Olho para o teto e tento me levantar, mas a preguiça me impede de fazer qualquer coisa. Sabe aquele momento onde você simplesmente deita na cama e não consegue dormir? Mas também não tem forças para se levantar para nada? É o que estou sentindo. Não consegui dormir durante a noite, transtornada pela falta de notícias de Alex, e apesar de já ter acabado o horário de almoço e eu não ter descido nem mesmo para o café da manhã, continuo aqui. Ouço o barulho da porta rangendo e consigo virar o rosto para ver metade do corpo de Nicolau passar pela porta.
_Posso entrar?- pergunta e assinto. Ele fecha a porta atrás de si e se acomoda na poltrona ao lado da cama.
_Fui elegido para vir ver como está. Então? Como está?- quebra o silêncio.
_Estou bem. Só cansada.
_Isso significa que não vai descer para comer, certo?- assinto. Ele se levanta sem dar nenhuma explicação e sai do quarto, voltando alguns minutos depois. _Pedi para fazerem algo para você. Se não quiser vou enfiar pela sua guela. - ameaça. - Então acho melhor comer. - abro um pequeno sorriso de sua tentativa de me ajudar. _Onde está minha neta?
_Dormindo em seu berço. - respondo.
_Ela fala!- ele se finge de surpreso e me levanto, ficando sentada ainda debaixo das cobertas. - Alex já te contou sobre o dia em que ele apareceu aqui? Sobre como descobrimos sobre você e Nastia?- nego.
Pov Nicolau
Flashback on
A reunião havia acabado e já estava atrasado para o jantar. Pensava seriamente em simplesmente esquecer a fome que sentia e me deitar. Estava quase chegando no quarto quando Kira me para antes.
_Onde acha que está indo?- ela cruza os braços em frente ao peito.
_Esses ministros me deixam louco!- reclamo. - Estava pensando em descansar um pouco. Quer se juntar a mim?
_E deixar Ivan sozinho? Você sabe que desde que Alex se foi ele está mais triste. Ele precisa dos pais nesse momento. - uma lágrima escorre por suas bochechas e sorrio triste. Meu filho mais velho se foi embora há quase um ano e não tem um dia em que não sinta saudades.
_É claro, você está certa. - pego suas mãos e a conduzo através dos corredores em direção ao salão. As portas estavam fechadas e sem sinal de qualquer um dos guardas, o que é incomum já que Ivan deveria estar ali dentro e os soldados em seus postos, mas não era o que acontecia. Olho para minha esposa procurando um sinal de entendimento, mas o que vi foi mais confusão. Dou de ombros e abro a porta.
No lugar do silencioso e calmo jantar que costumávamos ter, há uma multidão gritando ao redor de uma pessoa que não consigo reconhecer. Guardas, funcionários e nosso próprio filho circundam uma figura misteriosa.
_O que está acontecendo aqui?- elevo o tom de voz e todos ficam em silêncio, se virando para nós, deixando que uma única voz se sobressaísse.
_Ai meu deus! Por favor, nunca mais me deixem comer peixe! Essa comida tá divina!- meu cérebro trabalha para tentar compreender de quem essa voz pertence e quando consegue, não posso acreditar que possa ser verdade. Meu filho está morto e não vai voltar.
_Alexander?- Kira sussurra para mim, mas não consigo responder. Como que sabendo de nossa dúvida, a multidão se dispersa e consigo ver claramente a imagem de meu filho, cercado por dezenas de pratos de comida, e tentando desesperadamente comer todos.
_Filho?!- ele levanta o olhar, os mesmos olhos azuis que conheci por 20 anos.
_Oi pai. - ele sorri. Sorri como se não fosse loucura estar vendo uma assombração na mesa de jantar. Pisco meus olhos diversas vezes, só para ter certeza de que não é uma miragem, mas ele continuou ali, nos encarando. Poderia ter ficado assim por muito tempo, até que Kira soltou um suspiro e caiu no chão, completamente desacordada. Esqueço do fantasma e me viro para minha mulher caída no chão.
_Ei Kira! Acorde amor! Acorde. - digo e sinto uma mão em minhas costas. Olho para o lado e vejo. Ele está ali, ele realmente está ali.
_Mãe. Mãe abre os olhos. Sou eu, sou eu, Alex. - Ela não abriu os olhos até Ivan praticamente pular em cima dela. Ele estava tão feliz que era como se Alex nunca tivesse ido embora. A multidão continuou ali durante esse período e, assim que abriu os olhos, a boto na cadeira e a entrego um copo de água, para relaxar, mas ela estava nervosa demais. O abracei com todas as minhas forças e não me importei quando ele reclamou.
