Narrador.
─ Fala mamãe, Théo? Mamãe... - Camila tentava ensinar o filho a chamá-la de mamãe, mas só arrancava risadas do bebê, risadas que deixava ela totalmente derretida pelo filho. - A mamãe ama te ouvir rindo, garotinho sapeca.
─ Camila, mi amor. Já faz quanto tempo que está sentada nesse chão gelado tentando ensinar ele a falar mamãe?
─ Meia hora?!
─ Mi hija, cada um tem seu tempo de falar, você por exemplo demorou mais que a Sofia.
─ Por que não pode ser tudo junto? Eles já tem vários dentinhos e sabem engatinhar para todos os lados, dizer mamãe deveria ser fácil.
─ Não é assim que as coisas são, mi amor. - Sinuhe tirou Théo do meio das pernas de Camila quando a filha se deitou no chão suspirando, aproveitando para aninhar o netinho em seus braços. - Daqui a pouco sua irmãzinha acorda e você rindo com a sua mãe, mocinho?
─ Mama, foi a Lauren fez a Meg dormir, ela só acorda amanhã gritando de fome. E o Papa está lá grudado nela de qualquer jeito, impossível a minha menininha acordar ainda hoje.
─ O chão está gelado, levanta e me conta porque preferiu ficar com seus pais no lugar de se divertir com suas amigas. - Camila estava evitando aquela conversa desde a hora que chegou da praia, evitou quando seu pai disse que queria saber porque ela parecia estranha e evitou quando Sofia estranhou ela ficar sem as amigas. - Karla, não sou boba e sei muito bem o que anda acontecendo, mas quero ouvir de você. Quero a versão da minha filha.
─ Seja lá o que Lauren e eu tínhamos, acabou quando Veronica e Keana voltaram, Mama.
─ Você se sentiu com o retorno delas, mi hija? As duas mexeram com você do mesmo jeito que antes?
─ Ainda guardo muita raiva das duas, Mama. Levei um susto com a volta delas, mas não foi como no passado, meu coração só acelera pela Lauren.
─ Acelera pela Lauren, mas você preferiu deixar ela ir para ficar aqui.
─ Me sinto exausta perto da Lauren, Mama. Eu não reconheço essa Lauren que me ignora, que é capaz de fingir que não existo mesmo estando do lado dela. - Camila virou o rosto para sua mãe não ver seus olhos marejados, falar de sua semana a deixava abalada. - Tentei conversar sobre o que ela queria me tratando desse jeito e nada, não tem um diálogo descente entre nós duas.
─ Se você acha que não está mais dando certo, precisa dar um jeito de sentar e conversar com a Lauren, mi hija. As duas tem que colocar os pontos nos lugares certos, depois cada uma segue sua vida como bem entender.
─ Mama, ser ignorada pela pessoa que você... - Camila suspirou. - Pela pessoa que você ama é horrível, dói, machuca o fundo da minha alma. Não preciso disso, não preciso da Lauren sendo idiota por motivos que ela não me deixa saber.
─ Mi amor...
─ Posso voltar a morar aqui? Meu antigo quarto é grande, tem espaço para dois berços e mais um monte de brinquedo que podemos comprar amanhã mesmo.
─ Querida, tudo bem você querer se afastar de Lauren por motivos óbvios, mas não está se precipitando em relação aos seus filhos? Eles não tem nem cinco meses completo.
─ Não vou ficar no mesmo lugar que a Lauren, e não vou deixar de ficar com os meus filhos porque a outra mãe deles é uma imbecil. Podemos dividir os dias da semana igualmente, no dia que sobra ela fica com eles de manhã e eu de noite, ou ao contrário, mas sem eles eu não fico.
─ Karla, você ouviu quando eu disse que eles não tem nem cinco meses direito? Ficar pulando de apartamento em apartamento não vai fazer bem para eles, seus filhos só são dois bebês no meio disso tudo.
