"As flores desabrocham para continuar a viver, pois reter é perecer". - Khalil Gibran
Entrou sorrateiramente no escritório dele, não era bem um escritório, era mais uma sala elegante e grande como a maioria das outras. Hades se encontrava sentado em uma cadeira perto da janela, estava com roupas diferentes e seu cabelo parecia molhado novamente, sabia que ele tinha o hábito de não secar os cabelos depois do banho. Ele parecia tão pensativo que por um minuto achou que não tivesse notado a sua presença.
- É bom vê-la de novo. - Hades disse sem olhar para ela.
A deusa se aproximou e sentou de frente para ele.
- Você está bem? - Perséfone perguntou, apesar de lindo, parecia fraco e pálido demais. O rio Estige não o afetou tanto quanto Deméter, já que ele estava no Submundo a muito mais tempo, mas ficou preocupada mesmo assim por vê-lo daquele jeito.
- Vou ficar, não se preocupe comigo. - Ele sorriu de canto.
Quis poder apreciar a companhia dele pelo resto do dia, mas por mais que ele negasse, precisava descançar e recuperar as forças.
- Tem certeza? Hécate pode te ajudar, ela curou a minha mãe com o ...
- O sol não pode me fortalecer, não mais. Estou aqui a muito tempo, só o Mundo Inferior possui poder para isso, mas o processo é um pouco mais lento. - Hades respondeu olhando para fora.
- Não entendo, o Mundo Inferior o deixou assim, como pode te fortalecer? - Perséfone perguntou confusa.
- Sou o deus daqui, quer eu goste ou não o Mundo Inferior faz parte de mim, e assim como ele pode conceder dons também pode tirá-los. - Ele olhou para ela. - Assim como aconteceu com você quando comeu as sementes da romã, seus poderes estão se manifestando mas para isso teve que pagar um preço.
- Parece uma troca justa para mim, assim posso ficar ao seu lado no inverno - A deusa comentou baixo.
- Vem cá. - Hades estendeu a mão e Perséfone a segurou indo até ele e se sentando em seu colo, encostou a cabeça no ombro do deus enquanto ele a abraçava. A deusa suspirou enquanto ele a acariciava com a ponta dos dedos, seu toque era suave e adeixava arrepiada. Sentia falta daqueles momentos com Hades, ele havia ficado mais distante desde a chegada de sua mãe.
Os dois deuses ficaram em silêncio, o único som que podia ser ouvido era o da lareira creptando ao fundo, mas estava longe demais para que pudesse sentir o calor que emanava dela. A deusa refletiu sobre o que Hades dissera, pelo que pode perceber o Mundo Inferior funcionava daquele jeito desde sempre, e Hades parecia estar bem acostumado com aquilo. . Mesmo quando ele estava perto, parecia muito longe ao mesmo tempo. Quando voltou a olhar para o marido, estava de olhos fechados em um tranquilo sono, queria poder viajar através das sombras sem que ele percebesse, levá-lo para a cama e cobrí-lo assim como ele já havia feito com ela diversas vezes, mas ainda não havia ideia de como fazer isso.
Se sentiu confusa por um momento, se o sol detinha poder para curar sua mãe e o Submundo era a fonte de poder de Hades, então o que poderia ser a sua fonte de poder? Conseguia formar algumas sombras a sua frente, e Hades podia manipular as sombras do jeito que quisesse, mas ela nunca conseguiu formar um portal com seus poderes recém adquiridos do Mundo Inferior, mas ainda possuia poder sobre as flores e frutos. A deusa sempre se sentia segura nos braços dele, a sensação de ser amada por ele era maravilhosa demais para querer se separar dele novamente quando o inverno acabasse. Queria que ele estivesse acordado, queria perguntar muito a ele, principalmente sobre o futuro dos dois. Desde o dia em que comera aquelas sementes fantasiava o dia em que teriam uma família apenas deles, com Hades brincando com os pequenos no jardim.
