Mais uma vez, não sabia o que dizer por mais uma brincadeira que Serene havia feito comigo. Não vou mentir, óbvio que gosto disso, ao mesmo tempo que odeio ficar sem reação alguma e não conseguir tomar algum controle da situação, respondendo na mesma moeda.
Zero havia sido o primeiro a ir embora, deixando Serene, Aura e o seu irmão — e eu, Kaito, o Greninja que está narrando esse capítulo — sozinhos pelo mercado com uma fila gigante pra ser encarada.
A última coisa que peguei por aqui, foi um pacote de copos descartáveis e talheres de plástico. Mas pelo caminho até lá, passei por uma parte de frigoríficos, os balcões com telas de vidro continham diversas carnes de pokémon expostas, tais como: Peito de Combusken, caudas de Slowpoke, Magikarps fresquinhos, espetinho de Tauros, filé de Fearow e diversas outras coisas.
Para quem era vegetariano, no balcão ao lado continha os bulbos de Bulbasaur a mostra na vidraça, ao lado de um pote de Smoliv, sementes de Sunflora, Applin frescos, torta de pumpkaboo, ervas sus de Sprigatito, etc.
Isso é bizarro e assustador, ao mesmo tempo que é normal em nosso mundo, sem comida não conseguimos viver, afinal. Os donos dizem que os responsáveis pelos alimentos dão consentimento. Ao mesmo tempo que estou "okay" com isso, uma voz diz que isso é mentira.
Nunca falei com alguém que deu a tal permissão pra doar uma parte ou o seu corpo se caso morrer no futuro. Já tiveram diversos casos criminais envolvendo a morte de pokémons por conta da fome insaciável e, de suas mentalidades irracionais, seja vegano ou não. E por alguma razão, o dono de levar essas carnes/alimentos, sempre está no meio dos casos.
Isso... É bizarro. As vezes me pego desprevinido, devaneando que a lingua dos Greninjas é usada para fazer chiclete e eu gosto de mascá-los.
Saí dali o mais rápido possível assim que comecei a sentir o cheiro da carne em minhas narinas, voltando a ficar ao lado de Serene, lhe entrego um gentil sorriso. O irmãozinho de Aura me olhava com curiosidade, e confesso que ele tá começando a me deixar ansioso quanto mais ele me encara.
— Sabia que você é um dos pokémons preferidos?
— Oh, sério? — Fiquei surpreso com sua fala, e o vi acenar com a cabeça positivamente.
— O jeito que os Greninjas sabem usar a língua é tão legal! — Seus olhinhos brilharam — Vocês sentem o gosto da pessoa quando usam a língua nela??
— Acho que... Sim. Isso é meio nojento, mas okay — Vi o pequeno soltar uma risadinha e logo acenou para mim, correndo para o lado de sua irmã mais velha.
— EU QUERO IR EMBORAAAAAA — Ouvi a Lucario fazendo drama na fila de espera para pagar as coisas, atraindo um bando de olhares estranhos para nós três. Que vergonha…
— Para de enjôo, chatolina — Serene respondia com o cenho franzido. Diferente de mim, ela pareceu esquecer do ocorrido minutos atrás.
— Enjôo o cacete. Olha essa fila, Serene!!
— Não é tão grande assim.
— Seu cu.
— Não, o seu.
— O seu.
— O seu!
A discussão que as duas estavam tendo em seguida me tiraram algumas risadas baixas. Faz tempo que não me apegava assim com alguém, principalmente Serene. Mesmo que eu não fale muito durante suas conversas ali e aqui, me sinto... Em casa.
Por eu ser criado sem nenhum ato que demonstrasse afeto ou carinho, Serene foi uma das primeiras que foi tão legal ao ponto de me conquistar com um mero sorriso — okay, não exagera na gadice, Kaito, ainda tenho juízo!
Não tenho muito contato com Aura, porém percebi que ela pode ser uma boa amiga que pode-se contar, o foda é o pavio curto. Tá, eu ainda não esqueci da cagada que ela fez com o "meu" pobre violoncelo, e confesso que eu tenho um pouco de medo quando ela explode com o Den e taca tudo qualquer coisa na frente dele, mas ela é legal também, além de querer ir igualmente para aquela academia que me chamou a atenção. Acho que tornariamos uma boa dupla se…
— Kai, kai, kaaaaaiiii — A Braixen me cutucava.
— O-Oi? Disse algo?
— Depois sou eu que estou no mundo da lua — Ouvi ela rir, e logo me entregar um sorriso brincalhão — Perguntei se depois que tomarmos o sorvete, quer andar por aí com a gente.
— Eu adoraria.
