*Lucille*
No dia seguinte, quando Zayn me acordou aos beijos na cama dele e eu nem lembrava de como saí do sofá e fui parar lá, apesar do sorriso que não queria sair do meu rosto de maneira alguma, eu acordei mal para caramba. Precisei ficar alguns minutos ajoelhada na frente do vaso sanitário para ter certeza de que não sujaria o chão dele, mas apesar de sentir a minha cabeça girar e o meu estômago dar voltas e mais voltas, eu não botei nada para fora além de alguns palavrões involuntários. É claro que o moreno logo atrás da porta ficou ainda mais preocupado, mas eu fiz questão de reafirmar que se tratava apenas de uma virose, e eu poderia tratar daquilo com remédios em casa mesmo. Tudo que ele disse foi que já deveria ter percebido que eu não iria ceder por ser uma Tomlinson, logo antes de dizer que se eu não melhorasse até o fim do dia, ele iria me levar para uma consulta nem que fosse no colo dele. É claro que eu tive que rir.
— O que foi? — Eu perguntei assim que vi ele fazendo uma careta para o celular.
— Amber. — Ele respondeu, terminando com o seu suco de laranja e deixando o copo encima da mesa do café da manhã. — Ela acabou de me mandar uma mensagem dizendo que foi a uma consulta ontem e fez uma ultrassom sem me avisar. — O moreno bufou, passando as mãos pelos cabelos recém-arrumados em um topete, frustrado. — Eu estou tentando ser presente na vida da minha filha, Lucille, mas Amber não me avisa sobre essas malditas consultas! Ela só aparece aqui do nada e fica se jogando para cima de mim, falando que o certo seria se nos casássemos de uma vez, e por Deus, isso é desgastante. Quando eu pergunto coisas relacionadas ao bebê e a data prevista para o nascimento, ela dá um jeito de desconversar. Eu não sei mais o que fazer. — Zayn jogou o celular sobre a mesa e bufou, estressado. — Disse isso porque tenho receio de que você me pergunte como andam as coisas com a gravidez, e eu não saiba nada. Amber simplesmente não me conta, e eu me sinto um pai de merda por isso.
— Zayn... — Me levantei da minha cadeira, dando a volta na mesa e me sentando em sua coxa, onde fui muito bem recebida pelos seus braços. Abracei o seu pescoço e toquei os seus cabelos, passando meus dedos pelos fios castanhos e sedosos observando-o cabisbaixo. — É claro que você não é um pai de merda pelo amor de Deus! Você poderia ter simplesmente dado as costas para ela e negado a criança, sendo quem você é,não mudaria nada na sua vida. Mas não, você optou pelo certo e o fez. E é isso que eu admiro em você. Você é um homem correto, está onde está pelo próprio mérito, e são raras as pessoas que nas mesmas condições que você ainda conseguem manter essa essência. É um dos motivos pelos quais eu amo você. — Eu sussurrei a última parte, sentindo o meu rosto quente por conta de seu olhar penetrante em meu rosto. Ele me olhava enquanto sorria de leve, concentrado, parecendo prestar atenção em cada coisa que eu dizia, até que tocou o meu rosto com a sua mão quente, fazendo eu pousar o mesmo ali e sorrir de leve para ele.
— Cansa muito?
— O que?
— Ser a mulher da minha vida o tempo todo?
Eu ri, negando com a cabeça e beijando aqueles lábios macios, sentindo as suas mãos fortes apertando as minhas pernas de forma excitante enquanto acariciava a minha língua com a habilidade que só ele tem, me arrancando suspiros e arrepios.
— Isso aqui está muito bom, mas eu preciso mesmo ir trabalhar. — Disse contra os seus lábios, ouvindo ele resmungar em desaprovação.
— Eu também. — Ele suspirou quando eu me levantei, já sentindo a falta do calor do corpo dele.
Como prometido, Zayn me levou até a lanchonete, e só quando levei o meu olhar para o estacionamento lembrei de tudo que houve ontem, o que me deixou um pouco apreensiva.