Haviam tantas coisas que queria dizer a ele mas que guardava para si, porque não sabia qual seria sua reação quanto a isso, tinha medo de expor todas as suas ideias. Já havia tido ideias demais ao longo de sua vida, e elas sempre foram vetadas por sua mãe, que as considerava perigosas ou tolas demais. Hades não era em nada parecido com ela, talvez por isso se sentia em paz ao lado dele, mas quando ele começou a repreender sua imaginação assim que tocara no assunto, passou a guarda a fantasia de seus futuros filhos dentro de seu coração, e se perguntava se realmente um dia poderia realizar esse sonho.
Se afastou de Hades com cuidado para que ele não acordasse, se sentia cansada, pensou em descansar mas sabia que não conseguiria, Hades não estaria lá para abraçá-la. Não aguentava mais guardar tudo o que sentia para si própria, não entendia Hades, não sabia nemo motivo dele não querer a mesma coisa. Naquele momento decidiu ir falar com sua mãe, era a única pessoa que seria capaz de entendê-la naquele momento.
Assim que saiu do quarto viu uma figura com o quanto do olho, viu que se tratava de Tânatos.
- Minha rainha, espero não estar encomodando. - O deus fez um aceno com a cabeça.
- Não, claro que não. - A deusa respondeu, mas então percebeu que ele tinha algo mais a dizer e decidiu perguntar. - O que houve?
- Temos uma visitante. - Ele respondeu.
Estranhou aquilo, quase nunca recebiam visitantes, ainda mais se não haviam sido convidados, mas decidiu seguir o deus pelo castelo até chegarem a biblioteca. Não costumavam receber ninguém ali, mas só havia uma deusa que gostava de ler tanto quanto Perséfone e Hécate juntas.
- Nix? - Perguntou confusa. A deusa da noite se virou para ela com o seu sorriso mínima porém simpático.
- Sentiu minha falta? - Ela revidou a pergunta.
Perséfone correu para abraçá-la, fazia muito tempo desde a última visita.
- Porque não veio nos visitar antes? Sabe que amo nossas conversas. - Perséfone a conduziu até o sofá e fez um gesto para que a deusa se sentasse.
- Bom, sua mãe está aqui e sabe que eu nunca me dei muito bem com os Olimpianos, apenas fiquei do lado dos deuses na guerra porque sabia que eles ganhariam, mas se tornaram tão fúteis que é impossível conviver com qualquer um deles. - Nix falou, parecia que a deusa havia guardado essas palavras por algum tempo e finalmente vieram a tona pelo tom de alívio em sua voz.
- Minha mãe não é tão ruim assim, nem o meu... - Perséfone parou de falar assim que Nix deu risada.
- Deméter? Ficar com a cabeça debaixo daquele sol escaldante nos campos por tanto tempo a deixaram meio maluca. E acho que não precisamos nem mencionar Zeus... - A deusa riu como se não houvesse amanhã, mas após notar que não havia tido tanta graça para Perséfone ela parou. - Hades costuma rir mais desses assuntos, onde ele está?
Perséfone ficou alguns segundos diregindo aquelas palavras. Não duvidava que Hades compartilhava da mesma visão de Nix sobre os olimpianos, ele mesmo havia falado isso várias vezes. Também sabia que Zeus não era um deus exemplar, mas sua mãe era a pessoa mais bondosa que já havia conhecido.
- Ele está dormindo, ficou meio cansado depois de pular no Estige para salvar minha mãe que caiu acidentalmente nele. - A deusa respondeu vagamente. - Porque acha isso da minha mãe? Ela nunca fez mal a ninguém, pelo menos não sem um motivo...
- Ah você sabe, Héstia sempre foi a favor da paz, ela até sugeriu que os deuses fizessem as pazes com Cronos durante a guerra... - A deusa da noite riu. - Hera é a que mantém a família unida, de um jeito bem esquisito mas é o que ela faz... E Deméter, sempre teve um fascínio por plantas e tal, mas lembro de sua paranóia demasiada como se fosse ontem.. Fiquei sabendo que ela está aqui e vim ver como você e Hades estão.
