Olhar os carros passando de um lado para o outro na pista tinha se tornado seu passatempo desde que tinha enviado a mensagem para Jeno. Suas pernas pediam por descanso assim como sua mente e, por isso, decidiu sentar ali na calçada da porta da cafeteria. Mas nem com seu corpo descansando ali sua mente parava de trabalhar. Seus pensamentos estavam conturbados e a discussão de seus pais se repetia direto em sua cabeça, como uma tortura.
Para Renjun ainda era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo, mesmo depois de ter ouvido tudo. Claro que o relacionamento de seus pais nunca foi perfeito, nem ele era um bom filho, mas para si — talvez para qualquer filho — nunca pensou que um dia seus pais pudessem se separar. O casamento deveria ser a união que tinha que durar para sempre, assim como o juramento que eles faziam no altar.
Era tão triste e desesperador saber que as duas pessoas mais importantes de sua vida não se amavam mais a ponto de nem suportarem viver sob o mesmo teto.
Sua vida devia ser mesmo uma piada... Quando poderia ter paz?
Renjun piscou e limpou a vista embaçada olhando para o final da avenida. Já tinha se passado uns vinte minutos desde que tinha chamado Jeno, e até agora nada. Olhou para o céu escuro pensando que talvez tivesse acontecido algo de errado, pode ser que os pais dele não tivessem o deixado sair aquele horário.
Renjun abraçou seus joelhos e sorriu triste, agora teria que procurar outro lugar para ficar, porque de jeito nenhum voltaria para casa.
Contudo, o carro branco e luxuoso parando de frente a cafeteria chamou sua atenção. Renjun levantou-se sentindo seu coração aliviado dentro do peito quando reconheceu se tratar de Jeno, e antes mesmo do garoto sair de dentro do automóvel seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
Jeno fechou a porta do carro e foi rapidamente até Renjun o olhando preocupado. Quando viu o estado do garoto tocou em seu rosto e limpou as lágrimas que escorriam por ali.
— O que aconteceu? — perguntou, mas Renjun apenas negou com a cabeça e desabou em choro, abraçando Jeno com força — esse que ficou ainda mais preocupado.
Jeno voltou a questionar o que tinha acontecido, enquanto passava as mãos pelas costas de Renjun tentando o acalmar, mas o garoto apenas chorava. Percebendo que ele não tinha condições de se explicar, resolveu esperar até que ele se acalmasse.
Depois de esperar com paciência Renjun parar de chorar, Jeno se separou e levantou o rosto do garoto.
— Renjun me diz o que aconteceu? — perguntou passando a mão por seu cabelo.
— Meus pais... — murmurou com dificuldade. — Eles vão se separar Jeno. — disse e voltou a chorar.
Jeno suspirou triste e apenas esperou Renjun parar de chorar. Parecia que conseguia sentir a dor dele em apenas observar seu choro sofrido. Não sabia exatamente como ele estava se sentindo, mas só em pensar em seus próprios pais se separando já fazia uma dor aguda se alastrar por seu peito.
— E como descobriu? — perguntou ajudando o outro a secar as lágrimas.
— Quando eu cheguei em casa depois de ter saído daqui, nem precisei abrir a porta, eu ouvi toda a discussão do lado de fora. — disse negando com a cabeça. — Não consegui entrar, não queria ver eles, então voltei pra cá. — continuou e encarou o garoto em sua frente. — Jeno, eu não quero voltar pra casa.
Jeno assentiu e puxou Renjun para um abraço. Também estava um pouco perdido sobre o que fazer, então disse o que parecia ser o mais apropriado no momento.
— Vamos para minha casa. — disse e Renjun se separou o olhando um pouco receoso.
— Obrigado, mas acho que não é uma boa ideia. — disse.
— E por que não? Você não pode ficar na rua. — disse preocupado.
— Eu sei, mas também não quero incomodar seus pais, não posso chegar em sua casa de qualquer jeito. — respondeu e Jeno suspirou por ele ser tão teimoso.
— Ok, então vamos fazer assim: você fica aqui. — propôs e Renjun franziu o cenho.
— Aqui? — perguntou olhando para a rua.
— Sorte a sua que eu pensei que tinha esquecido algo na cafeteria, então antes de vir pra cá passei na casa de meu avô e peguei a chave com ele. — disse tirando a mesma do bolso e balançando em frente ao rosto de Renjun que arregalou os olhos.
