*Lucille*
(Um mês depois)
— Prontinho. — Uma enfermeira muito simpática disse assim que removeu a faixa do meu punho, que já estava normal novamente. Eu sorri só por me ver livre daquele pedaço de pano e mexi a minha mão diversas vezes nas posições que antes eu não conseguia fazer, e não sentia mais nenhuma dor. — Sente-se melhor?
— Ah, nem me fale! — Ela riu pela minha alegria, assim como Gabriel ao meu lado, com as mãos no bolso. — Eu já estava enlouquecendo.
— É, eu sei. — Ele disse quando eu me levantei.
Nos despedimos da mulher sorridente e saímos do hospital, onde eu não queria entrar por muito tempo.
— Mas você me entende, não é? Eu sou a bailarina principal da apresentação que é daqui a quatro dias, e além de estar com uma barriga de quase quatro meses, não daria certo dançar com uma faixa no punho, e ainda por cima, sentindo dor. Eu rezei tanto para me recuperar logo que estou dando pulinhos de alegria na minha imaginação pelas minhas preces terem sido ouvidas.
— Na sua imaginação? — Gabriel parecia se divertir com as minhas loucuras.
— É, eu ganhei uns quilinhos a mais nos últimos meses, não venha me pedir para pular de verdade! — Ele riu e eu também. — Falando nisso, eu estou com fome.
— O que você quer dessa vez? — O de olhos azuis me analisou em um misto de atenção e curiosidade por saber que um desejo de grávida estava por vir. Olhei para o céu que estava azul com apenas algumas poucas nuvens. Foquei nas nuvens, pensativa.
— Nuvens.
— Creio que isso não seja possível, Lucy.
— Tá, então o mais perto possível de nuvens.
— Algodão doce? — Ele fez uma careta, tentando acertar os meus gostos.
— É, dá pro gasto.
Ele riu e me deu o braço para que eu me enganchasse nele, e assim caminhamos até uma das praças da cidade. Haviam tantas crianças correndo para lá e para cá que era impossível não me admirar por elas. Enquanto Gabriel ia até um carrinho ali comprar algodão doce para mim, lembrei que nunca fui uma pessoa muito chegada em crianças. Para mim, elas me remetiam à gritos, choro, fraldas sujas, escândalo, chantagem emocional e mais fraldas sujas. Mas de uma hora para a outra, comecei a ver tudo aquilo com outros olhos. Talvez por estar grávida, reparei muito mais nas crianças, no brilho inocente no olhar delas, no sorriso grande e sem preocupações e em suas gargalhadas gostosas. Passei a reparar nas mães que sorriam de forma admirada para os seus filhos, e comecei a pensar que não importava se o dia desses pais estivesse uma merda, eles pareciam querer que a criança enxergasse a situação de outra maneira sempre.
É o que quero ser.
É o que eu espero ser.
— Eu já disse que você está uma graça com essa barriguinha? — Gabriel surgiu na minha frente, me entregando um algodão doce branquinho como as nuvens. Atencioso como sempre.
— Antes você me chamava de linda e agora passou para graça, está vendo a diferença? — Ele gargalhou, negando com a cabeça. — É, eu saquei a sua, engraçadinho.
— Qual é, você entendeu. — Assenti, me deliciando com aquele sabor doce que eu nunca pensei que gostaria, mas esses desejos podem ser loucos às vezes.
— É tão doce que eu sinto que estou injetando glicose direto na veia.
— Isso é bom? — Gabe fez uma careta.
— Na circunstância a qual eu me encontro, é sim.
Ele continuava me encarando enquanto eu não tirava os meus olhos das crianças que passavam por nós. Não conseguia deixar de me perguntar se eu estava esperando uma garotinha ou um garotinho e também em como ele ou ela seria. Seria loirinho ou teria o tom de castanho escuro de Zayn? O meu sorriso ou o dele? Os meus olhos ou os dele?
Bom, preciso dizer que estou bastante ansiosa para descobrir o sexo do bebê, já que a minha consulta está marcada para amanhã de manhã. Talvez ainda não seja possível determinar isso, mas não custava nada tentar.
