Aestas
1. Estação mais quente do ano, situada entre a primavera e o outono;
2. Início e continuação de uma mesma jornada, na qual nunca para.
4 Meses depois
Os ventos da manhã deixavam as cortinas agitadas. Jeno sabia da chegada do verão antes mesmo que acontecesse. Ele andou contando os meses como um lunático porque indicava que teria algo para fazer, além de coisas do cotidiano. Amava o início do verão, mesmo significando que teria chuvas e mudança de clima drástica.
Acordou com a chamada de Donghyuck naquele dia perguntando se poderia sair mais tarde para beber e respondeu que não. Em sua defesa, o outro Lee era uma borboleta social que adorava sair para dançar e beber. Jeno não estava no clima para festividades.
— Você precisa disso mais do que eu, Jeno! — Hyuck argumenta no pé do seu ouvido, enquanto corre para pegar suas coisas para ir para a faculdade. — Uma saída não vai matar você. É sexta-feira!
Jeno ri porque Donghyuck quando não consegue algo e continua naquela justificativa sem fim, sua voz começa a ficar mais aguda quanto mais insiste.
— Hyuck, você não tá conseguindo me convencer... — cantarola indestrutível. Donghyuck não iria conseguir nada com ele. — E nem vai. Você sabe que perdi muito conteúdo, preciso colocar tudo em dia se não reprovo e a última coisa que quero é ficar em alguma matéria, sou perfeccionista demais. Posso até perder meu emprego!
Do outro lado ele escuta um grunhido de frustração e sabe que ganhou aquela batalha, mas Hyuck voltaria logo depois porque era invencível e gostava de se convencer disso.
— Eu odeio como você é tão perfeito... — acusa indignado. — Posso dizer que o Mark vai com a gente e só você vai ficar excluído?
Jeno suspira e cantarola um ”Uhum” desinteressado.
— Que bom pro Mark que vai ter que lidar com você bêbado — Ele enfia a chave na porta e abre, depois sai do apartamento e a tranca. — Aliás, diz um “oi” pra ele por mim.
— Por que você não diz?
Lee para, analisando se havia esquecido de algo, porque não teria como vir pegar depois e daí ver do lado de sua porta uma caixa fechada com fita transparente, uma encomenda.
Ele abaixa e a pega.
— Porque tô saindo de casa e não tenho tempo pra isso, e já que você mora com ele gostaria que fizesse esse favor — objetifica.
Apoia o celular entre a orelha e o ombro para examinar melhor a caixa.
“Para Seol, Nal e Bongshik (apesar dela não gostar de mim :)" Estava escrito com marcador preto e a letra num garrancho imperfeito.
Era com certeza algum presente de Mark, porque provavelmente havia lembrado do dia do aniversário de 2 anos de Bongshik, amanhã.
— Quer saber? Deixa que mais tarde eu ligo pra ele e a gente conversa, Hyuck.
— Ta bom... Eu não iria falar mesmo — diz enfadonho.
— Beijo — responde involuntário e desliga sem esperar uma resposta.
Após o que aconteceu entre eles, Jeno buscou evitar Mark. É claro, ele estava em um processo de recuperação e não poderia estar tentado a machucar alguém com a sua falta de senso, ainda por cima a Mark, que sabia que não estava bem pelo o que ocorreu.
Ele se recordava às vezes, do nada, daquele discurso no carro. Como fora carregado de sentimentos e honestidade. Daí vinha as lembranças do seu aniversário, o sexo, seu sorriso... Tudo que vinha depois disso era nostalgia e ele era capturado por um sentimento vitalício de desejo. Queria ligar para Mark, perguntar como andava a sua vida e como estava, sem estar rodeados por seus amigos. Mas o medo de o machucar ou acabar em um deslize o apavorava.
É claro que Jeno sabia se controlar. Ele não era um poço de libido sem fim... Porém, com o passar daqueles tempos a coisa foi ficando mais difícil.
Mark ainda era o cara perfeito para ele e mesmo assim eles dois não estavam juntos.
Após seu aniversário eles se viram mais vezes do que Jeno poderia contar. Todo final de semana seus amigos se reuniam para falar de suas vidas, fofocar sobre pessoas que não gostavam, combinar viagens que nunca aconteceria, beber... Coisas normais de amigos; e Mark sempre estava lá, intacto como um príncipe, como sempre se recordou dele. Toda vez que isso acontecia o reboliço de sentimentos vinha... Era um pouco apavorante.
