Taehyung sentiu uma grande parcela de sono — se é que ele ainda estava com sono — deixar seu corpo de imediato, como se houvesse recebido uma descarga elétrica. De fato, ouvir aquelas três palavras fora como levar um choque.
Mas, no fundo, ele sempre soube do sentimento recíproco entre os dois. Só não esperava presenciar Jungkook declarar-se tão abertamente.
Sorriu.
Não um sorriso qualquer; um sorriso digno de ser chamado de legítimo, e que desencadeou um semelhante no rosto do mais novo.
Levou a mão que repousava sobre o peito desnudo do Jungkook até a nuca dele, subindo os toques pelo cabelo escuro e sedoso. Divagou brevemente enquanto entretia-se com as mechas lisas. Gostava da textura dos fios, sempre macios.
Então, de repente, puxou-o agilmente em sua direção. O beijou.
Foi algo intenso e repentino, assim como haviam sido as palavras ditas por Jungkook.
Jungkook surpreendera-se de início mas, conforme os lábios de Taehyung procuravam pelos seus, se rendeu à carícia.
Apesar da afobação para dar início ao beijo, Taehyung não se via com pressa alguma. O ósculo foi relativamente calmo, com direito à uma risadinha de Taehyung ao que Jungkook mordiscou seu lábio inferior.
Jungkook resvalou a língua por entre os lábios convidativos do mais velho e este logo os entreabriu, permitindo-o deixar tudo mais intenso. As bocas não se separavam por muito tempo, desfrutando o máximo possível do beijo.
Ao encerrarem o ósculo, o Kim focou-se nas íris escuras que o fitavam em expectativa. Forçou seus olhos a não desviarem o olhar não importando se estava ou não corado.
Abriu a boca para responder à declaração, mas as palavras travaram em sua garganta o fazendo gaguejar.
Quem o visse decerto o acusaria de estar enrolando, mas, como deve ser não dizer um "eu te adoro", "gosto de você", quiçá um "eu te amo" por anos?
Nem para a própria mãe Taehyung costumava dizer a frase, e não havia outras pessoas com quem pudesse se abrir ou criar um laço tão forte.
Uma meia-lua sorridente formou-se em seus lábios.
Era justamente por isso que ele iria coresponder à declaração: porque Jungkook provou-se ser o único capaz de lhe permitir dizer e sentir algo tão importante.
— Eu também amo você, Jeon Jungkook.
O estado do mais novo dividia-se em duas partes distintas e controversas; exteriormente, apenas sorria; mas, por dentro, estava uma completa bagunça — no bom sentido.
Jungkook apertou os dígitos no quadril do mais velho, puxando-o para si.
O abraçou apertado, sentindo com mais intensidade o calor do corpo despido do Kim contra o seu e não querendo mais ter de soltá-lo.
Taehyung de fato não se importaria se Jungkook não o soltasse pelo restante da noite. Estava carente daquele abraço.
Deixou selares por todo o contorno do ombro do mais novo. Sem malícia, apenas... Bem, Taehyung não sabia mais como definir o que era aquilo exatamente, mas era bom.
Era acolhedor.
No início, pensava ser o único a precisar ser acolhido por alguém, devido à realidade quebrada que o cercava. Contudo, conforme aprendia mais sobre Jungkook e suas faces, percebia não ser o único a ansiar por um bom abraço.
Jungkook era tão sozinho.
Podia sentir na forma que ele lhe segurava.
Desde o primeiro dia que dormira com o mais novo, este demonstrara carinho para consigo. Sempre pensara que fora em razão do jeito de agir de Jungkook (não que estivesse de todo errado), mas, com o tempo, percebeu que era porque o Jeon queria ter alguém a quem tratar bem.
Talvez isso explicasse a rapidez com que se apegaram.
O mais velho afagou os cabelos de um negrume intenso; deslizou a mão pela curvatura da cintura de Jungkook até a altura dos quadris; desferiu selares pelo rosto do Jeon de forma aleatória; fez tudo o que tinha vontade e mais um pouco.
Tudo que lhe era negado por todos ele podia ter com Jungkook.
Naquele momento, vendo o modo como estavam, doía em seu peito lembrar-se de como eram quando afastados.