Algo dentro de mim, lá no fundo, tinha certeza que esse bebê se pareceria muito mais com Zayn do que comigo, mas eu não queria dar o braço a torcer para mim mesma.
E falando nele, eu não troquei sequer uma palavra com o moreno durante todo esse mês, desde o dia do acidente. Isso não quer dizer que eu não perguntava sobre ele para Louis, mas ele sempre me respondia que ele estava normal. Eu queria mais detalhes, mais informações. Qual era o normal de Zayn? Sério? Sorridente? Bravo? Mas, novamente, não quero dar o braço a torcer e não faço perguntas demais ao meu irmão, apesar de querer desesperadamente fazê-lo.
— Você ainda pensa nele? — Eu fechei os meus olhos por alguns segundos, sabendo bem a quem Gabriel se referia.
— Ele é o pai do meu filho, Gabe.
— Eu sei, Lucy, você entendeu o que eu disse. — Eu assenti, um pouco nervosa. — É só que...você me pediu um tempo para pensar, e eu te dei esse tempo.
— E aí eu descobri que estava grávida dele. — Eu me virei para Gabriel, que já me encarava. — Sei que não é justo eu ficar te segurando ou sei lá, guardando caixão. Você pode sair com outras pessoas, Gabe, pode encontrar alguém que esteja em uma situação melhor que eu. Para ser sincera, eu posso demorar para me curar completamente depois de tudo o que aconteceu.
— Eu não consigo ficar com outras pessoas, Lucille. Eu só enxergo você. E se você quer saber, eu espero o tempo que for para te ter para mim, eu só preciso que você me prometa que um dia me dará essa chance. — Ele estava perigosamente perto, e vendo a minha hesitação, Gabriel segurou uma das minhas mãos e a beijou, tirando uma mecha loira do meu cabelo que estava solta dos meus olhos e a colocando atrás da minha orelha, mantendo a sua mão em minha bochecha. — Por favor.
— Eu não posso te prometer. Não posso ser cruel à esse ponto. — Vi o desapontamento em seus olhos e rapidamente quis tirar aquilo dali. — Eu estou muito machucada, Gabe, e para ser sincera, ainda penso demais nele.
— Tudo bem. — Ele suspirou, mas continuou olhando em meus olhos. — Ele foi um idiota por ter terminado com você.
— É, eu sei. — Eu ri, mas estava meio nervosa pela aproximação dele.
Eu havia gostado do único beijo que Gabriel havia me dado até agora, mas ele não me deixava arrepiada ou fazia as borboletas em meu estômago levantarem vôo. Na verdade, era como se elas estivessem entediadas, e por mais que eu quisesse muito partir para a próxima, parar de pensar em Zayn e seguir com a minha vida, era impossível quando cada célula minha ainda entrava em desespero pela mera possibilidade de encontrá-lo na rua, o que não aconteceu em nenhum momento nesse mês. É como se ele estivesse desaparecido.
Quer dizer, ele está na minha mente o tempo todo.
E é por isso e mais motivos que eu não soube como reagir quando Gabriel se aproximou de mim e estava prestes a me beijar. Eu deveria empurra-lo? Deveria retribuir? Deveria sair correndo?
A diferença era impressionante. Quando Zayn fica a menos de dois metros de distância de mim, eu já sofro com os efeitos que ele tem sobre mim. Mas com Gabriel? Bem, eu gostava dele, mas sentia falta de todo aquele frio na barriga como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco.
Talvez o que Zayn me fazia sentir não fosse saudável, mas quem liga? Era tão eletrizante!
Gabriel tocou o meu rosto com mais determinação, e quando eu já podia sentir a sua respiração quente batendo contra o meu rosto, o barulho de uma série de buzinas de carro uma atrás da outra nos distraiu. Olhamos na direção de onde vinha o barulho, mas o carro preto arrancou em alta velocidade no instante seguinte.
E eu conhecia aquele carro.
