[União Pokémon/ 20 de Novembro/ 16h da Tarde]
A coisa não estava boa para o Time Instinto. Perder para o Valor depois de um bom começo, foi um golpe que todos os integrantes da equipe sentiram, por mais que não transparecessem. Tal derrota recaiu na primeira partida contra o Time Místico. Houve muita hesitação. Muitos pensamentos, pouquíssimo instinto. Então, para a segunda partida contra o time que tinha tudo perfeitamente planejado e calculado, os membros do Instinto resolveram chacoalhar tudo, mudando seus Pokémon que iriam para o novo combate, com exceção de Phillip, que continuou com seu Gholdengo. Era irônico para o jovem Alexandrus que o dinheiro de sua família havia o ajudado em sua jornada Pokémon. Talvez, depois de tantos gastos, ele teria seu cartão bloqueado.
—Agora vai! — Hina Kaede bateu palmas para apoiar os Pokémon de seu time que corriam para as suas rotas. — Pra cima deles!!
Beldum flutuava junto de um Rotom-Heat, Pokémon de Toya, para a rota superior. Na selva, Rockruff atravessava as gramas altas, se preparando para emboscar os Pokémon selvagens. De volta a sua forma de Gimmighoul, o Pokémon Fantasma tinha a companhia de um Swinub. Era Ourea, o Mamoswine de Elijah.
O Time Místico, que teve sucesso em todos os planos para a primeira partida, continuou com a mesma formação. O Eevee de Krahe, destinado à escuridão, era a dupla do Rowlett de Diego, na rota inferior. No lado oposto do Estádio Ruínas Celestes, Fennekin e o lendário de Maria Antonieta trabalhavam em equipe para que o Pokémon Raposa evoluísse o mais rápido possível. Quem tinha o mesmo objetivo era o Charmander de Kishibe. Ele derrubava Pokémon selvagens, até que se encontrou com o Rockruff adversário. Os dois Pokémon se encararam. Colocaram-se em posição de combate, olharam para os lados, procuraram por ajuda, mas chegaram na mesma conclusão. Deram meia volta e escolheram não se enfrentar.
Por causa da falta de ação dos dois Pokémon que percorriam as selvas, a partida seguiu sem grandes embates até o surgimento dos Regi. Na rota superior, Regieleki espalhava suas teias elétricas e na parte de baixo, Regirock lançava pedras em qualquer um que se aproximasse.
Gimmighoul ainda não havia coletado o número ideal de Energias Aeos caídas para alcançar sua evolução. Com o Piloswine ao seu lado, eles não possuíam poder ofensivo o suficiente para enfrentar Zacian e Braixen pela captura do Regirock, sendo assim, a dupla do Time Instinto resolveu correr até a rota superior, porém, sua escolha repentina, e que eles pensaram que seria uma surpresa, já estava no radar do Time Místico. Umbreon saltou para fora de uma grama alta e com seu Olhar Maldoso manteve o Pokémon de Gelo incapaz de se mover. Zacian e Braixen, como mecanismos, se viraram na direção do adversário incapacitado e o derrotaram em um piscar de olhos.
Com Umbreon fora da rota superior, Metang e Rotom-Heat avançaram contra Dartix. Sem dar chance ao azar, o Pokémon Voador recuou até a área de seu gol e comeu algumas berries. Quem chegou ao resgate de seu aliado, foi Charizard. Com um soco de fogo ele jogou Metang para trás, que escolheu não comprar uma briga que perderia. Lycanroc Meia-Noite não deixou que qualquer desvantagem se criasse sobre seus aliados e somou-se a eles. Porém, para o Time Místico nada ocorria fora dos planos. Com Piloswine derrotado, Gimmighoul era completamente incapaz de enfrentar Zacian sozinho. Sem depender dos comandos de Maria Antonieta, o Pokémon lendário estava no ápice de sua performance. Tendo esse fato constatado, Umbreon e Braixen foram para a rota superior. Assim, a vantagem de números, essencial em qualquer combate, era do Time Místico. Que iniciaram uma luta metódica, precisa, que acabou em um piscar de olhos e então derrotaram o Regieleki em seguida.
[Arquibancada]
—Nossa, o Time Instinto tá tomando um pau. — falou Nemona. — VAI, DIEGO!! PEGA ELES DE PORRADA!! VAMO MÍSTICO!!