— Estou com medo. E se o meu chefe resolver me demitir pela encrenca de ontem? Eu preciso desse emprego.
— Ele não vai fazer isso, e se fizer, vai ter que se entender comigo. Pelo amor de Deus, o cara não mexeria um músculo se eu não estivesse lá para acabar com aquele desgraçado! — Zayn reclamou quando estacionou o carro na frente da lanchonete, socando o volante de leve.
— É, obrigada por isso, Zayn. — Ele apenas mexeu a cabeça, como se o meu agradecimento não fosse necessário. — Então...te vejo daqui a alguns dias? — Não consegui esconder a insatisfação que sentia por não poder vê-lo com frequência.
— É, preciso resolver algumas coisas na empresa hoje. — Eu assenti, colocando a alça da bolsa em meu ombro e levando a minha mão até a trava da porta, mas quando a abri, senti a mão dele em minha coxa. — Não vai me dar um beijo?
Eu não consegui esconder o sorriso enorme que apareceu em meu rosto, me virando para ele novamente e vendo o moreno se aproximar, erguendo o meu queixo com o seu dedo delicadamente e me beijando lentamente, selando tudo com alguns selinhos no final que logo se apoderaram da minha bochecha, me fazendo rir. Me obriguei a me afastar dele, mas quando eu já havia saído do carro, vi ele se abaixar para poder me olhar melhor pela janela aberta.
— Lucy?
— Sim?
— Eu te amo. — Ele sorriu de leve, fazendo o meu coração dar algumas palpitadas, como de costume.
— Eu também te amo. — O respondi, me apoiando na janela e recebendo mais um selinho inesperado seu.
— Oh, e espero que goste da surpresa.
— Que surpresa? — Zayn apenas me deu um de seus sorrisos lindos e misteriosos, voltando a se acomodar em seu banco de couro.
E assim que entrei na lanchonete, pude ver o carro dele se afastando da mesma, o que me causava um certo aperto no coração porque não faço ideia de quando poderia vê-lo novamente, e depois de dois ou três dias sem nada ligado a ele além de algumas mensagens de texto, a saudade já começava a machucar para valer.
— Bom dia, cinderela. — Julie me cumprimentou de forma irônica, mas sorriu ao me ver, desviando a sua atenção do computador.
— Cinderela? — Fiz uma careta.
— É, você foi salva pelo seu príncipe encantado ontem. Acho que o título se encaixa bem em você.
— Oh. — Assenti, pensativa. — Bem, Zayn é um príncipe, mas eu estou mais para plebéia.
— Tem certeza? — Ela perguntou, tirando uma grande sacola nude de dentro do balcão, assim como uma única rosa enrolada em um plástico transparente.
Aquele era claramente um sinal de que aquilo tinha algo relacionado a Zayn.
— Ah, meu Deus, isso é uma sacola do Christian Louboutin? — Genevieve perguntou, correndo até nós ao lado de Mia, que tinha os olhos negros arregalados.
— Ah, sim. — Julie respondeu por mim, com um sorriso relaxado no rosto. — Um cara que por sinal também era boa pinta, aliás, eu consegui o número dele, veio entregar aqui, falando que era uma entrega do excelentíssmo noivo gato e rico de Lucille para a ela. — A ruiva deu de ombros, me entregando a sacola, assim como a rosa.
— Estou chocada. — Mia respondeu, me fazendo rir.
— Vamos, Lucy, abra logo! — Genevieve protestou, puxando uma cadeira de uma mesa vazia para que eu me sentasse ali.
Por mais que odiasse que Zayn gastasse dinheiro comigo, o sorriso idiota não queria sair do meu rosto enquanto sentia o perfume da rosa por todo canto enquanto tirava a caixa também nude de dentro da sacola. Assim que abri a tampa da mesma, me deparei com um par de sapatos de cor nude em verniz, de solado vermelho, bico fino e saltos agulha altíssimos. O meu queixo foi parar no chão pela beleza dos mesmos, e ouvi a comemoração das garotas ao meu redor.
