[Rota 1/ 14 de Novembro/ 16h da Tarde]
—Corte Furioso.
—Revólver d’Água!
O Oshawott de Raiden abriu sua boca e disparou uma rajada de água contra o Farfetch’d de Galar de Leon. Balançando seu alho-poró, o Pato Selvagem cortou o ataque de seu adversário e no mesmo movimento o atingiu na cabeça. O Pokémon de Água foi para trás, balançou a cabeça, sentindo o golpe, mas logo se postou pronto para continuar o combate.
—Recue e ataque novamente.
—Corte Furioso outra vez.
O Pokémon Lontra-Marinha deu um salto mortal para trás e quando sua cabeça estava alinhada ao solo lançou seu segundo Revólver d’Água. O ataque foi cortado outra vez pelo alho-poró do Farfetch’d, que, dessa vez, atacou de cima para baixo. Em seguida, o Lutador acertou o peito do adversário. Oshawott caiu rolando e não se levantou.
Calado, Raiden encarou seu Pokémon.
Ela já havia perdido a conta.
Era a décima derrota seguida contra Leon?
Não.
Dez era um número muito pequeno.
Trinta derrotas?
Parecia mais plausível.
De todos os novatos presentes no Trem do Amor, Raiden foi aquele que alcançou o maior número de vitórias. O maior elo. Ouro II. Após tanto batalhar contra Leon, tal classificação não conseguiu se manter.
Oshawott mais uma vez estava caído. Se o nocaute fosse confirmado, Raiden estaria oficialmente no Bronze I. Entretanto, não era isso que o preocupava.
Raiden não conseguia vencer. Não importava o que tentasse. Seu Oshawott não conseguia superar o Farfetch'd de Galar. Não deveria ser tão difícil.
—Mantenha a cabeça no lugar, garoto. — Leon apontou para o Pokémon Lontra. — Ele ainda não desistiu.
Oshawott levantou-se. Com dificuldade, firmou os pés no chão, fitou seu adversário e, para a surpresa de ambos treinadores, o Lontra foi envolvido por um brilho branco. Uma evolução. No meio de uma batalha. Era a virada de Raiden. Dewott, o Pokémon Disciplina, o levaria até a vitória.
—Concha Navalha! — Dewott levou as mãos até as conchas presas em suas pernas e as puxou. Delas, surgiram lâminas de água. O Disciplina cruzou as navalhas criadas pelas conchas, formando um ‘’X’’ à frente de seu rosto e avançou.
Farfetch’d tentou se defender, colocando o alho-poró entre ele e seu adversário. Porém, as lâminas concha de Dewott o cortaram no meio e o próximo destino de ambas foi o Pato Selvagem. Que foi jogado para trás, soltando sua arma de combate e permanecendo no chão.
—Foi um belo movimento. — Leon bateu palmas. — O estilo que Dewott assumem para lutar, realmente me encanta. Me deixa com ainda mais vontade de lutar! Vamos, Farfetch’d, levante-se e lute! Corte Furioso!
O Pato Selvagem voltou ao combate em um pulo. Correu até as duas metades de seu alho-poró e atacou com eles, imitando os movimentos de Dewott. Sua proficiência em combate o fez capaz de reproduzir o movimento e atingir o Disciplina. Que manteve-se em pé, apenas cambaleando dois passos para trás.
Dewott estava muito mais forte, porém, em um piscar de olhos, seu adversário também ficou.
O Pato Selvagem tinha agora uma penugem alva, brilhante. Seu olhar não era mais raivoso. Era altivo, heróico e penetrante. Sua arma também havia mudado, uma das metades do alho-poró tornou-se um talho afiado e o outro pedaço virou uma grande folha.
—Um cavaleiro contra um samurai! — Os olhos do Campeão de Galar vibraram como brasas. — Agora eu estou em chamas! DÊ O SEU MELHOR, RAIDEN!!
—Concha Navalha!
—Sirfetch’d, Lâmina de Folha!
Após tantos embates, o Disciplina, estava confiante de que conseguiria acertar seu adversário, afinal de contas, havia sido assim até então. Porém, Sirfetch’d era um pouco mais rápido que sua versão predecessora. Não era muito, mas era o suficiente para surpreender Dewott. O Pokémon de Água estava com suas duas lâminas prontas para brandir contra seu adversário, até que viu, repentinamente, o escudo de folha do Pato Selvagem se aproximando de sua cabeça.
Dewott lançou seu corpo inteiro para trás em um salto e desviou da pancada que viria do escudo.
Sirfetch’d viu esse movimento do adversário como uma brecha para atingi-lo, desceu seu alho-poró com tudo.
O Disciplina novamente postou suas armas em forma de ‘’X’’, porém, diferente da primeira vez, seu objetivo era defensivo. A espada do Pato Selvagem foi parada na exata interseção das lâminas de água.
