sonho?
- Vir para o Canadá. Estudar aqui, morar aqui, viver aqui.
- Parabéns, você mereceu.
- E eu ainda ganhei você. Meu primeiro amor recíproco.
- Sério?
- Sempre gostei de quem não gosta de mim.
- Ei, mas isso acabou. Eu estou aqui, e eu te amo.
Ela sorriu, e passou as mãos no meu rosto.
- Eu também te amo Shawn.- quando ouvi aquilo, fiquei muito feliz, e então senti vontade de chorar. Mas não chorei, porque ela não deixou.
Fizemos amor durante a madrugada, e eu dormi agarrado a ela, como se não fosse soltá- la nunca mais.
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