—Nemona, por favor… — Geeta suspirou e sorriu tranquilamente. — Seja mais elegante.
—Ah, foi mal. — A Campeã de Paldea tomou fôlego. — SEM CHUTAR O SACO DE NINGUÉM!! VAMO, DIEGO.
Geeta desistiu. Nemona talvez não tivesse conserto.
—Os processos do Time Místico não possuem falhas. Na primeira partida vieram com um plano perfeito, e agora eles se adaptaram com maestria ao que foi apresentado pelos adversários. — Analisou Cynthia. — Uma boa estratégia é tudo mesmo.
—Eu ainda acredito nos amarelinhos. — disse Wallace. — É, estratégica é importante mesmo, mas sabe, estamos falando de criaturas com emoções, sentimentos. Paixão! — O Artista da Chuva se levantou e levou a mão ao peito. — É esse fogo que arde dentro de nós que leva Pokémon às vitórias!
—Essa não é a descrição do Time Valor? — Cynthia questionou.
—É, mas estou falando do Time Instinto. — responde Wallace, se enrolando com as palavras. — Eu seria um dos amarelinhos, com certeza. Arte é instinto. Tem que sentir. Tem que amar!
—Senta. — Lance apertou os ombros do Amante da Água e o colocou sentado, de volta em seu lugar. Diantha, cuja visão estava sendo bloqueada pelo Campeão de Hoenn, sorriu, com delicadeza, para o Mestre dos Dragões, agradecida.
—Ai, ai, ai… — Wallace massageou os ombros. — Tá fortinho, hein?
—Sempre fui. — Lance cruzou os braços. — Sou um treinador de dragões, afinal de contas.
—Íris também. — comentou Diantha.
—Temos nossas diferenças — falou o Campeão de Kanto e Johto. — Mas tenho certeza que Íris ganharia de todos, menos de mim, em uma queda de braços. Dragões às vezes só são contidos no braço.
[Observatório]
—É, vocês vão perder feio. — disse Suzumiya, colada ao vidro do observatório.
—Garota, nem é o teu time lutando. — falou Johnn. — Vaza.
[Estádio Ruínas Celestes]
O controle do Time Místico continuava absoluto. Cada passo dado, por cada um dos Pokémon do Time Instinto já havia sido notado muitos segundos antes de ser executado. Quando a Altaria que ficava na clareira central da arena foi embora, levando consigo as Swablu que a acompanhavam, Charizard, Decidueye, Delphox, Umbreon e Zacian já estavam em suas posições, em posse do território central. Rayquaza surgiria em poucos segundos. Metagross, Rotom-Heat, Gholdengo e Lycanroc não tinham coragem de atravessar as gramas altas da região central. Não enxergavam nada, nem ninguém.
Quem tomou a frente foi Ourea, o Mamoswine de Elijah. Ele não titubeou. O Pokémon Presas Gêmeas lançou-se contra uma das gramas altas. Deparou-se com o Charizard de Kishibe. O Voador agiu de imediato. Agarrou Ourea pelas presas, o levou ao ar e em seguida jogou o adversário contra o chão. O Mamoswine levantou logo em seguida e, enquanto era vorazmente atingido pelas chamas do Pokémon de Fogo, seguiu em frente. Seus quatro companheiros, continuaram para trás, não sabiam onde os outros adversários estavam. Ourea sabia que devia continuar. Encontrou também o Umbreon de Krahe.
O Time Místico não esperava que alguém chegasse tão longe. Charizard devia ser capaz de parar quem tentasse invadir o território controlado. Fora assim no combate anterior. O Greninja de Elijah tentou dar o último golpe no Rayquaza, surgindo de surpresa, mas foi pego pelo Charizard e imediatamente derrotado. Ourea estava quebrando a estratégia dos Místicos. O problema causado pelo Mamoswine devia ser imediatamente resolvido.
Decidueye pôs uma flecha em seu arco. Marcou Ourea em sua mira. Respirou fundo. Esperou o momento. O Mamoswine movimentava-se com vigor. Era imprevisível. Seria difícil acertá-lo. Foi quando um tornado de fogo atingiu o Pokémon de Gelo, o fazendo girar, sem sair do lugar, que o Pokémon Fantasma atirou. A flecha atravessou Ourea, balançando seu espírito. Não foi o suficiente para impedi-lo.
