Jongdae amava Junmyeon desde os primeiros meses em que havia começado aquela loucura. E Junmyeon aos poucos foi aprendendo a amar Jongdae também. Desde o modo como ele se encolhia para falar quando estava envergonhado até o modo como ele sorria tão fácil.
Eles tiveram toda a calma do mundo quando decidiram levar aquilo adiante. Aproveitaram o período de férias para ter pequenos encontros na cafeteria ou simples saídas ao cinema, às vezes ao parque, somente para conversar sobre coisas banais enquanto estavam sentados sobre a grama, risadas apaixonadas ecoando entre eles constantemente.
Quando as férias terminaram, Junmyeon teve de voltar para a rotina de dar aulas e Jongdae, a de ser um calouro no curso de Letras — a escolha do curso deixou o Kim mais velho com uma pulga atrás da orelha. Ele sinceramente se perguntava todos os dias como os dois podiam ser tão iguais e ainda assim tão diferentes. Mesmo que fosse se formar na mesma área que a dele, Jongdae estava bem mais interessado no meio editorial do que em dar aulas.
Não que incomodasse que eles divergissem opiniões em alguns sentidos, porque o fato de serem diferentes significava que ainda tinham muito a aprender um sobre o outro. E depois que parou e pensou melhor sobre a escolha, Junmyeon percebeu que era realmente o melhor.
Jongdae perderia a cabeça no primeiro dia que fosse dar aula a uma turma de ensino médio.
Com os novos horários, os encontros dos dois ficavam mais difíceis, já que Jongdae tinha aula à noite e Junmyeon também tinha o seu horário durante o dia. Portanto, se contentavam em almoçar juntos vez ou outra ou simplesmente assistir filmes, no final de semana, abraçados no sofá de Junmyeon.
Foi assim durante uns bons meses até que um dia Jongdae tocou no assunto que os dois estavam evitando. Que era sobre o quão sério o relacionamento deles estava. Levou toda uma discussão sobre isso, até que Jongdae conseguisse convencer o outro a ir jantar em sua casa e conhecer sua família.
E foi uma surpresa para os dois quando, mesmo desconfiados da história de que eles acabaram se encontrando um dia durante as férias, conversado, se dado bem e desde então estão juntos, os pais de Jongdae pareceram aceitar bem aquilo tudo. Apesar de, depois que Junmyeon foi embora, Jongdae não ter conseguido se esquivar das piadinhas de Jongdeok sobre ele namorar o professor.
Não ligava nem um pouco para as provocações do irmão. Depois de tudo o que fez, ter chegado tão longe com Junmyeon era um mérito e tanto.
— Eles acreditaram mesmo nessa história de vocês dois terem se encontrado casualmente nas férias e algo ter surgido ali? — era incrível o dom que Baekhyun tinha de ser irônico o tempo todo. Mesmo por ligação, Jongdae podia facilmente ver a expressão risonha na cara do Byun.
— Baekhyun, eles tinham que acreditar nisso. Como eu diria pros meus pais que passei meu último ano no colégio morrendo de amores pelo meu professor e dando em cima dele através de bilhetes?
Baekhyun havia conseguido entrar para o curso de Administração, na mesma faculdade e horário que Jongdae estudava. Ao contrário do que eles esperavam que fosse acontecer quando o ensino médio acabasse, não havia mudado muita coisa. Jongdae ainda continuava aparecendo na casa de Baekhyun do nada e os dois ainda ficavam falando por horas sobre qualquer assunto — mesmo que fosse só Baekhyun tentando convencer Jongdae a jogar com ele.
Sinceramente, era confortável assim. Muita coisa havia mudado, mas era bom que ele e Baekhyun ainda fossem o mesmos. Apesar de que queria que o Baekhyun tivesse mudado só um pouquinho, porque realmente não estava dando para aguentar aquela pequena vingança dele. Aparentemente era justo ele infernizar Jongdae no momento que fosse necessário durante o ano todo, para compensar o que Jongdae fez com ele durante o ano passado.
Pior que isso, apenas Junmyeon concordando com Baekhyun, usando o argumento de que "tudo tem que ficar em equilíbrio".
— Pense bem, seus pais podem não ficar felizes com isso, mas por outro lado vai ser uma história e tanto pra contar pros seus filhos.
— Baekhyun, às vezes basta concordar comigo. — Respirou fundo ao ouvir a risada do amigo.
A ligação durou apenas mais alguns minutos, suficientes para Baekhyun reclamar de um dos professores, Jongdeok invadir seu quarto para pegar de volta a camisa que Jongdae tinha pego dele e Junmyeon enviar uma mensagem fofa de boa noite.