— Tem noção do preço de sapatos clássicos de Christian Louboutin desse tipo, Lucille?! — Eu nem consegui responder Mia, e garanto que os meus olhos estavam brilhando. — Em torno de três mil dólares!
— Ele é louco. — Eu sussurrei, com receio de até mesmo tocar o verniz impecável.
— Por você, só se for. — Genevieve respondeu. — Vamos, calce eles!
— Aqui? — Elas concordaram. — Tem certeza que dá para colocar eles no chão? — Elas riram, mas reclamaram da minha demora.
Tirei as minhas sapatilhas gastas e calcei os sapatos de salto, e assim que fiquei de pé, me senti nas alturas por conta do tamanho so salto, por eles serem tão lindos que fazia qualquer autoestima aumentar, e porque, meu Deus, eles eram confortáveis para caramba! O que eram os saltos desconfortáveis e gastos que precisava usar aqui perto dessas belezinhas, hum?
— Deve ter um bilhete, ele sempre escreve. — Procurei por algum papel na sacola e encontrei, aproveitando que as garotas estavam entretidas em algum assunto sobre sapatos e dinheiro.
"Surpresa?!
Por algum acaso do destino, acabei descobrindo que saltos Louboutin são os mais confortáveis que existem. Então já que a minha garota precisa usar saltos no trabalho, que sejam saltos à altura dela, e não aquela droga que machuca os seus pés.
Estou louco para ver você usando eles.
Divirta-se. Eu amo você.
Z."
Zayn é inacreditável!
Mandei uma mensagem para ele, avisando que havia amado a tal surpresa que ele havia me dito no carro, mas abri um parênteses e voltei a dizer que não gostava de quando ele gastava dinheiro comigo. O desgraçado apenas me mandou um emoji de beijo, piscando, me fazendo revirar os olhos pela sua teimosia.
Depois que as meninas me fizeram ler o bilhete em voz alta, soltando alguns gritinhos quando eu terminei, Jeff apareceu e disse para precisávamos voltar ao trabalho. Então peguei a caixa, a guardei de volta na sacola e levei a rosa vermelha para o vestiário junto comigo, trocando olhares com ela enquanto vestia o meu uniforme novamente, e nem sabia como agradecer Zayn por poder deixar aqueles sapatos de salto pretos e horrendos de lado hoje. Me encarei pelo espelho e pela primeira vez gostei do que via. Meu rosto estava corado, um sorriso enorme estava estampado nele e acho que a felicidade estava estampada na minha testa, onde todos poderiam ver.
Prendi os meus cabelos como de costume e então fui até a cozinha para começar a trabalhar com alguns pedidos.
O meu sorriso foi diminuindo à medida que eu aprontava todas aquelas refeições e sentia o seu cheiro, que antes me dava fome, mas agora apenas fazia com que eu ficasse enjoada ao extremo. Fazia uma careta enquanto deixava tudo pronto e no final não estava nem respirando direito de tanto mal estar.
— Você está bem? Parece pálida. — Julie apareceu no batente da porta, com os braços cruzados enquanto me observava terminar um misto quente. Quando abri a misteira e senti todo o cheiro vir diretamente para mim, pude sentir que faltava pouco para que eu botasse o meu café da manhã todo para fora.
Apenas tapei a minha boca com uma das minhas mãos e corri até o banheiro, não tendo nem tempo de fechar a porta antes de me ajoelhar no chão, na frente do vaso sanitário, e dessa vez, consegui colocar tudo para fora.
Por Deus, que sensação horrível!
Dei a descarga e procurei a minha escova de dentes, tudo sobre o olhar observador e um pouco assustado de Julie.
— Acho que é uma virose. — Dei de ombros, colocando a pasta na escova. — Estou mais cansada que o normal e sentindo sono o tempo todo, mal posso sentir algum cheiro forte sem ficar enjoada e as minhas costas estão me matando. — Comecei a escovar os meus dentes, observando Julie ficar pensativa atrás de mim pelo reflexo do espelho.
— Você engordou esse mês? — Eu dei de ombros, sem saber, mas assenti assim que me vi pelo espelho. Havia percebido que o meu rosto estava mais cheio. — Tonturas? — Concordei com a cabeça, me lembrando que ontem a minha cabeça parecia estar girando. — Por acaso os seus seios estão doendo?
