Narrador.
─ Lolo, eu posso comer hambúrguer?
─ E estragar seu almoço? Não mesmo, você pode pedir no máximo um suco.
─ Tudo bem, mas se você demorar mais que cinco minutos, eu vou pedir um hambúrguer com fritas.
─ Deixa de ser espertinha e pede seu suco, estou de olho.
─ Posso te ajudar quando for bater nela então?
─ Estou começando achar que dois meses de castigo foi muito pouco para você, mocinha. Que história é essa que vou bater na Verônica? Ela me chamou para uma conversa e vamos ter uma conversa.
─ Vou querer um suco de laranja com mais um mês de castigo. - Sofia deixou a atendente confusa e Lauren nada surpresa, a menina estava cada vez mais parecida com Dinah do que com Camila. - Um suco de laranja, moça.
─ Não é para sair daqui, Sofia. Eu consigo te ver de todos os cantos dessa cafeteria. - Lauren deixou Sofia aos cuidados da atendente quando viu Verônica descer de seu carro através do vidro transparente, e foi ocupar uma das várias mesas vazias para saber porque havia sido chamada depois de quase um mês. - E três, dois, um...
─ Não temos muito tempo, preciso ir trabalhar em uma cidade vizinha. - A expressão facial de Verônica não era uma das melhores, e a de Lauren também não. - Quer beber alguma coisa?
─ Estou bem assim, obrigada.
─ Podemos ir direto ao assunto?
─ Quando eu souber qual assunto é, podemos sim.
─ Quero falar da Camila e de como você me jogou na parede naquele chá de bebê.
─ Camila e eu passamos muitas coisas juntas e uma defende a outra sem pensar nas consequências futuras, e eu gostaria de pedir desculpa pelo que fiz quando a Sofia me disse que você não queria deixar a Camila sair.
─ Eu não quero e não aceito suas desculpas... - Verônica foi interrompida pelo toque do celular de Lauren sobre a mesa, vendo a foto de Camila com dois bebês piscando na tela. - Não vai atender?
─ Não, ligarei para ela assim que eu sair daqui.
─ Como você conseguiu dormir tranquilamente depois de tirar a Camila de mim?
─ Não tirei ninguém de você, Verônica.
─ Tirou sim e agora dorme com ela. Você come ela todas as noites como eu comia? Ela geme gostoso quando você a chupa?
─ Lava sua boca para falar da Camila. - Lauren bateu as mãos contra a mesa com força, chamando atenção das poucas pessoas ali presentes, inclusive Sofia. - Ela não é um pedaço de carne para você se referir a ela assim, respeita a mãe dos meus filhos.
─ Vou reformular a minha pergunta, Jauregui. Como você consegue dormir tranquilamente sabendo que traiu uma das suas melhores amigas?
─ Durmo tranquilamente porque não traí ninguém e tenho a Camila todas as noites comigo, ela não me solta um segundo sequer a noite inteira, é assim que eu durmo todas as noites quando não estamos fazendo amor.
─ Você me traiu, Lauren. Sempre esteve de olho na Camila?
─ Ficou louca? Você nunca apresentou a Camila para ninguém, como eu saberia que ela era sua... O que ela era sua, Verônica? Mais uma conhecida? Amiga? Mais uma que você queria levar para cama por algumas noites até cansar dela?
─ A Camila era a minha namorada, Lauren. Quem me garante que você não esperou o momento certo para me beijar e depois roubou ela de mim?
─ Sempre fui sua amiga, Verônica. Quando você caia de bêbada, as garotas que você levava para cama ficavam no meu pé atrás de sexo e eu nunca fiquei com nenhuma delas por consideração a você, não venha desconfiar do meu caráter porque você nunca me apresentou a Camila e nunca disse que estava com alguém.
─ Não acredito em nada do que fala.
─ Problema seu, Iglesias. Eu fui saber da sua existência na vida da Camila depois que a Sofia citou seu nome em uma foto, caso ao contrário eu nunca saberia que você foi filha da puta com ela.
─ FILHA DA PUTA FOI VOCÊ QUE ME BEIJOU NA FRENTE DELA, LAUREN.
─ Para de gritar, quem você pensa que é para gritar comigo como se eu fosse uma das suas amiguinhas?
