Outubro, 1966.
Chaeyoung abriu os olhos, a claridade a fazia ter dificuldade em deixá-los abertos. O que havia acontecido? Sua cabeça doía e sua mão foi direto ao encontro da parte que latejava, sangue seco, a loira deveria concluir quando tocou em seu cabelo, mas estava sonolenta demais para processar a informação.
A cama confortável abaixo de si fez a loira desejar continuar dormindo ali, mas quando Chaeyoung percebeu sangue nos lençóis, ela simplesmente se sentou assustada tentando se localizar. Aquela não era sua casa.
Rosé se recordava de estar naquele quarto em outras ocasiões. Sim, aquela cama já tinha sido usada por ela e por Kyle.
- Ah, minha cabeça! – A mulher reclamou se levantando, havia um espelho no quarto e ela foi direto até ele ver o que estava errado. Chaeyoung tocou o curativo bem acima de seu olho e como se o contato de sua mão gelada fosse mágico, ela se lembrou da noite passada – Aquela maldita estrangeira – Rosé cerrou os dentes e abriu a porta do quarto. Lisa havia quebrado o jarro na sua cabeça, e mesmo que ela tivesse cuidado de seus ferimentos, ainda sim não era o bastante para conter a raiva da loira. Se Lisa não estava a fim de sexo era só dizer, não tentar quebrar a sua cabeça.
Chegando a sala, Chaeyoung notou os três homens ainda jogados na cozinha. A faxineira teria trabalho naquele dia, e ela precisava sair o mais rápido possível do lugar.
Mas mais do que isso. Chaeyoung precisava encontrar Lisa. A tailandesa havia usado o seu próprio desejo contra ela. Sexo e trabalho, era tudo que ela vivia e tirar uma dessas coisas era uma afronta para a Park. Ela havia se dado o trabalho de voltar naquela casa apenas porque depois de passar a tarde investigando um possível local de encontro soviético, sem sucesso, ela precisava de uma distração. E por que não a companhia de uma refugiada gostosa como aquela? De fato Chaeyoung se surpreendeu com a presença dos homens tão cedo na casa de Kyle. Eles não iriam querer dividir a tailandesa e como de costume eram uns babacas. Mais do que merecido o final que tiveram. A única com direito de tocar em Lisa era ela, afinal, tinha sido boazinha ao poupar sua vida. Lisa era sua, mesmo que depois disso tivesse que dar um fim à mulher.
A irresponsável agente da inteligência norte-americana deixou o prédio rapidamente, agora ela precisava de todas as informações que conseguisse recolher sobre Lisa.
Sua distração havia se tornado um jogo interessante, e Chaeyoung era viciada em jogos, uma jogadora sagaz, Lisa se tornaria facilmente sua obsessão.
- Dave! – Chaeyoung chamou seu colega de profissão ao entrar em uma loja de datilografia. Dave se escondia atrás daquela máscara de vendedor de máquinas de escrever.
- O que foi? – Ele surgiu ao ultrapassar uma cortina ficando detrás de um balcão de madeira – Uau, vejo rugas em seu rosto. O que deu errado dessa vez?
- Preciso saber sobre uma mulher – Chaeyoung apoiou-se contra o balcão.
- Uma soviética conseguiu fugir de você? – Dave a encarou surpreso analisando os ferimentos no rosto da mulher – Impossível – Ele riu – Tenho pena dela agora. Sei que não vai desistir até encontrá-la. Mas enfim, qual é o nome?
- Lisa Manoban – Será que era esse o nome mesmo? Vai ver aquela mulher havia lhe enganado nisso também.
- Hum, vou checar no sistema – Dave resmungou procurando em seu computador, tecnologia de ponta para a época. – Tem uma Lalisa Manoban, tailandesa, 24 anos, foi presa há umas duas semanas, mas conseguiu fugir.
- Qual o motivo da prisão?
- Assalto – Chaeyoung arqueou uma de suas sobrancelhas. Aquela panaca não parecia ter cara de ladra, mas ela provara que era boa o suficiente para fugir de certas ocasiões, então a loira considerou o fato. Caso a achasse, o que ela iria fazer, mandaria Lisa para trás das grades.
- Sabe mais alguma coisa?
- Não, apenas isso – Rosé suspirou. Ela teria que procurar a tailandesa pela cidade inteira, e considerando que ainda era cedo ela podia estar pelas redondezas.
- Preciso de uma foto – A loira pediu ao homem. Ele sacudiu a cabeça em consentimento, Chaeyoung teria que sair perguntando por aí se alguém tinha visto a tailandesa. Mas a única coisa que ela menos gostaria era de esquecer o rosto daquela mulher.
- Isso vai te custar cinco dólares – A agente semicerrou os olhos – O que? A máquina precisa de tinta pra funcionar e energia, e isso minha colega, gera custos.
- Você sempre dá um jeito de me extorquir, Dave – Chaeyoung reclamou pegando a carteira em seu casaco.
- Os pobres como eu necessitam de esmolas – Dave disse com um sorriso engenhoso, ele nem era pobre, ganhava tanto quanto a Park, só estava a fim de aumentar seus lucros .
Mas Chaeyoung sempre lhe pagava, idiotice talvez, mas era mais pelo respeito que ela tinha por seu colega que era mais velho. Rosé então abriu sua carteira para pegar a nota que ela sabia que tinha, mas sua certeza se foi quando se deu conta de que sua carteira estava simplesmente vazia? Vazia não, havia um papel com uma caligrafia muito bem escrita.