— Onde você quer chegar com esse interrogatório? — Terminei da escovar os meus dentes e enxaguei a minha boca, confusa.
— Lucille... — A ruiva olhou para trás, checando se não havia alguém ouvindo a nossa conversa. — ...não passou em momento nenhum na sua cabeça que você pode estar grávida?
Espera...o que?!
— Grávida?! — Eu ri, me virando para ela. — Você enlouqueceu?! Isso não é possível!
— Por que não? Não vai me dizer que aquele bonitinho lá tem um anel de castidade ou alguma coisa parecida, porque não é a cara dele...
— Não, não é isso, credo! — Eu a interrompi e me virei para o espelho novamente, me apoiando na bancada e encarando a pia. — Eu tomo anticoncepcionais.
— Tomou todas as vezes? — Ela me olhou de lado, duvidando.
— Sim!
— Certeza?
Mesmo sabendo que não havia chance nenhuma, parei para me lembrar de algumas das vezes que eu e Zayn fomos para a cama, o que aconteceu com muita frequência ultimamente, mas eu não me esqueci nenhuma vez de tomar os meus comprimidos. Não me relacionei com ninguém durante os dois meses que ficamos separados, e antes disso, bem, tivemos a estadia no hotel em Doncaster, e nós fizemos amor diversas vezes durante toda a madrugada e pela manhã. Mas é impossível, até porque na mesma noite que saímos para comprar os anticoncepcionais na farmácia encontramos Brandon e...
MERDA!
Aqueles anticoncepcionais nunca foram comprados.
Eles ficaram na cestinha que dexei no chão no momento em que Brandon me chamou.
Oh, não.
Não, não, não, não é possível.
— E então? — Julie me tirou dos meus devaneios, e quando olhei para as minhas mãos, elas estavam tremendo. Sentia o meu coração querendo sair pela minha boca, e eu já estava ofegante.
Minha única esperança é que a minha menstruação não esteja atrasada.
— Que dia é hoje? — Minha voz saiu trêmula.
— Vinte e cinco. — Eu soltei o ar dos meus pulmões, afundando os meus dedos em meu cabelo, fechando os meus olhos. — Que dia você geralmente...
— Dia quinze. Todo dia quinze, sem falta. — A interrompi, começando a entrar em pânico,
Por Deus, isso não pode acontecer! Não agora!
Amber está esperando um filho de Zayn! Eu estou completamente focada na apresentação da Classique do mês que vem! Tenho que começar uma poupança! Por Deus, eu tenho vinte e um anos! Eu ainda tomo aqueles malditos antidepressivos! As coisas estão finalmente alinhadas com Zayn, e se — meu Deus do céu — se eu estiver grávida, tudo vai para os ares. Vai dar tudo errado.
E ele não vai mais querer olhar na minha cara.
Eu não aguentaria. Simplesmente não suportaria isso.
Percebi que estava chorando quando um soluço me escapou e as lágrimas quentes começaram a descer pelo meu rosto, molhando as minhas bochechas.
— Eu preciso...preciso ter certeza... — Me levantei da bancada, ainda sem parar de chorar.
— Não, você não está em condições de sair daqui assim. Me espera aqui, ok? Eu vou comprar um teste na farmácia. — Eu vi o olhar de pena de Julie encima de mim por eu estar chorando, mas mesmo assim, a agradeci.
— Obrigada, Julie. — Precisei abaixar a tampa do vaso sanitário e me sentar lá, já que sentia as minhas pernas bambas e temia cair no chão a qualquer momento por conta daqueles saltos.
— Não saia daí, eu vou falar para o Jeff que você não está passando bem.
E eu jurei que aqueles poucos minutos esperando Julie aparecer com o maldito teste de gravidez foram os mais aflitos da minha vida.
Tudo que eu podia pensar era que tudo dependia desse resultado. Por Deus, se isso der positivo, a minha vida vai mudar muito.
Para sempre.