─ Eu era sua amiga, Lauren. Agora sou a mulher que vai correr atrás e vai pegar a Camila de volta. Você tirou ela de mim e eu vou tirar ela de você, nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida.
─ Ela não é um brinquedo que você empresta e depois pega de volta na hora que quer, imbecil. Camila está comigo e vai continuar porque você não tem poder para acabar com a nossa família. - Lauren levantou sem deixar Verônica retrucar e foi pagar pelo suco de Sofia, a tirando da cafeteria o mais rápido que conseguiu. - Sua irmã me ligou, quais as chances dela mandar a gente ir no mercado?
─ Estamos proibidas de ir no mercado sem a Kaki, você quer ficar de castigo também?
─ É melhor a gente voltar para o apartamento antes das garotas saírem.
[...]
─ Lolo? - Sofia a chamou sonolenta, se aconchegando melhor nos braços de Lauren. - Não conseguiu dormir?
─ Gosto de te ver dormindo, dormiu bem?
─ Tive um pesadelo, não quero mais dormir.
─ Quer me contar seu pesadelo, minha pequena?
─ Antes de te contar, você tem que prometer que não vai ficar muito brava comigo.
─ Não posso ficar brava com você por causa de um pesadelo, Sofi.
─ Nem se eu contar que o meu pesadelo foi porque eu fiz uma coisa errada hoje?
─ O que você aprontou? - Lauren sentou na cama com calma, tirando Sofia do meio das cobertas para ela não ficar se escondendo. - Assim é melhor, agora me conta o que você fez.
─ Eu queria mostrar para vocês que sei andar sozinha, que não preciso de ninguém ou de seguranças atrás de mim. E como hoje é sexta-feira, dia de trocar todas as cortinas do colégio, aproveitei para fugir entro de um dos carrinhos que estava entrando e saindo, mas tive que voltar quando o homem do carro começou a me seguir.
─ Calma, eu... Calma. - Lauren desceu da cama em estado de choque com a confissão de Sofia, ela não sabia se ligava para Camila ou para polícia, se ia atrás da pessoa que ela achava que fosse ou ficava no do apartamento para não fazer nenhuma besteira. - Preciso me acalmar...
─ Lolo...
─ Você fugiu do colégio, foi seguida por um desconhecido e voltou para o colégio porque ficou com medo, mas se fosse um conhecido você continuaria na rua? Sabe como é perigoso o que fez, Sofia?
─ Não pensei que poderia ser perigoso, mas agora que tive um pesadelo com o homem do carro me levando embora, eu sei e não vou fazer de novo.
─ Também sabe... Espera, você disse que era um homem?
─ Sim, era o homem do carro que nunca tira o óculos de sol.
─ Não era uma mulher, não era uma mulher, não era uma mulher. - Lauren começou andar de um lado para o outro pensativa, mas sem deixar de estar preocupada com a situação. - Isso não quer dizer que ela não possa ter mandado alguém... Sabe que não vou esconder isso da sua irmã e dos seus pais, não sabe?
─ Eu sei que vou morrer no castigo porque ele nunca vai acabar.
─ Como poderia acabar com você acordando os bebês de propósito, respondendo todo mundo e fugindo do colégio no meio das cortinas? - Lauren sentou na beira da cama para segurar o rosto de Sofia, não sabendo se sentia medo ou preocupação com o que poderia ter acontecido. - Sabe de quem era o carro que te seguiu? Já viu ele antes?
─ Não sei quem é o homem do carro, mas ele aparecia na frente da casa da Kaki quando a Mama me buscava no colégio e íamos abrir as janelas porque vocês não estavam aqui. Achei o carro bonito, até tirei uma foto.
─ Cadê a foto?
─ No meu celular, mas a Kaki levou com ela.
─ Vou te mostrar uma foto, me diga se foi esse carro que viu na frente da casa da sua irmã e o que te seguiu na porta do colégio. - Lauren entrou em uma rede social específica, passando o dedo na tela até chegar na foto que queria, e pediu para si mesma que Sofia não reconhecesse o carro que ela mostraria. - Foi esse carro que você viu?
─ Sim, esse é o carro do homem do carro.
─ Okay, okay. - Os nervos de Lauren ficaram a flor da pele com a confirmação de Sofia, toda calma que ela queria ter, se transformou em raiva e ela não deixaria aquilo barato. - Consegue ficar sozinha por alguns minutos?