Por um instante, houve um impasse. Os dois Pokémon apenas se encararam. Dewott foi aquele que agiu para desfazer o entrave. Soltou uma das conhcas e deu um passo para trás. Enquanto a concha ia ao chão, a lâmina de água criada a partir dela se desfez. Estando mais leve, por causa da arma a menos em mãos, o Disciplina conseguiu lidar com maior facilidade aos três golpes de espada que o Pato Selvagem tentou acertar logo após a soltura da concha. Um quarto ataque viria, porém Dewott encontrou uma brecha e deu uma estocada. Sirfetch’d precisou erguer o escudo para bloquear o golpe e ficou exposto aos ataques do Pokémon de Água.
A concha caída no chão foi pega por Dewott. No mesmo instante, a lâmina de água se formou e o Disciplina atacou, buscando acertar seu adversário por debaixo do escudo. Não conseguiu. Sirfetch’d desviou o ataque com seu alho-poró. Batendo ele contra a lâmina criada pela concha.
Dewott tinha um plano ‘’B’’. Sempre era preciso ter um. Sabendo que seu primeiro ataque havia sido bloqueado, o Pokémon de Raiden atacou com sua segunda arma. Deu um giro rápido, mirando no flanco do Pato Selvagem que estava desguarnecido. O lado direito. Ele havia acabado de golpear com a espada defensivamente. Dewott estava confiante que seria um acerto, entretanto Sirfetch’d era rápido. Como um Lutador, seus reflexos eram apurados. Ao ver o perigoso ataque do adversário se formando, o Pato Selvagem lançou seu escudo contra o Disciplina. A grande folha acertou a cabeça do Dewott que caiu para trás. Ele não teve tempo para respirar, pois em seguida precisou rolar para o lado, para se livrar de uma espadada. Depois se ergueu em um salto e recuou três passos. Sirfetch’d não o acompanhou dessa vez.
O Pato Selvagem respirou fundo.
O Disciplina respirou fundo.
Leon e Raiden Shirai fizeram o mesmo.
Era uma batalha tensa.
Dewott ergueu sua guarda. Ele levantou verticalmente, por cima do ombro, a lâmina que estava em sua mão direita. A concha na mão esquerda foi posta na horizontal, à frente do pescoço.
—Nito Seiho Jodan. — falou Leon, com um sorriso no rosto. — Como os grandes samurais de Sinnoh.
—Eu e Dewott adorávamos ver apresentações de kendo quando ele ainda era um Oshawott. — disse Raiden, orgulhoso. — Ele conseguiu absorver bem o que viu.
Sirfetch’d estendeu para a frente, quase que completamente, o braço com o qual segurava o escudo de folha e postou a espada sobre o ombro.
—Técnica de espada e broquel de Galar. — falou Raiden, com um sorriso no rosto. — Será um mergulho por baixo ou uma costura?
—Verá em breve.
Os dois Pokémon se encararam e passaram a dar passos em círculos, esperando uma brecha aparecer. Era possível sentir a tensão no ar.
O Pato Selvagem agiu. Brandiu sua espada, visando as pernas do Disciplina. Por estar com a guarda alta, Dewott não reagiu tão rápido quanto gostaria. Ele desceu a lâmina que estava posta na horizontal e aparou o alho-poró. Sirfetch’d esperava por isso e ao mesmo tempo atacou com seu escudo de folha. O Pokémon de Raiden tentou bloquear com sua lâmina de concha, mas a força do Pokémon Lutador era maior do que a sua.
O broquel do Pato Selvagem acertou o meio do rosto de Dewott, isso atordoou o Disciplina que não teve chance alguma de desviar do ataque que veio em sequência.
Sirfetch’d subiu a espada que havia sido aparada e atingiu o Disciplina no queixo, a força do golpe jogou o Pokémon de Água para trás. Ele rolou alguns metros após cair no chão e não se levantou.
—Dewott está fora de combate, Sirfetch’d é vencedor. Leon vence a batalha.
—Foi uma bela luta. — falou Leon.
Mesmo após a evolução, o resultado fora o mesmo. Raiden Shirai perdeu mais uma vez para Leon.
—Levarei Dewott até um Centro Pokémon, na volta, vamos lutar mais uma vez. — disse Raiden, levando seu Pokémon de volta a Pokébola.
—Não vamos, não.
—Como é?
—Sem mais lutas por hoje, garoto.
—Eu tenho que ficar mais forte. Você é o maior de todos os tempos. Batalhe contra mim mais uma vez.
—Olha, garoto. Entendo os motivos de você ser assim tão impetuoso. — Raiden ergueu a sobrancelha, desconfiado de tal certeza. — Sendo o homem mais influente de Galar há décadas, não é difícil descobrir coisas. Então acredite, eu consigo entender toda essa sua vontade de ficar mais forte, porém, dessa maneira que você está tentando fazer isso, não chegará a lugar algum.