Não, não podia ser Zayn, podia? Há mais pessoas que possuem um Audi preto como o dele, ainda mais em uma cidade cheia de empresários como Seattle.
Eu já estava começando a imaginar coisas. Como se ele fosse se dar o trabalho de ver como eu estou. Como se fosse andar atrás de mim apenas para me ver. Como se fosse me perseguir.
É claro que não.
— Tem cada louco em Seattle. — Gabriel mexeu a cabeça e voltou a olhar para mim, mas o clima (pelo menos o que ele estava sentindo) já havia passado. — Venha, ainda quero te levar em um lugar.
*Zayn*
Cada célula do meu corpo parecia pronta para ter um ataque cardíaco.
Durante todo esse mês, tirei proveito de cada tempo livre que tinha no escritório e saía pelas ruas de Seattle com o meu carro à procura de Lucille. Quando estávamos juntos na fazenda, havia instalado um aplicativo no celular dela que sincronizava com o meu, e eu sempre poderia ver onde ela estava. No começo era apenas algo bobo, mas agora eu realmente estou vendo a serventia disso. Eu acho que enlouqueceria se não visse aquele rostinho pelo menos uma ou duas vezes na semana.
Ela saía pouco de casa. Pelo que sei, Louis havia feito ela finalmente deixar de ser teimosa e estava a ajudando com o dinheiro. Depois que soube da história da lanchonete e de seu chefe escroto, sabia que ele não deixaria ela trabalhar em qualquer lugar por muito tempo. Mas mesmo assim, eu podia a encontrar muitas vezes em um parque no centro da cidade, lendo um livro ou simplesmente ficava sentada em um banco, sozinha e olhando para o nada por uma hora, até que ficasse frio demais para ela e ela voltasse para casa. Eu podia ser considerado um psicopata, mas durante todo aquele tempo, eu gostava de a observar. Era o máximo que eu tinha dela, apesar de não ser suficiente. Adorava ver o vento passar pelas suas mechas loiras, as tirando do lugar. Adorava vê-la observando cada criança daquele parque com expectativa. E adorava ainda mais o fato de que em todas as vezes que a via por ali, em algum momento ela tocava a barriga que ainda passava despercebida e sorria de forma leve, totalmente perdida em pensamentos.
E tudo que se passava em minha cabeça era algo como: Como é que o primeiro homem que passava por ela não se apaixonava de cara?
Eu sabia que eles a olhavam, afinal não eram idiotas, e é por esses e mais motivos que eu sempre estou por perto. Não era como se eu fosse sair do carro e arrebentar o primeiro cara que se aproximasse dela com segundas intenções, mas eu achava que doeria menos saber que ela está seguindo em frente por mim mesmo do que pelos outros. Pelo mesmo eu estaria sozinho e poderia socar o volante à vontade sem passar vergonha.
E então, hoje, depois de um dia estressante de trabalho, tudo que eu queria ver era o sorriso de Lucille, nem que eu não fosse mais o causador dele. Me assustei ao constatar pelo aplicativo que ela estava no hospital e fui até a mesa de Tomlinson para perguntar se ele sabia de algo, e para o meu alívio, ele me disse que ela iria desenfaixar o punho machucado hoje. Eu estacionei na frente do hospital e esperei pacientemente pela minha garota, mas a decepção de vê-la ao lado de Gabriel fez com que eu o xingasse de pelo menos três insultos.
Mas eu não podia negar, ele era esperto pra cacete.
Estava se aproximando de fininho em um momento frágil dela. Ele a fazia rir à cada dois minutos e o sorriso pomposo no rosto entregava o quanto ele era orgulhoso pelas pessoas que passavam por eles o verem ao lado dela. E eu não podia o julgar por isso, ele estava certo.
Os acompanhei com o meu carro até que chegarem no parque que Lucille tanto ia, e eles pareciam tão entretidos em uma conversa que nem haviam notado que eu estava os seguindo. Eles se sentaram em um banco qualquer e eu fiz questão de estacionar o carro na frente deles, vendo que quando ele se afastava, Lucille entrava naquele seu estado catatônico adorável, imersa em seu próprios pensamentos. Ela se permitia sorrir algumas vezes, mas na maioria do tempo ficava séria, e parecia forjar um sorriso toda vez que Gabriel se aproximava.