─ Consigo, mas não sei cuidar de bebês.
─ Que merda eu estava prestes a fazer deixando três crianças sozinhas? - Sofia deu os ombros. - Pega a sua mochila, vou arrumar as bolsas dos bebês e estamos saindo.
─ Precisa levar eles também?
─ Não posso deixar nenhum de vocês três para trás. - Lauren notou a indiferença que Sofia olhou para os berços onde os bebês dormiam, com certeza ela nunca deixaria os três sozinhos enquanto seu ciúme não acabasse de verdade. - Gostaria de ter um quarto só para você?
─ Eu tenho um quarto só para mim no apartamento dos meus pais, não quero outro.
─ Um dia, Dinah ou eu vamos ter que deixar de morar juntas, e quando isso acontecer, eu gostaria que você tivesse um quarto seu aqui ou em outro apartamento.
─ Vai levar a Kaki com você?
─ Essa resposta eu ainda não sei, mas se ela não quiser depois do pedido que pretendo fazer, você sempre terá seu lugar comigo.
O sorriso alegre de Sofia não poderia ser maior, diferente de Lauren que sorria para disfarçar toda raiva que a corroía por dentro, sorria para não assustar seus filhos e a irmã de Camila, e sorria porque não poderia explicar para uma criança de nove anos que as ameaças de Verônica e do tal homem do carro tinham quase a mesma importância para ela.
Lauren não parou na portaria como costumava fazer sempre que descia, ela tinha pressa e o tempo que passava sem fazer nada, a irritava muito mais que o normal. Pensando com o último fio de clareza que ainda restava, Lauren tirou o carro da garagem com cuidado para ir em direção ao apartamento de Alexa, onde deixaria as crianças para resolver um de seus problemas. E foram os vinte minutos mais demorados de sua vida.
─ Chlöe? Por favor?
─ Não vou te deixar sair sem antes me contar o que está acontecendo, Lauren.
─ E eu não posso contar porque você contaria para Alexa, Alexa contaria para Allyson e a Allyson contaria para Camila, Dinah e Normani. Não posso correr o risco de ser impedida por mais pessoas, Chlöe.
─ Impedida de fazer o que, Lauren?
─ Por favor, Chlöe. Só fica com as crianças até a Camila sair da advocacia? Fiz a Sofia prometer que não vai te dar trabalho, a deixei fazendo dever de casa como parte do castigo dela.
─ Você não está me entendendo, Lauren. Eu não me importo de ficar com as crianças por minutos, horas ou dias, o problema é você sair daqui feito uma tempestade descontrolada.
─ Tenho certeza que Allyson já te contou da minha situação desde o inicio. - Chlöe assentiu. - Tem um carro rondando por aí que está assustando a Sofia, eu só preciso saber quem é para tomar as devidas provisões. Me desculpa se te assustei com o jeito que cheguei aqui, só não quero e não posso perder mais tempo.
─ Tudo bem, não vou mais te segurar aqui. Me liga se precisar de ajuda? - Lauren assentiu por assentir, esse era um assunto que ela resolveria sozinha. - Toma cuidado.
─ Claro. - Lauren deixou um beijo no rosto de Chlöe como forma de agradecimento e um pedido de desculpa pela mentira que havia contado para conseguir sair, mas isso Chlöe só descobriria mais tarde, talvez no dia seguinte. - Vou ter todo cuidado do mundo para não matar aquele filho da puta rápido demais.
Pensando que Chlöe poderia travar o elevador de alguma forma para impedi-la de sair, Lauren desceu correndo pela escada até chegar na garagem e acelerou sem medo quando saiu do prédio, indo direto para uma das lojas de esportes mais próxima. Para Lauren, a raiva nunca ajudava a resolver seus problema, destruía sua paz de espírito e cegava sua capacidade de pensar com clareza, mas quando se tratava de defender seus amigos, aliados e agora a sua família, sua raiva transbordava de uma maneira que ela mesma não saberia explicar nem se quisesse.
A advocacia Jauregui nunca tinha sido tão bem vista por Lauren como foi quando ela estacionou o carro de Camila do lado de fora, era mais fácil entrar pelas partes cegas, onde não tinham nenhuma câmera. Pular o muro não foi difícil, nem mesmo segurando um taco de baseball. Lauren caminhou até a parte externa da advocacia livremente para arrancar todos os fios das câmeras do painel de energia, subindo até o estacionamento exclusivo para os Jauregui, onde deixaria a primeira surpresa.