—Então como eu fico mais forte sem lutar? Só olhando? Não faz sentido.
—Ah, pode apostar que faz sentido. — Leon pôs as mãos na cintura. — Em breve eu lhe explicarei melhor sobre tudo isso. Por agora, quero que tire o resto do dia de hoje e amanhã, para descansar.
—Não tenho tempo para descansar.
—Sim, você tem. — Leon deu as costas a Raiden. — Pense bem sobre as coisas que te falei. A gente se encontra novamente depois de amanhã. Esteja preparado.
[Rota 2/ 15 de Novembro/ 3h da Madrugada]
Raiden não conseguiu dormir.
As palavras de Leon o fizeram pensar sobre muitas coisas, mas, principalmente, reacenderam memórias que o deixaram desperto durante a noite inteira.
Anos antes do Campeonato Mundial
—O que você está fazendo? — indagou Raiden.
—Nós vamos batalhar! — respondeu uma menininha de seis anos. Um Oshawott estava em seus braços. — E vamos vencer!
—É… Pode até ser, Raihime, mas cê sabe que esse Oshawott é meu, né?
—Um Pokémon do irmão, também é da irmã. — falou a garotinha.
—Não é bem assim que funciona, não.
—Então vai ter que tirar ele de mim.
Raihime se preparou para sair correndo, porém seu irmão já estava esperando tal atitude. Ele a segurou pela parte de trás da gola e ela não conseguia dar uma passo sequer à frente.
—Pensei que você ia sair correndo. — Raiden zombou e sua irmã passou a bater os pés no chão. — Não consegue, né?
—Deixa eu lutar! Eu quero lutar! — Como sempre acontecia, Raihime começou a fazer birra.
—Um dia você vai lutar. Um dia vai encontrar um Pokémon pra ser seu companheiro. Todo mundo encontra.
—Eu quero lutar agora!
—Sem pressa, Raihime. Você ainda é muito nova.
—E quando eu vou poder?
—Quando tiver minha idade, talvez.
—Mas você não luta.
—É porque eu não quero, mas com a minha idade já é normal.
—Hunf… — Raihime virou o rosto, com as bochechas infladas. — Você não luta porque perdeu.
—Isso não tem nada a ver. — A voz de Raiden saiu mais alta do que estava antes. Mostrando claramente que sua irmã está certa.
—Então ganhe de algum Pokémon. — A pequena girou a cabeça, olhando todo o parque e viu um Pokémon. — Aquele Pidgey. Vai lá.
—Sério? Um Pidgey? — Raiden empinou o nariz. — Eu sou muito melhor que um Pidgey selvagem.
—Tá com medo?
Raiden, naquele dia, se arrependeu de ter cedido à provocação de sua irmã. Ele era o mais velho. Devia ser equilibrado. Porém, não aceitou ser zombado. Junto de seu Oshawott, ele estufou o peito e foi enfrentar o Pokémon Pequeno Pássaro. Raiden nem deu para o cheiro. Foi humilhado pelo Pokémon selvagem e, ao voltar para a casa, teve que ouvir as zombarias sem pausa de sua irmã. E, chegando em casa, nada mudou. Foi então que Raiden resolveu assistir a lutas de samurais de Sinnoh. Sozinho, ele estava aprendendo pouco, quando Oshawott e Raihime se juntaram a ele, o aprendizado veio e em pouco tempo Raiden já estava conseguindo derrotar alguns treinadores.
Raiden estava prestes a iniciar sua jornada, junto de Raihime, entretanto, sem mais nem menos, ela precisou ser hospitalizada.
[Rota 3/ 16 de Novembro/ 10h da Manhã]
—Bom dia, garoto. — Leon cumprimentou Raiden após uma longa espreguiçada seguida de um bocejo.
—Dia. — respondeu Raiden. As lembranças que inundaram seu dia anterior, destruíram o resto de bom humor que o restava.
—Dormiu bem?
—Não.
—Bom… Eu dormi bem. Eu disse para você se preparar, se preparou?
—Estou sempre preparado. — Raiden bufou, impaciente. — Seja lá o que você planejou, vamos logo com isso. Não tenho todo o tempo do mundo.
—Certo, certo. — O Campeão de Galar bocejou mais uma vez. — Faça um bolo. Mais especificamente um Battenberg Cake.
—O quê?
—Battenberg Cake. Especialidade de Galar.
—Você tá de palhaçada? Simplesmente se recusou a lutar comigo, me mandou descansar e agora vem com essa palhaçada de fazer bolo?
—Bolo não. Battenberg Cake.
—Não fode.
—Olha a boca.