Umbreon e Zacian se uniram. Com o Olhar Maldoso do Pokémon Sombrio, o Presas Gêmeas paralisou. O Pokémon Guerreiro brandiu sua espada, mas foi incapaz de completar seu golpe. Ourea o agarrou com as presas, o congelando e lançou Zacian contra uma das paredes. O Pokémon Fada mal conseguiu se levantar. Umbreon foi o próximo alvo, mas conseguiu desviar. Por um instante, todos do Time Místico paralisaram. Charizard, Decidueye, Delphox, Umbreon e Zacian, não entendiam o que estavam olhando. Ourea crescia sobre eles como uma montanha, cujo pico era invisível aos olhos. A força do Pokémon de Elijah era suficiente para impressionar, mas havia algo a mais. Muito mais. Havia disciplina. Resiliência. Resistência. Senso de dever. Ourea era maduro. Para Pokémon, diferente de humanos, talvez isso fosse ainda mais decisivo. O Mamoswine entendia seu lugar. Sua função. Entendia quem era. O que era. Os Pokémon do Time Místico sentiam-se olhando para um ser iluminado. O mais honrado de todos. Porém, não era nada disso. Ourea só se transformou graças a uma necessidade, em meio aos caos dos outros Pokémon de Elijah, ele é quem colocava os limites e aplicava as punições. Deixava na linha um Hydreigon e uma Mawile. Ele não era comum.
[Arquibancada]
—Esse Mamoswine… — Começou Lance, mas não terminou. As palavras que ele queria usar lhe fugiram da cabeça.
—Só um Mestre Pokémon poderia ter. — falou Diantha. — Foi nisso que pensou?
—Foi. — respondeu o Mestre de Dragões.
—Vocês até pensam nas mesmas coisas agora. Que amor. — falou Wallace, imediatamente recebendo uma pancada de Lance no topo da cabeça. — Ai, desarrumou meu cabelo. Calma, eu também concordo com vocês. Esse Mamoswine está em outro nível mesmo.
—Ele pode ser um problema para nós, não? — indagou Cynthia, olhando para Lance e Íris. — Eu nunca vi um Pokémon de Gelo tão forte assim antes.
—Meu Walrein joga volêi? — disse Wallace.
—Ele é forte. Eu mesma tenho uma Glaceon, mas… — Cynthia se complicou com o que via. — Sério, isso é loucura, esse Mamoswine é incrível.
[Observatório]
—Hm — O som saiu de Lane. — Ele é forte.
—Sim, muito forte. — Kishibe concordou.
—Ei, o que você deu pra esse Mamoswine? — indagou Diego à Elijah.
O ruivo respirou profundamente antes de responder.
Elijah era um rapaz tranquilo. Calmo. Pacifico. Odiava problemas. Odiava qualquer coisa que poderia lhe dar problemas e tirar seu sossego. O ruivo só queria ficar de boa. Apenas isso. Às vezes desejava ser uma simples nuvem. A função delas era simplória. Aparecer no céu, ir de um lado para o outro e nada mais. Porém, havia algo no íntimo de Elijah que quebrava essa lógica de extrema preguiça e pouco gasto de energia. Ele adorava Pokémon. Adorava treiná-los. Não o melhor treinador do mundo, longe disso, mas se divertia e tinha vontade de fazer melhor cada vez mais. Elijah não provocava ninguém, não contava vantagem, somente ficava em seu canto, porém, ao ver o quão impressionante estava sendo o desempenho de Ourea, ele pensou que deveria se soltar um pouquinho. Pelo menos uma vez. Seus pais não estavam perto para dizer que seria uma atitude inadequada e ele tinha certeza de que sua irmã aprovaria.
‘’É pelo Ourea, então vou me exibir um pouquinho’’ — pensou Elijah.
—Não sei… Ele sempre gostou bastante de comer grama. — O ruivo abriu um sorriso debochado. — Por que, acha que dei algo pra ele? Ourea parece normal. Sempre foi assim.
—Sempre? — Kishibe deu um salto para trás. — Como assim sempre? Não é possível.