— Jeno, não... — começou, mas foi interrompido.
— Sim Renjun! Ou você vai pra minha casa. — disse arqueando uma sobrancelha.
— Mas e se o senhor Lee...? — e novamente foi interrompido.
— Não precisa se preocupar, ele me deu a chave, e nem vai saber que você passou a noite aqui, amanhã não tem aula e nem a cafeteria vai abrir.
— Mas ele vai desconfiar se você não entregar a chave hoje pra ele. — disse preocupado.
— Amanhã eu invento alguma coisa, então, vai ficar ou ir pra minha casa? — perguntou.
Renjun abaixou a cabeça pensando que não teria outro jeito se não ficasse ali, pois de jeito nenhum iria para a casa de Jeno.
— Aqui... — murmurou cruzando os braços e suspirando vencido.
— Ótimo! — disse Jeno contente.
...
A porta do segundo andar foi aberta e Jeno logo entrou, enquanto acendia a luz do quartinho. Renjun deu passos pequenos até a soleira da porta vendo que tudo continuava como da ultima vez que esteve ali com ele. A pequena árvore de natal, o criado mudo, e o colchão inflável estavam em pé encostados a parede.
Por um momento, enquanto subiam as escadas, ficou preocupado sobre aonde Jeno o levaria, mas quando viu a porta familiar ficou aliviado, afinal aquele era o esconderijo secreto de Jeno, estava cheio de coisas especiais para ele, sentia até que esteve ali por muitas vezes, o deixando confortável enquanto observava o mesmo.
— Tudo bem pra você passar a noite aqui? — perguntou Jeno colocando o colchão no chão.
— Eu gosto daqui... — murmurou sorrindo pequeno.
— Sério? — perguntou Jeno um pouco surpreso.
— Aqui é um ótimo esconderijo. — disse e Jeno riu.
— Quer comer alguma coisa? — perguntou e Renjun negou.
— Estou sem fome... — disse. E mesmo se estivesse não conseguiria comer, se sentia enjoado e a cabeça ameaçava doer.
— Renjun... — começou Jeno se aproximando. — Eu sinto muito por seus pais, se pudesse fazer alguma coisa pra ajudar e não te ver mais triste... — disse, mas Renjun o interrompeu.
— Você já está ajudando muito Jeno, obrigado. — disse.
— Eu vou te ajudar no que for preciso. — disse ele sério e Renjun assentiu sentindo seu coração bater rápido. — Agora preciso ir lá embaixo.
— Tudo bem. — disse e Jeno passou por si.
Renjun observou o garoto caminhar pelo corredor estreito e sumir enquanto descia as escadas. Quando finalmente ficou sozinho respirou fundo e mordeu o lábio inferior tentando controlar o choro. Entrou no quartinho com os olhos marejados e fechou a porta encostando-se à mesma.
E agora, o que faria? Como encararia seus pais no dia seguinte? Como seria viver longe de um dos dois? Eles teriam que brigar por si na justiça? Renjun não conseguiria escolher somente um, e lhe dava uma sensação angustiante só em pensar passar por aquela causa.
Enxugou as lágrimas que tinham voltado a descer por seu rosto e se sentou no colchão. Precisava de ajuda, precisava falar com Chenle, ele com certeza saberia o guiar para lidar com aquilo.
Se perguntava o motivo de seus pais decidirem se separar. Já presenciou ou só ouviu outras discussões deles, mas eles nunca chegaram a falar sobre separação. Depois das brigas, passavam alguns dias sem se falarem, mas logo estava tudo normal de novo, então não entendia o porquê daquela ter sido tão séria.
Quando parava pra pensar em tudo que vinha acontecendo desde que se mudou para Seul, percebia que tudo de ruim que acontecia era culpa sua. O motivo de se mudarem, o seu pai perdendo o emprego, sua mãe trabalhando duas vezes mais, as discussões, a preocupação de seus pais consigo.
Todos estavam cansados, tanto físico como psicologicamente. E o que mais o deixava esgotado era a falsa paz e calmaria em sua família, para logo tudo virar de cabeça para baixo. Nunca estava preparado para esses momentos, porque quando tudo começava a se ajeitar pensava que era de vez, então se apegava com todas as forças. Porém a decepção sempre era maior, e já não tinha mais esperanças, estava cansado, não iria mais se iludir.