—Olha a boca, o caralho! Não fode! Eu não tenho tempo a perder com essas palhaçadas! Eu tenho que me tornar um dos 24 Desafiantes agora. AGORA!!! Se não quiser lutar contra mim, foda-se, vou encontrar alguém que vai aceitar o desafio.
—Sem paciência, você não chegará a lugar algum, Raiden.
—Não tenho tempo para ter paciência! Você não tem a menor ideia do que estou tentando fazer aqui!
—Garoto… — Leon pôs a mão no ombro do jovem. — Eu já lhe disse. Eu sei. O nome dela é Raihime, certo? Sua irmã. Eu sei, garoto. Eu sei. E peço para que confie em mim. Vai dar tudo certo e vou conseguir transformar você em um dos 24 Desafiantes. Confie em mim.
—Como?
—Esse é um questionamento muito amplo frente a tudo que acabei de falar.
Raiden não disse nada de imediato. Ficou em silêncio. Encarando o Campeão de Galar. Ele parecia estar falando muito sério.
—Por que eu tenho que fazer um bolo? — O jovem indagou. — Aliás, nem sei fazer um bolo e nem sei o que é esse tal de Battenberg Cake.
—Essa é a graça. Você tem até amanhã para me apresentar um Battenberg Cake pronto. Não vale comprar pronto e nem pesquisar na internet como faz.
—E como eu vou descobrir a receita desse jeito?
—Me surpreenda. — Assim como no outro dia, com um sorriso no rosto, Leon deu às costas a Raiden e fez menção de sair, porém virou-se. — Esqueci disso. — Ele entregou um cartão na mão do garoto. — Claro que eu não ia obrigar você a gastar o seu próprio dinheiro nisso.
. . .
Ouvir o nome de sua irmã fez Raiden não pensar direito no que Leon havia pedido a ele.
Fazer um bolo, essa era a missão dada pelo Campeão de Galar.
Qual era o sentido disso? Por que? No que isso iria ajudar? Raiden gostaria de ter perguntado essas coisas a Leon, entretanto sabia que não receberia uma boa resposta. Seria lacunoso, como nas outras vezes. Sabendo disso, Raiden tomou seu rumo. O qual ele não tinha certeza.
Seu primeiro pensamento, foi o mais óbvio, achar alguma confeitaria. Ainda não sabia como conseguiria a receita e ao procurar uma confeitaria pela Rota 1, não encontrou nada. Por causa disso, se dirigiu até um posto de informações e pegou um mapa para si. Passou alguns minutos o estudando, focado nas Rotas 1, 2 e 3. Os caminhos até Viktor. Para a infelicidade de Raiden, não havia confeitaria nenhuma nessas três rotas. Ele teria que fazer uma aposta, ir até os restaurantes e torcer para que em algum deles, Battenberg Cake fosse a especialidade da casa. Não estava nenhum pouco confiante nessa aposta, mas era a única alternativa na qual havia pensado.
[Rota 3/ 16 de Novembro/ 14h da Tarde]
Depois de quatro horas de procura, Raiden desistiu de ficar pulando de um restaurante para o outro. Já havia passado da hora de seu almoço, então ele parou em um dos restaurantes e se serviu no buffet livre. No dia anterior, ele não almoçara nem jantara, por isso nem percebeu quando levantou-se para encher o prato pela quarta vez.
—O senhor gostaria de uma sobremesa? — perguntou o garçom depois de Raiden terminar sua refeição O jovem pensou em se servir mais uma vez, mas sentiu que seria exagero.
—Faz parte do buffet?
—É… Na verdade, não.
—Hm… — Raiden olhou para o garçom, ele já estava com o menu em mãos. — Deixa eu ver isso. — Assim que pôs os olhos na sessão de sobremesas, deu um sobressalto. Lá estava ele. O Battenberg Cake. — E-e… — A surpresa deixou Raiden sem palavras.
—O… O senhor escolheu algo?
—Esse aqui… Quem fez?
—Battenberg Cake?
—Sim.
—Infelizmente, nós não estamos servindo essa sobremesa hoje. Estamos sem os ingredientes dela.
—Isso não importa. Quero falar com quem faz esse prato. Preciso da receita.
—É, senhor… Eu não sei se é exatamente assim que as coisas funcionam.
—Estou indo na cozinha!
—Você não pode!
Raiden deu uma trombada no garçom e correu na direção da cozinha. Desviou de outros garçons que passavam e saltou sobre algumas mesas vazias. O garçom que o perseguia não era tão ágil quanto o jovem. Raiden estava a um passo de chegar na cozinha, quando uma dupla de seguranças do tamanho de armários surgiram em sua frente e o ergueram pelo braço. Sem dizer uma palavra, a dupla de brutamontes jogou Raiden para fora do restaurante. O jovem se recompôs rapidamente, pronto para tentar sua invasão à cozinha uma segunda vez. Os seguranças continuavam à sua frente.