Não teve coragem de ficar no mesmo cômodo que ele enquanto estavam sozinhos. Mark também não, também o evitava, só que não na mesma proporção que Jeno.
Então depois desse tempo, Jeno acha que está na zona livre para falar com o canadense novamente, sem medo dele ficar todo estranho (porque Mark é estranho) ou de magoá-lo.
Eles haviam ficado mais próximos, não é? Ele poderia fazer isso.
Bate uma foto da caixa e depois a envia por mensagem com “Recebido" junto de um emoji sorrindo.
Não houve abraços quando se encontrou com seus amigos naquela noite. Houve uma gritaria animada por finalmente o bicho do mato ter saído da toca (Jeno). Era algo como déjà vu.
Donghyuck era cem por cento a favor das pessoas viverem a vida e a cura para a depressão eminente era sempre salgadinhos e cerveja. Jeno achava que a sua tese de TCC seria baseada nisso.
— Como nos velhos tempos, todo mundo reunido! — Ele comenta já meio embriagado.
Lee não sabia como essa amizade havia durado tanto tempo. Viviam brigando, discutindo por besteiras, mas eram unidos como uma família deveria, sempre passando pano para as bobagens um do outro.
O pacto havia os salvado, sabia. Jaemin salvou a todos, porque na adolescência; quando tudo o que mais queriam era uma mão no pau, ou o pau num buraco quente (não importava qual seria), eles foram salvos por aquela ideia ridícula. Os hormônios, a adolescência... Faz a gente se sentir estranho e com um tesão de ator pornô que o pênis nunca broxa.
A docilidade no olhar de Mark, que estava sentado do outro lado na mesa onde Donghyuck havia escolhido para eles (grande o suficiente para sete marmanjos barulhentos), o pegou um pouco desprevenido, mas logo controlou o que parecia ser um ataque no coração. Jeno tinha quase certeza que não estava preparado para aquele confronto.
A noite foi assim: cerveja, gritaria e mais cerveja.
Jaemin contou sobre sua viagem de trabalho ao Japão e da sua briga com Jisung, que haviam ficado um mês sem se falarem. Chenle estava namorando, Renjun iria passar uma temporada na China e Donghyuck deixou claro o quão descontente estava com esse relato, então ele o iria visitar o mais breve possível (tipo, uma semana depois) e não, eles não estavam namorando, porque todas as vezes que Donghyuck deu verde para Renjun ele o correspondeu com vermelho. Então, a sua paixão (se assim poderia chamar) não passava de uma platônica, ou não, talvez Renjun só não queria magoá-lo, porque ele e o Lee eram pessoas completamente diferentes. E pelo o que se entendia, aquela coisa tosca de os opostos se atraem poderia não ser o caso deles.
Jeno não sabia... Ele não sabia de muita coisa, na verdade, apenas supor.
— Quer que eu te deixe em casa? — Mark pergunta.
O álcool havia subido um pouco sua cabeça, então ele olhava sem razão para o asfalto abaixo de seus pés. A cabeça girando e a visão turva.
Ele se virou e o viu sorrindo frouxo.
— Você não tá bêbado?
Mark balançou suas chaves nas mãos e meneou a cabeça parecendo tímido.
— Não bebi muito, porque tinha que tomar conta de Donghyuck, mas Renjun levou ele pra casa. Se você quiser eu posso te levar.
— Claro — aceitou sorrindo.
Não pareceu tão estranho se alojar no banco ao lado de Mark. Onde houve declaração e beijo. Ele estava bêbado por um propósito.
— Se eu dormir, me acorda... — balbucia antes de virar o rosto para a janela.
O outro o responde, mas não presta atenção.
Mark coloca Blondie para tocar e dirige tranquilo pelo tráfego mínimo da noite. Em algum momento; enquanto ele acompanha o solo de Debbie, Jeno se vira, molenga no banco, e o encara.
Nota que o canadense tem as mesmas bochechas protuberantes que antes, os mesmos olhos grandes e castanhos escuros... Caralho! Como ele era tão bonito? Jeno havia esquecido gradualmente de toda aquela exuberância com o passar dos dias.
— Você parece um pouco maior... — Mark comenta, o espiando pelo canto do olho. — Os braços, eu acho. — Seus dedos se apertam no volante, demonstrando seu nervosismo.