Ficamos mais um tempo naquela fila gigantesca. Quando pagamos nossas coisas, caminhamos até o parque de Hau'Oli. Pelo clima trazer um possível clima chuvoso por conta de suas nuvens, não tinham muitas pessoas por ali, trazendo um clima agradável. Faz tempo que não vejo alguma chuva, e sinto que é capaz de durar a noite toda.
Aura se sentou em um banquinho com Luke no colo, abriu o sorvete e as embalagens dos copos com colheres, e entregou uma boa porção para cada um de nós.
A língua em volta de meu pescoço se desenrolou, para eu poder tomar o sorvete, óbvio. Mas assim que eu estava prestes a levar a primeira colherada de encontro com a minha boca, os olhares perplexos de Aura e Serene me fizeram ficar estático na hora.
— Que foi?? — Vi as duas se entreolharem e rirem baixo.
— A gente nunca viu seu rosto verdadeiro por causa da sua língua — A Braixen baixinha respondia.
— É mó estranho ver um Greninja assim. Tô acostumada com a linguona em volta do pescoço mesmo — Aura dizia. Seu irmãozinho mais novo começou a lhe cutucar repentinamente, chamando sua atenção — O que foi, Luke?
— Me treina no campo??
Aura ficou pensativa por alguns instantes, dando um olhar para mim e Serene, como se tivesse perguntando se estava tudo bem em aceitar aquilo e deixar nós dois sozinhos. Serene esboça um sorriso como resposta.
— Claro! Seu pamonha ambulante — O pequeno abanou sua cauda de maneira frenética e animada, dando um abraço em sua cintura e saindo consigo pelo campo.
A cena de ambos sorrindo de maneira doce um ao outro, se empurrando de forma brincalhona e saindo pelo campo rindo, me lembram de algo que, odeio me aprofundar.
Não, eu não tenho uma irmã ou um irmão para querer proteger ou ser protegido, tampouco uma mãe para me dar carinho ou um pai para me ensinar as coisas, ou até mesmo uma família. Já devem ter compreendido o ponto que quis chegar.
Ver Serene dizendo em voz alta o quão odeia e não se importa com a possível morte de seu pai, atiça minha curiosidade. Ela tinha e conheceu o que eu não tive, deveria ter ficado feliz e… É errado eu dizer se caso ele for um fodido, era melhor ele ter morrido mesmo? E se eu perguntar para ela a coisa que ela tem com ele? Será que eu...
Não, é cedo demais.
Enfim, o orfanato que vivi até os dias de hoje não era tão ruim, mas também não quer dizer que ele seja as mil maravilhas do mundo. O orfanato de Cerulean, localizado em Kanto, era popular por conta da música que passeava de um lado ao outro, e se não fosse meu amor por ela, não sei se eu ainda estaria aqui.
A Partir do momento na infância naquele lugar que, um Quaquaval, o qual eu apreciava por conta de seu talento, pairou sua asa na cabeça de um certo Froakie, olhou nos seus olhos e anunciou para nunca desistir de seus sonhos, foi o que aprofundou meu amor pela música...
O motivo para estar aqui não foi exatamente pelo café, foi por pura coincidência quando recebi uma panfletada na cara de uma Lucario doida saindo correndo. Estou aqui para... Ser o aluno do...
— Alôô? — A mão de Serene balançando diversas vezes na minha visão me acordou para a realidade — Segunda vez no mundo da lua! — Riu.
— Desculpa — Ri igualmente, porém meio envergonhado.
— No que estava pensando?
— Me lembrando de... Coisas — Olhei rapidamente para Aura e Luke. A cena do Riolu tentando dar uma pirueta na grama quase me fez rir. Que tipo de ataque era aquele? Um rollout? — Você não sabe nenhum ataque de combate?
— Saber eu sei. Mas usá-los contra alguém, depende — Dizia pensativa, como se tivesse passando um flashback em sua cabeça de quando foi que ela os usou — Não sou fã de batalhas. Eu fiquei ansiosa na sua batalha contra o Victor, aquele Honchkrow doido — Dizia entre risadas — Fiquei com medo de você se machucar...
Achei uma brecha para poder pegar em sua pata.
— Estava preocupada comigo? Que fofo, Sere — Vi seus olhos arregalarem um mínimo, e suas bochechas ganharem uma tonalidade vermelha.
— É claro que me preocupei, bobo! — A maneira que ela havia batido sua pata no chão, franzido o cenho e inflando as bochechas havia sido, de certa forma, adorável... Por que ela é tão fofa!? Por que ela é tão... C-Calma Kaito, se concentra aí — Mas no que exatamente você estava lembrando? Se não for um incomodo, é claro.