—Ei, garoto… — O garçom que perseguiu Raiden apareceu do lado de fora do restaurante, esbaforido. — Eu vou te falar um negócio… Só porque você é um ótimo cliente… Vulgo, gastou bastante dinheiro. O cara que faz o tal Battenberg Cake, não está no restaurante hoje. Nós temos os ingredientes, mas só esse maluco sabe fazer. Ele tá no restaurante de Coroto, é bem perto do estádio grandão, se quiser ir até lá, vai conseguir a receita.
Raiden não respondeu ao garçom. Ficou em silêncio e saiu de perto do restaurante.
[Rota 1/ 16 de Novembro/ 16:45h da Tarde]
—Esses dias minha mulher veio com um papo de querer se mudar. Acredita numa coisa dessas? A gente vive no melhor bairro de classe média de Coroto. Minha mulher enlouqueceu… É complicado, garoto. Se for se casar, recomendo escolher muito bem a mulher.
Raiden se arrependeu de sua escolha.
Sem internet, só havia um lugar no qual ele poderia ir para encontrar a receita do Battenberg Cake. O restaurante no centro de Coroto. Se fosse a pé, levaria pouco mais de quatro dias para chegar, então contratou um motorista pelo PokUber. Eles estavam há pouco menos de duas horas de chegar até o destino. Raiden não estava suportando mais escutar a voz do motorista. Desde que entrara no carro, o jovem treinador não deixou de escutar a voz do homem por um segundo sequer. Raiden em momento algum falou algo em resposta às falas do motorista, mesmo assim, ele não parou.
—Ih… — disse o motorista. Ao mesmo tempo pôde ser escutado o barulho de algo falhando. Poucos segundos depois, o carro parou completamente. — Acabou a bateria…
—Tem um posto perto daqui, certo? — indagou Raiden.
—Tem. Uns trezentos metros à frente. Você podia ir até lá e pegar uma bateria nova, né? Ou, talvez, catar um dos Voltorb pra ele carregar a bateria.
Raiden suspirou derrotado e desceu do carro.
—Já volto, não saia daqui.
—Nem teria como.
O motorista deu de ombros e Raiden foi na direção do posto. Não encontrou ninguém no lugar, viu apenas as bombas de gasolina e grandes tomadas para carregar carros elétricos. Ainda assim, por maior que fossem os cabos dos carregadores, não chegariam até o carro do PokUber. Não havia bateria alguma para venda, nem carregadores portáteis. Em passos vagarosos, Raiden chegou até o local onde ficavam Voltorb de Hisui responsáveis por alimentar a recarga dos carros elétricos. Ele só precisaria de um. Os Pokémon ficavam soltos, não seria difícil pegar um deles e ir embora.
—Me dê cobertura. — disse Raiden ao Dewott que ele acabara de soltar.
O jovem puxou um dos Pokémon para si e correu para fora do posto.
Imediatamente um alarme soou.
Um grupo de meia dúzia de Machoke saiu de um posto de observação e correu para responder ao alarme.
—Acelera, Dewott. — Raiden cortou os trezentos metros que o separavam do carro em pouco mais de trinta segundos. Ao chegar na frente do motorista, ele estava esbaforido e não conseguia falar nada. Lhe restou apontar o Pokémon Elétrico para o homem. Ele entendeu o recado e pegou o Voltorb. — Vai logo com isso.
—Entra no carro. — disse o motorista, tomando o Voltorb de Hisui em seus braços. Raiden, exausto, lançou-se para dentro do carro e deitou no banco. Dewott fez o mesmo. Os dois não viram o que o motorista fez, porém ele entrou poucos segundos e lançou o Voltorb para o banco de trás. — Se segurem.
Após um movimento brusco para a frente que não tirou o carro do lugar, o motorista do PokUber acelerou, alcançando cem quilômetros por hora e saindo totalmente do alcance da trupe dos Machoke.
—Bom trabalho, garoto. — O motorista riu. — Já, já a gente chega.
[Cidade de Coroto/ 16 de Novembro/ 18h da Tarde]
Se antes Raiden estava arrependido de sua escolha, agora ele estava irritado. Frustrado. E, acima de tudo, decepcionado consigo mesmo. Ele fizera uma aposta. Ir até Coroto e torcer para encontrar o confeiteiro responsável por fazer o bolo pedido por Leon. O garoto não havia pensado muito sobre os desdobramentos de suas ações. Estava confiante de que daria certo. Chegou em Coroto, foi até a região ao redor do Estádio, procurou o restaurante, o encontrou, mas ele estava fechado. Era de se imaginar.