─ Mama, eu não me sinto mais bem-vinda no apartamento da Lauren. Eu que não estou bem vivendo desse jeito, não está me fazendo bem ficar em um lugar que não é meu, mas se você não me quiser aqui...
─ Não termina, Karla. Você, sua irmã e os meus netos são as pessoas mais importantes na minha vida, eu nunca diria que não te quero aqui. - Théo estranhou a mudança no tom de voz que sua avó usou, o que fez a matriarca da família manter a calma antes de continuar. - Para decidir qualquer coisa, uma conversa entre você e a Lauren tem que acontecer. E se mesmo depois dessa conversa as coisas continuarem assim ou piores, eu mesma arrumo seu quarto com as coisas dos meus netos.
─ Pode arrumar, Mama. Vou me mudar o mais rápido possível.
─ A conversa com a Lauren ainda não aconteceu, Karla. Vai comer alguma coisa antes de ir deitar, vou tirar seu pai da sua cama enquanto isso. - Sinuhe esperou Camila levantar do chão para dar boa noite ao filho sonolento, todo agarrado na avó novamente. - Come sem derrubar nada, não quero você acordando seus filhos e sua irmã.
─ Não se preocupe porque estou sem fome, e não vou deitar até acabar de resolver os trâmites legais da venda da casa.
─ Não pensa em manter a casa por mais tempo?
─ A Mani está noiva, não vai demorar para se casar e ter a família dela. Aquela casa é enorme para as crianças e eu vivermos nela, a Normani com certeza voltaria a morar comigo caso eu desistisse de vender a casa. Não quero atrapalhar os planos dela com a Dinah, vou comprar o apartamento para elas e um para mim, não posso viver eternamente aqui com vocês.
─ Eu não me importaria de ter vocês três aqui com a gente, sobre as minhas asas e meus olhos.
─ Sei que você quer estragar meus filhos, Mama. - Camila fingiu não ver Sinuhe assentindo enquanto ela deixava um beijo de boa noite em Théo, as chances de seus pais dormirem em seu quarto com seus filhos eram gigantescas. - Mama, pensei um pouco nessas últimas horas sobre a nossa advocacia, e eu sendo uma mãe quase solteira, quero meu emprego de volta.
─ Ótimo ouvir que você quer trabalhar, seu pai e eu nos aposentaremos definitivamente em janeiro. Você tomará conta de tudo até Sofia ter idade para te ajudar, os negócios do família ficará em suas mãos a partir da primeira semana de janeiro.
─ Uau, não vejo a hora de ter tudo só para mim.
─ Sem ironias, Karla. Termine o que estiver fazendo e vai comer alguma coisa para poder dormir, é uma ordem.
─ Claro, Mama. - Não estava claro para Camila e Sinuhe sabia, mas deixou a filha sozinha para ter tempo de pensar tranquilamente no que deveria fazer com a própria vida e a vida de seus filhos. - Como eu queria que as coisas fossem fáceis, Mama.
─ Kaki? Ei, Kaki?
─ Parece que estamos progredindo, Sofia. - Camila sorriu quando viu a menina fazer suas caretas rotineiras, dois a zero para ela, mas quem estava contando, não era mesmo? - A Mama acha que você está dormindo.
─ Não consigo dormir, e a Mama não pode saber.
─ E lá vamos nós. - Camila revirou os olhos quando Sofia sorriu de orelha a orelha, a menina perdia o sono quando estava com vontade de comer alguma coisa, e era sempre o que não tinha no apartamento. - O que você quer comer, garota?
─ Quero um sorvete blue ice. Não pode ser o sorvete que deixa a minha língua e os meus dentes azuis, tem que ser o mesmo sorvete que a Dinah compra para mim.
─ Já é quase meia noite, não tem sorveteria ou mercado aberto essa hora, Sofia.
─ Tem a loja de conveniência do Pepê, é lá que a Dinah compra.