- Ela é só um pouco super protetora... - Perséfone resmungou. - Não entendo como eles se odeiam tanto... Estou preocupada com Hades, ele só ficou alguns segundos dentro do Estige e parecia tão abatido e cansado.
- Ele vai ficar bem, Hades nunca possuiu muito poder sobre esse lugar, ele funciona desse jeito desde o início dos tempos, na verdade nem eu quero chegar perto de todo aquele ódio e sofrimento que vocês chamam de rio. - Nix suspirou, desde que colocou os pés no Mundo Inferior e a conheceu, ela sempre foi sua fonte de informações sobre Hades.
- O que quer dizer com isso? - Perséfone perguntou enquanto um fantasma entrava com uma bandeja de chá.
- Quero dizer que o Mundo Inferior nunca foi um lugar adaptável, Hades sempre possuiu talentos para governar e sobre o Mundo debaixo da terra, na verdade foi ele quem conduziu os olimpianos até o Tártaro para libertar os ciclopes e os hecatônquiros com sua intuição apurada, se é que podemos dizer.... - Nix bebericou o chá que a serva havia depositado sobre a mesa. - Mas ele não possui nenhum poder para controlar o rio, este corre pela parte mais profunda e sombria do Tártaro, suas fontes começam no mar e é formado de todos os tipos de sentimentos ruins que existem, nenhum deus se fortalece depois de um mergulho. A força vital dele vem do Mundo Inferior, foi assim que Gaia declarou na divisão dos poderes.
- Pensei que Gaia estivesse dormindo, e que Zeus fosse o rei do universo, também pensei que havia sido um sorteio, mas você disse que Gaia... - Perséfone divagou e Nix riu novamente.
- Gaia está mais do que acordada, todos os domínios sobre a Terra perteciam a ela antes dos deuses ou titãs, nenhum deus de segunda geração ia lhe tirar os domínios sem merecer. - Nix parecia distraída enquanto dizia, como se tivesse voltado para aquela época. - Aconteceu realmente um sorteio naquele dia, eu estava presente, mas foi ela quem ela decretou quais poderes os deuses exerceriam sobre seu reino para que ficasse justo.
- Você sabe bastante sobre o Mundo Inferior e os outros deuses, e eu não sei quase nada. - Perséfone confessou envergonhada, não sabia o que dizer. - Sobre Hades também, quer dizer, eu o conheço mas você o conhece há muito mais tempo...
A deusa da noite pareceu refletir um pouco sobre isso, parecia se lembrar do dia em que conheceu Hades.
- Sim eu o conheço, eu estava aqui antes de Hades, quando ele assumiu o governo continuei morando aqui. - A deusa respondeu. - Hades permitiu que eu continuasse a morar na entrada do Tártaro, tenho saído muito a noite, principalmente agora que é inverno, por isso não apareço tanto quanto antes.
Não havia ficado nenhum pouco perplexa pelas palavras de Nix, já estava acostumada com ela. O fato dela ser um deusa poderosa e sombria sempre inquietara os olimpianos, que não gostavam nada do fato de existirem deuses sombrios e poderosos como Nix. E se por acaso algum deles não estivesse ao lado do Olimpo, seria eliminado assim como Cronos e o resto dos Titãs. Não queria cansar a deusa com tantas perguntas, mas ela estava ali desde o começo do mundo, conhecia os olimpianos a muito mais tempo, e havia uma pergunta que estava a incomodando desde que conheceu seu marido.
- Porque Hades e Deméter não se gostam? - Perguntou sem rodeios.
- Os dois nunca se gostaram nem nunca se odiaram, tinahm um relacionamento pacífico e só falavam um com o outro quando era algo urgente, houve um tempo em que pareciam estar em paz mas não durou muito. - Nix respondeu.