— Renjun? — ouviu a voz de Jeno e a porta sendo aberta.
Renjun o encarou confuso, pensava que o garoto já tinha ido para sua casa, então o que ele estava fazendo ali?
— O que ainda está fazendo aqui? — perguntou. Jeno entrou e fechou a porta.
— Você acha mesmo que eu vou te deixar sozinho aqui? — perguntou ele se agachando em sua frente. — Eu apenas fui dispensar o motorista e fechar a cafeteria direito.
— Jeno é melhor ir pra casa, seus pais vão ficar preocupados. — pediu e Jeno negou.
— Eu já avisei que dormiria na casa do Mark, então está tudo certo. — explicou e Renjun desviou os olhos para a pequena árvore de natal.
— Você deve ter coisas melhores pra fazer, então por que quer ficar aqui e olhar para o meu rosto inchado e molhado, e ouvir meus lamentos? — perguntou. Era um tanto quanto incomodo para si, sentia vontade de ficar sozinho e chorar a noite toda, mas no fundo também não queria ficar sozinho.
— Poderia ser até a festa do presidente da Coreia do Sul, mas eu não iria. — disse e Renjun negou com a cabeça. — Renjun você é meu amigo, é obvio que eu não vou te deixar sozinho, a menos que você me expulse ou me dê uma boa razão. — disse firme. — Você tem? — perguntou e Renjun novamente negou. — Ótimo, então vou ficar aqui com você.
Jeno se levantou e sentou no colchão ao lado de Renjun. Decidiu ficar em silêncio, pois Renjun estava quieto demais e com certeza não queria conversar. Se dispôs a ficar ao lado dele, mas despeitaria seu espaço, afinal lidar com a separação dos pais era algo muito complicado.
Se passaram alguns minutos com os dois garotos daquela forma, Jeno só não ouvia o som baixo do tique taque de seu relógio, porque o choro — mesmo que silencioso — de Renjun era mais alto e roubava toda sua atenção. Jeno encarava a árvore em sua frente, mas toda sua atenção se concentrava no garoto tentando não soluçar ao seu lado.
Se sentia mal, e uma energia negativa o rodeava, mas precisava ser forte por Renjun.
Se levantou e abriu a gaveta do pequeno criado mudo, tirando do mesmo dois lençóis. Foi até o lado do colchão e estendeu o lençol sobre o mesmo começando a arrumar. Renjun percebendo o que fazia se levantou para não o atrapalhar.
Depois de terminar foi até as correntinhas de luz da árvore e ligou assim como as que tinham presa na janela. Pegou o projetor de dentro de outra gaveta e o posicionou no chão para logo o ligar. Logo em seguida com a porta já fechada desligou a luz do quarto e se deitou no colchão.
— Renjun, vem deitar. — chamou e o garoto desviou sua atenção das luzes para o olhar.
— Como? — perguntou.
— Você precisa dormir, vem. — disse e Renjun observou o colchão.
— Juntos? — perguntou e Jeno suspirou.
— Espero que não se incomode, só tem esse colchão. — disse e Renjun pensou por alguns instantes.
O foco em seus pais desviou para a insegurança de deitar ali com Jeno. Sua mente lhe fazia viajar por suas lembranças ruins de quando tinha dividido uma cama com alguém que achava que gostava de si, para no outro dia descobrir que o gostar dela para consigo valia menos que lixo.
— O que foi? — Jeno perguntou tirando Renjun de seus devaneios.
— Nada. — disse.
Com passos hesitantes voltou para o colchão e sentou. Jeno abriu o lençol mais grosso e se cobriu, mas quando Renjun foi deitar ouviu seu celular tocar em seu bolso. Tinha esquecido completamente do aparelho.
Quando retirou viu que o nome de sua mãe brilhava na tela. Não queria atender, com certeza ela faria milhares de perguntas, enquanto o mandava ir para casa.
Jeno percebendo a demora dele em atender, voltou a sentar ficando atrás de Renjun.
— Quem é? — perguntou.
— Minha mãe. — disse.
— Atende. — disse e Renjun negou.
— Eu não quero falar com ela ainda. — disse se virando de frente pra ele.
— Ela deve estar morrendo de preocupação Renjun. — avisou e Renjun mordeu o lábio inferior nervoso. — Se quiser eu falo com ela. — se ofereceu.