“Considere isso um empréstimo... Quem sabe um dia eu consiga te reembolsar.”
A loira sorriu com o bilhete. Uma ladra de bom coração? Ela sussurrou.
- O que disse? – Dave perguntou.
- Nada... – Ela meneou a cabeça – Já imprimiu?
- Sim, aqui está – Dave lhe deu a fotografia 5x7 que Rosé resolveu guardar em sua carteira. De fato a tailandesa era muito bonita. Ótima foto para despertar desejos nela.
- Obrigada... E ahn... Coloque na minha conta – a mulher resmungou antes de sair sem mais explicações. Ela estava a fim de cobrar a dívida da tailandesa, com a sua ela lidaria mais tarde.
♤♤♤
A tarde para a Park não havia sido perdida, ela encontrou uma pessoa que havia visto Lisa sair de uma padaria e seguir para um bairro periférico da cidade. Chaeyoung sentia que estava perto, principalmente naquele fim de tarde. O céu alaranjado, dava início a noite escura e fria, a loira apertou mais seu casaco contra o corpo, não dormiria até encontrá-la. Obsessiva, possessiva e determinada. Sim, Chaeyoung era assim. E seria um problema para CIA se não fosse tão boa no que fazia.
- Ei gatinha – uma voz a chamou atrás de si. Sem paciência pra esses idiotas.
Chaeyoung olhou para trás e ao que parecia uma gangue lhe seguia, seis jovens com umas tatuagens horrorosas lhe cercaram, a loira estaria preocupada se não estivesse com sua arma. Rosé tentou procurar ela em seu casaco.
Não. Não. Aquela panaca havia lhe roubado isso também? Chaeyoung engoliu em seco. Era a primeira vez que estava desarmada e em uma situação assim. Seis homens que sabiam brigar já era muito para ela.
- Eu não quero ter que machucar nenhum de vocês – a loira começou a blefar e eles riram.
- Deixa que a gente faz todo o trabalho gatinha...
- Eu não quero ter que gastar minhas balas com seis idiotas, mas já que insiste – Rosé colocou sua mão em seu casaco e ameaçou puxar de lá uma arma. Ela então jogou uma bomba de fumaça e saiu correndo, sem um caminho delimitado ela apenas correu rua abaixo. Seguida pelos seis. A pouca luminosidade poderia ser sua ajuda. A sua sorte podia lhe ajudar naquele dia também.
Chaeyoung virou a esquina, normalmente era ela quem perseguia. Dias de caçador e dias de caça. A mulher correu até sentir seu casaco ser puxado. E guiado contra a parede escura de um beco.
- Me solte idiota – a loira disse tentando se desvencilhar daquele toque.
- Dá pra ficar quieta? – Aquela voz.
- Lisa? – Chaeyoung perguntou.
- Uhum... Vamos ter que ficar aqui por mais um tempo, daqui a pouco eles desistem – a tailandesa resmungou como se não tivesse medo nenhum da mulher a sua frente. Como assim ela não estava com medo de Park Chaeyoung? Ela era mais perigosa que toda aquela gangue. Mas a loira não negava que gostava do pequeno espaço que as duas estavam dividindo, duas paredes estreitas faziam com que seus corpos não se afastassem e Lisa tentava achar qualquer movimentação estranha na rua. A Park por outro lado se esqueceu do perigo e deslizou suas mãos para a cintura da tailandesa. Que culpa ela tinha se a tailandesa mexia com ela?
- O que você está fazendo? – Lisa resmungou contra os lábios de Chaeyoung.
- Por favor... – Rosé não acreditou quando escutou aquelas palavras saírem da sua boca, ela estava mesmo implorando por aquilo? – Pague sua dívida comigo – Provar os lábios daquela mulher era divino e pagaria qualquer que fosse a quantidade que havia sumido de sua carteira. – Eu desistirei de te prender se me deixar beijá-la. – Então era aquilo, toda aquela busca por um beijo idiota? Era a isso que você estava se submetendo Chaeyoung?
- Eu... – A tailandesa diria “não”. Mas era só um beijo, e tudo aquilo terminaria, um acordo fácil e rápido.
Lisa então levou a mão a nuca de Chaeyoung, engoliu em seco, estava mesmo perdendo o juízo, ela não confiava na mulher, mas desde ontem estava incrivelmente desejando novamente experimentar seus lábios. Estava se entregando a uma estranha e provavelmente psicopata? Talvez, mas e se a Park não fosse tudo aquilo?
Chaeyoung tinha sua respiração descontrolada e ficou ainda mais difícil mantê-la quando sentiu aqueles lábios macios novamente. Disputar espaço com Lisa em sua boca era melhor do que qualquer noite com qualquer um dos soviéticos com quem tivera.
Aquela asiática era tão boa no que fazia, o toque em seu cabelo e o carinho com que ela lhe guiava naquele beijo fazia toda aquela tarde de busca valer a pena. Sua dívida estava paga, mas Chaeyoung desejou que ela lhe devesse o mundo. Ela queria cada pedaço da Manoban. E queria entregar cada pedaço seu.
“Roube o meu coração Lalisa” A Park sussurrou em sua mente. Porque aquela divída seria impagável.
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