- Porque não? O que aconteceu? - A deusa insistiu, sabia que existia muito mais do que uma simples rivalidade para os dois se odiarem tanto, Hades simplesmente não gostava dela, mas Deméter nutria um ódio mortal por ele.
- É tudo o que eu sei. - Nix disse encerrando o assunto.
Perséfone suspirou, a palavra "Inverno" já a deixava nervosa, a deixava arrepiada só de tentar imaginá-lo. Imaginou o que a deusa quis dizer com aquilo, seja lá o que houve para que os dois ficassem em paz, acabou muito mal pelo tom de voz que a deusa usara. Não sabia se deveria compartilhar suas fantasias com Nix, pareciam serem bobas demais para aquela ocasião, porém tomou coragem.
- Você sabe se Hades tem medo de Cronos? - A deusa perguntou baixo.
Nix quase se engasgou com o chá e tossiu copiosamente.
- Acho que todos os olimpianos tem, porque a pergunta?
- Eu queria saber se ele sente algum receio de ser pai, já que o pai dele foi um monstro. - Perséfone abaixou a cabeça, seu tom de voz diminui a cada palavra e não queria encarar a deusa. Por um momento esperou que ela mudasse de assunto como Hades, ou que risse como sempre fazia, mas ela apenas suspirou.
- Terá que perguntar isso a ele. - Nix respondeu apenas.
A deusa a encarou, parecia que ela escondia algo mas não sabia exatamente o que era. A deusa da noite era temida, principalmente por Zeus, ela podia tirar a imortalidade de um deus, mas Perséfone nunca sentiu medo dela. Nix possuia várias habilidades, mas passou a ter pouco influência sobre o Mundo Inferior quando Hades chegou ali.
- Espere... Você disse que sabia que os deuses iam ganhar a guerra contra os titãs, pode prever o futuro? - Perséfone perguntou, ansiosa e preocupada para saber o que a aguardava.
- Também sabia que Cronos derrotaria Urano, sim. - Nix a olhou sorrindo como se estivesse se divertindo. - Está interessada em algo sobre o seu futuro, deusa da primavera?
- Sim, sobre uma profecia. - Perséfone mal terminou de falar e a deusa segurou suas mãos.
- Eu sei, o som do inverno não pode abalar união uma tão sólida quanto a de vocês, mas pode fazer o último resquício de primavera se esvair. - A deusa da noite continuou com o sorriso sinistro no rosto.
Perséfone olhou para a deusa como se tentasse ler a mente dela, e realmente estava. Ela sabia sobre o seu futuro, e parecia ter vindo ali para ajudar, mas algo a dizia que ela não revelaria mais do que isso por isso ficou em silêncio, sem saber o que dizer.
- Você me parecesse insegura... - Nix o olhou como se a avaliasse, e a ideia de de ser julgada por uma deusa tão mais velha e experiente a deixaram sem graça, e como a deusa não respondeu Nix continuou. - Eu precisaria voltar agora, mas algo me diz que precisará de ajuda em breve, estarei aqui se precisar escapar da sua mãe maluca por uns dias. - Nix falou soltando suas mãos e saindo da biblioteca.
A deusa ficou ali sozinha no sofá, com montanhas de prateleiras muito altas e lotadas de livros. Fazia tempo que não entrava ali, mesmo sendo um dos seus cômodos preferidos, se sentia estranha sem ninguém para conversar. Não aprovou o jeito com que Nix se referiu a sua mãe, ela sempre foi bondosa e carinhosa com todos. Deméter ainda estava lá fora, Perséfone havia dito que procuraria por Hades para que pudesse conversar com ele, ainda que tivesse ficado desconfortável ouvindo isso da filha, Deméter concordou e foi até a morada das ninfas para ajudá-las a plantar flores.