─ Não posso sair e deixar a Megan e o Théo dormindo sozinhos, Sofia.
─ A Mama colocou sua cama na parede e aqueles negócios em volta da cama.
─ O cercado de proteção.
─ Isso mesmo, a Mama arrumou tudo antes de deitar com o Papa e a Megan. Por favor, Kaki?
─ Se eu não achar o seu sorvete na loja de conveniência do Pepê, não vou rodar Miami por causa disso. Pode se preparar para usar suas canetinhas azuis para pintar o gelo que vai chupar antes de dormir.
[...]
─ Minha outra menina, suas amigas levaram todo o meu estoque de sorvete azul mais cedo. Não sobrou nada para contar história. - Pepê lamentou a falta de mercadoria, e Camila quis matar Dinah por comprar todos os sorvetes. - Sinto muito, menina, não vai achar esse sorvete em lugar nenhum essa hora.
─ Por que eu ainda coloco meus pés na rua sabendo que não vou encontrar esse sorvete? - Suspirou. - Obrigada mesmo assim, Pepê. Vou andar mais um pouquinho atrás desse sorvete azul.
─ Ou eu posso te ajudar. - Camila arqueou as sobrancelhas com a pessoa que apareceu toda sorridente em sua frente, talvez fosse um jogo sem graça citar um nome e a dona dele aparecer minutos mais tarde. - Deixa eu adivinhar para quem é esse sorvete azul... Sofia?
─ Verônica?
─ Quanto tempo, Cami. - Verônica deixou um beijo no canto da boca de Camila, mordendo o lábio inferior ao se afastar dela. - Estou com alguns amigos lá fora e os pais de uma das meninas tem uma sorveteria que você pode pegar o sorvete que quiser. Sem querer ofender, senhor.
─ Não ofendeu, fique tranquila.
─ Já viu a hora, Verônica? Não tem nada aberto, nem mesmo a sorveteria dos pais da sua amiga.
─ Realmente, mas como gostamos de coisas novas e sorvete com vodka é uma boa escolha, ela sempre anda com as chaves da sorveteria dos pais dela. Você me paga um sorvete e eu pego as chaves com ela.
─ Eu acho melhor não...
─ Camila, a sorveteria não fica longe daqui. Cinco minutos de carro, vai deixar a Sofia sem sorvete mesmo comigo falando que posso te ajudar?
─ Eu... Eu pretendo dormir quando voltar para o apartamento, e a Sofia não vai me deixar em paz se eu chegar sem nada.
─ Pela Sofia então, Cami.
─ O que eu não faço pela Sofia, Pepê?!
─ Aproveita que ainda é só uma, minha menina. Daqui a pouco será três te colocando para sair na rua esse horário.
─ Bem lembrado, Pepê. Fico te devendo uma visita mais cedo da próxima vez. - Camila deixou que Verônica a puxasse para fora da loja de conveniência sem nenhuma resistência, ela tinha pressa de voltar com os sorvetes de Sofia. - Como vamos fazer?
─ Me segue, qualquer coisa buzina e eu paro o carro.
─ Estou bem atrás de você.
Miami tinha inúmeras lojas de conveniência, quais eram as chances de Camila e Verônica se trombarem logo na conveniência do Pepê? Camila não saberia responder essa pergunta, mas Verônica com certeza responderia sem engasgar ou gaguejar. Acreditando mesmo que era coincidências da vida, Camila foi seguindo o carro barulhento de Verônica e seus amigos, ouvindo muito mais que só a música que tocava.
Camila soube exatamente qual sorveteria Verônica a guiava quando virou as três primeiras ruas, era a mesma sorveteria que ela e Lauren iam quando fugiam da advocacia no meio da tarde. Por mais que Camila não quisesse pensar em Lauren, sua mente a traia da forma mais descarada possível, era impossível esquecer alguém que teve momentos incríveis e inesquecíveis, inclusive filhos. E como aquela noite parecia ligar uma coisa na outra, a gritaria do carro de Verônica fez com que Camila saísse de uma bolha imaginaria que mantinha a antiga Lauren.