Jeno ri, porque a bebida o faz rir, pois senão ele estaria revirando os olhos de vergonha.
— Eu dobrei minha série nos últimos meses — Dar de ombros como se não fosse nada. — Acho que é isso que acontece quando você termina dois relacionamentos um em seguida de outro.
Mark suspira.
— Eu sei que é estranho. Se você quiser podemos fingir que nunca aconteceu.
Jeno se pergunta se Mark tivesse aceitado entrar no seu apartamento naquele dia, se as coisas seriam diferentes para eles agora. Talvez sim, elas estariam muito piores considerando seu histórico de fracassos.
— Somos adultos, deveríamos tratar isso como adultos. Não é? — indaga, como se estivesse sóbrio o suficiente para isso.
— Claro, mas... como adultos resolvem isso? Fingindo que nunca aconteceu, não é? — O outro joga de volta, porque... É a verdade.
— E funciona?
— Eu não sei — Ri, de nervoso, dando de ombros.
É a vez de Jeno suspirar.
— Talvez a gente devesse começar com... Como você tá? A minha presença te incomoda?
Mark pensa um pouco na resposta, encarando o tráfego como uma desculpa para não olhar o rosto sereno do cara ao seu lado.
— Eu tô bem e não, a sua presença não me incomoda, é até aconchegante ter você tão perto depois de tanto tempo.
— Idem, só que não a última parte. É estranho ter você perto. Não me leve a mal. Te evitei por tanto tempo achando que quando tivesse você assim, perto, eu iria pular no seu pescoço e acabar com tudo apenas pela minha necessidade pavorosa de amor. A nossa despedida foi perfeita e deveria ter acabado lá, mas eu nunca fui o tipo de sexo casual ou do tipo que esquece algo tão... — deixa a reposta no ar.
— Nem eu. Sexo é muito íntimo pra mim pra não levar pro lado pessoal.
— Então a culpa é de nós dois?
— É.
Jeno aceitou.
— Foi um erro? — Mark balbuciou, antes que algo distraísse Jeno do lado de fora do carro e o silêncio se impregnasse pelos cantos do jipe.
Ele acordou no dia seguinte com uma leve dor de cabeça, nada tão sério. Sua televisão estava ligada, pelo que ele pareceu reparar apenas pelos barulhos usuais que seu apartamento transmitia (ele estava acostumado com o silêncio) e tinha alguém na sala/cozinha.
Poderia ser Donghyuck, ele vivia invadindo sua casa.
Mas não era.
Os cabelos pretos e esvoaçantes de Mark chamaram sua atenção para sua figura empoleirada na janela, regando suas plantas. Ele se encostou na parede e sentiu seu estômago roncar suavemente.
— Ei! Bom dia — Mark o saúda. Ele abaixa o regador pequeno e sorri bem radiante.
— Bom dia... — grunhe, indo até a cozinha, que era dividida da sala apenas por um balcão. — O que você tá fazendo aqui?
Jeno não nota o encolher dos ombros do amigo.
— Você me pediu para ficar, cara! — respondeu, quase ofendido pela pergunta de Jeno. — Não se lembra?
Na verdade, Jeno se lembrava só que do jeito que Mark dissera não parecia que ele tinha se humilhado por esse pedido.
Ele bêbado era uma desgraça!
— É, eu me lembro, não era pra você lembrar disso — coloca café na xícara e vai se sentar no sofá. — Que humilhante!
Mark ri e deixa o regador no chão indo até a cozinha.
— Foi fofo! — alega contente. — Você bêbado é muito, ou excitado demais, ou carente demais.
E os dois não são coisas iguais?
Jeno revira os olhos, mesmo achando gracioso tudo aquilo.
— E não se preocupe, quando você tentou me beijar, depois do vômito, eu não quis — continuou comentando.
Lee quase cospe seu café, pego de surpreso. Dessa parte não se recordava.
— É claro que seria nojento... — Mark concorda, como se estivesse falando sozinho. — Mas eu não “não queria”, entende? Seria errado se aproveitar de você assim quando eu estava sóbrio, eu não sou esse tipo de cara.
Jeno suspirou.
— Claro que não é — murmura, tentando se sentir confortável no próprio corpo.
