História Pergunte Às Estrelas - A festa

Após me arrumar e cuidar dos últimos detalhes, liguei para Ruth. As meninas já estavam na casa dela para irmos juntas para a festa. Todas estavam prontas menos Ruth. Percebi que ia demorar então decidi ir para a casa dela e tentar fazê-la se arrumar mais rápido. 

Avisei para minha mãe que estava saindo e abracei-a. Vi meu pai na sala que assistia o jornal na tevê. Ele parecia preocupado e tinha um semblante sério, ele me viu indo para a porta e assentiu como se estivesse permitindo que eu saísse. 

- Cuidado. - Soltou uma única palavra. 

- Sempre. - Falei com um sorriso. 

Ele sorriu de volta, mas pude ver as lágrimas de preocupação em seus olhos. 

Chegando na casa de Ruth toquei a campainha e logo fui atendida pela Jenny. 

- Nossa! Tá linda, hein? Arrasou! - Elogiei. 

- Obrigada, você também está linda vai fazer sucesso na festa. - Agradeceu Jen me fazendo rir. 

- Onde estão as meninas? 

- No quarto ajudando Bianca a fazer um delineado de gatinho. 

- E os meninos? 

- Vamos encontrar eles na festa. Falando nisso, eles já devem ter chegado lá. 

- Vou apressar as garotas. - Avisei indo para o quanto de Ruth enquanto Jen mandava uma mensagem para seu namorado. 

- Vamos logo! Vocês estão demorando muito! - Reclamei ao ver que elas estavam conversando ao invés de fazer o delineado de Bianca. 

- Ah, nós já terminamos! Olha só como ficou lindo. - Respondeu Shira. 

O delineado realmente estava bonito, mas estava com muita pressa. Afinal, a festa já tinha começado. Segurei a mão de Shira e Ruth e puxei-as para fora do quarto. 

- Vem, Bianca! Todo mundo já chegou na festa menos a gente. - Reclamei novamente. 

- Liz está toda apressada porque está louca para ver o Alan. - Comentou Ruth. 

- Ah, sim! Por isso que ela está desesperada. - Continuou Shira. 

- Mas ela tem razão, os meninos já chegaram e eles disseram que todos já estão lá. - Confirmou Jenny. 

- Então vamos logo! - Reclamou Bianca abrindo a porta e chamando o elevador. 

Chegando no prédio de Alan, demos nossos nomes na portaria e nos deixaram entrar. 

- É só subir pelo elevador a esquerda, o salão de festas é no último andar. - Informou o porteiro gentilmente. 

Agradecemos e subimos. Quando chegamos no salão percebemos que os meninos não tinham exagerado. O salão estava cheio e realmente praticamente todos já estavam lá. 

- Viram? Eu avisei. - Provoquei. 

- Agora vamos entrar, vamos. - Falou Jenny segurando minha mão puxando-me mais para dentro do salão. 

Vimos uma mesa com coquetéis e cada uma de nós pegou um. Peguei um de morango e me virei para falar com as meninas: 

- Com certeza os pais de Alan não estão casa porque é claro que não estão supervisionando a festa. O que acham de... 

Quando me virei percebi que estava falando sozinha, as meninas já tinham sumido. Provavelmente elas encontraram os meninos. "Estou sozinha agora, como sempre", pensei. Olhei ao meu redor mas não vi nenhum sinal das meninas. Meus olhos pararam na pista de dança. Havia um rapaz que parecia ter mais ou menos a minha idade, ele estava encostado na parede observando o movimento da festa. Ele estava junto com um outro rapaz que também observava o local. O rosto do primeiro apresentava um semblante sério e o segundo parecia alegre, observei-os bem e concluí que não os conhecia. Estranho... posso não falar com todos que estão na festa, mas já vi todos esses rostos na escola com exceção desses. "Talvez Alan os conheça do curso de inglês, ou simplesmente de algum outro lugar", pensei. Acho que os encarei de mais porque quando dei conta do que estava fazendo percebi que eles estavam olhando para mim. Ignorei e resolvi dar uma volta pelo local e depois ir dançar. 