Percebendo que suas alternativas estavam praticamente acabadas, Raiden ficou sentado em uma praça, olhando para o céu nublado.
—Que merda. — ele falou. — E aí, a gente faz o que agora? Voltamos, né?
—Dewott!! — respondeu o Disciplina. Ele continuava positivo, apesar de tudo.
—Não sei, não. — Raiden suspirou. — Não vai adiantar nada ficar aqui. Não vou perseguir esse confeiteiro na casa dele.
—Voltorb!! — O recém-chegado Pokémon de Hisui, que acabou ficando com Raiden, estava tão animado quanto Dewott.
—Eu não estou desistindo. Só estou dizendo que aqui nada vamos conseguir. — Raiden levantou do banco no qual estava. — Vamos embora.
[Rota 3/ 16 de Novembro/ 23h da Noite]
—Olha só, o Invicto!
Raiden olhou para trás e surpreendeu-se ao ver Ash Ketchum, da Cidade de Pallet, acompanhado por Maria Antonieta.
—Que tal uma luta? — falou o Campeão do Torneio dos Oito Mestres.
—Eu adoraria. — Raiden suspirou. — Mas Leon me deu uma missão e até então não tive progresso nenhum nela.
—O que ele aprontou dessa vez?
—Eu tenho que fazer um bolo. Não posso usar a internet pra ver a receita nem nada assim. Pra piorar, nem sei porque estou fazendo.
—Eu tenho uma ideia do porque ele te mandou fazer isso. — Ash deu uma risada. — Se tiver como a gente te ajudar, dá um toque.
—Só se algum de vocês souber fazer um tal de Battenberg Cake.
—Eu sei como fazer. — disse Maria Antonieta, imediatamente. — É a sobremesa favorita do jovem mestre Phillip.
—Pois é… — Raiden ergueu as sobrancelhas e encarou a garota. Ele não havia compreendido em primeiro momento o que Maria havia dito. — Como é? Você sabe como fazer o bolo?
—Sim, eu sei. — Maria Antonieta bocejou e deu uma longa piscada. Mesmo sonolenta, ela mantinha a postura séria e serena de sempre.
—Pode me passar a receita e o modo de fazer?! — Raiden levantou em um salto do banco em que estava sentado e se aproximou de Maria.
—Claro.
—Me diga. — Raiden tirou seu celular do bolso e abriu o bloco de notas.
—100g de manteiga em temperatura ambiente, 100g de açúcar, 100g de farinha de trigo com fermento, 50g de farinha de amêndoa, meia colher de chá de fermento em pó, dois ovos médios… — Maria Antonieta bocejou outra vez e sua cabeça pendeu para a frente. — Uma colher de chá de essência de baunilha, três gotas de corante — a cor que for de sua preferência —, 250g de geleia de damasco, 225g de cobertura de marzipã pronta e açúcar de confeiteiro. Para a preparação você vai precisar de…
Maria Antonieta caiu para a frente. Zacian a segurou.
—Ainda não me acostumei com isso. — falou Ash, com um sorriso no rosto. — Ela dorme muito cedo… Já está muito tarde pra ela. Ao menos ela conseguiu te passar toda a receita. Amanhã vocês continuam com isso.
—Ah… Tudo bem. — Raiden pôs o celular na bolsa. — Espero que tenha algum mercado aberto.
—Tem. Nós passamos por um há pouco tempo. — Ash apontou para trás. — Boas compras.
[Rota 3/ 17 de Novembro/ 7:45 da Manhã]
—Bom dia. — Maria Antonieta cumprimentou Raiden, se curvando respeitosamente.
—B-bom dia. — Raiden fez o mesmo. A governanta dos Benedict estranhou a atitude, mas não a questionou. — Eu comprei tudo que você disse ontem.
—Ótimo. — Maria passou por Raiden e foi até a cozinha. — Vamos começar.
Raiden não havia marcado um horário com Maria Antonieta para a confecção do bolo. Percebeu isso enquanto passava os produtos no caixa do supermercado 24h que Ash o indicou. Também foi o Campeão de Alola o responsável por fazer Raiden e Maria se encontrarem.
Assim como dormia cedo, Maria Antonieta também acordava cedo. Como Ash a estava acompanhando na jornada até Viktor, ele acabou se ajustando ao horário da garota — Pikachu continuava acordando tarde. Ao ver que a governanta da Casa Benedict estava de pé, Ash mandou uma mensagem para Raiden. Ele conseguiu o número do garoto ligando para Leon. Que estava dormindo. Dessa forma, Raiden saiu logo da cama e foi até o quarto de hotel no qual Ash e Maria estavam hospedados.