─ THIS AIN'T A SONG FOR THE BROKEN-HEARTED. - Gritou um dos amigos de Verônica, deixando Camila levemente desconfiada. - NO SILENT PRAYER FOR FAITH-DEPARTED, I AIN'T GONNA BE JUST A FACE IN THE CROWD YOU'RE GONNA HEAR MY VOICE WHEN I SHOUT IT OUT LOUD...
─ Eu não mereço uma noite dessa, não mereço. - A gritaria em si não incomodava Camila, o que ela não entendia era o porquê de cantarem diretamente para ela. Quando o carro de Verônica parou na frente da sorveteria, somente ela desceu e Camila fez o mesmo após estacionar. - Eles não vem?
─ Não, Will vai buscar mais uma amiga. Vamos entrar?
─ Tenho dois filhos para criar, Verônica. Não quero me meter em problemas por causa de sorvete.
─ Relaxa, Cami. Não estamos invadindo se temos a chave. - Verônica balançou as chaves antes de abrir as portas da sorveteria, correndo para desativar o alarme e acender as luzes. - Pode pegar o que quiser, é por conta da casa.
─ Acabei de entrar numa sorveteria fechada, não vou roubar sorvete. Vou pagar o dobro por isso, não adianta negar o meu dinheiro.
─ Camila, não estamos roubando nada porque pagamos metade de todo esse sorvete. Os pais da Natasha conhecem a filha que tem e os amigos que vem junto, isso não explica porque ela anda sempre com as chaves?
─ Imagino o desfalque que vocês causam sempre que querem sorvete com álcool.
─ Por isso mesmo que pagamos, Cami. - Verônica pulou o balcão de sabores para pegar duas casquinhas, sem tirar o sorriso do rosto. - Qual você vai querer?
─ A Sofia pediu...
─ Não, Camila. O sorvete da Sofia pegamos depois que meus amigos voltarem, eu quero saber qual você quer. Chiclete ainda é o seu preferido?
─ Não, a Lauren fez uma mistura de sabores da última vez... - Camila negou com a cabeça, não era hora de pensar em Lauren. - Agora eu gosto de chocolate, morango e pistache, não consigo tomar sorvete sem ser essa mistura.
─ Uma mistura estranha, tenho que admitir que seu gosto piorou com os anos.
─ Falou a pessoa que tomava sorvete de amendoim com todos os outros sabores disponível.
─ Sinto sua falta quando tomo sorvete e não tem a sua implicância com o melhor sabor de sorvete do mundo.
─ Eu não sinto sua falta roubando o meu sorvete. - Camila revirou os olhos quando Verônica entregou a mistura de sorvetes para ela, não era do mesmo jeito que Lauren fazia porque Verônica havia colocado cobertura por cima de tudo. - Quando seus amigos voltam?
─ Daqui a pouco eu mando uma mensagem para eles, pode tomar seu sorvete tranquila. - Verônica pulou o balcão de sabores novamente para ficar do lado de Camila, esperando ela fazer a careta que fazia toda vez que tomava sorvete, mas não aconteceu. - Não gostou?
─ É sorvete, todo mundo gosta. - Mentiu. - Pelo menos assim você não...
─ Ops, acho que está caindo um pouquinho de cobertura aqui. - Verônica se inclinou para limpar o queixo de Camila, olhando no fundo de seus olhos enquanto levava o dedo na própria boca. - O gosto é bom.
─ O que está fazendo, Verônica?
─ Me deixa mostrar como ainda sinto sua falta, Camila?
─ Verônica, eu estou com a Lauren.
─ E cadê ela que não está aqui agora? - As mãos de Verônica passaram pelo rosto de Camila, parando em sua nuca. - Eu que estou aqui e agora, Cami.
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