— Não é — Pensei no que dizer — Eu só... Não sei o que dizer. Me sinto feliz que tenho amigos agora.
— Você não tinha antes? — Balancei com a cabeça, de forma negativa — Sinto muito por isso, Kaito... Eu sei como é — Vi suas orelhas baixarem. Mas logo, ela havia agarrado minhas duas mãos e esboçado um sorriso — Mas agora você tem. Você pode sempre contar comigo! Acho que já disse isso antes com os dinheiros, hehe — Ri em um tom baixo.
— Obrigado, Sere... Pode ter certeza que serei o primeiro a estender minha mão para você. Já perdi a conta de tanta coisa mínima que você fez para me ajudar.
— Ah, quê isso — Respondeu sem jeito, ainda permanecendo com seu sorriso.
De repente, levei minhas ambas mãos até seus pêlos felpudo abaixo de suas orelhas. Sempre fiquei curioso em saber como é a textura dessas coisas, e uau! São fofas como seda, quentes e tão macias. Serene parecia estar gostando da região ser alisada, como um breve cafuné.
Ao mesmo tempo, minhas mãos foram levadas até as laterais de suas orelhas pontudas, e assim que apertei de maneira leve, a Braixen havia soltado um pequeno som fofo e surpreso.
— O que foi? — Perguntei.
— N-Não é nada — A maneira que ela pronunciou e, a tonalidade rosa em suas bochechas, deixou a situação sus — Continue.
Dando de ombros, continuei com o breve carinho na região de sua cabeça. Serene fica adorável com a expressão que está agora, não sei descrever ao certo, mas é uma que gosto. Vi sua cauda abanar de maneira animada, chamando minha atenção para tocar ali agora.
Como eu imaginava, era macia igualmente. E quente. Por alguma razão desconhecida, quanto mais eu acariciava tal local, a face de Serene se tornava mais vermelha. Faltava pouco para eu abrir minha boca e perguntar se ela estava com febre.
Do nada, um grande flash foi jogado em nossa direção.
— KAKAKAKKAKAKAKKA!! — Era a Aura, ela tinha tirado uma foto. Os pelos de Serene se arrepiaram e ela gritou surpresa — Sua tarada! No parque mesmo? Quer que eu leve vocês até o motel não??
— AURA, APAGA ISSO!! — Ela corria atrás da Lucario, tentando tomar seu celular. Eu não entendi o por quê de tanta algazarra.
— Gente, era só um carinho — Falei, e Aura me olhou rindo.
— Kaito, você não é um mamífero para saber isso, mas-
— XIIIIIUUUU!!! — Serene tentou calar a boca de sua amiga com suas patas, mas foi em vão. A baixinha estava mais vermelha que um tomate.
— Luke, tampa as orelhas por um momento — O irmão mais novo faz, sem entender igual eu, tampando suas orelhas com as próprias patas. A Lucario caminha em minha direção, com um sorriso suspeito em seus lábios. E eu não estou gostando do que está por vir — Sabia que dá tesão se as orelhas forem acariciadas demais por outras pessoas?~
— AURA!!!! — Serene gritou mais vermelha que tudo.
E novamente, eu estava estático, sem saber o que quiser ou raciocinar o que carambolas eu estava fazendo segundos atrás. Era por isso que Serene estava com vergonha e... G-Gostando...
— Você é um safadão, Kaito! — A fala de Aura me fez envergonhar.
— N-Não sou não! Eu não sabia disso!
— É sim — Continuou — Tô ligada que essa língua aí serve pra mais coisa que batalha, viu.
Ah, agora o mundo acabou pra mim.
— N-Não sei do que está falando...
Aura apenas ria mais e mais, deixando eu e Serene mais envergonhados. Eu realmente não sabia desse fato, afinal, sou um anfíbio… Não imaginava que as fanfics que eu lia estavam certas nesse tipo de coisa. Por quê Serene deixou? Por quê ela estava... Gostando? EU ESTAVA GOSTANDO TAMBÉM, CARA!!
A cada dia que se passa, essa Braixen me surpreende.
Troca de pov • Aura
Um bom tempo depois...
A chuva finalmente veio à tona. Embora estivesse de tarde, as nuvens impediam o sol de iluminar lá embaixo e... Foda-se. Não vou perder meu tempo citando a poha de um poema pra falar que tá de noite e chovendo.
Meu domingo foi bem divertido, zoar o safadão do Kaito e a tarada da Serene foram uma das melhores partes — perdendo só pra dedada no cu do Zero. Sinto que uma hora ou outra, esses dois vão ficar juntos. Senão, estou vendo ser obrigada a virar uma cupido para atirar uma flecha na fuça desses dois para se comerem logo.