_Você é real? Por favor, me diga que não estou alucinando. - peço assim que o solto.
_Estou vivo e bem pai. Obrigada por...- Kira pula em cima dele antes que pudesse terminar de falar. Lágrimas escorrem descontroladamente de seu rosto vermelho.
_Meu filho! Sentimos tanta a sua falta!- Kira volta a chorar e Ivan se mete no abraço dos dois.
_Ai!- Alex grita de dor pelo tapa que acabou de levar da mãe. Exprimo um sorriso. - O que foi isso?- pergunta assustado.
_Isso foi por ter sumido. E isso por não ter dado notícias. - ela da um soco fraco em seu braço, mas ele nem parece sentir.
_Me desculpe mãe, mas onde estava não era possível avisar.
_E onde estava?- cruzo os braços.
_Acho melhor irmos para o seu escritório. O caminho foi marcado pelo silêncio.
Ninguém ousou dizer nenhuma palavra, ou estavam atordoados demais para qualquer coisa, mas assim que Alex fechou a porta atrás de si e todos já haviam se acomodado, me levantei para perguntar o que estava acontecendo.
_O avião caiu. - ele diz antes mesmo que eu possa perguntar.
_O que quer dizer com o avião caiu?- Kira, que já não chora mais, pergunta.
_O avião em que pilotava caiu na costa italiana pouco tempo depois que sai da França. Falha no motor, eu não sei, eu consegui pousar, mas digamos que não tinha sinal para ligar para vocês. - dá de ombros como se fosse a mais óbvia das coisas.
_O que está dizendo é que ficou um ano perdido na ilha?- ele assente. - Como conseguiu sair? Quando saiu?- o encho de perguntas.
_Um navio de ingleses passaram por lá e me viram. Tem uns três dias acho. Eles me levaram para a costa italiana e me deixaram no hospital por uns dias. Depois foi só conversar com Nicoletta e ela me arranjou um jeito de chegar aqui.
_Três dias?! Três dias sem nos avisar que estava vivo! Nós passamos um ano sofrendo acreditando que estava morto e você demora três dias para nos avisar que estava vivo?- levanto o tom de voz e me arrependo assim que as palavras saem da minha boca.
_Me desculpa, estava no hospital. Só achei que seria melhor ao vivo do que telefone. Próxima vez que morrer prometo que ligo. - ele fecha a cara, emburrado.
_Não! Sem mais morrer irmão! Quem vai jogar bola comigo assim?- Ivan pula em seu colo.
_Tenho certeza que o papai joga melhor do que eu. - deixo uma risada escapar.
_Ele é péssimo! Nunca mais faça isso comigo. - pede.
_É mais do que maravilhoso te ter aqui meu filho, mas como passou um ano fora, precisa se interar sobre os assuntos políticos. - ele resmunga. - E isso inclui o seu casamento. Sei que está me enrolando há anos, mas não creio que seja mais possível, precisamos reforçar alguma aliança.
_Sobre isso...- ele coça a nuca em um sinal de dúvida e medo, provavelmente da nossa reação.
_O que houve? Mais desculpas? Sabemos sobre o que aconteceu com Natasha, mas você tem que seguir em frente filho!- Kira o abraça.
_Na verdade não é isso. Eu vou me casar.
_Vai?!- gritamos em uníssono e ele assente.
_Para falar a verdade, estou namorando.
_Com quem? Uma índia? Ou com a enfermeira que cuidou de você? Porque além dos três dias que passou na Itália, você não teve muito tempo para conhecer garotas. - concluo assustado com a afirmação anterior.
_Não e não. Eu não cai naquela ilha sozinho. Tinha essa garota ... America Singer.
_Eu sei que já ouvi esse nome em algum lugar. - Kira se vira para mim em busca de ajuda, mas também não me recordo.
_A finalista da seleção do Príncipe Maxon. - Alex responde.
_Uma illeana? Sabe que o povo não aprovará isso, certo?
_Para falar a verdade eu tenho certeza que eles a amarão. - ele responde com determinação e ergo a sobrancelha.
_Ela veio com você?- Kira se anima.
_Não, ela ficou na Itália tomando conta de... outras coisas.- responde meio inseguro.
_Que outras coisas, Alexander?
_Isso não importa agora, vejam. -ele desconversa. Ele anda para trás da mesa e liga o projetor, onde um vídeo começa a passar. Uma ruiva sendo cercada pela multidão e cumprimentando todos, a mesma garota em diversas imagens ao lado do príncipe. Eles parecem felizes. A garota correndo atrás de um palanque onde dois jovens estão sendo, ao que parece chicoteados. Ela tenta salva-los, mas é impedida pela legião de guardas. Um projeto para o fim das castas e as lágrimas em seu rosto ao não ser escolhida. Assim que as imagens param se aparecer na tela, me viro para Alex ainda sem entender o motivo de tudo aquilo.