—Não? — Elijah riu. — Parece que a nova incógnita que surgiu na equação de vocês exige uma fórmula para ser encontrada. E os frios e calculistas não sabem que fórmula é essa. Que pena. Já pensem na estratégia para o próximo combate. Esse já acabou.
Todos no observatório se calaram. Hina ficou de queixo caído e em seguida soltou um grito empolgado.
—Seria bom se vocês ajudassem. — falou Elijah aos seus companheiros. — Tipo, sério. Se a gente não ganhar agora vou parecer um puta idiota.
Hina imediatamente correu até o vidro.
—VAMO PRA CIMA, PESSOAL!! SEM MEDO, TIME INSTINTO.
[Estádio Ruínas Celestes]
Mamoswine pulou para a frente e cada um dos membros do Time Místico foram para um lado. Zacian foi o primeiro a se prontificar para um ataque, girou sua espada na boca, flexionou as patas e foi contra Ourea. Deu um pulo, girou a espada outra vez e, ao golpear, viu um brilho saindo de dentro de uma grama alta. Era Gholdengo, fazendo chover moedas de ouro, todas contra o Pokémon Fada. O forno elétrico possuído pelo Rotom de Toya esquentou, além do que poderia, e um poderoso curto-circuito explodiu para a frente. Os raios acertaram todos os adversários. Charizard caiu. Umbreon paralisou. Decidueye e Delphox foram pegos de raspão e se afastaram. Zacian foi nocauteado.
Os quatro Pokémon ainda em pé do Místico entenderam, na mesma hora. A derrota estava próxima. Ela ainda poderia ser evitada. Capturar o Rayquaza não era uma garantia. Recuando e se reorganizando eles poderiam evitar as pontuações. Estavam em vantagem. Ganhariam.
Decidueye guardou seu arco e abaixou as asas. Delphox pôs sua varinha na ponta do rabo e junto do Pokémon Fantasma correram para trás. Umbreon foi até eles para conceder cobertura, porém, o caminho estava trancado. Pedras flutuantes impediam os Pokémon de prosseguirem. Do outro lado das rochas ocultas apareceu o Lycanroc Meia-Noite de Johnn, ele exibia um gigantesco sorriso maligno e riu ao ver a situação de seus adversários. Ele não estava sozinho.
O Metagross de Hina apareceu. Escaneou rapidamente os Pokémon do Time Místico e lançou-se contra eles. Decidueye foi seu alvo primário, chegando nele, o Pokémon Psíquico socou o chão e uma barreira circular de pedras surgiu do chão, prendendo os quatro dentro dela. Delphox arregalou os olhos ao ver o Pernas de Ferro girando os braços metálicos. Não teve tempo de pegar a varinha. Ela e Decidueye foram nocauteados pelo golpe. Umbreon, que resistiu, viu o Pokémon Lobo se jogando contra ele tal qual um pedregulho que se desprende de uma falésia. O Luz da Lua acabou encontrando seus companheiros na base e, após outra descarga elétrica do Rotom-Heat, Charizard teve o mesmo destino. Uma vitória absoluta do Time Instinto.
Os cinco Pokémon se juntaram para derrotar o Rayquaza, Ourea, porém, desabou antes da conclusão. Foi apenas um susto. Ele já havia feito muito. Estava exausto. Seus companheiros terminaram o que haviam começado juntos e assim empataram a melhor de três.
[Arquibancada]
—Que foda! — gritou Leon. Isso fez Geeta olhar para o lado assustada, tinha certeza que tal reação viria de Nemona.
—QUE FODA!! — Não tardou a vir. A Campeã de Paldea se juntou ao ânimo do ex-invicto de Galar.
—Isso foi muito foda!! — Ash também.
—Eu vou falar pra Serena que tu fala palavrão. — disse Íris.
—Ela não vai gostar nada disso. — complementou Diantha. — Que coisa feia.
O Campeão de Alola engoliu em seco e sentou-se, em silêncio.
[Observatório]
Elijah olhou para o lado. Sabia o que viria.
Hina, Johnn e Toya gritaram juntos de empolgação.
—Vencemos!! — falou Hina.
—Tu me carregou! Valeu. — Johnn.
—Eu tenho que te pagar um refri depois. — E por fim, Toya.