Então, fui até a parte aberta do salão onde dava para ter uma ótima visão do céu. Havia um deque com uma piscina, que a propósito, estava lotada. 

- Liz! E aí, não vai entrar? - Ouvi alguém na piscina dizer. 

Procurei a voz e vi que quem falara comigo era Arthur, um grande amigo de Alan. Ele estava rodeado de garotas, o que não era incomum. 

- Ah, não. Obrigada! - Respondi. 

- O Alan estava te procurando, já esbarrou nele por aí? - Contou. 

- Não, eu cheguei agora para falar a verdade. Sabe onde ele deve estar? - Perguntei sentindo meu coração acelerar. 

- Não faço ideia, mas aqui não é muito grande, logo vocês vão se encontrar. - Respondeu com um sorriso. 

- Obrigada. - Agradeci me afastando. 

Voltei para dentro do salão com o intuito de procurar Alan. Fui até a pista de dança pensando que talvez ele estivesse lá, mas ao invés disso encontrei o rapaz sério que estava encostado na parede antes, mas dessa vez ele estava sozinho. Sem querer eu pisei no pé dele quando estava passando. 

- Desculpa, eu não te vi. - Falei sendo sincera. 

Ele não respondeu nada. Ele deve estar com raiva de mim. Mas por que? Eu só pisei no pé dele, quer dizer, não é algo grave para deixar alguém com tanta raiva. 

- Eu não fiz de propósito, sério! Eu estava distraída, estava procurando um amigo. - Continuei. 

Silêncio.... 

- Hum, você não quer falar? - Perguntei. 

E silêncio... 

- Você está bem? - Perguntei preocupada. 

- Se eu soubesse que as pessoas da terra seriam tão chatas acho que eu nunca viria para cá. - Disse ele revirando os olhos. 

- Eu sei como é. Acho que eu não viria também. As vezes queria morar em outro planeta. - Concordei. 

Ele me fitou como se não entendesse o que eu acabara de dizer. 

- Você não aguentaria nem um dia no meu planeta. - Resmungou de cara fechada. 

Ri, ele era estranho mas divertido. 

- Todos tem seus problemas. - Disse sorrindo. - Bom, desculpa. Eu... vou continuar procurando. Hum, tchau. - Disse saindo. 

Olhei para a pista de dança e achei figuras conhecidas: Ruth, Shira, Miguel e Rio. Fui até eles. 

- Obrigado por sumirem sem avisar. - Falei ao esbarrar em Ruth e Shira. 

- E aí, Liz? - Cumprimentou Miguel. 

- Oi, Miguel! Oi, Rio! Estou procurando o Alan, vocês viram ele? - Perguntei. 

- Ah, então você está gostando dele? - Brincou Rio. 

- Ah, meu Deus! - Soltou Shira cutucando Ruth. 

- Ah, não... temos que sair daqui. Vem, Liz. - Disse Ruth me empurrando para fora da pista. 

- Ei! O que foi? - Perguntei me soltando dela. 

Shira tentou tampar meus olhos, mas não teve sucesso. Entendi o motivo das meninas terem tentado me afastar da pista. Alan estava beijando uma menina loira de blusa branca e saia roxa. Nunca falei com ela, mas acho que já a vi pela escola. Goyle, um dos meninos do grupinho de Alan me viu ali e cutucou o amigo. Virei e sai dali imediatamente. 

- Licença. - Falei fugindo de Shira e Ruth. 

Corri para o lado de fora do salão e fui até a sacada. Senti lágrimas escorrendo e logo as sequei. Olhei para cima e vi um planeta brilhando no céu. "Saturno", pensei. Até havia me esquecido de que ele estaria ótimo para observação hoje. 

- É lindo, não é? - Disse uma voz grossa atrás de mim. 

Virei impaciente, quem ousava me perturbar agora? Era o rapaz sério e misterioso da pista de dança. Não tinha reparado o quão alto ele era. Ele era tão alto que sua cabeça quase batia na porta da saída do salão. 