─ Eu avisei que não estava brincando. - Lauren segurou o taco com as duas mãos para acertar o vidro da frente com força, batendo seguidas vezes sem um pingo de dó. Seus golpes não ficaram somente nos vidros, Lauren acertou o carro inteiro para descontar toda sua raiva, e mesmo assim não foi suficiente. - Você não perde por esperar, imbecil.
O estrago que um taco de ferro poderia causar não era coisa pouca, o carro de Christopher estava destruído quando Lauren saiu do estacionamento deixando o taco para trás e entrou na recepção da advocacia sem olhar para os lados. Os funcionários estranharam sua presença depois de tanto tempo sem aparecer, mas não a impediram de passar para chegar no elevador, todos sabiam que não deveriam segurar um Jauregui.
Paciência e Lauren não combinavam na mesma frase, a Jauregui desertora estava impaciente para sair daquele cubículo de aço, suas unhas batiam contra o espelho em suas costas, seu pé batia contra o piso do elevador e seus olhos encaravam os números dos andares. Quando as portas finalmente se abriram, Lauren não ficou surpresa por não encontrar ninguém andando de um lado para o outro, não era novidade.
─ Cheguei em uma péssima hora, isso vai me render pesadelos. - Lauren sabia o que acontecia quando Clara e Michael não trabalhavam nas sextas-feiras, tanto sabia que tirou o celular do bolso para gravar e abriu a porta, vendo o que não queria. - Isso vai para o álbum de família.
─ L-Lauren? - Christopher levantou e agachou apressado para pegar suas roupas, jogando as que não eram suas para o homem atrás dele. - Quem te deixou entrar? Para de gravar, idiota.
─ Credo, parei de gravar quando você levantou do colo do bonitão com o pau mole.
─ O que está acontecendo, Christopher? Quem é ela? Disse que ninguém subiria até você mandar.
─ Cai fora, bonitão. Você só é mais um na lista do Christopher.
─ Quem você pensa que é para mandar em alguma coisa aqui dentro, Lauren? - Disse Christopher irritado. - Seus privilegio foram revogados quando quebrou o acordo com a mamãe.
─ Ela é sua irmã?
─ Infelizmente dividimos a mesma barriga e temos o mesmo sangue. - Lauren ironizou apontando em direção a porta. - Não vou mandar você sair de novo, cara. Quando eu for embora, você pode voltar para continuar comendo o Christopher.
─ Eu...
─ SOME DAQUI, PORRA. - O homem, que Lauren não fez questão de saber o nome, correu para fora do escritório cambaleando, deixando os irmãos Jauregui finalmente sozinhos. - Seus pais sabem que a transa da tarde é na mesa deles? Não importa, vou mandar o vídeo para eles com muito amor.
─ Vejo que resolveu aparecer e está toda cheia de graça, maninha. O que devo a honra? Além de atrapalhar a vida de todo mundo, é claro.
─ Vou te mostrar o que deve a minha honra aqui. - Lauren deu a volta na mesa para empurrar Christopher contra a parede, repetindo o empurrão quando ele tentou avançar contra ela. - É isso que eu quero nessa merda de advocacia.
─ Ficou louca? Quer me mostrar que além de pegar mulher, você também tem a força de um homem?
─ Não, eu tenho a força de uma mulher porque não somos frágeis como pensam. Seu preconceito e seu machismo não me afetam, muito menos depois de encontrar você sentando...
─ Sai daqui, Lauren. Eu vou chamar os seguranças.
─ Os mesmo que não abriram a boca quando passei por eles? Mas não se preocupe com a minha presença, eu só quero te avisar uma coisa.
─ Fala o que quiser, nada que venha de você é interessante.
─ Interessante é seguir garotinha, não é mesmo, filho da puta?
─ Não sei do que está falando.
─ Seja homem uma vez na vida e assume as merdas que faz.
─ Não fiz nada, idiota. - Christopher empurrou Lauren para longe dele, vestindo a ultima peça de roupa que restava, a camisa social. - As ruas são públicas, até mesmo as ruas de colégios.
─ Eu não falei em colégio.
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