Eu e Luke caminhávamos pelas ruas naquele tororó até a casa da Avila, íamos esperar o Zero com seu Corviknight até o ponto de ônibus ali da esquina. Acho que ele mudou os planos de voarmos no pássaro, tá chovendo pra um caralho, e não estou afim de ficar mais molhada ainda.
Diferente de mim, resolvi colocar uma roupa de chuva no Riolu, a qual era composta por uma capa com capuz e um par de galochas, ambas da cor amarelo. Eu só estava com um guarda-chuva — que não tá ajudando muito por conta de um pequeno buraco — e um par de botas pretas.
E cara, já faz tanto tempo que não piso na casa da Avila. Quero dizer, eu costumava encostar meu focinho lá, e assim que ela sumiu da face da Terra, tudo que envolvia ela tinha morrido totalmente pra mim. Eu até esqueci o nome dos pais dela, deixa eu ver se eu lembro… Hmmm… Ah! Julio e Maria, dois Dittos de uma cor diferente do outro. Eles são tão doces e gentis, me pergunto o quão difícil deve ter sido durante o sumiço da filha deles…
A Zoroark vive em um pequeno condomínio bem mortinho, e assim que eu o avisto, bati algumas vezes em sua porta. Demorou alguns segundos para eu e Luke sermos atendidos pelo Ditto azulado, Julio, o pai da mesma.
— Oh, minha nossa. Seria essa mesmo que estou pensando? — Ele usava um pequeno óculos, e o ajeitou assim que me viu perante a si.
— Sim, senhor. Sou eu mesm- EEEK!! — Antes que eu pudesse terminar de citar minha frase, a imagem do Ditto azulado havia sido desfeita em uma grande fumaça purpurina. Levei um puta susto assim que vi a imagem de Avila pulando em cima de mim — V-Vivi!??
— Huehue! Te peguei~ — Saiu de cima de mim — Minhas ilusões são tão perfeitas — Grunhindo de raiva pelo pequeno susto, lhe dou um leve soco.
— Aonde estão seus pais?
— Dormindo. É bom não acordarmos eles, não imaginava que papai e mamãe iam envelhecer tanto enquanto eu estava fora… — Vi suas orelhas baixarem, acompanhadas por um leve tom de tristeza. Mas logo em seguida, ela balança a cabeça e esboça um radiante sorriso, ou assustador — Se vocês não se importam, e espero que não, pois eu vou comer seus cus: Eu vou levar a Sal!
— E onde está ela? — De repente, a pequena Zorua havia saltado em meu colo, proferindo um "Bo!" em uma tentativa de me assustar. Era a sallívha, pfff… A pequena usava uma capa de chuva de Psyduck shiny e quatro botas violetas em cada uma de suas patinhas — Uau, que medo — Ri, fazendo um carinho brusco na cabeça da pequena.
— Poxa, tia Aura — Bufou, e logo foi colocada no chão. Percebi seus olhinhos azuis serem levados de encontro aos de Luke, o qual se escondeu de forma tímida em minha trás — Oi!
— Oi… — Luke me olhou e sussurrou: — Ela vai ficar com o Wela também??
— Yep — Sorri. Pelo visto Wela vai ficar na cola de mais uma criança.
Avila havia trazido mais um guarda-chuva consigo, grande e suficiente para caber nós duas ali debaixo. Por Luke e Sallívha — não consigo falar esse nome normalmente, foi mal — estarem de capa e galochas, ambos não pensaram duas vezes em sair de perto de nós duas e irem brincar no meio das poças, se conhecendo e se divertindo entre si. Eu e Avila trocavamos diversos assuntos, seja eu falando de anime, uma coisa que eu já não falo a muito tempo com alguém, ou ela contando algumas histórias da viagem dela em Johto normalmente.
— Sério, aquele pássaro desgraçado me treinou duro. Mas agradeço ele — Avila dizia terminando. A história dela consistia nos ataques que aprendeu ao decorrer do tempo com uma aldeia de Xatus — E quais as novidades, gata? Muitas merdas ou muitas bençãos?
— Rolou bastante coisa — Cocei a nuca — É difícil começar pelo começo, mesmo sendo coisas bem simples.
— Ah, manda bala. Começa pelas ruins, não devem ser tão fodidas — Dizia rindo.
— Resumidamente: Tô com conta da casa pra pagar; A guarda do meu irmão tá em risco; Minha energia prestes a ser cortada; Tem um urso mafioso que foi pra puta que pariu querendo meu toba; Um tambor de mil e poucos pra pagar também; Fui iludida por um gostosão; E bla bla bla bla bla bla bla — Continuei falando por um bom tempo, até puxar um grande ar e esboçar um grande sorriso forçado — E é só isso.