— Tudo bem, mas não diz que eu sei sobre a separação. — pediu e Jeno assentiu.
Renjun entregou o celular para Jeno que logo atendeu antes de cair.
— Alô? — disse.
— Renjun onde você está? — perguntou a voz aflita da senhora Huang.
— Quem está falando é Jeno, amigo de Renjun. — explicou.
— Como? Onde está o meu filho? Por que você está com o celular dele? — quis saber.
— O Renjun está comigo, e nesse momento ele está dormindo. — inventou fazendo uma careta com medo de ser pego na mentira.
— O quê? Como ele está dormindo na sua casa, ele deveria estar aqui! — disse exaltada.
— Calma senhora Huang. O Renjun saiu um pouco tarde do trabalho e eu ofereci uma carona. Foi quando eu recebi uma ligação de outro amigo pedindo para nos encontrarmos cedo amanhã, então o Renjun concordou em dormir aqui em casa.
— Ele não devia ter feito isso... — disse baixo.
— Não se preocupe senhora, vamos cuidar bem dele, e eu prometo o levar pra casa assim que voltarmos da casa de meu outro amigo. — tentou tranquilizar ela.
— Hum... Tudo bem, acho que é bom ele dormir em sua casa hoje. — concordou pensativa.
— Eu aviso que a senhora ligou quando ele acordar. — disse.
— Cuide bem dele. — mandou e Jeno concordou, em seguida a ligação foi encerrada.
Renjun olhava para Jeno com o cenho franzido, devido à facilidade com que ele mentiu.
— Você mente bem. — disse, mas não era um elogio.
— Acho que aprendi bem quando passei um ano fugindo de casa. — disse dando de ombros. — Ela estava bem aflita.
— Vai ser melhor assim, ela vai poder descansar enquanto eu me preparo para receber a notícia. — e esperava que desse certo.
Jeno suspirou voltando a deitar e Renjun o olhou de canto, enquanto apertava o celular nas mãos. Seus olhos começavam a pesar de sono, mas ainda tinha receio de deitar, era estranho.
Jeno percebia a hesitação dele e aquilo também lhe incomodava, saber que Renjun ainda não se sentia a vontade consigo o fazia pensar desesperadamente em alguma maneira de mudar aquilo.
Decidiu que deveria tomar alguma atitude ou Renjun seria até capaz de dormir ali sentado. Foi quando segurou em seu braço e o puxou para trás, fazendo o mesmo deitar ao seu lado com a cabeça por cima de seu braço estendido.
Renjun continuava tenso e nem se movia, enquanto olhava fixamente para o teto mostrando o céu estrelado pelo projetor.
— Apenas durma Renjun. — pediu fechando os olhos.
Renjun respirou fundo e tratou de relaxar seu corpo. Não podia ficar daquele jeito pra sempre e estava sendo muito chato. Jeno estava o ajudando tanto e tudo que ele estava fazendo era agir de modo infantil e mal agradecido.
Virou um pouco a cabeça de lado e observou o garoto de olhos fechados com a expressão serena. Renjun sentiu uma enorme vontade de retribuí-lo de alguma forma, mas não sabia como, por isso, apenas aproximou seus lábios da bochecha direita dele e depositou um singelo beijo.
Quando se afastou Jeno abriu os olhos e virou o rosto para olhá-lo. Não negava o desejo que sentiu de beijá-lo, mas sentia que não era o momento certo. Renjun não estava bem emocionalmente, e não saberia se reagiria bem. Por isso, apenas sorriu pequeno e puxou o lençol para cobrir o garoto também.
Precisava se manter em alerta e sempre pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa que pudesse fazer o garoto querer se afastar de si. Não se perdoaria se algo do tipo acontecesse.
...
Renjun abriu os olhos devagar, e a primeira coisa que percebeu foi as luzes que estavam todas apagadas. Virou-se ficando de barriga pra cima e viu que estava sozinho no colchão. Onde está Jeno? Se perguntou.
Seu sono não era pesado, mas durante a noite dormiu profundamente que nem percebeu Jeno ao seu lado. Olhou para a pequena janela estreita e viu a claridade entrando pela mesma, já era manhã.
Logo a lembrança da discussão de seus pais chegou com tudo em sua mente. Renjun bufou frustrado, não queria lembrar mais daquilo. Pelo menos sentia que seu corpo tinha descansado o suficiente e tudo que lhe incomodava no momento era só a lembrança.
