~ Tá quanto o quilo seu Agenor?~ Digo olhando o senhor verificar na tabela.
~ R$ 2,90.
~Isso pode melhorar, o senhor não acha?~Dou um sorriso pra ele, o melhor que eu podia dar. Tinha que aproveitar as oportunidades de pechinchar.
~ Faço pela metade se me ajudar a pegar algumas caixas no caminhão.
~Feito!
Hoje de manhã decidi sair de casa, faziam três dias desde aquele desastre com aquela chef italiana brava, e nenhuma ligação tinha chegado, eu já estava ficando pilhado. Então fui fazer o que eu sempre fazia nas sextas de manhã, fui na feira.
Eu tinha um almoço no domingo em Piracicaba a família ia se reunir para o aniversario da minha irmã e minha mãe me deu o trabalho de cuidar do bolo, queria fugir do clássico chocolate com frutas vermelhas. Então vou fazer um bolo de kiwi. A chances de isso dar muito errado é muito grande, e se isso acontecer, eu vou ser obrigado a comprar um bolo na padaria e dizer que fui eu quem fez, o que é deprimente, então tem que dar certo.
~ Essa foi a última ? Não é?~Sentindo um pouco de dor nas coisas
Seu Agenor riu baixo.
~Está quase, falta só mais dez.
~O que?!
~ Pensou mesmo que o desconto nas frutas iam ser mole, garoto?
~O senhor é muito do esperto.
~E você não sabe barganhar, agora vamos!
Segui rindo da minha ingenuidade, peguei mais duas caixas no caminhão, as deixando na frente da barraca dele. Eu estava suado, minha regata estava toda molhada, só pra pagar 1,30 em alguns kiwis. Nesse exato momento estou me odiando.
~ Ele tá te fazendo de escravo tatuado?~Dona Francisca da barraca em frente perguntou rindo da minha cara.
~ Tudo por míseros kiwis.~ Digo rindo, me virando para ajeitar as caixas na frente da barraca.
~Hola.
~Oi querida, o que precisa?
~ Estou procurando perejil.
~ Está procurando o que?
Me virei pra ver a mulher com sotaque forte que fez com que dona Francisca erguesse as sobrancelhas em confusão. Claramente não entendendo o que ela quis dizer.
~Perejil.
~ Desculpa meu bem, mas não sei o que é isso.
Só podia ver suas costas e seu cabelo preto meio ondulado preso em um rabo de cavalo curto, e um casaco preto. Ela bufou e coçou cabeça, aparentemente não era a primeira vez que não entendiam ela.
~É una erva, é usada pra fazer Batata sauté,Molho ranch...chimichurri.~ Dona Francisca continuou sem entender. ~ Santa Madre!
Eu quase ri, do desespero da moça, eu sabia do que ela estava falando, pelas receitas que ela falou, mas claramente aa dona Francisca não tinha ideia do que era esse tal de perejil.
~Desculpa moça, não sei o que é isso.
~ É verde e tem unas folhinhas peticas assim.~ Ela falou mostrando com a mão. Eu só pude ver a Dona Francisca negar com a cabeça e dar os ombros.
~ Ela quer um molho de salsinha, Cisca.~ Disse, vendo a expressão no rosto da senhora suavizar e ela entender.
~ Isso que você quer? ~ Ela pegou um molho e mostrou pra gringa.
~ Isso! És exatamente isso!Gracias!
~ Foi o tatuado que te salvou querida, porque eu não fazia ideia do que era o que você tava falando.~ A senhora apontou pra mim e piscou o olho.
A gringa se virou pra mim, pra checar o que ela estava falando. E não era que a Gringa era a italiana brava?!
~Senhor Fogaça.~ Ela sorriu quase incrédula.
~ Chef!
Eu estou tão surpreso quanto ela, não tinha reconhecido a voz, nem daria, só tinha estado com ela uma vez na minha vida.
~ Fala espanhol?
~Nem uma palavra, só soube o que era depois do molho ranch.
~ Gracias.~ Ela acenou com a cabeça.
~Desponha.
~ As caixas não vão andar sozinhas tatuado, não estou te pagando pra ficar parado.
~ O senhor não está me pagando seu Agenor!
~ Vou te cobrar o preço inteiro então!~ Ele gritou do caminhão.
Reviro os olhos.
~ O dever chama.
~ Trabalha aqui? ~ ela pergunta apontando para a barraca.
~ Não, não, isso é só a minha tentativa mediocre de pagar menos nos kiwis.~ disse apontando pra sacola enorme de kiwis que eu tinha separado.
~ O que diabos você quer fazer com tantos kiwis?~ Ela perguntou, olhando algumas frutas nos mostruários do seu Agenor, tocando algumas com as pontas dos dedos, cheirando outras.
~ Um bolo.
Ela parou o que estava fazendo, e me encarou, como se eu tivesse falado alguma besteira.
~ Cê quer fazer um bolo com Kiwi?!~ Confirmei com a cabeça. ~Por que?
Eu parei pra pensar por um instante.
~ Essa é uma ótima pergunta.~ Ela riu, baixo e desviou o olhar.
~Por que não faz um bolo de chocolate com frutas vermelhas?~Ela ergueu as sobrancelhas.
~ É uma combinação óbvia de mais, e pra mim não orna muito bem. ~Ela pareceu analizar a minha resposta.
~ Coco, bolo de coco gelado, seja lá pra que você quer fazer um bolo é uma opção bem melhor que kiwi.
~ Faz bem mais sentido.
~ Pois é. ~Ela me encarou por alguns instantes antes de suspirar.~ Obrigada pela tua ajuda, e boa sorte com teu bolo.
Eu acenei com a cabeça e sorri fraco, vendo ela se afastar. De repente ela para, olha pra mim e dá um sorriso de canto. Ela era tão bonita, poderia ser modelo se quisesse. "Cala boca, ela pode ser sua chef um dia!"
~ E até segunda Fogaça.
~ Como? Pera, que?
~Passou pra próxima fase.
~ Não brinca, serio?!~ Eu me segurei pra não gritar no meio da feira.
~ Serio, segunda de manhã às 8h, não se atrase!
~Sim, senhora.
Ela não disse mais nada, apenas foi embora, me deixando com um sorriso de orelha a orelha. Eu poderia gritar. Mas em vez disso respirei fundo e procurei no mostruário do Seu Agenor por coco fresco.
Adivinha quanto o coco fresco custava? R$1,30, eu ri alto, estava feliz demais pra ficar com raiva da minha burrice.
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