—O forno deve ser pré-aquecido a 180 graus. — Maria Antonieta ligou o forno. — Enquanto isso vamos fazer o mise en place. O básico para cozinhar qualquer coisa é a organização. Uma cozinha bagunçada é uma comida bagunçada. Cozinhar é uma ciência, não uma arte, principalmente confeitaria, por isso, tudo precisa estar em seu devido lugar. — A garota pegou uma forma após colocar todos os ingredientes, organizados, sobre o balcão da cozinha. — Deve-se forrar a forma com papel-manteiga. O pedaço de papel manteiga deve ser seis centímetros mais longo que a forma. No centro, se faz uma dobra e o fundo da forma deve ser forrado. A dobra deve ficar alta e saliente, de modo a criar dois compartimentos.
Enquanto se mantinha atento ao que lhe era ensinado, Raiden anotava tudo, para não esquecer nenhum detalhe e não precisar nada para Maria Antonieta depois.
—Agora vamos preparar outra coisa. — Maria Antonieta puxou uma tigela de uma gaveta. — Nessa tigela colocamos a manteiga, o açúcar, a farinha de trigo, a farinha de amêndoa, o fermento, os ovos e a essência de baunilha. Essa mistura irá para a batedeira e retiramos quando ela estiver homogênea. É importante que a manteiga esteja bem macia para deixar a massa lisa.
Maria Antonieta pôs a mistura na batedeira. Dewott e Pikachu, que acompanhavam a confecção do bolo, taparam os ouvidos com as mãos. Zacian não tinha como fazer o mesmo e estava visivelmente incomodado, então Ash o ajudou tapando seus ouvidos.
—Metade da massa deve ser despejada em um dos lados da forma usando uma espátula. — falou a governanta dos Benedict após desligar a batedeira. — O corante azul vai na massa restante e se mistura novamente, para que a cor pegue. Agora, a parte que recém colorimos vai na metade vazia da forma. Nivele as duas massas com uma faca e tome cuidado em deixar a dobra de papel tão esticada quanto for possível. Feito isso, o bolo vai ao forno por trinta minutos. — Maria Antonieta colocou a forma no forno e sentou-se elegantemente no sofá.
—E então, Raiden, o que você e Leon andaram fazendo? — perguntou Ash, quebrando o silêncio.
—Bem… Nós lutamos no primeiro dia e depois ele falou desse bolo.
—Como foram as lutas?
—Para mim, péssimas. A gente lutou umas trinta vezes e perdi todas.
—É, você não é mais o Invicto. — Pikachu corria atrás de Dewott, que fazia de tudo para permanecer sério. — Acho que desde que venci dele, ele sempre quis acabar com a invencibilidade de alguém. Bom, se eu fosse o pessoal que está competindo contigo, eu ficaria preocupado. Depois da primeira derrota oficial, Leon virou um monstro. É loucura pensar que um treinador como ele conseguiu ficar ainda melhor.
—Então isso tudo é pra eu me tornar um treinador mais forte?
—Sim, com certeza.
—Fazer bolo?
—Sim — Ash riu. — Fazer bolo. Você vai entender.
Passou-se meia hora. Mais uma anotação foi feita por Raiden ao ver que Maria deixara o bolo esfriar na forma.
—Agora que o bolo está devidamente resfriado, deve-se tirá-lo da forma sobre uma grade de metal. Nós vamos dividir o bolo em quatro tiras de tamanhos iguais, antes de fazer isso, é importante aparar as pontas. Uma tira azul deve ser colocada ao lado de uma tira clara e fixaremos uma na outra com a geleia de damasco.
—Como se faz isso?
—Veja bem. — Primeiro, Maria Antonieta pegou a faca e separou o bolo nas quatro tiras e com um pincel culinário ela passou a geleia de damasco em dois pedaços de cores diferentes e os juntou. A destreza e precisão da governanta dos Benedict era digna de uma máquina. Não havia hesitação. Não havia um segundo de atraso. Não havia um centímetro de erro. Raiden estava impressionado e não conseguia esconder isso. — Entendeu?
—Sim.
—Continuemos, então. Fazemos o mesmo com as outras duas tiras. Agora nós colocamos um conjunto colado sobre o outro. As cores devem ficar cruzadas e mais geleia deve ser passada sobre o bolo. Estamos perto de acabar. Nesse momento, abrimos o marzipã em um retângulo um pouco maior do que o bolo, com cerca de 5mm de espessura. É possível também fazer o marzipã, caso tenha interesse. — Antes de continuar, Maria Antonieta jogou o saco no qual estava o marzipã no lixo. — Vire o bolo sobre o marzipã e passe a geleia nas laterais. Role o bolo sobre o marzipã com cuidado, até que ele esteja completamente coberto. Corte os excessos de marzipã e sele com água. Por último, certifique-se que a junta do marzipã fique virada para baixo e polvilhe a parte de cima com açúcar de confeiteiro. — Terminada a receita, a governanta dos Benedict aproximou o Battenberg Cake de Raiden. — Prove.