Julie apareceu depois de algum tempo e apenas me entregou a sacolinha sem dizer nada, e eu a agradeci. Ela me deixou ali sozinha e eu tranquei a porta, tirando a embalagem da sacola com as mãos tremendo, lendo ali que ele dava 99% de certeza de seus resultados.
Aquilo me deixou ainda mais aflita.
Li as instruções com atenção antes de fazer tudo que o teste mandava, e enquanto esperava o tempo estipulado para o resultado, andei de um lado para o outro como podia no banheiro minúsculo, e com o corpo inteiro ameaçando a entrar em uma crise de pânico, me apoiei na bancada novamente e vi dois risquinhos perfeitamente formados no visor. Precisei lembrar o que aquilo significava, e então senti o meu coração parar de bater por um tempo quando me dei conta.
Eu estou grávida.
Meu Deus, eu estou grávida de Zayn!
Eu deslizei pela porta até cair sentada no chão, incrèdula, até que as lágrimas voltaram à todo poder. Me lembrei de quando Bethany me disse que estava grávida e chorou no banheiro da Classique, e eu pensei que isso nunca aconteceria comigo. Bem, olha o que eu estou fazendo agora!
Comecei a me desesperar pensando no que as pessoas pensariam de mim. Louis ficaria muito bravo, e as coisas iam tão bem entre nós dois. Amber ficaria enfurecida quando soubesse. Só Deus sabe o que faria comigo, e tenho certeza de que ser encharcada pelo seu suco de laranja em uma festa seria muito pouco. E ainda tem Gabriel.
E Zayn...meu Deus, o que Zayn pensaria de mim? Será que ele ficaria bravo? Magoado? Ele vai ficar desapontado, eu tenho certeza. Será que ele pensaria que fiz isso de propósito? Pelo dinheiro dele? Será que pensaria que eu sou uma interesseira?
Eu estou ferrada da cabeça aos pés.
Ainda chorando como uma condenada, olhei para baixo, para a minha barriga, mas mal conseguia acreditar que havia alguém ali dentro. Alguém que contava comigo e que literalmente precisava de mim para viver. Seria a única pessoa que não me julgaria por esse descuido? A única que até agradeceria por isso?
Me prendi a aqueles pensamentos para parar de chorar, e apesar da cara inchada e abatida, ainda precisava trabalhar. Sentia as minhas pernas moles e dessa vez parei para prestar atenção em mim mesma no reflexo do espelho, só notando agora o quanto eu havia mudado. Aquele rubor nas minhas bochechas tinha um porquê, assim como tudo o que eu havia sentido de estranho até agora. É claro que ainda não era possível notar a minha barriga, mas eu podia sentir um leve peso em meu ventre se prestasse atenção.
Por todo esse tempo, eu nunca estive sozinha.
Havia um ser pequenininho que ainda me acompanharia por uma longa jornada dentro de mim.
[...]
— Você fecha a lanchonete hoje, Lucy? — Julie perguntou, colocando a alça da sua bolsa preta em seu ombro.
— Ah, sim, pode deixar. — Eu disse, sorrindo de leve.
— Tem certeza que vai ficar bem?
— É claro, eu já estou bem melhor. — Dei o meu melhor sorriso convincente, mas mesmo assim, acho que a ruiva não acreditou, pois se aproximou e simplesmente me abraçou com força, algo que eu jurei que nunca a veria fazer na vida.
— Você pode contar comigo para tudo, ok? — Eu assenti, ainda sendo abraçada. — Ei... — Julie se afastou, me segurando pelos ombros e olhando em meus olhos. — Sei o que você deve estar pensando, mas vai ficar tudo bem. O cara é doido por você, não precisa se preocupar.
— Eu não sei... — Mexi a cabeça, lutando contra o nó em minha garganta. — Tenho medo que ele ache que fiz isso por interesse. Julie, a última coisa que quero dele é o dinheiro.
— Eu sei, eu sei. Você não faria isso. — Ela disse com convicção. — Só...conte para ele quando se sentir pronta, tá bem? — Assenti, sorrindo de leve. — Agora eu preciso ir.
