Yoonoh observa atentamente o irmão brincar diante da lareira. Ainda que seus olhos estivessem focados na criança arrastando o carrinho de bombeiros sobre o carpete, sua mente viaja galáxias distantes do local. A excitação da noite passada ainda presente e a vontade de gritar ao mundo sua felicidade arranha a garganta. Caminhou até o quarto de sua mãe, empurrou a porta de vidro cuidadosamente permitindo uma fresta de luz cortar a escuridão do cômodo.
— Mãe — chamou baixinho, adentrando na escuridão cortante. Sentou no cantinho da cama, pôs-se a acariciar os fios de cabelo da mulher.
— Oi, amor — disse ela, girando o corpo para encontrar o primogênito em meio ao breu.
— Você está bem? Estou pensando em ir a casa do Doyoung, mas se não estiver se sentindo bem, posso ficar com o Chenle — explicou.
— Não, meu amor — segurou a mão do filho e a trouxe aos lábios. — Eu vou levantar, quero ler um pouco e não se preocupe comigo. Só dormi mais um pouco devido o remédio da pressão. Estou melhor! Vá!
Yoonoh sorriu com resposta e deixou o quarto. Vestiu sua jaqueta com os olhos grandes do mais novo especulando cada movimento seu. Sua mãe saiu do quarto e a atenção do menor voltou-se a mulher de meia idade. Ele correu aos braços dela, acomodaram-se juntos no sofá e adolescente acenou para ambos.
Ele fechou a porta atrás de si, permitiu-se suspirar profundamente. O clima estava relativamente frio, a casa de seu amigo fica há bons quarteirões dali e andar é o que precisa. Yoonoh nunca reclamou da vida que levou, mesmo quando não possuíam condições de luxo. Agradecia a uma boa divindade por ter permitido conseguir dinheiro o suficiente para cuidar de sua mãe e uma casa apropriada para seu irmão. Estava feliz, satisfeito e grato por tudo.
No entanto, havia sempre dias como aquele. Dias em que nada parecia satisfatório, dias em que o peso de seu amadurecimento precoce parecia demais para seus ombros, que as responsabilidades impostas eram difíceis e pareciam um obstáculo. Naqueles dias, desejava sumir do mapa. Faria, se não preocupasse tanto sua mãe. Dias em que sua mãe e seu irmão pareciam um atraso em sua vida. Odiava aquele sentimento de impotência e a vontade descomunal de culpar qualquer um que lhe tomasse a vista.
Por isso, caminhava de cabeça baixa em passos lentos. Equilibrava o corpo no meio fio, desviava das pessoas vindo em sua direção. Seu coração estava uma bela de uma bagunça, feliz por estar onde chegou e confuso por sentir que deveria estar lá sozinho.
Estava próximo ao seu destino. Tudo que menos queria, naquele momento, era atenção. Removeu o celular do bolso e abriu o chat de mensagens do amigo. Pedia que este lhe esperasse na porta de casa. A família Kim sempre o tratou bem, mesmo quando a diferença de classes era evidente. Gostava da senhora da casa e ela cuidava de si como um filho, mas naquele dia, queria se trancar no quarto do amigo e ser ignorado por ele. Precisava de um lugar seguro para ficar, sem ninguém para lhe fazer perguntas e um ombro amigo quando decidisse falar.
Entrou no prédio e sorriu para o porteiro.
— Senhor Jung, preciso avisar ao senhor Kim que está aqui? — perguntou o homem de uniforme atrás do balcão.
— Não precisa! — balançou o celular em direção ao homem. — Eu já avisei, muito obrigado!
— Vocês jovens e seus celulares ainda vão me fazer perder o emprego — brincou.
Yoonoh entrou no elevador e deixou um aceno para o porteiro. Gostava do homem, mas naquele dia ele parecia insuportavelmente feliz. Encostou-se na parede gelada de ferro do elevador e apertou o número do andar alheio. Vasculhou o celular em busca de algo que lhe interessasse, mas tudo parecia desconexo. As pessoas no Instagram que comentavam em suas fotos, as fotos felizes, os comentários e atualizações eram ambíguos.
— Você está me seguindo? — a voz pouco familiar alcançou seus ouvidos. Estava tão imerso em seus pensamentos que esqueceu de checar o elevador. Levantou o olhar em direção ao homem alto, deslizando as mãos para dentro do bolsa da jaqueta onde deixou o celular.