Não entendia porque sua mãe odiava Hades, ou os outros irmãos, mas devia ser algo sério. Algo no passado dos dois que não sabia, e Nix deixou isto implícito, isso era óbvio. Não seria capaz de deixar Deméter para sempre, e muito menos deixar Hades. Precisava saber da verdade, sentia que não o fizesse não poderia seguir adiante, era como se todos os dias fosse primavera quando estava ao lado de Hades, mas queria que tudo evoluísse para algo maior. Pensaria depois sobre as palavras de Nix sobre precisar de ajuda, agora tinha um trabalho a fazer.
Foi para a mesma sala em que Hades estava dormindo, mas quando virou em outro corredor o encontrou saindo da sala. Parou subitamente ao vê-lo sorrindo para ela, e correu para os braços dele. Começou a sorrir quando sentiu o abraço confortável dele.
- É tão bom ver você bem de novo. - A deusa soluçou enxugando algumas lágrimas que conseguiu conter.
- Shh, eu disse que não tinha com o que se preocupar. - Hades respondeu e beijou o topo de sua cabeça em seguida. - Sinto sua falta.
Ele a beijou ternamente, fazia algum tempo em que tinham um momento a sós como aquele. Perséfone descobriu finalmente porque se sentia incompleta e deprimida, era porque ele não estava ao seu lado. O beijou que começou lento e carinhoso agora era intenso, e tirava o fôlego de ambos.
- Que tal irmos para um lugar mais privado? - Perséfone sugeriu olhando para ele com inocência. - Nós temos visitas e não seria agradável que ela nos encontrasse assim.
- Assim como? - Ele beijou o pescoço da deusa arrancando suspiros dela.
- Estou falando sério... - Perséfone falou mas foi interrompida quando ele a beijou novamente, desta vez a deusa mordeu suavemente os lábios do marido.
Hades apenas sorriu e entrou novamente na sala, Perséfone riu ao ser puxada com pressa até a mesa que ficava no fundo da sala. Com um movimento rápido, Hades jogou tudo o que estava em cima da mesa no chão, não se importando nenhum pouco com a bagunça que estava fazendo. Ela a ergueu e a colocou sentada sobre a mesa, a deusa corou ao perceber o olhar lascivo com que ele a admirava.
Continuaram o beijo, Hades se inclinou sobre ela a deixando deitada na mesa. Começava a retirar seu vestido quando ouviram passos vindos do corredor, Perséfone se levantou rapidamente e ajeitou a alça do vestido. Olhou para Hades, que mantinha um sorriso cúmplice no rosto, a deusa riu por não saber mais o que fazer.
- Boa tarde aos dois. - Hécate entrou no cômodo. - Perséfone, se lembra daquele nosso planejamento?
A deusa arregalou os olhos, havia esquecido completamente daquilo, inclusive de avisar ao marido que a olhava confuso.
- Sim, eu só preciso de alguns minutinhos para falar com Hades... - Ela pediu e Hécate deixou a sala.
- O que estão planejando? - Hades cruzou os braços, poderia até dizer que ele estava com raiva por terem sido interrompidos, mas o conhecia bem demais, ele só parecia frustrado.
- Bom, amanhã é o dia em que minha mãe irá embora... - Perséfone começou até ouvi-lo rir.
- Sim, até marquei no calendário, vamos fazer uma grande festa e...
- Agora não é hora para brincadeiras. - A deusa reclamou.
Hades revirou os olhos e ficou de frente para ela, finalmente pareceu estar disposto a ouvir.
- Eu queria que você convidasse mamãe para jantar. - Perséfone falou rapidamente temendo que pudesse perder a coragem de dizer isso para ele.
Tentou evitar o olhar dele, mas assim que o fez começou a rir, Hades parecia tão incrédulo quanto da vez em que disse que queria convidar sua mãe. O deus parecia estar prestes a perguntar algo quando Perséfone falou primeiro.
- Não precisa ser um jantar, vocês podem tomar chá... - Ela explicou gesticulando.
- Perséfone... - Hades começou.