Respirou fundo. Não sabia ao certo como, mas cumpriria sua promessa de não tornar a se afastar.
Não deveria esconder mais nada de Jungkook. Não com toda a proximidade e confiança que haviam conquistado.
— Guk... — sua voz vacilou um pouco, mas logo tratou de disfarçar com um sorriso torto. — Não quero estragar o momento, se quiser podemos conversar amanhã mas, eu preciso falar com você.
Jungkook relutou em quebrar o abraço. A contragosto, ajeitou-se ao lado de Taehyung.
"Posso abraçá-lo de novo quando formos dormir" — pensou, se conformando.
— Eu não gosto de jogar, ao menos não mais. Só que... preciso do dinheiro, entende? Não posso arranjar um emprego comum porque o máximo que tenho é o ensino médio completo, e eu preciso de muito mais dinheiro do que um cargo com essas condições me daria.
Jungkook ouvia atentamente, mantendo-se em silêncio até quando Taehyung fazia alguma pausa para escolher as palavras que iria usar.
— Minha mãe, ela... Bom, eu já lhe disse uma vez que ela precisa de remédios. E eles são caros — falou a última parte em voz baixa, desviando o olhar para uma das paredes; tinha vergonha de se descrever como alguém tão dependente do dinheiro de outros, mas essa era a verdade.
Vergonha de assumir-se como alguém que vendia o próprio corpo por não ter outra forma de sustentar a mãe e a si próprio.
Realmente, não era algo muito animador a ser contado.
— Quanto? — Jungkook demonstrou compreender a situação. Taehyung estava visivelmente desconfortável.
— Cinco mil e trezentos. Fora as despesas da casa em geral, como eletricidade, supermercado, e consultas periódicas para avaliar se o medicamento ainda faz efeito ou se é preciso aumentar a dosagem. Eu... Preciso jogar.
— Tae — o mais novo chamou amigavelmente, selando seus lábios aos dele na tentativa de acalmá-lo. — Ouça até o final, ok? — Taehyung assentiu. — Eu tenho um cargo bastante influente na empresa onde trabalho...
— Eu não vou ficar sugando seu dinheiro! — replicou, indignado.
— Aish, o que foi que eu falei, hum? — Jungkook o repreendeu. — Ouça até o final.
Taehyung suspirou dando de ombros. Jungkook prosseguiu:
— Bem, a empresa tem ligação com doações mensais para instituições como orfanatos, abrigos, esse tipo de coisa. Ganhamos status e mais credibilidade quando fazemos isso. O que poderia ser feito é incluir sua mãe no projeto, entende? Bancaríamos as despesas médicas incluindo os remédios. Mas, só posso registrar ela como quem precisa da ajuda financeira, já que você tem condições de trabalhar. Que tal?
Apesar de estar devendo uma resposta a Jungkook, Taehyung permaneceu estático. Não esperava que houvesse realmente uma solução para a questão da medicação de sua mãe.
De imediato, tornou a levar suas mãos às costas do Jeon, abraçando-o apertado. Após anos em um cassino para conseguir a quantia exorbitante dentro do prazo, Jungkook havia arranjado um jeito mais fácil de obtê-la.
O mais velho não poderia estar mais feliz com a ideia. Aliás, ambos estavam.
Taehyung aproveitou-se do calor do corpo alheio para fechar os olhos. Só conseguia sorrir. A voz de sua consciência o xingava por não ter explicado a situação antes a Jungkook.
Mas, verdade seja dita: já havia buscado tantos meios de resolver a questão — sem obter sucesso — que, talvez, ele tivesse perdido a esperança de encontrar algo.
Talvez estivesse apenas com medo de falhar novamente. Medo de se decepcionar consigo mesmo ainda mais.
De qualquer forma, aquele não era o momento para relembrar águas passadas. Ele estava feliz.
Jungkook observava calmamente o rosto de Taehyung. O mais velho tinha os olhos fechados, exibindo uma expressão relaxada, ainda deitado em seus braços.
Mal se dera conta de que já estava sorrindo novamente. Sabia que estava dando uma de bobo apaixonado, mas não esperava que tal título fosse tão bom de se obter.
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