Sinceramente, aquela foi a melhor parte.
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A mãe de Jongdae era uma mulher simpática, as vezes até demais. Jongdae havia claramente herdado esse traço da personalidade dela. Mesmo agora, com o filho resmungando sobre como os pais de Junmyeon podiam não gostar dele, a mais velha parecia inabalável com um sorriso.
Agora que Junmyeon já conhecia a família de Jongdae, Jongdae precisava fazer o mesmo. Haviam marcado um jantar na casa de Junmyeon no sábado. Infelizmente, para Jongdae, os pais dele não seriam os únicos presentes lá, a irmã da mãe de Junmyeon também estaria, com o marido e filhos.
"Difícil" foi a palavra usada por Junmyeon quando fora perguntado sobre como era a tia. Não era muito reconfortante.
— Pare com isso, eles vão gostar de você. — A mãe continuava o reconfortado, passando as mãos calmamente pelos braços de Jongdae, para tirar os leves amassados da camisa social que usava.
— Mas e se não gostarem? Eu ainda sou um ex-aluno do Junmyeon, caso não lembre. — Talvez estivesse exagerando demais, mas não deixava de ser verdade.
— Acredite, eu lembro muito bem dessa parte. — A expressão da mais velha o fez rir. — Mas vocês não fizeram nada enquanto eram professor e aluno, certo? É apenas estranho que estejam juntos agora, mas não estão fazendo nada de errado. E se Junmyeon gosta tanto de você quanto parece gostar, a família dele vai gostar de você também.
Abriu um sorriso para a mãe. Ele a amava de um jeito impossível de descrever, sabia que ela ficaria ao seu lado apesar de tudo, como também diria sem pensar duas vezes se ele estivesse errado. O apoio dela era a única coisa que valeria para ele, se caso mais ninguém o fizesse.
Deu um abraço nela antes que os dois saíssem do quarto, e esperou apenas mais alguns minutos até que Junmyeon estivesse em sua porta. Ele parecia confortável demais para alguém que estava levando o namorado para conhecer os pais. E também estava muito bonito usando uma camisa social creme, que quase combinava com a marrom que Jongdae usava.
— Está olhando demais… — murmurou parecendo sério, a não ser pelo sorriso de lado que mantinha.
— Ah, desculpe, não sabia que não podia olhar meu próprio namorado, mas não vai se repetir, juro.
— Seus níveis de ironia estão piores hoje, está nervoso? — Um olhar incrédulo de Jongdae foi o suficiente para perceber que a resposta era sim. — Bom, não precisa ficar. Eu vou estar lá o tempo todo, o pior que pode acontecer é minha tia fazer perguntas demais.
Era para ser algo reconfortante, mas agora Jongdae não conseguia parar de pensar naquela possibilidade. No entanto, apenas concordou com a cabeça, não querendo parecer mais surtado do que já estava. Ainda não era o momento certo para mostrar a Junmyeon o quão paranóico podia ser.
Jongdae teve que processar um pouquinho quando o carro de Junmyeon parou, depois que já haviam passado dos portões — só os muros do lugar deixaram Jongdae impressionado. Porque, uau, era ali que a família dele morava? Aquela casa parecia grande demais para apenas os pais de Junmyeon. Aliás, podia ser chamada de casa?
Parecia mais um paraíso com primeiro andar, uma piscina enorme na frente — e luzes ao redor dela, claro — e uma varanda espetacular. Na frente da casa, na área da piscina, havia até as cadeiras estrategicamente organizadas ao redor, e um lugar, aparentemente um salão, que parecia ter sido feito especialmente para reuniões familiares, com churrasqueira e até um pequeno sofá que combinava com a decoração.
Talvez o pequeno Kim estivesse prestando atenção demais ao redor, mas era impossível não prestar. Sequer notou a mão de Junmyeon em suas costas, o guiando até dentro da casa, que era tão bonita quanto por fora.
— Caramba, você é rico. — Murmurou quase incrédulo, finalmente pousando o olhar sobre Junmyeon, que ria das reações dele.
— Eu não sou rico. Meus pais são ricos. — Enfatizou.
— Então significa que eles precisam de um herdeiro, não é? — Provocou, com um sorrisinho que fez Junmyeon empurrar o ombro dele.
— Comporte-se, Kim Jongdae, não deixe ninguém aqui saber que você é um interesseiro.