- Ah por favor, eu nunca te pedi nada... - Perséfone piscou os olhos para ele tentando soar persuasiva. - Bom, nada que fosse tão importante quanto isso, e é o último dia dela aqui e eu queria que vocês se entendessem para que pudessimos formar uma família...
Pela primeira vez Hades parecia indeciso, ele suspirou e andou pela sala como se estivesse pensando na melhor desculpa para recusar a oferta.
- Não acho que seja uma boa ideia. - Hades falou em um tom seco.
A deusa fechou os olhos, não queria que ele agisse da mesma maneira todas as vezes em que tocava naquele assunto.
- Hades por favor. - Perséfone pediu com a voz baixa.
Ele a encarou e suspirou mais uma vez.
- Tudo bem, mas...
- Que ótimo!!! - A deusa pulou no colo dele o abraçou. - Eu vou agora convidar a mamãe...
- Espera - Hades segurou a mão dela antes que pudesse ir embora. - Sabe que sua mãe não gosta de mim...
- Porque não? - Perséfone perguntou impaciente, já estava farta daquela mesma desculpa.
- Também queria saber o motivo, não sei como um chá pode resolver isso, mas sei que é importante para você. - Hades retirou uma caixa do bolso e entregou a Perséfone.
A deusa olhou em seus olhos e soube que ele estava falando a verdade sobre não saber porque Dempeter o odiava tanto. Estava curiosa para saber o que havia na caixa, a abriu e dentro estava a joia mais linda que já viu em toda a sua vida.
- Feliz aniversário. - Hades beijou seu rosto e a deixou sem jeito.
- Puxa, eu não sei nem o que dizer... - Perséfone olhou novamente para o colar, onde a joia reluzente brilhava em tons de vermelho, os demais pingentes eram como gotas de sangue de tão vermelhos, o resto do colar era adornado com flores em dourado. Era tão brilhante e delicado que não conseguia desviar os olhos dele.
- Gostou?
- Eu amei, é perfeito... - Perséfone o abraçou forte. - Eu não tenho nada para lhe dar em troca, eu fiquei tão preocupada com você e minha mãe que nem lembrei...
- Não, você já me deu tudo o que eu queria e muito mais... - Ele sussurrou ao seu ouvido enquanto se posicionava atrás dela. - Eu te amo, Perséfone.
- Eu também te amo, Hades. - A deusa o beijou carinhosamente. - Não acho que esse seja um bom jeito de comemorar um aniversário de casamento, que tal irmos para o quarto agora?
- Mas e o seu compromisso com Hécate? - Ele perguntou afastando alguns fios de cabelo do rosto dela, embora tenha perguntado, não queria que ela fosse embora.
- Podemos resolver isso depois, vamos respeitar as prioridades... - A deusa o puxou para um longo beijo, naquele momento se sentiu seu corpo se arrepiar em contato com o dele.
A sensação de estar apaixonada era maravilhosa. Conforme o beijo ia evoluindo para algo mais, as diversas flores que se encontravam decorando a sala desabrocharam e várias pétalas coloridas começaram a voar pelo ar e encheram o ambiente com seu aroma doce. A deusa apenas continuou beijando seu marido sem se importar com mais nada, tudo parecia insignificante diante daquele momento. Mesmo de olhos fechados, percebeu o ambiente escurecer e o ar ficar mais frio a sua volta e de repente se aquecer de novo.
Hades foi o primeiro a abrir os olhos, Perséfone fez o mesmo em seguida e percebeu que estava em seu quarto. Algumas das pétalas de flores haviam viajado nas sombras juntamente com eles. O deus sorriu para ela e então percebeu que não fora ele quem os trouxera ali, e sim ela mesma.
Enquanto se deitavam na cama e deixavam seus sentimentos tomarem conta de si, Perséfone percebeu que não fazia diferença estar no Mundo Inferior ou na Terra, não importava se era inverno ou primavera, luz ou trevas.
Ela podia ser as duas coisas.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.