Mark traz para ele bolinho de brócolis assado e se senta ao seu lado, puxando o celular do bolso para responder as inúmeras mensagens de Donghyuck.
Jeno come devagar.
— Então, o que você vai fazer hoje? — O canadense pergunta, ainda digitando, sem o olhar. — Hyuck vai passar o dia fora e, por incrível que pareça, eu não quero ficar sozinho. — Ri sem jeito.
Jeno pensa, o que é bem ruim a essa hora da manhã (9:00). Pondera em só ficar no apartamento, assistindo alguma série de comédia e comendo; só que acaba por lembrar do aniversário de Bongshik, se sentindo um péssimo pai, porque não pode se esquecer disso. Ela é quem mais guarda rancor de todos as três.
— Que tal a gente ir na casa da minha mãe?
— Claro, pra quê?
— Aniversário de Bongshik.
O sorriso de lábios curtos de Mark ilumina seu rosto inteiro.
Mark Lee é muito bom em agradar pais, quem normalmente ele não conseguia agradar eram seus parceiros. Muitos, para dizer melhor. O quê? Ele era um homem do amor, estava sempre a procura.
Acreditava fielmente que toda pessoa no mundo tinha a sua cara metade e mesmo que já se achasse autossuficiente, ainda procurava a sua. Donghyuck sempre dizia que era ele, mas Lee não acreditava nisso.
“Você sempre volta pra mim, não é?” ou “Almas gêmeas não precisam ser necessariamente românticas. Que pensamento mais generalizado o seu!”. Eles acabam brigando por isso, só que voltam a se falar meio segundo depois.
Hyuck poderia até estar certo, Mark sempre voltava. O aconchego da sua cama e dos olhos penosos do amigo eram o seu consolo no fim de cada relacionamento fracassado.
Contudo, Jeno era diferente, sabia.
Claro, ele não era nada como uma paixão alucinante, era mais neutro e calado. Mark poderia deixar as coisas rolarem. Não era crédulo no destino, acreditava em Deus e sabia que tudo daria certo, se não, teria Hyuck, afinal.
— Você andou saindo com alguém nos últimos meses?
Ele não esperava por essa pergunta.
Mark vira para o encarar, os pensamentos autodestrutivos se esvaindo como uma fumaça.
— Por quê?
Jeno dar de ombros, fingindo não se importar com a sua recusa inicial.
Evidentemente, com seu histórico de carente número 1, Mark seria tachado como aquele que busca os outros para tampar buracos. Buracos muito abertos e recheados de autopiedade e melancolia sem fim.
É compreensível a pergunta.
— Não — Para o carro em frente à casa dos Lee, em um subúrbio de gente classe média alta. — Você?
Jeno bufa uma risada.
— Claro que não! — É dado a resposta como uma autodefesa.
Eles dessem do carro, Mark trazendo consigo uma torta de maça que comprou no caminho, junto de seu coração martelando por todo o corpo. Jeno sorri para ele, mas parece tão nervoso quanto.
Eles podiam sambar em cima do nervosismo naquele instante.
— Se eles perguntarem algo, saiba que você tá aqui como um amigo, mesmo eu tendo contado o que aconteceu com a gente — diz apressado, sem o olhar, enquanto guiava seus passos para a entrada da casa.
Antes que Mark pudesse o responder, a porta da casa se abriu e os pais altos, ricos e atléticos (mesmo no auge dos 50 anos) de Jeno saíram para os receber. Seus sorrisos acalorados e abraços gentis e apertados o lembrou do filho, porque Jeno era igual a eles, não apenas fisicamente.
Com saudações apressadas, Mark foi guiado para dentro, a torta arrancada de sua mão.
— Estou muito feliz que finalmente está aqui depois de tantos anos — Senhora Lee disse. — Como vão seus pais, e Donghyuck? Ele também não vem aqui há muito tempo!
Jeno reclamou ao fundo que Donghyuck e Mark “têm uma vida, mãe, eles não podem se dar ao luxo de virem aqui toda vez que a senhora deseja”.
— Não sou “senhora”! — cantarolou.
Jeno revirou os olhos como o filho único e petulante que Mark sabia que era.
Foi adorável.
O processe por estar apaixonado.
A mãe de Jeno se voltou novamente para Mark, enquanto seu marido, em segundo plano, os observava com olhos brilhantes e sorriso intocado no rosto. Mark estava começando a ficar um pouco assustado com a recepção.