- É. - Respondi. 

Ele não estava mais tão sério como da primeira vez e nem tão quieto, seu rosto parecia esboçar até um sorriso. 

- Tome, vai ajudar. - Disse me entregando um copo de bebida. 

O cheiro era forte, nunca tomei bebidas muito fortes porque mais gosto do sabor, mas aceitei dessa vez. 

- Até você viu! Mereço. - Reclamei tomando um gole da bebida. - Deus, como isso é forte! Parece que vai acabar com a minha garganta. 

Virei o líquido todo de uma vez para acabar logo com aquilo, mas logo me arrependi ao sentir uma certa tontura. Ele riu e se aproximando disse: 

- Vale a pena, eu juro. Conhece aquele planeta? 

- Sim, é Saturno. - Respondi olhando novamente para o céu estrelado. 

- Garota esperta... bom, mas duvido que você saiba a quantidade de satélites que ele tem. - Desafiou me fitando. 

- Fácil! 63 satélites, sendo Titã o maior. - Respondi sorrindo. - Satisfeito ou ainda tem mais perguntas? 

- Pelo visto você é uma amante da astronomia. - Brincou tomando um gole de sua bebida. 

- Liz? - Chamou uma voz que logo reconheci. 

Revirei os olhos o que fez o rapaz rir. 

- O que você quer? - Falei me virando para Alan. 

- Olha, não precisa falar assim comigo. Eu não sabia que você sentia algo por mim... - Dizia ele antes de eu o cortar. 

- Então por que Arthur disse que você estava me procurando? Eu não sou idiota Alan! Sei que você queria que eu visse a cena. - Fui direto ao ponto. 

- Eu não sei do que você está falando... não disse para o Arthur que eu estava te procurando. - Defendeu. 

- Não quero falar com você. - Dei as costas para ele. 

- Olha, não queria te machucar. Eu gosto de você, não quero que fique brava comigo. - Disse ele segurando meu braço. 

- Me solta! - Tirei meus braços de sua mão olhando para ele novamente. 

- O que você viu não significou nada. Eu não sei o que Arthur disse para você, mas eu nunca ia querer que você visse aquilo... eu te amo, Liz. - Declarou ele olhando em meus olhos. 

- Qual o seu problema? Eu não sou burra! Você acha mesmo que eu sou trouxa o suficiente para ver você com outra menina e depois acreditar que você me AMA? Eu não acreditava que você seria capaz disso, Alan... só me deixa em paz, por favor. - Pedi sentindo uma lágrima escorrer. 

- Você não entende! Não é nada disso que você viu, eu... - Alan tentava se explicar. 

Ele tentou secar minhas lágrimas, mas eu dei um tapa em sua mão. 

- Deixa ela em paz, cara! Você não faz ideia de quem ela é, né? Seu eu fosse você, ficaria de juelhos agora mesmo. - Disse o rapaz que até agora estava calado apenas observando. 

Alan se virou para ele é o observou por um minuto. 

- Quem é você? - Perguntou Alan parecendo confuso. 

- Você tá muito bêbado, cara! Venha, deixa ele para lá. Ele está mal, ignore. - Falou o rapaz pondo a mão nas minhas costas e me tirando dali. 

Ele me levou até o balcão onde ficavam as bebidas. 

- Não fica assim, ele é um idiota. Ele não chega nem aos seus pés. Tome. - Disse ele me oferecendo mais um copo da bebida forte que me dera antes. 

- Você não me conhece. Não precisa me dizer isso para me deixar melhor. - Engoli o líquido direto. 

- Olha, se você não está acostumada a beber coisas fortes não deveria tomar tão rápido assim. - Aconselhou. 

- Eu não dou a mínima. - Falei olhando em seus olhos. 

Ainda não tinha notado que ele era muito bonito. Seus olhos eram verdes amarelados, seu cabelo era preto e meio bagunçado. 

- Você tem que parar de olhar para mim tanto assim. - Provocou ele. 