Os dois riram mais uma vez e seguiram para a sala de jantar, onde já podiam ouvir algumas conversas, que fizeram Jongdae sentir um leve embrulho no estômago, parecido com quando Junmyeon conheceu seus pais. No caminho, encontraram um cachorro parecido com Byul, e Junmyeon lhe explicou sobre como a mãe dele adotou os dois cachorros, mas acabou pedindo para Junmyeon ficar com um porque seu pai reclamou um pouco — eles já tinham dois cachorros antes disso, estavam no quintal.
Jongdae riu da breve história, se distraindo com como aquilo parecia algo que ele mesmo faria. Mas com gatos, talvez. Já tentou levar um ou outro escondido para casa, quando criança, mas nunca dava certo, a mãe dele dizia que não podiam criar gatos e sempre resultava em um Jongdae chorando porque queria ter gatos.
Pelo menos o pensamento serviu para diminuir um tantinho a tensão, e quando os dois estavam no local onde os outros estavam reunidos conversando, Jongdae conseguiu abrir um sorriso e lhes cumprimentar.
— É um prazer conhecê-los. — Falou para os pais de Junmyeon, enquanto a mãe dele segurava suas mãos.
— Ah, querido, o prazer é nosso. Junmyeon não parava de falar sobre você, acabamos ficando curiosos.
Sorriu para a mais velha, antes de desviar devagar o olhar para Junmyeon, que também sorria, porém com os ombros encolhidos. Tímido. Adorável, Jongdae pensou.
— Bom, agora você sabe que não é o único idiota apaixonado aqui. — o Kim mais velho murmurou para ele, enquanto se sentavam.
— Na verdade eu já sabia, mas obrigado pela confirmação.
— Garoto, eu não sei mais o que faço com você.
Apesar de todos os pensamentos negativos sobre o que aconteceria no jantar, tudo havia ocorrido bem, até mesmo quando a tia de Junmyeon perguntou se eles já sentiam algo mesmo quando ainda eram professor e aluno, e os dois gaguejaram mais que deveriam antes de responder. Ou quando Hyunjae e Eunjin, os primos de Junmyeon, chegaram perto de Jongdae, depois do jantar, e perguntaram se eles dois iriam se casar — eles tinham cinco anos, e aparentemente tinham descoberto o que significava casamento.
Jongdae se limitou a rir enquanto Junmyeon afastava os dois curiosos dele, dizendo para ignorarem o que a mãe disse e irem brincar com os cachorros lá fora.
Eles se encararam por alguns segundos e então se abraçaram, ignorando a conversa que rolava na sala.
— Quero te mostrar um lugar. — Sussurrou no ouvido do namorado, que sorriu e balançou a cabeça.
Iria para todos os lugares que Junmyeon quisesse lhe mostrar.
As mãos foram entrelaçadas com carinho e Jongdae o seguiu pelas escadas da casa, indo para sabe-se lá onde. Mas se Junmyeon estava querendo mostrar, provavelmente seria algo especial.
Quando chegaram no primeiro andar, Jongdae pôde ver a enorme varanda enquanto passavam, por algum motivo achara que era esse o lugar que seria levado, mas como continuaram andando, não falou nada. Mas onde eles foram parecia ser tão legal quanto.
O quarto de Junmyeon era grande, mas parecia um tanto… normal, desde as paredes brancos até os móveis combinando nos tons pastéis. A única evidência de que era realmente o quarto dele eram as prateleiras com alguns livros e as iniciais de Junmyeon sobre eles.
— Você queria realmente me mostrar um lugar ou era só desculpa para me trazer até o seu quarto?
— Talvez as duas coisas — acompanhou a brincadeira do menor, se aproximando dele e o abraçando pela cintura. Beijar Jongdae era uma coisa que Junmyeon jamais cansaria de fazer, e sabia disso disso desde a primeira vez que havia o beijado.
E não era a única coisa que ele não cansaria tão fácil. Desde os momentos mais íntimos dos dois até quando Jongdae começava a falar sem parar, mesmo quando os dois estavam na cama, eram momentos que apreciaria para sempre. Ou — como Junmyeon costumava dizer desde que Jongdae mencionara o fato de que "felizes para sempre" era algo inacreditável demais — até onde durasse o para sempre dos dois. Esperavam que fosse por um longo tempo.
— Mas eu realmente quero te mostrar um lugar.
— Você é mestre em cortar o clima, não é?
Junmyeon riu. O clima realmente havia ficado bom com os beijos e as mãos bobas, mas ele não pensava naquela interrupção como algo a cortar o clima. Muito pelo contrário, chegava até a ser romântico de certa forma.