Assim que Julie se despediu e foi embora, assim como todos, terminei de organizar tudo que estava fora do lugar e fui até o vestiário, onde me troquei rapidamente, louca para ir para casa. Quando já estava pronta, me sentei no pequeno banco ali, ao lado da sacola dos sapatos e da rosa encima dela e li algumas mensagens que não pude ver mais cedo por estar ocupada trabalhando. Quando terminei, respirei fundo ao abrir a minha bolsa e ver o teste de gravidez. O peguei e o analisei, pensando em tudo que mudaria dali para frente.
Ouvi o barulho de alguns passos de salto alto na lanchonete, mas antes que eu me levantasse para avisar quem é que fosse que o expediente havia acabado, fiquei surpresa ao ver Amber aparecer na minha frente, com a sua majestosa barriga de cinco meses de gravidez, seu vestido preto e fino, uma bolsa de marca nos braços enquanto estava toda plena encima de seus saltos gigantes.
Levei um susto tão grande e fiquei tão surpresa que o teste simplesmente voou das minhas mãos, mas agradeci quando ele foi parar embaixo do banco que eu estava sentada, onde ela não poderia ver.
— O que você está fazendo aqui? — A frase escapou pelos meus lábios.
— Ora, pensei em dar uma passadinha em seu local de trabalho. — Ela se aproximou, olhando para todo o lugar com um olhar de nojo. — Não sabia que uma pessoa podia decair tanto quanto você, que de secretária da Malik's Corporation veio parar nesse...
— Não ouse falar mal dessa lanchonete. — Me surpreendi pela minha voz sair firme, porque eu confesso que estava um pouco apavorada. — Trabalhar aqui não é de forma alguma menos digno do que subir em uma passarela.
— Ah, por favor. — A morena riu, se aproximando ainda mais de mim enquanto me analisava por completo. Seu olhar investigativo passou por todo o meu corpo até chegar em meus pés, onde ela com certeza notou os sapatos caros, e então estreitou os olhos castanhos quando viu a caixa e a rosa ao meu lado. — Vejo que ganhou alguns presentes hoje.
— Isso não é da sua conta.
— Oh, é sim. Esqueceu que ele é pai da minha filha? — Ela apontou para a própria barriga antes de suspirar. — Olha só que situação. Será que não percebe? Todos esses presentes... — Ela me olhou com um olhar de pena. — Acha mesmo que ele ama você?
— De novo, isso não é da sua conta. — Rugi, fazendo ela suspirar e começar a andar em círculos envolta de mim.
— Estou tentando te ajudar, hum? Pois bem, olha para mim. Eu nasci em berço de ouro. Por Deus, eu sou uma modelo, tenho a minha própria conta bancária desde os meus dezesseis anos! Fui apresentada a Zayn quando éramos muito jovens, e a minha família sempre quis que eu me casasse com o único herdeiro homem dos Malik. Por termos a mesma idade, nos demos muito bem de cara. Ficamos por todo esse tempo juntos, sabendo que mais cedo ou mais tarde, ele me pediria em casamento por pura pressão, e então adivinha só? Você surgiu. Certo, agora vamos com você. Deixa eu ver...nasceu em uma cidadezinha da Inglaterra, perdeu os pais quando tinha dez anos, entrou em uma depressão que tem até hoje, por sinal, ficou em uma clínica de reabilitação por seis anos, mora em um apartamento minúsculo no subúrbio de Seattle, trabalha em um lugar como esse, e ainda assim acha que Zayn te escolheu no meu lugar? — Ela gargalhou quando eu desviei os meus olhos para o chão. — Pobre coitada.
— Nada que você diz pode me atingir, Amber. Eu não ligo para o que você pensa sobre mim. — Eu tentei me defender, mas ela parecia tão maior.