_Sei que vão provavelmente me convencer de que estou errado e que devo fazer o melhor para o meu país, mas só peço me escutam.
_Estamos ouvindo. - digo e ele respira fundo.
_America é a melhor pessoa que já conheci na minha vida inteira. Ela possui um coração gigante e para ela todos, todos mesmo, são motivos de preocupação. Ela é gentil, educada, bem humorada, determinada, luta pelo que acredita sem se importar com as consequencias. Ela se importa com todas as pessoas e problemas, o mais insignificante que pareça. Ela é humilde, generosa e, o mais importante, eu a amo. A amo com todo o meu coração e tudo o que sou. Então, por favor, nos de uma chance.
_ Ah querido! Qualquer uma que te faça sentir assim já merece o nosso respeito. - Kira o envolve em seus braços e ele cora.
_ E ela já possui grande parte do conhecimento político devido ao seu tempo em Angeles. Acredito também que isso ainda poderá melhorar nossa aliança com Illéa. - digo pensativo e Alex contorce o rosto, incerto. _O que?
_Na verdade eu acho que vai piorar.
_O que quer dizer com piorar?
_Digamos que America e Maxon não se despediram de um jeito muito amigável.- Alex responde com medo do que diremos.
_O que aconteceu?
_Talvez os dois tivessem se amado por um período e ele tenha partido o coração dela escolhendo a outra. E acho que poderíamos fazer tipo um baile e chamar todo mundo. - ele continha rápido antes que eu ou Kira possamos falar qualquer coisa. Solto uma gargalhada. Os dois me olham sem entender nada e continuo rindo.
_Agora eu entendi tudo. - me olha desconfiado. - Você quer se mostrar. Quer mostrar para Maxon que America agora é sua!- continuo rindo e ele fica bravo.
_É claro que não. - tenta contradizer, mas desiste assim que percebe que não o dou ouvidos.
_Faremos o seu baile. - afirmo quando consigo me controlar.
_Mais alguma notícia além de estar vivo e namorando a amada de nosso "inimigo"?- Kira pergunta e Alex coça a nunca novamente.
_O que foi dessa vez?- pergunto impaciente. Ele diz algo indecifrável. Com a cabeça abaixada e a voz baixa é quase impossível compreender o que ele dizia. - Não entendi Alexander, fale alto.
_ Eu sou papai. Vocês vão ser avós, quer dizer, já são. Vocês entenderam. - se embrulha nas palavras.
_Você engravidou a moça? Eu não te dei educação Alexander?- grito furioso.
_Você não usou proteção?- Kira perguntou baixo para que Ivan não escute a conversa.
_Não existia nem comida na ilha, acha que ia ter algo assim?- Alex responde com outra pergunta, já completamente envergonhado.
_Foi isso que quis dizer quando disse que America estava na Itália cuidando de outros assuntos?- recapitulo e ele assente. Bufo de cansaço e passo a mão pelo cabelo, tentando pensar.
_Se você tem certeza que a ama, que ela será uma boa esposa e princesa, já teve um filho...- Alex me interrompe sorrindo.
_Filha- me corrige- é uma menina
_Bem não há o que se fazer, nós confiamos em você meu filho. - termino e ele sorri o que faz Kira perguntar o nome dela
_É uma garota?- Kira, que parecia não conter de felicidade, finalmente se pronuncia-Vou ser avó! Nicolau nó vamos ser avós de uma menininha!- ela dá pulinhos de alegria. - Qual o nome da minha netinha?
_Nastia. Anastacia Singer Romanov.- diz todo orgulhoso.
_Estou tão feliz por você, meu filho.- Kira o abraça novamente pela vigésima vez nos últimos minutos.
Flashback off
_Ele te ama, apesar de tudo o que aconteceu. Ele não vai descansar até voltar para você. Ele está bem e logo voltará. - termino e ela me abraça.
_Obrigada.- sorri terna.
_Mas se magoar ele eu nunca mais gostarei de você.- rio e ela assente. Me levanto da cama e com um aceno sumo fechando a porta atrás de mim.
Pov America
Nicolau foi embora me fazendo voltar para meu estado preguiçoso. Me jogo debaixo das cobertas, não como o lanche que me trouxeram, estou sem fome. Perco noção do tempo que se passou, mas foi quando já não conseguia ver minhas mãos no escuro que enfim entendi o que havia acabado de acontecer. Não importa as desavenças que ocorreram antes, porque a partir de agora as coisas serão diferentes.
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