—Sem empolgação, valeu? Temos que ganhar duas partidas, ou de nada vale. — Elijah jogou um balde de água fria sobre seus companheiros, que murcharam na mesma hora. Não gostou disso. Então resolveu reanimá-los. — Tudo bem que, duvido que eles vão conseguir entender Ourea no tempo entre as partidas. — Elijah sorriu confiante outra vez. — Cá entre nós, já vencemos.
Dito e feito. O Time Místico foi incapaz de aprender a lidar com Ourea em tão pouco tempo. A melhor de três era do Time Instinto.
Finalizadas as batalhas, Johnn se encontrou com Suzumiya.
—E aí, bocuda, alguma coisa pra falar?
—É, deixa eu pensar. — A garota colocou o indicador no queixo. — Meu time ganhou do teu de qualquer jeito. Se vocês ganharam do Místico, a gente também ganha.
—Duvido.
—Meu pau no teu ouvido.
—O quê?! — Embasbacado, Johnn ficou paralisado ao ver a garota saindo do observatório. — Mas o que é isso aqui?
Suzumiya Kendo era, sem espaço para dúvidas, extremamente petulante.
[União Pokémon/ 20 de Novembro/ 17:30h da Tarde]
—Com licença. — Maria Antonieta bateu três vezes na porta do quarto de Phillip. Ninguém atendeu. Então tentou outra vez. — Phillip Alexandrus da Casa Benedict, sou eu Maria Antonieta, tenho que lhe entregar algo.
—Er… Maria? — Phillip ficou confuso ao ver sua antiga governanta na porta de seu quarto. Era, de certa forma, traumatizante vê-la fazendo isso, o levava de volta para os dias na mansão de sua família. Gaia estava junto do jovem de cabelos dourados e também estranhou a presença da garota. — Tudo bem? Eu tava dando uma volta com Gaia.
—Claro. Perdão interromper. — Maria Antonieta tirou uma Pokébola de Luxo do bolso. — Isso é seu. — Era a Pokébola de Zacian, Phillip sabia disso. — Houve algum engano quando nossos Pokémon foram decididos. Você me derrotou, Zacian certamente lhe pertence. O Grande Mestre Pokémon da Casa Benedict é você, não eu.
—Eu queria muito acreditar que você está brincando, mas é impossível. — Phillip suspirou. Gaia estranhou ainda mais o rumo da conversa. — Não existe um mundo onde eu aceite o seu Pokémon, Maria. É impossível.
—Então a escolha estava certa? Perdão por duvidar, foi tolice minha. Eu sou apenas uma empreg…
—Não, não, nada disso. Esqueça isso, Maria. Não é por causa da escolha. É porque Zacian agora é seu Pokémon. Simples. Agora vocês estão juntos. Estavam juntos no trem, no túnel, no hotel em Coroto, no caminho até aqui, ele gosta de você. Não viu o quanto se esforçou no estádio? Foi por você. Não dá pra sair por aí oferecendo seus Pokémon pros outros, vai deixar eles tristes.
—Ele… Gosta de mim? — Maria encarou a Pokébola, sua expressão quase sempre robótica era agora uma leve confusão. — Como sabe disso?
—Maria, você não conhece nenhum golpe. Não sabe como comandar um Pokémon em batalha. Um Pokémon não precisa de um treinador para usar seus ataques. Eles já sabem fazer isso. É a natureza deles. Mas Zacian não usa os dele, pois ele acredita em você. Sabe que um dia será uma grande treinadora. Não faz sentido querer dar ele pra mim. — Phillip riu. — Eu nem sou um bom treinador. Meu Pokémon só evoluiu porque meus pais são ricos e esqueceram de bloquear meu cartão depois de me deserdarem. Eu desprezei Trubbish no começo e só agora comecei a dar valor à ele, mesmo assim, ele nunca me abandonou. Entende? Isso é gostar. Trubbish se apegou a mim, seja lá qual for o motivo dele, e Zacian se apegou com você. Não pode deixar ele pra trás, Maria.
A ex-governanta da Casa Benedict ficou calada. Em seu serviço, era recomendado falar apenas o necessário. Se não estivesse servindo seus mestres, ou respondendo uma pergunta feita por eles, não deveriam verbalizar nada. Era normal para Maria Antonieta não falar nada. Porém, ficar sem saber o que falar era outra história. Era uma novidade.