Senti meu rosto queimar. "Segunda vez! Tome cuidado!", pensei. 

- Que? Hum, eu não estava olhando para você eu só estava pensando que eu ainda não sei seu nome. - Menti. 

- Ah, claro! Bem, eu acho que já descobri o seu, Liz. A não ser que "Liz" seja um apelido e não o seu nome. 

- Não é apelido, eu me chamo Liz. E qual é o seu nome? 

- Ah... mas se eu disser você não vai mais olhar para mim. 

Ri dando um tapinha em seu braço. 

- Você se entrega, sabia? Fica vermelha quando está sem graça. Bom, respondendo a pergunta, meu nome é Aden.

Senti sua mão colocar o cabelo que estava caído no meu rosto atrás da orelha. Tive uma sensação estranha naquele momento. Era como um dejavu, como seu eu o conhecesse muito bem, mas não lembro de ter falado com ele antes.

- Não estava pensando no fato de ainda não saber o seu nome. - Falei entrando na brincadeira. 

- Então no que estava pensando? Por que me olha tanto assim, hein? 

- Pega mais uma bebida daquelas para mim que eu respondo a sua pergunta. 

Ele me entregou mais um copo da bebida forte virei a bebida toda de uma vez. Dessa vez fiquei muito tonta e precisei me segurar no balcão para não cair. 

- Você está bem? 

- Ótima! Quer saber a resposta ou não? 

Notei um sorriso malicioso se formar em seus lábios. 

- No que você estava pensando? 

- Estava pensando que você é muito bonito, mas eu não posso te beijar porque você é muito alto e eu não te alcanço. - Brinquei. 

Ele ficou me olhando fingindo que estava pensando seriamente sobre o assunto. 

- Acho que tenho uma solução para o seu problema. - Respondeu. 

Senti mãos longas e firmes se posicionarem na minha cintura me levantando e me pondo sentada no balcão. Agora estava quase da mesma altura que ele, mas estava alta o suficiente para alcançá-lo. 

- Ainda bem que esse balcão é alto. - Falei analisando o móvel. - Você sempre deve ficar com dor nas costas por causa das meninas, né? 

- Na verdade não, elas sempre são da minha altura. - Falou me fazendo soltar uma risada. 

- Então você gosta de garotas altas... bom, eu não sou alta como você mas se eu arrumar um salto alto bem grande talvez você não sinta tanta diferença. Não desista de mim ainda. - Brinquei. 

Ele riu, uma risada gostosa, sincera. Eu não tinha muitos amigos, nunca tive namorado nem mesmo fiquei com alguém. Eu sempre fui muito quieta e tímida, geralmente não falo com muita gente e nunca sei começar uma conversa, mas com Aden eu consegui ser eu mesma sem ter medo do que ele iria pensar. Eu conseguia me sentir à vontade com ele. Como? Eu nunca falara com ele antes.

Peguei o copo dele é bebi o resto da bebida forte. 

- Qual o nome? - Perguntei levantando o copo vazio. 

- Você não deve conhecer, não é daqui. - Respondeu apoiando os cotovelos sobre o balcão. 

- É de qual país? - Fiquei curiosa. 

- É de... - Começou antes de ser cortado por Bianca que apareceu acompanhada pelo rapaz que estava junto com Aden no início da festa. 

- Amiga, soube do que vou com você. Não liga, não. Como é o nome dele mesmo? A... esquece. Ele é um idiota! - Disse Bianca parecendo bêbada. 

- Está tudo bem. Hum, acho melhor você parar de beber um pouco. - Aconselhei. 

- Eu estou ótima, não precisa se preocupar. - Respondeu se segurando no a amigo de Aden. 

- Preciso falar com você, cara. - Chamou o amigo de Aden. 

Aden olhou para mim e perguntou ao amigo se o assunto era importante. O rapaz disse que sim e que era sério. 

- Eu não demoro. - Avisou Aden. 

- Vai lá, eu te espero aqui. - Assenti. 

Os meninos deixaram o local e fiquei conversando com Bianca.