— Então, como aconteceu? — questionou. — Foi você quem foi atrás de Jeno ou ele veio? Ah! Ele nos contou tudo sobre a casa de praia, vocês dois juntinhos... — compartilhou um olhar com o marido e riram juntos, como cúmplices de um crime. Jeno não estava em sua vista para o salvar. — O coitado tava bem triste, mas compreensível. Aquela garota tola havia o traído e Jeno sempre foi bem sensível. Não tanto, mas ainda assim dava pra perceber quando ele queria chorar, então vinha pro nosso quarto e chorava nos meus braços.
— Como eles crescem rápido! — O senhor Lee suspirou.
Mark balançou a cabeça para mostrar que estava atento.
— Só que naquele dia ele preferiu ficar no quarto dele. Ainda bem que veio pra cá, ficar com as meninas, mesmo que tivesse um ataque de espirros toda vez que ficava perto por muito tempo. Donghyuck também tem alergias a gato, não é? Jeno nos contou. Pobrezinho. Gatos são criaturas adoráveis — fez uma pausa. — Onde estava? Ah, sim! Ele passou aquele mês aqui com a gente, apesar de não ser mais o nosso doce Jeno, sabe? Ficamos feliz que vocês tenham feito sexo. Jeno ficou feliz também, mas depois triste, porque se separaram e agora que estão juntos de novo, podemos ter nosso filhinho bem...
— Não estamos juntos, mãe! — fora interrompida pelo filho.
Ele carregava nos braços Nal e Seol, Bongshik vinha miando em seus pés também querendo colo. Justo a aniversariante sem colo!
— Mas você o trouxe aqui!
— É, como um amigo. Mark e eu não estamos juntos. Não é? — Direcionou a pergunta a Mark.
O Lee mais velho tossiu, tomando uma posição rígida na cadeira.
— Não, senhora Lee, não estamos juntos.
Ainda não, pensou.
Deu para notar o murchar de seus ombros.
— Então você o trouxe aqui como um amigo?
— Sim, você não tava reclamando disso há alguns segundos? Que fazia tempo que meus amigos não apareciam?
Senhora Lee bufou, foi até a cozinha buscar vasilhas para distribuir a torta que Mark trouxera. Senhor Lee ficou calado, encarando o filho, que estava ocupado beijando a cabeça de suas gatas. Ainda bem que ele havia tomado seu remédio para alergia.
— Vão ficar para o jantar? — Ela retorna a puxar assunto. Deixando a torta ser de maça e não de climão. — Eu e seu pai temos compromisso mais tarde, mas podem ficar e fazer companhia para as meninas. Elas não gostam de ficar sozinhas e sentem muito a sua falta.
Bongshik continua miando, então Jeno tem que soltar Nal para pegá-la. Ele olha para Mark em busca de alguma resposta. Se ele tivesse vindo sozinho aceitava no exato momento, mas não sabia dizer se o mais velho tinha algum compromisso, até porque era final de semana.
Mark dar de ombros. Seus olhos meios arregalados em certo receio de aceitar a proposta e deixando para Jeno responder.
— Claro, mãe! Até porque eu tinha prometido ficar um tempinho com elas — Se volta para a gata no seu braço, arrulhando e beijando seu pescoço envolto pela coleira.
— Ótimo. Quando voltarmos, trazemos o bolo — Se anima, terminando de servir a torta e sentando-se ao lado do convidado. — Salmão ou frango?
Jeno e Mark respondem em uníssono:
— Bongshik não gosta de frango!
O senhor Lee solta um arquejo surpreso. Jeno e Mark trocam um sorriso envergonhado.
— Salmão então! — Senhora Lee afirma, enquanto sorri.
Quando são deixados a sós, ambos decidem optar para o jantar uma receita simples. Como Mark é vegetariano, que se encaminha vagarosamente para o veganismo, Jeno decide por deixar qualquer ingrediente listado na sua cabeça que são alertas vermelhos para o vegetarianismo. Ele não sabe de muita coisa, só o essencial, sempre foi um ignorante em relação a esse assunto.
Mark se sente mais à vontade quando os pais de Jeno saem. Brincando com as gatas, cantando uma música em inglês que não conhece e dominando a cozinha como só havia visto Chenle e Jaemin fazer.
— Então... — interrompe a cantoria do canadense quando assume coragem. — Eu sinto muito por ter tentado beijar você na noite passada.