—É… — Phillip coçou a nuca. — Eu falei merda, né? Desc…
—Não. — Gaia quem disse. — Você falou muito bem. Estou impressionada, pra falar a verdade. Nunca pensei que um babaca mimado seria tão bom assim com palavras.
—Obrigado… Eu acho?
—Entendi, Phillip. — Maria Antonieta guardou a Pokébola. — Muito obrigada. Pedirei desculpas a Zacian depois. Só gostaria de corrigir uma coisa, não é o Zacian, é a Zacian. Ela é a irmã mais velha de Zamazenta.
—Ah… Eu não sabia.
—Tem outra coisa, Phillip, sinto que preciso dizer. Permita que eu seja sua serva apenas mais uma vez. Um último aviso.
Phillip revirou os olhos.
—Vá em frente. Última vez.
—Quando engajado em uma relação com uma garota, você deve adquirir preservativos. Assim, no momento, praticamente inevitável, da relação sexual, nenhum dos dois correrá risco. Preservativos não evitam apenas gravidez indesejada. Eles também servem para evitar a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, algumas que podem ser extremamente problemáticas, como por exemplo, a principal delas, a AIDS, causada pelo vírus HIV.
—Eu… Não entendi. — Phillip olhou para o seu lado e viu o rosto moreno de Gaia completamente vermelho. Então, o jovem da Casa Benedict entendeu a que Maria estava se referindo. — Não! Não, não, não! Maria, não tem nada… Não!!
—Você é um doente!! — Bufando e batendo os pés, Gaia saiu para a cantina.
—A gente só tava na maternidade Pokémon, ou sei lá o nome daquilo. Olhando o ovo do Gible dela... Ah, tanto faz... — Phillip abaixou a cabeça, derrotado. — Valeu, hein, Maria.
—Dispenso honrarias, jovem mestre Phillip. Lhe dar avisos importantes é apenas a minha obrigação como sua empregada particular. Perdão, ex-empregada particular.
[União Pokémon/ 20 de Novembro/ 18:30h da Tarde]
Depois do incidente à frente de seu quarto, Phillip foi incapaz de encontrar Gaia. Procurou em cada canto da União Pokémon, mas ela parecia ter evaporado. Por isso, ele foi até o salão de jogos, onde estavam seus companheiros de Time Instinto. Suzumiya também estava junto.
Hina estava junto de Toya em uma máquina de dança. A garota fazia os passos precisamente como uma bailarina, mesmo assim não pontuava alto. Toya, por sua vez, como um lunático, pisava sobre as setas de qualquer jeito, com toda a força do mundo, conseguindo mais que o dobro de pontos de sua dupla.
Elijah estava deitado em um divã, jogando em um videogame portátil um jogo de investigação policial. Quase sem mover os braços, ele pegava batatas fritas e jogava para dentro da boca.
Johnn e Suzumiya se enfrentavam em um jogo de luta. A garota de Kanto usava um monge que lançava fogo e esticava o próprio corpo, Johnn escolheu uma mulher loira, com uma cicatriz no rosto, que vestia uma jaqueta curta e usava calças coladas. Johnn claramente sabia o que estava fazendo. Suzumiya, por sua vez, movia o joystick e apertava os botões de qualquer jeito. O resultado era óbvio. Mais uma derrota da garota.
—Você é um viciado. — disse Suzumiya. — Já pensou em sair de casa? Pegar um sol, tocar na grama, falar com uma mulher, sei lá, qualquer coisa.
—Eu sempre saio de casa. A questão é que sou um super gênio dos games. Simples. E tu fica trocando de boneco toda hora, assim fica fácil.
—Eu tô testando pra ver qual mais gosto e não sou uma tarada igual você.
—Oxi, tirou essa da onde?
—Acha que não percebi que essa boneca vira a bunda pra tela sempre que ganha?
—Ah, pronto. É só o que me faltava.
—Tô errada? Escolhe outro boneco.
Johnn passou por cima de todos os personagens durante a seleção. Seus principais eram, uma mulher de cabelos negros, roupa azul, que tinha coxas muito grossas. A outra personagem tinha um pirulito e mostrava os pés. Por último, uma mulher de cabelos rosas-claros, supermodelo e campeã de judô.