— Não, acho que você está me seguindo! — respondeu calmo, ignorando a agitação em seu estômago.
Johnny estava ali na sua frente, o olhar alheio era indecifrável. Uma mistura de felicidade e confusão, não parecia esperar vê-lo e não estava desapontado com isto. A situação constrangedora e os pensamentos do Jung o fizeram corar bruscamente. Se perguntava porque alguém ficaria feliz em vê-lo.
— Nos vimos há três agora e, que surpresa! — Johnny comentou.
Jung o analisou.
Ele não trajava mais as roupas estilosas de cedo, vestia um calção e uma camisa larga. Os cabelos estavam bagunçados e parcialmente molhados, como se tivesse acabado de deixar o chuveiro. Engoliu seco. Mesmo daquela forma, achava-o incrivelmente belo.
— Coincidência?! — sorriu.
Johnny o observou curioso. As covinha pequenas nas bochechas rosadas eram a coisa mais adorável que já tinha presenciado. Gostaria de estar com a câmera para gravar aquele momento para sempre. Poderia fazer uma exposição completa com fotos daquela parte do corpo alheio. Uma verdadeira obra de arte que precisava ser exposta.
— Talvez! — Johnny sorriu de volta. — O que faz aqui?
— Eu vim visitar um amigo. Você mora por aqui? — Questionou confuso. Há anos visita o amigo no mesmo local, mas nunca o viu pelas redondezas e encontrar a mesma pessoa várias vezes ao dia parecia uma tremenda coincidência.
— Mais ou menos! Voltei de Chicago a pouco, estou ficando por aqui. Onde está o Chenle?
Yoonoh balançou a cabeça mostrando compreensão e antes de responder, as portas do elevador se abriram. Doyoung o esperava ali na frente, batia o pé freneticamente contra o chão de madeira.
— Achei que não ia mais aparecer! — comentou, desviando sua atenção ao vizinho de andar.
Ambos se cumprimentaram, mas não havia vontade naquilo. Era, puramente, um empurrão da educação. Doyoung não permitiu o amigo despedir-se, puxou-o pelo braço até a porta do apartamento e o colocou dentro. Yoonoh sempre ficava surpreso com a simplicidade do local e as cores aconchegantes que pintam os móveis da casa. Doyoung o levou direto para o quarto, fechou a porta atrás de si e jogou-se na cadeira de rodinhas.
— Yoon, eu acho que estou apaixonado — o rapaz ouviu o amigo atentamente, mas não era uma grande surpresa para si. Doyoung apaixona-se até pelo vento, só basta um afago em seus cabelos.
— É? Por quem? — falou indiferente enquanto removia os sapatos e se aconchega na cama alheia. O quarto de Doyoung tinha cheiro de chiclete, perfume de frutas vermelhas e os tons pastéis prevaleciam na arrumação. Adorava o verde da parede, o creme dos lençóis e o cheiro doce. Talvez por isso gostasse tanto dali.
— O nome dele é Taeyong, está fazendo intercâmbio no Japão e estudava na nossa escola. Por que eu nunca o vi lá? — Doyoung questionava mais a si mesmo do que ao amigo. Yoonoh agradecia por isso, estava cansado demais para buscar uma resposta. No entanto, conhecia Taeyong. Trabalharam juntos em um trabalho de artes, era um rapaz de boa índole e possuía uma ótima comunicação. — Você quer que eu te ignore, não é? — Doyoung suspirou e saiu da cadeira, fechou a tela do notebook e escorreu para dentro do lençol.
— Quero! — Yoonoh respondeu pensativo e afundou o rosto no travesseiro. Doyoung nada respondeu, encostou seu corpo na cabeceira da cama e deu início a uma série de afagos pelos cabelos castanhos e a bochecha amassada pro travesseiro.
— Mas antes — parou o carinho — que conversa foi aquela com Seo Johnny, Jung Yoonoh? — falou de maneira autoritária.
— Não foi nada.
— Nada? Ele te olhava como se você fosse a coisa mais bela do mundo — Doyoung confidenciou baixinho e suas palavras causaram a vermelhidão no rosto do amigo.
— Impossível, ninguém acharia isso! — respondeu, afundando a cabeça no travesseiro.
— Não sei porque diz essas coisas, você é tão belo.
Yoonoh não respondeu o amigo, adormeceu em meio ao estômago embrulhado, o rosto avermelhado e um sorriso suspeito em seus lábios.
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