É típico dela esconder para si mesmo que está mal, mesmo que isso piore a situação dela.
Ele apareceu com um algodão doce para ela, que parecia se deliciar com o mesmo enquanto ele a encarava como se ela fosse o mundo inteiro para ele.
E eu não duvido que fosse.
“Isso é ridículo”, pensei, agarrando o volante com força e revirando os meus olhos. “Só falta ele dar um ursinho de pelúcia para ela”.
Mas então, o desgraçado fez pior que isso.
Gabriel começou a se aproximar dela demais, tocou o seu cabelo e o seu rosto, e ela não parecia ter nenhuma reação, enquanto eu só queria que ela empurrasse. Pelo bem da minha saúde mental, Lucille precisava o empurrar.
Mas ela não o fez e não o faria, eu tinha certeza. As minhas mãos já estavam doendo por segurar a porra daquele volante com tanta força enquanto o meu coração não queria parar de bater contra o meu peito, que parecia doer. Por Deus, eu não posso deixar ele beijar ela. Não posso deixar ele beijar a minha garota, a única coisa que realmente importa para mim. Não posso deixar ele tomar o meu lugar. Lucille é minha, está esperando um filho meu, e aquele merdinha de olhos azuis poderia tirar tudo de mim, menos ela. Ela é tudo que eu tenho.
Sem me controlar, apertei a buzina diversas vezes, o que foi o bastante para tirar a atenção deles (e de todas as outras pessoas daquela rua). Os dois olharam para trás, perturbados pelo barulho, e então eu senti que precisava sair dali. Me sentia claustrofóbico naquela merda de carro e só conseguia ter pensamentos macabros com aquele projeto de garotinho com as mãos encima da minha mulher.
Dei uma volta na quadra, o que acho que foi o suficiente para que eu me sentisse mais calmo, mas quando voltei a avista-los, mal acreditei quando eu literalmente vi Lucille com um urso de pelúcia marrom e grande nos braços, gargalhando de algo enquanto o filho da mãe cacheado tocava a barriga dela.
A barriga dela.
Onde o meu filho estava.
Ele só pode estar querendo morrer.
Eu tentei me controlar ao máximo de forma falha, e para não fazer merda e me arrepender como um condenado depois, liguei para a primeira pessoa que apareceu na minha tela.
— Alô?
— Harry, é você?!
— É claro que é, você ligou para mim!
— Onde você está?
— Em casa, por que?
— Porque... — Eu respirei fundo, tentando controlar a minha respiração ao ver Lucille sorrindo para ele. Fiz uma careta.
Merda, isso dói pra cacete.
— Desembuche.
— O que você faz quando vê a mulher da sua vida com outro cara? — Ouvi um suspiro pesado da parte de Styles do outro lado da chamada, e então ele soube do que — ou melhor — de quem, eu estava falando.
— Ih, merda. — Ele disse baixo. — É Lucille?
— Quem mais seria, Harry?
— Certo, certo. Você precisa de álcool, Malik.
— Não, eu preciso dela. — Choraminguei, pousando a minha cabeça no banco de couro do carro e vendo Gabriel levar uma colher de sorvete até Lucille, que a tomou prontamente. — Eles estão tomando sorvete juntos, Styles. Se eu não sair daqui agora, eu vou tirar aquele panaca de perto dela à força e...
— Por favor, não faça isso, só dirija até o bar do George. Eu vou estar lá te esperando com uma caneca de uísque nas mãos.
E ele realmente estava.
Depois de alguns minutos, eu cheguei no bar de George, que já era um amigo nosso, e então eu comecei com as minhas rodadas de uísque. Harry estava certo. Se eu não pudesse ter Lucille agora, pelo menos tinha o álcool.
— Quem é o cara? — Harry me perguntou, afrouxando a sua gravata.