— Isso não é só o que eu penso de você, é o que você é! Você não passa de uma garota pobre que sonha em ficar com alguém como Zayn, mas não percebe que tudo que acontece entre vocês dois é simples: você dá para ele, e no dia seguinte, como um agradecimento, ele te dá presentes. Não é óbvio? Você é a prostituta particular dele! — Eu fechei os meus olhos, não conseguindo olhar para ela. Sentia que estava por um fio de chorar, ofegante, enquanto fechava as minhas mãos em punho. — Acha que ele vai casar com você um dia? Estragar a imagem dele, um dos empresários mais importantes do mundo, dessa forma? Por favor, eu estou carregando a filha dele!
Eu queria poder gritar para ela não se sentir tão especial assim, porque eu também estava grávida, mas não poderia me arriscar dessa forma. Eu não estou cuidando apenas da minha vida agora, e não sei do que Amber é capaz de fazer comigo se descobrisse isso.
— Isso é apenas um lembrete. Toda vez que ele te chamar para sair, espero que saiba que tudo que ele quer é alguém para passar a noite, até porque, é só nesse período que vocês se encontram, não é? Zayn nunca sai em público com você, sabe por quê? Porque ele tem vergonha de você, Lucille. — As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto novamente quando as suas palavras começaram a fazer sentido, quando começaram a me machucar. — E sabe como eu posso provar isso, meu bem? Ele me convidou para jantar hoje mesmo, daqui a uma hora.
Certo, isso doeu.
Zayn me disse que não podia sair comigo hoje porque tinha que resolver alguns assuntos da empresa.
Por Deus, isso não pode ser verdade.
— O que? — Ergui a minha cabeça quando sussurrei, possibilitando Amber de ver as minhas lágrimas, o que apenas fez um sorrriso maior ainda se abrir naqueles lábios manchados pelo batom vermelho.
— Awn, pobrezinha, ainda se sente especial? — Ela riu de leve quando eu abaixei a minha cabeça novamente, não suportando mais nenhuma humilhação. Acho que estava à ponto de explodir. — Não é um Louboutin que vai te tornar alguém melhor, Lucille, alguém como eu. Zayn tem dinheiro para comprar mais quinhentos sapatos como esse e não fazer nem cócegas na conta bancária dele, acha que ele dá toda a importância que você dá para isso?
— Olha, você pode estar certa como pode estar errada, eu não sei. — Eu ergui o meu olhar para ela novamente, tentando achar forças para abrir a boca de novo. — Mas de uma coisa eu tenho certeza, Amber: eu nunca, nunca quero ser alguém como você. Você pode me dizer o que quiser, jogar a verdade na minha cara e me ferir com ela como quiser, mas mesmo assim, isso nunca vai mudar em mim.
Amber não reagiu de primeira por alguns segundos, mas então começou a respirar fundo de maneira descontrolada, brava, e eu estaria mentindo se dissesse que aquilo não me assustou, mas continuei a olhando nos olhos.
— Já que tem tanta certeza assim... — Ela endireitou a postura, voltando a sua pose durona. — ...me dá esses sapatos.
— O que?!
— Vamos, me dá esses sapatos de uma vez!
— Eu não vou te dar! É um presente!
A morena pareceu perder toda a paciência, mas quando achei que ela desistiria, ela simplesmente ignorou a barriga de cinco meses de gravidez e se abaixou, arrancando os sapatos dos pés de forma rápida, sem que eu pudesse ter a chance de me mover.
E então ela parou ali, agachada de forma que uma grávida com certeza não conseguiria fazer sem reclamar de dor e olhou para baixo do banco. Comecei a me desesperar ao lembrar do teste que caiu ali, e vi os seus lábios vermelhos se entreabrindo em surpresa enquanto suas sobrancelhas se franziam.
— Amber... — Foi tudo que consegui dizer quando ela agarrou aquele aparelho, ficando de pé novamente e se afastando de mim de forma lenta, ainda com os meus sapatos em mãos. Ela parecia tão desesperada quanto eu, seu peito subia e descia de forma acelerada, seus olhos estavam vidrados no visor do teste, e acho que nunca pensei que a veria tão assustada dessa forma.
Ela não disse nada, apenas deixou o teste cair no chão e saiu a passos rápidos e pesados daquela lanchonete, levando com ela os meus sapatos e a minha dignidade.
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