No quarto de Junmyeon também tinha uma varanda e no cantinho dela, uma escada encostada, grande o suficiente para chegar até o teto da casa. Ele explicou a Jongdae que pediu para os pais colocarem a escada ali, enquanto o ajudava a subir, mas não responder quando foi questionado do motivo.
Junmyeon morou ali até começar a faculdade, quando se mudou para o apartamento que mora atualmente. Mas o tanto que morou naquele lugar era mais do que suficiente para um garoto curioso como ele descobrir todos os lugares que as pessoas normalmente não descobririam. Como por exemplo o quão bom era ficar no teto daquela casa enorme.
Costumava ir ali durante todo o seu ensino médio, era o local perfeito para se desligar do mundo quando não queria sair de casa para fazer isso. Gostava de ler ali também durante o fim da tarde, e quando ficava escuro demais para continuar lendo, era bom ficar vendo o céu, as estrelas brilhando sobre ele.
Fora esse último motivo que o fez pensar que seria um lugar incrível da casa para mostrar para Jongdae. Todo aquele papo do ano anterior, os bilhetes com poemas sobre estrelas e planetas, as conversas e piadas internas dos dois… o teto da casa poderia até não parecer algo legal para outras pessoas, mas parecia perfeito para eles.
— O que achou? — Perguntou com um sorriso. Jongdae ficava lindo demais sob a luz da lua e com aquela expressão admirada no rosto.
Agora que estavam ali, Junmyeon realmente achava que deveria ter se preparado melhor para aquilo. Talvez se trouxesse algo para colocar no chão, para que eles pudessem sentar ali, junto com mais algumas coisas. Poderiam ter feito daquilo um piquenique romântico, apesar de terem acabado de jantar. Mas espantou os pensamentos. Aquelas pequenas coisas que faltavam não tornavam o momento menos especial.
— É… lindo. — Jongdae sussurrou e virou para o outro Kim, as mãos dos dois agora estavam juntas. — Por que me trouxe aqui?
— Achei que podia trazer uma estrela para ver outras estrelas.
Jongdae riu.
— E eu achei que era impossível isso aqui — apontou para Junmyeon e em seguida para si mesmo — ficar mais brega. Mas eu gostei.
E Junmyeon o beijou novamente.
As mãos de Jongdae subiram carinhosamente sobre os braços dele, até que ele estava abraçando Junmyeon, sem separar aquele beijo calmo que partilhavam. Igualmente carinhosas, as mãos de Junmyeon acariciavam a cintura fininha que seguravam.
O que sentiam um pelo outro era mais que amor. Era admiração, orgulho das coisas que faziam. Era paixão, coração batendo forte quando estavam perto e vontade de não se separar nunca. Era algo especial aquilo que sentiam um pelo outro. Nenhum dos dois se arrependia de nada.
Esperar antes de começar alguma coisa foi a escolha certa a se fazer. Ser paciente apesar da curiosidade de saber quem era o "admirador secreto" foi a coisa certa a se fazer. Ambos fizeram o possível para aquilo acontecer. Fariam tudo o que estava ao alcance deles para fazer durar também.
Foi Jongdae quem afastou o beijo, apesar de manter a pouca distância entre os dois. Eles se olharam por um momento, podiam ter sido segundos ou minutos, não sabiam dizer. O tempo parecia parar quando estavam juntos.
— Quer ligar para os seus pais e dizer que vai passar a noite aqui comigo? — Pelo tom usado, ambos sabiam que fariam mais que apenas passar a noite.
Ficar debaixo dos lençóis, juntinhos, era outra coisa que amavam sobre aquele relacionamento. Mesmo quando estavam suados e ofegantes por causa do que fizeram momentos antes, era confortável demais ficar daquele jeito.
E o Jongdae ficava lindo demais naquela iluminação fraca. Ainda tinha aquela cara de inocente, a que Junmyeon estava acostumado desde que começara a dar aulas a ele no ano anterior, mas os cílios balançando conforme piscava lentamente, o rosto levemente corado lhe davam uma expressão quase angelical. Jongdae era lindo, e era seu.
Eles se abraçaram mais uma vez, cansados. Era possível ver que Junmyeon estava quase dormindo. Não devia ser novidade. Era sábado, mas ele havia ficado boa parte do dia corrigindo trabalhos para poder ficar com o domingo livre.
Jongdae acariciou os cabelos de Junmyeon, que tinha a cabeça deitada sobre seu peito, e deixou um beijo na testa dele quando o viu adormecer ali.
— Eu te amo, Saturno. Até onde durar o nosso para sempre.
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