— É um cara que dança com Lucille. Que eu saiba, ele está na cola dela desde que ela se mudou para Seattle. — Revirei os meus olhos, apoiando o meu rosto com as minhas mãos no balcão. — Eu fiquei tão puto, Styles. Ele estava prestes a beijar ela! Comprou a porra de algodão doce, sorvete e a merda de um urso de pelúcia para ela! Quem é que dá isso para uma garota?
— Admita, Zayn, você só está achando esses presentes ruins porque não foi você que deu à ela.
— Por que você está dizendo as coisas certas, Harry? Seu papel é falar merda e fazer com que eu me sinta melhor! — Reclamei, logo depois tomando um grande gole do meu uísque. Eu já estava tão exausto que nem ligava para as pessoas ao nosso redor que poderiam estar nos ouvindo.
— É ótimo saber que você me considera muito, Malik. — Dei de ombros, mantendo o meu olhar fixo no balcão. — Então você a quer de volta?
— Eu nunca deixei de querer ela. Eu desejo Lucille todo os dias, em todos os momentos, à cada segundo do meu dia. Tem noção de que ela está esperando um filho meu, cara? Sangue do meu sangue? Isso me deixa tão pilhado, Harry! Eu quero estar com ela! — Eu suspirei, passando as mãos pelo meu cabelo, tentando aliviar o meu estresse. — Eu sei que o que eu vou dizer é errado, mas é tão diferente do que eu sinto quanto à gravidez de Amber. Ela nem deixa eu me aproximar, nunca sequer toquei na barriga sem que fosse por segundos, por cima da roupa ainda. Talvez seja porque eu amo Lucille, mas parece tão mais intenso, tão mais real. Eu fico elétrico só de pensar em um garotinho ou garotinha que se pareça com ela. — Eu me surpreendi por estar sorrindo como um idiota. — Consigo imaginar perfeitamente os olhos azuis dela no nosso filho ou filha e...
— Cara, você está tão fodido! — Olhei para ele, que deu risada. Eu revirei os meus olhos e mostrei o meu dedo do meio para ele. — Você é doido por ela!
— Me diga algo que eu não sei.
Ele ficou em silêncio por um tempo, também bebendo do seu uísque. Eu deveria estar tão fodido que nem Harry, com a sua imaginação fértil e quase ridícula, estava conseguindo achar uma solução para mim.
— É claro! — O cachetado exclamou do nada, fazendo com que eu erguesse o meu rosto do balcão. — É claro, cara, como não pensamos nisso antes?!
— No que, porra?
— Pensa comigo: como você conquistou Lucille? — Eu pisquei algumas vezes, confuso. — Você levou ela para a sua fazenda, Malik! Vocês fingiram que eram noivos e no fim o destino brincou com vocês e fez com que vocês dois se apaixonassem, não foi? — Dei de ombros, assentindo. — E então, o que você deve fazer para tê-la de volta?
Harry me olhava com tanta expectativa, sorrindo de orelha a orelha, mas eu não havia entendido merda nenhuma.
— Ela não vai querer ir para a fazenda comigo, Styles, você enlouqueceu?!
— Cara, você é burro?! Você tem que trazer os seus pais para cá e pedir a ajuda dela, exatamente como da primeira vez!
Eu não podia negar, era uma ótima ideia para fazer com que Lucille se aproxime de mim, para que ficássemos no mesmo cômodo e não brigássemos, para deixar as coisas rolarem de forma natural, como na fazenda, há quatro meses atrás.
— Não acho que ela vai aceitar fazer isso.
— Você conhece Lucille, Zayn. Sabe que se ela puder ajudar alguém, nem que seja você, ela ajuda. — Assenti, concordando com aquilo. Era a mais pura verdade. — E então? Porque não diz que eu sou o melhor amigo do mundo e me agradece com um enorme, gigante e gordo “obrigado”?! Hum?!
Eu apenas ri, mexendo a minha cabeça e batendo em seu ombro de leve, sorrindo para ele.