Ouviu passos no corredor e se virou de lado para olhar a porta que estava entreaberta. Jeno apareceu terminando de abrir e olhou para Renjun.
— Que bom que acordou, precisamos ir a um lugar. — disse ele guardando o celular no bolso. — Você dormiu bem? — perguntou e Renjun assentiu enquanto se sentava.
— Para onde vamos? — perguntou ainda grogue de sono.
— Mark me ligou e pediu para nos encontrar. — disse e Renjun ainda encarava confuso Jeno. — Ou você vai querer ir logo pra casa? — perguntou.
— Que horas são? — quis saber.
— Sete e meia. — respondeu surpreendendo Renjun por ainda ser muito cedo.
— Ainda é tão cedo. — murmurou e Jeno riu.
— Eu mandei trazer algumas coisas de casa, você pode usar o banheiro do escritório do meu vô, eu deixei tudo lá. Enquanto isso vou para a cozinha preparar algo. — avisou e Renjun se levantou tonteando de sono.
O menor saiu rapidamente do quartinho indo para a sala do senhor Lee. Não conseguiria passar nenhum segundo mais na frente de Jeno com o rosto todo amassado e o cabelo bagunçado, sendo que Jeno já estava completamente arrumado e cheiroso.
Quando entrou no banheiro viu uma muda de roupa limpa em cima da pia e uma escova com creme dental. Dentro do box tinha sabonete e uma toalha limpa pendurada em um gancho para roupas.
Suspirou aliviado, era melhor que nada. Tudo menos continuar com cara de sono na frente de Jeno.
...
Renjun estranhou o motorista de Jeno estar estacionado em frente à cafeteria, mas não disse nada. Esperou pacientemente o mesmo terminar de trancar o estabelecimento para poder o seguir e entrar no carro.
Renjun entrou por ultimo e após colocar o cinto foi que percebeu os dois buquês de flores envoltos em papéis plásticos. Encarou Jeno que estava bastante sério.
— Pra que as flores? — perguntou e Jeno suspirou fundo. — Jeno, para onde vamos? — continuou.
— Vamos nos encontrar com Mark e Haechan na casa dele. — começou e Renjun continuava a lhe encarar esperando a resposta que queria. — Acho que o Haechan não te contou, mas hoje é o aniversário de sete anos que os pais dele morreram.
Renjun entreabriu os lábios surpreso. Então Haechan tinha perdido os pais...? Não conseguiu falar mais nada e Jeno também ficou em silêncio, cada um olhando para seu lado da janela.
De repente pensou em seus pais e só em imaginar perder os dois uma angustia surgia dentro de si fazendo seus olhos marejarem. Céus, nunca desconfiou que Haechan não tivesse mais seus pais, até porque o moreno falava pouco de sua família.
— Vamos ao cemitério? — perguntou sem olhar para Jeno e ouviu o mesmo resmungar confirmando.
Renjun se segurou o máximo que pôde para não chorar, enquanto observava a paisagem passando pela janela. A lembrança da separação de seus pais junto com a morte dos de Haechan o deixou com um peso no peito, junto a um sentimento ruim por todo seu corpo.
Depois de alguns minutos o motorista de Jeno estacionou de frente a uma casa pequena que logo Renjun soube ser a de Haechan, pois o mesmo estava de frente a ela junto de Mark. Renjun observou que Mark também segurava flores e Haechan tinha uma sacola na mão.
Jeno saiu e Renjun sentou onde ele estava antes e segurou os dois buquês. Jeno cumprimentou Mark e foi até Haechan lhe dando um abraço. O moreno manteve sua expressão séria sem demonstrar nada do que estava sentindo. Logo em seguida foram em direção ao carro.
Jeno sentou na frente e Mark foi o primeiro a entrar sentando ao lado de Renjun, para logo Haechan entrar. Ninguém disse nada, todos estavam sérios e Renjun sentiu um clima pesado se instalar dentro do carro quase o deixando sufocado.
Trocou um rápido olhar com Mark, mas não olhou para Haechan, porque se fizesse teria que falar com ele e não queria que fosse naquele momento, por isso, esperaria estarem somente os dois.
E com todo o silêncio e clima pesado, o carro seguiu em direção aonde os pais de Haechan descansavam.
...