—Muito obrigado, Maria.
—É apenas o meu trabalho.
[Rota 3/ 18 de Novembro/ 16h da Tarde]
-Foi mal pelo atraso.
Maria Antonieta fez parecer fácil. Raiden não possuía nenhuma habilidade culinária, por isso quando tentou fazer o Battenberg Cake, falhou miseravelmente. Não só uma, nem duas, mas dezenas de vezes. Passou o dia inteiro tentando, mas não conseguiu. Os gastos no cartão de Leon não paravam de aumentar, até que, de repente, Raiden Shirai conseguiu fazer o Battenberg Cake. Sem perder tempo, correu até Leon e o entregou o bolo.
—Está uma maravilha. — disse o Campeão de Galar após mastigar o último pedaço do bolo. — Realmente incrível. Você leva jeito para isso, garoto.
—Eu fiquei o dia inteiro ontem tentando fazer. — Raiden suspirou. — Só consegui fazer dar certo hoje. Não acho que eu leve jeito para isso.
—A única forma de fazer algo certo na primeira tentativa é dando sorte. — Leon tomou um gole de chá. — Campeões não dão sorte, Raiden. Campeões fazem a sorte correr a favor deles após muito se esforçar. É assim que se vence. É assim que você conseguiu fazer um bolo delicioso.
—Era isso que você queria me ensinar?
—Como assim?
—Você me mandou fazer um bolo, ao invés de me treinar. Era pra me ensinar sobre esforço?
—Pior que não. — Leon cruzou as pernas. — O que você viveu para conseguir a receita? Como aprendeu a fazer o Battenberg Cake?
—Eu dei sorte. — disse Raiden e logo em seguida contou tudo que passou nos últimos dias. — Como eu disse, foi sorte.
—É, foi sorte. Mas acho que você aprendeu algo sim. Percebe que se você estivesse sozinho, nunca conseguiria nada disso?
—Sim, é verdade.
—É assim que esse mundo é, Raiden. Não somos nada sozinhos.
—Eu sei disso, por isso estou fazendo tudo isso por minha irmã.
—Isso você entendeu. Mas não muito bem. De que outra forma você poderia resolver a situação de sua irmã?
—Eu… — Raiden parou e repassou os últimos dias na mente. Do início até o fim da jornada atrás do Battenberg Cake, ele teve alguém o ajudando. Lembrou de todos os gastos feitos no cartão de Leon e olhou para o Campeão de Galar. — Você… Você pode ajudar ela?
—Agora você entendeu. — Leon se levantou. — Eu não sou um homem insensível, Raiden. No momento que descobri sobre sua irmã, fiz questão de ajudá-la. Ela já está sendo tratada. Pelos melhores médicos do mundo. Vai ficar tudo bem. — Incrédulo, lágrimas escaparam pelos olhos de Raiden. — Mas e então, você vai seguir nessa jornada, não é? Você vai ser o Campeão Mundial?
—S-s… — Raiden engasgou no próprio choro. Lembrou do quão empolgada sua irmã ficava com as batalhas Pokémon. Tal ânimo o contagiava, foi o que fez com que ele adentrasse nesse mundo. Ela ficaria bem. Poderia se tornar a treinadora que sempre quis muito em breve. Porém, ela precisava de uma referência, precisava de seu irmão. — Sim, eu vou ser o Campeão Mundial! Vou derrotar todos, começando por você!
—É mesmo? Vamos lá fora resolver isso.
. . .
—Concha Navalha!
—Lâmina de Folha.
Sirfetch’d mudou a sua guarda. Manteve o escudo colado ao corpo e a lâmina-alho-poró estendida.
Dewott também estava diferente. Ele segurava a base de uma de suas conchas com uma das mãos e a outra mantinha no cabo.
—Battoujutsu, hein? — comentou Leon.
—Estamos tentando coisas novas.
Diferente da primeira luta entre os dois, não houve muito tempo de espera antes do primeiro golpe. O Pokémon Disciplina, em um piscar de olhos, sacou sua Concha Navalha e no mesmo movimento buscou atingir seu adversário. Sirfetch’d ergueu o escudo, bloqueou o ataque e atacou logo em seguida, de cima para baixo, o alho-poró acertou a cabeça do Dewott, que caiu e não se levantou.
—Não disse que ia começar por mim, garoto?
—Disse. — Raiden sorriu, confiante. — Mas ganhar de primeira seria sorte. Campeões não dão sorte… Será que… Você pode me treinar?
—Mas é claro, garoto. Vamos com tudo.
That's why I, I'm undefeated
I, I, I know I can beat it
Won't (won't) give (give) up 'cause I believe it
Fight for the love of the game, unstoppable
That's why I, I'm undefeated (whoa, whoa)
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