—Ok, foda-se, eu admito. Eu só jogo com mulher. Pô, pensa comigo, porque eu vou escolher ficar olhando pra um homem, se posso olhar pra uma mulher? Tem sentido, não?
—Doente.
—Que isso… Elijah concordaria comigo.
—Não me envolve nisso. — O ruivo colocou uma dúzia de batatas na boca. Garantido assim o seu silêncio pelos próximos segundos.
—Phillip? — Johnn olhou esperançoso para o loiro.
—Ah, talvez… Não sei, nunca joguei videogame.
Johnn desistiu de argumentar ao seu favor, simplesmente escolheu o monstro verde elétrico e, acabou sendo derrotado por Suzumiya.
—Seu Pokémon foi incrível lá na arena. — falou Phillip, sentando junto de Elijah no divã. — Eu não sabia que você era um treinador tão bom.
—Não sou. — disse o ruivo após terminar uma mastigação. — Eu tive sorte com Ourea. Só isso.
—Sorte? Não consigo acreditar numa coisa dessas. Ele é tão forte, se você fosse um cara qualquer, nunca ficaria com você, certo? É por isso que meus Pokémon são, um saco de lixo, um ladrão de moedas e um Litleo medroso.
—Isso não tem nada a ver, cara. — Elijah pausou o jogo, arrumou sua postura, sentando-se, e ofereceu batatas fritas à Phillip. O loiro pegou uma e passou no ketchup. — Eu nunca ganhei nada e quando tive a chance… Acho que fiquei com medo. Medo de perder. Se você fosse meu Pokémon, ficaria puto ao me ver fugindo de uma luta desse jeito, né? — O loiro fez que sim com a cabeça. — Pois então, eu fiz isso. Mas todos continuam comigo. Eu não entendo o porquê. Não mereço nenhum de meus Pokémon.
—Talvez eles enxerguem algo que você não consegue enxergar. — disse Hina, desabando em um puff no meio do salão. — Tipo, nós estamos aqui pra virarmos Mestres Pokémon. Um de nós será o Campeão Mundial. Se nossos Pokémon não acreditam que somos capazes de alcançar esses patamares, então por quê estão conosco? Claro, existe amizade, e tudo mais, mas eles são Pokémon de batalha. Nós somos treinadores de batalha. Se não somos capazes de fazer nossos Pokémon alcançarem o nível máximo deles, não faz sentido que fiquem com a gente, né? Comigo mesmo foi assim. Eu sou uma treinadora bem meia-boca. É como me sinto. Avançar pelo Grande Festival foi muito difícil pra mim. Só consegui porque sabia que meus Pokémon acreditavam em mim. Gardevoir me olhava como se eu fosse uma deusa. Ela tava vendo algo que eu não via, e ainda não vejo. Se ela acredita em mim, então eu prefiro acreditar nela. Vim pra Sanvice provar a mim mesma que sou a Mestre que meus Pokémon enxergam.
—Uau, você falou bonito. — disse Suzumiya. Notando o erro de iniciar uma interação com Hina, tentou se esconder atrás de Johnn.
—Peraí… Não creio. — Hina levou as mãos à boca. — Você ganhou o Grande Festival de Kanto! Eu sabia que te conhecia.
Antes de ser enterrada nos braços de Hina, Suzumiya soltou um ‘’agora, fodeu.’’, que apenas Johnn escutou.
—Talvez seja o que Hina disse. — Phillip disse. — Meus Pokémon não parecem impressionantes. Mas são meus. Não posso desvalorizar eles. Se me escolheram, sabem que posso ser um grande Mestre. É isso, né?
—É, pode ser. — Elijah fez parecer que não se importava.
—Você não é bom nisso. — falou Johnn, de modo simplista. O ruivo levantou uma das sobrancelhas. — Esse lance de fingir que não liga. Sério, tu não é bom nisso. É um dos piores que já vi, na verdade.
—Não estou fingindo nada. Só não tenho energia nenhuma pra esse tipo de coisa. — Elijah pegou seu videogame de novo. — Eu sou um lixo de pessoa, cara. Não fique achando que sou grandes coisas só porque meu Pokémon carregou as batalhas. Já disse, é sorte.