— Obrigado, cara. Eu vou tentar.
— Vocês vão ficar juntos, cara. O planeta é redondo, a água é transparente e Zayn e Lucy ficam juntos. É como o mundo funciona. — Harry deu de ombros e eu ri.
[...]
Acordei tarde do dia seguinte, aproveitando que era um sábado e eu podia fazer isso. Apesar disso, é claro que quase não preguei os olhos à noite. O plano de Harry daria certo? Lucille realmente estaria disposta e fingir que estava tudo bem entre nós para a minha família, e então eu poderia ter a minha chance de reaproximação? Eu não sei, mas precisava tentar.
Fui até a cozinha, peguei um copo e o enchi com água para tentar fazer aquela ressaca dos infernos passar, mas assim que levei o vidro aos lábios, alguém tocou a minha campainha. Deixei o copo encima da bancada e abri a porta, nem me importando se estava usando apenas uma calça de moletom.
— E aí, Mark. — Cumprimentei o porteiro do prédio, que fez o mesmo.
— Bom dia, senhor Malik. Há uma entrega para o senhor. — Odiava aquelas formalidades, mas o senhor de idade simplesmente se recusava a me chamar pelo meu nome. Ele me entregou um envelope branco e vermelho. — Uma moça deixou na portaria e pediu para que eu te entregasse.
— Amber? — Perguntei despreocupadamente, já abrindo o envelope, sabendo que era a morena que deixava o resultado de seus exames sem nem me dar explicações.
— Não, era uma moça loira.
Ergui o meu olhar até ele e meus dedos congelaram. Mal Mark sabia que aquilo quase me fez ter um infarto. Abri o envelope selado com mais pressa ainda e retirei de lá uma foto pequena de ultrassom.
Ah, meu Deus.
Não era possível entender muito o que se passava ali, mas consegui identificar a cabeça e vi a mão e alguns dedinhos perto do rosto, assim como a linha perfeita do pequeno narizinho.
Lucille me mandou a foto do nosso filho! Por Deus do céu, isso é tão eletrizante que o sorriso que se apoderou do meu rosto não sairia dali tão fácil.
Amber nunca havia feito isso, e eu nunca fiz questão de perguntar. Mas o que Lucille fez era um claro sinal de que ainda se importava, de que ainda me queria por perto, e me queria por perto do nosso filho. Ela queria que eu soubesse de tudo, que eu acompanhasse o passo à passo da sua gravidez.
E, droga, eu quero tanto isso também!
Não posso estar mais agradecido à ela por me dar essa chance de me aproximar. Era como se ela soubesse que não importa a nossa situação atual, eu ainda sou pai dessa criança, tão diferente de Amber.
Por Deus, eu amo tanto essa garota.
Passei as minhas mãos pela minha barba, ainda incrédulo e arrastando os meus olhos por cada detalhe que era me permitido enxergar naquela foto. Fiquei sedento por mais informações, mas não havia mais nada até que eu virasse a foto e visse a letra perfeita de Lucille em um espaço em branco, com uma caneta preta e de ponta grossa.
“Parabéns, idiota. É um menino”
Um menino.
Lucille está grávida de um menino.
E apesar de ela claramente estar me insultando naquele comentário, eu não consegui me controlar e comecei a rir de pura felicidade, dando algumas voltas pela entrada da casa e deixando Mark curioso.
Aquilo era tudo que eu precisava para pôr o plano em prática.
Eu faria qualquer coisa para ter essa garota de novo aqui comigo.
— Então você conhece a garota loira? É uma amiga? — O homem mais velho parecia se divertir com a minha reação de pura alegria e agitação. Eu não consegui tirar o sorriso do rosto enquanto encarava aquela foto novamente, memorizando cada traço possível daquele bebê.
Do meu filho.
Do meu garoto.
Por Deus, eu já o amo tanto.
— Não, Mark, ela não é só uma amiga. — Suspirei, me apoiando na parede. Por Deus, meus olhos devem estar brilhando! — Ela é a garota que vai casar comigo.
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