Mark ri.
— Não sente, não... — rebate. — Só tá com vergonha.
Jeno arqueja, incapaz de deixar seu personagem fingido de lado.
— Não é verdade! Eu tô sim, envergonhado. Mas... Mas... — gagueja sem argumentos, se cala.
— Tá tudo bem. Até porque foi como eu disse. Eu só intervir porque não queria que você se arrependesse depois. Era um desejo meu também.
Jeno, do jeito que está calado, fica mudo e acuado. Não sabendo o que dizer ele só assente. Sem nenhum vestígio de seu atrevimento usual.
Estaria mentindo que toda essa enrolação fazia dele um daqueles personagens insuportáveis que não aceitam o próprio destino. O dele seria beijar Mark, de novo e novamente, até que seus lábios ficassem vermelhos e inchados, passar as mãos pelo corpo dele e se perder nesse amor, deixar seus pais orgulhosos por estar namorando um garoto tão educado e adorável como o Lee. Mas o que diabos o impedia?
Ele não sabia.
— É assim, então. Você nem esconde mais que gosta de mim?! — perguntou, seu dedo desenhando linhas aleatórias sobre o balcão da cozinha.
Mark o encara.
— E desde quando eu tentei?
Jeno dar de ombros, sorrindo.
— Não sei, achei que você seria mais... Não sei, que esconderia isso, sei lá, por estar envergonhado — diz, fazendo gestos nervosos com as mãos.
Mark se aproxima do outro do lado do balcão, segura suas mãos. Ele tem um pano pendurado no ombro e seus dedos exalam o cheiro de cebola. Ele nunca esteve mais bonito.
— A vida é muita curta pra eu me envergonhar de algo inevitável como o que a gente teve.
Jeno admirava a coragem dele.
— Lembra do que eu te disse sobre aproveitar a vida? Eu sigo esse lema, sempre.
— E você não se arrepende de nada do que faz seguindo isso?
— Não. Eu me arrependo de coisa que eu não disse ou que não fiz, por esse exato medo.
Jeno suspira.
— Não deixaríamos de ser amigos, né?
— Juro que não — Ele mostra seu dedo mindinho, indicando uma promessa.
Jeno entrelaça os dedos e Mark beija sua mão.
Em seguida ele volta a preparar o jantar. O mais novo começa a tagarelar sobre como, por um acaso, adotou Seol, Nal e Bongshik antes de entrar na faculdade, em como sua mãe ficou furioso por ele ter pegado as gatas sem permissão e por causa de suas alergias.
Há coisas injustas na vida de algumas pessoas e isso se chama alergia a animais e intolerância a lactose. Jeno foi amaldiçoado com uma, a mais perigosa, mas isso nunca o impediu de encostar em gatos.
Uma hora ele retira seu celular do bolso e bate uma foto de Mark distraído. Envia no grupo de amigos e aguarda a enxurrada de mensagens.
De um instante para outro eles se veem atracados no sofá da sala, lábios esmagados um no outro e mãos ansiosas vagando pela pele quente que tanto ansiava em longos 4 meses de distância.
A conversa no carro do dia anterior parece soa como hipocrisia, mas ele esquece rapidamente.
Jeno impulsiona seu quadril para cima, o peso de Mark o dando estabilidade, se não ele já estaria tirando suas roupas, ali mesmo na sala, em tempo de seus pais o flagrarem, como dois adolescentes.
Os beijos de Mark, trilham pelo seu pescoço — de pele tão apática que dar pra ver suas veias logo abaixo do tecido. Os sons das bitocas preenchem seus ouvidos e a única coisa que ele pode escutar é isso, além da pulsação contra seu ouvido. Nesse momento, aqui só eles dois novamente, ele quer dizer a Mark que o ama. Mas não diz. Seria imprudente, então deixa para depois de amanhã, quando seus sentidos estiverem estáveis e de acordo com a razão.
Enquanto suas mãos sobem pelas costas do outro, seus dedos trilhando as dobras do tecido da camiseta dele, Jeno pensa no porquê havia demorado tanto para vir atrás de Mark.
Na verdade, ele não foi atrás de Mark. Eles acabaram se encontrando, como deveria ter sido.
Periódico passatempo de verão é uma pinoia. Mark ficaria agora, não como antes, contudo permanente.
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