—Você não ouviu nada do que Hina falou, né? — Johnn soltou uma leve risada depois da pergunta. — Eu sei que é difícil focar nos olhos de cima dela, mas foram coisas bem maneiras que ela disse. E fazem sentido. Eu também sou pouquíssima bosta como treinador. Participei de todas as ligas, menos Paldea, depois daqui vou pra lá. Enfim, participei de todas e nunca cheguei acima do décimo sexto lugar. Se você me visse em um filme, eu seria o figurante que apanha do protagonista. Eu tenho doze Pokémon, eles já me viram lutando mais de uma vez, já me viram perdendo mais de uma vez. Quando falei que viria aqui pra Sanvice, pro Campeonato Mundial, pros meus Pokémon, pensei que ia ser comido vivo por eles. ‘’Porra, de novo esse fodido vai levar a gente pra apanhar em uma liga.’’ Não vi nada disso. Vi ânimo. Muito ânimo. São doze Pokémon. Não é possível que todos estejam errados. Não é possível que todos sejam esquizofrênicos. Deve ter algo em mim que ainda não descobri. Tem que ter.
—Pessoal, entendo que podemos ter trajetórias parecidas, mas não somos iguais. — Elijah atuou um sorriso. — Sério, eu só tenho sorte. Meus Pokémon são fodas e, desde que eu não atrapalhe eles, nós vamos longe.
—Cara, acho que tem um caminho mais simples. — Toya se aproximou, mascando uma marshmallow. — Tu tem que começar a se amar. Sério. Tanta gente escrota no mundo, tu é bonitão, educado, sempre ajuda alguém, não incomoda ninguém, é adorado pelos Pokémon que tem. É impossível que seja um lixo como diz. Só se ama um pouco mais. Deve funcionar.
Elijah lembrou do que aconteceu nos dias que passou com Diantha e Lance. Aquilo estava se repetindo. Ele havia prometido aos seus Pokémon que não hesitaria outra vez. Ele estava hesitando. Queria evitar. Não queria ter que gastar tanta energia. Preguiça, a mais pura preguiça. Era difícil derrotá-la. Impossível, na verdade. Sozinho, Elijah estava prestes a cair para ela outra vez.
—Alguém me dá uma porrada. — implorou Elijah. Toya acertou sua barriga imediatamente com um soco. O ruivo sentiu as batatas voltando para a garganta. — Va… Valeu.
Com amigos ao seu lado, Elijah não seria capaz de recuar outra vez. Depois do que Ourea fez, sentia que seus companheiros confiavam nele. Não queria decepcioná-los, por isso, não poderia cair para a preguiça outra vez.
—Começar a me amar, né? — O ruivo ruminou as palavras simplórias, porém profundas, de Toya.
—Isso não é uma metáfora pra punheta. — disse Johnn. — Só pra ficar claro.
—Você não para de falar absurdos, né? — Johnn olhou para trás e viu Suzumiya o fuzilando com os olhos. — Que papo foi aquele sobre os olhos de baixo, hein?
—Ai, cara. — Mais rápido do que um raio, Johnn disparou pelos corredores da União Pokémon, com Suzumiya em sua cola.
—Já que me ajudaram — Elijah disse. — Tenho que fazer algo por vocês. Usando de minha experiência, vou ajudá-los com as meninas.
—Tô de boa, na real. — Toya voltou para a pista de dança.
—Eu não preciso dessa ajuda, não. — falou Phillip.
—Não? — Elijah achou mais graça na afirmação de Phillip do que deveria. O jovem Benedict realmente não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. — É, pequeno Phillip, temos muito o que conversar.
—Eu tô de olho, viu? — Avisou Hina. — Não vou deixar falarem nenhum absurdos sobre as outras meninas.
—Então, de você pode? — provocou Elijah.
—Ah, já tô acostumada, sabe? Sou linda, maravilhosa, gostosa, espetacular. Acabo chamando atenção, os faladores sempre falam, mas estão a anos-luz de chegar perto desse corpinho aqui.
—Tá vendo, Phillip? — Elijah virou-se para o loiro. — Mulheres são extremamentes convencidas. Lembre-se disso. Elas são elogiadas desde o dia do nascimento e acabam ficando assim. — Apontou para Hina. — Anotou?
—Isso é uma aula?
—Sim, é uma aula.
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