Os quatro garotos seguiam pelo caminho de pedras no vasto campo. Haechan caminhava mais a frente ao lado de Mark e Renjun ao lado de Jeno mais atrás.
Renjun segurava seu buquê contra o peito e observava os túmulos. Alguns eram simples, e outros eram como pequenas casas. Nunca tinha visitado um cemitério antes, nunca quis ir ao enterro ou velório de ninguém. Jeno o pegou de surpresa quando disse onde estava indo, mas daquela vez sentiu que deveria ir. Queria apoiar Haechan, queria fazer tudo certo como um amigo de verdade faria.
Quando chegaram ao túmulo simples, onde só tinha os nomes dos pais dele um ao lado do outro em um quadrado de concreto, Haechan suspirou alto e logo se ajoelhou entre os dois.
O moreno olhou para Mark que lhe passou o buquê de flores brancas. Haechan colocou o mesmo entre os nomes e ficou olhando fixamente. Renjun olhou para Jeno o questionando em silêncio sobre o que deveria fazer. Então Jeno caminhou até onde Haechan estava e colocou as flores que segurava no túmulo do pai dele. Logo em seguida, o mesmo juntou as mãos e fechou os olhos por um instante, antes de se afastar novamente.
Renjun sentiu seu coração bater igual tambor dentro do peito e engoliu em seco antes de se aproximar também. Deixou as flores que segurava em cima do túmulo da mãe dele e fez como Jeno, juntando as mãos e fechando os olhos.
Quando os abriu de novo, olhou para Haechan e viu lágrimas descendo uma atrás da outra, mas o garoto lutava com todas as forças para não fazer barulho enquanto chorava. Os olhos de Renjun imediatamente marejaram e não conseguiu lutar contra as lágrimas.
Virou-se voltando e foi até Jeno ficando atrás do mesmo e segurando em seu braço, enquanto apoiava o rosto nas costas dele e chorava em silêncio.
Nem chegou a saber como eles tinham partido, mas sentia uma tristeza muito grande, parecia que tinha os conhecido, frequentado a casa deles, como se já conhecesse Haechan há muito tempo.
E foram daquela forma que passaram os quinze minutos, com Haechan deitado entre os dois túmulos, enquanto Renjun, Jeno e Mark esperavam mais afastados.
Após lembranças e choro, Haechan se levantou e olhou por um tempo para os túmulos. Renjun pensou que ele choraria mais, porém, o mesmo se virou com o rosto seco e vermelho por ter chorado e somente passou direto, voltando para a saída.
Os três garotos o seguiram mais atrás e finalmente saíram do cemitério. Haechan os esperava encostado no carro de Jeno. Quando chegaram o moreno se virou e sorriu pequeno.
— Obrigado por terem vindo. — disse olhando para cada um. — Sério, acho que se eu tivesse sozinho, cavaria um buraco ao lado deles e me enterraria também.
— Não brinca com isso. — pediu Jeno e Haechan revirou os olhos.
— Por que o Jaehyun não veio? — Mark perguntou.
— Aquele irresponsável estava jogado no chão da sala com ressaca quando levantei. Deixei ele lá mesmo, parecendo um lixo. — disse com raiva.
— Talvez ele venha mais tarde. — disse Jeno.
— Eu não quero saber daquele idiota, eu só quero ir pra casa e comer pizza. — disse.
— Então vamos. — disse Jeno caminhando até a porta do carro e abrindo.
— Você paga as pizza Mark. — disse Haechan entrando primeiro.
— Eu? Mas é você que quer. — disse indignado.
— Você é o rico aqui. — continuou e Renjun entrou por ultimo e fechou a porta colocando o cinto.
— O Jeno também tem dinheiro. — respondeu Mark.
— Eu já disse que é você que vai pagar! — alterou o tom de voz.
— Deixa que eu pago. — disse Jeno tranquilo no banco da frente.
A discussão finalmente chegou ao fim e Jeno avisou ao motorista que voltariam para a casa de Haechan.
Haechan e Mark de vez em quando se provocavam e Jeno tinha que intervir antes que se transformasse em outra briga. Renjun se sentia mais aliviado por Haechan parecer melhor, porque ele mesmo não estava. Porém, só o fato de estar entre eles, mesmo com discussões que chegavam a ser engraçadas, o fazia se sentir melhor.
Renjun se sentia grato por tê-los como amigos.
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