— Esquece o que eu disse, cê não tá na merda, cê tá afundada no próprio chiqueiro — Avila dizia perplexa — Mas olha, eu tô aqui pra te ajudar com qualquer coisa.
— Obrigada mas-
— Fica quieta, puta! — Me cortou — Tô aqui pra te ajudar sim! Querendo ou não.
— Tudo bem, tudo bem — Respondi sorrindo, virando os olhos.
E de repente, ela me agarrou pela cintura, aproximando meu corpo com o dela. Estranhei na hora a situação, a olhando com a sobrancelha arqueada enquanto a mesma me entregava um sorriso brincalhão.
— Quê isso?
— Oras, você vai se molhar. É só brotheragem~
Rindo, eu a empurro para o lado. Ficamos em silêncio logo então, assim que chegamos em nosso ponto de espera. Luke ainda brincava com Sallívha pela chuva, rindo e correndo para lá e pra cá. Fico feliz que ele tenha conseguido se enturmar com ela, pois sinceramente, os vejo como versões minis de nós duas — só que menos piores.
Apenas o som da chuva e das galochas dos pequenos se chocando contra o chão eram possíveis de serem ouvidas. E a cada minuto que passava, mais a chuva se intensificava. Tomara que não chova no dia do evento musical, não tô nem um pouco afim de entrar totalmente no drama de Romeu e Julieta — Uhg, peça dramática do carai.
Luke e Sallívha tinham feito um barco de papel com um jornal velho arranjado lá em não sei aonde, e começaram a brincar com aquela coisa nas correntezas da chuva.
— Ei — Ouvi a Zoroark de pêlos púrpuras me chamando — Você acha que perdi tempo?
— Como assim?
Ela ficou em silêncio por alguns instantes, encarando o nada em sua frente. Suas orelhas foram aos poucos se abaixando, e um olhar tristonho tomou conta de sua face.
— Sinto que perdi tempo demais lá fora, e não aproveitei muito as coisas — Avila ficou literalmente seis anos longe da gente, óbvio que ela perdeu tempo demais — Papai e mamãe estão indo embora aos poucos. Eu já sabia que eles estavam velhinhos, mas... Você entende onde eu quero chegar. Odeio demonstrar fraqueza, isso é muito brocha, me irrita, irrita tanto — Seu olhar passou a se tornar irritado, franzindo o cenho e cruzando os braços.
Fico pensativa por alguns segundos, pensando no que dizer.
— Todo mundo tem fraquezas. Conviver e aprender com elas é bom. Seus pais vão embora uma hora ou outra, querendo ou não — Dessa vez, fui eu quem cruzei os braços. Eu dando conselhos sou uma merda, não me julguem — Mas enquanto esse dia não chega, é bom você aproveitar o máximo do tempo que sobrou. Uma certa Zorua me disse que ser um eevee com run away que só foge dos problemas, não é nem um pouco legal — Vi ela sorrir fraco.
— Essa certa Zorua era forte?
— Yep.
— Bonita?
— Uhum.
— Fodamente fodastica? — Vi ela posando, e seu sorriso se alargando.
— Autoestima de graça, huh?
Rimos juntas. Que bom que consegui ajudar ela pelo menos um pouco, me faz sentir útil em questão de ajudar alguém com palavras, pois na força já sei que tô garantida — não-desculpa se me acho forte.
— Maninha, maninha, maninha — Luke começou a me cutucar, fazendo-me o olhar imediatamente — É normal ter Mr. Mime em bueiros?
— Oxi, como assim?
— O barquinho da Sallívha caiu no bueiro e um Mr. Mime tomou dela — O Riolu apontou em direção a raposinha negra, a qual olhava curiosa para dentro do bueiro. E que merda é essa!? Tem um palhaço lá dentro mesmo. Por que sinto que isso é mais uma referência do lorde Arceus na minha vida? — Ele disse que só vai devolver se ela for amiga dele.
— AMIGA VAI SER ELE QUANDO CONHECER A MINHA PIKA!
— Avila você não-
Minha fala foi morrendo aos poucos quando vi a Zoroark simplesmente entrando na poha do bueiro pra pegar o Mr. Mime de pohada. Bati estupidamente na minha própria cara, Luke e Sallívha apenas riam, e as poucas pessoas que passavam pela rua estavam se perguntando por quê caralhos uma Zoroark entrou no bueiro...
Enfim, Avila odiando as fadas como sempre.
— Continua
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