Eu saí da reunião de parceria empresarial sentindo um misto de alívio e tensão. Minha cabeça ainda doía por conta da ressaca que me atingiu em cheio aquela manhã, eu definitivamente não deveria ter bebido tanto sabendo que teria compromisso no dia seguinte.
Caminhando pelo corredor movimentado, fui até o bebedouro para me refrescar. Enquanto bebericava da minha água, um homem se aproximou astutamente ao meu lado.
— Ah, Raiden Ei, que surpresa agradável encontrá-la por aqui. - Fui abordada por aquele mesmo homem imponente da noite passada: Ayato, o renomado empresário conhecido por sua astúcia e influência.
O maior tinha um sorriso amigável em sua face, mas seus olhos denunciavam a seriedade do assunto que ele pretendia abordar, e eu sabia qual era.
Mantive minha expressão neutra, embora por dentro estivesse alerta para qualquer ameaça iminente. Joguei o copo de plástico no lixo e o fitei.
— Ayato… sempre é um prazer. O que posso fazer por você? - Forcei-me a sorrir. Ele adota um tom mais sério e se aproxima de meu ouvido.
— Acho que você sabe exatamente do que estou falando, não é? Descobri sobre seu pequeno segredo, o sobrinho que está escondido da mídia e da sociedade. Um escândalo desses poderia abalar as estruturas, não acha?
Engoli em seco, consciente de que ele estava segurando uma poderosa carta na manga.
— E o que você quer? - O empresário sorriu, satisfeito por ter capturado a minha atenção.
— Simples. Você tem exatamente um mês para me garantir e assinar todos os documentos de escritura de transferência de todas as suas empresas, alegando a transferência para o meu nome. Se estiver faltando qualquer órgão ou eu não ficar satisfeito, bem, você já sabe o que posso fazer com a informação sobre seu sobrinho.
Meus batimentos aceleraram velozmente. Fiquei instantaneamente em estado de choque.
Recuei, sentindo um nó se formar em minha garganta enquanto minha mente tentava encontrar alguma saída. Por um segundo, tive que me apoiar no bebedouro pois estava sentindo que perderia as forças.
Como eu iria lidar com essa situação de maneira estratégica e decisiva para proteger minha família e, ao mesmo tempo, manter a integridade das empresas que são um legado dos meus pais? Meu coração acelerou enquanto tentava processar a magnitude do pedido.
A ideia de perder tudo o que havia construído ao longo dos anos era avassaladora… Meus pensamentos foram dominados por uma mistura de desespero e determinação para encontrar uma solução.
A minha tristeza não era pelo potencial de prejuízo financeiro ou pela ameaça à minha posição no mundo empresarial; eu nunca teria um prejuízo. Possuía dinheiro o suficiente para viver o resto da minha vida de maneira confortável sem trabalho algum. Mas pela ideia de ver algo tão precioso e significativo ser tirado de mim. Era a sensação de que, ao perder as empresas, estaria perdendo uma parte essencial de meus pais novamente, uma dor que eu nunca imaginava ter que reviver. Era uma tristeza profunda e dilacerante, carregada de memórias e significados que transcendiam qualquer aspecto material.
— Ah, não preciso nem avisar que não há outras soluções. Não tente envolver advogados nisso, acredite em mim, isso só vai piorar. - Alertou com um tom de divertimento em sua voz.
— Para ser um pouco mais piedoso, te darei dois meses.
Suspirei. Me vi em uma encruzilhada difícil. Sabia que essa decisão poderia ter implicações consideráveis, mas também entendia que proteger a identidade de Kunikuzushi ainda era uma prioridade.
— Dois meses, Raiden. A escolha é sua - Declarou, antes de se afastar com um sorriso maligno.
Fiquei ali parada por um momento, sentindo o peso da pressão e tentando raciocinar o que acabara de haver.
Quando finalmente juntei forças, peguei o elevador e adentrei o carro para voltar à mansão. Sentada no banco de trás, tirei meu celular da bolsa e busquei o contato de Sara em minha lista telefônica e passo a ligá-la. Poucos segundos depois sou atendida.
— Raiden?
Com as mãos trêmulas, levo o celular à orelha.
— Oi, Sara. Temos um problema… um grande problema.
A morena ficou em silêncio do outro lado da linha, parecia amedrontada, mas aposto que ela nem imaginava o que estava por vir e eu nem sabia como contá-la.
Suspirei pesadamente num misto de urgência e agonia. Eu precisava contar agora.
— Kamisato Ayato descobriu sobre o Kunikuzushi. Ele quer que eu passe o nome de todas as empresas para ele em troca do seu sigilo.
Ela continuou em silêncio, alguns ruídos eram audíveis da chamada, mas nada além disso. Perante seu silêncio ansioso, fiquei observando pela janela do carro os grandes prédios pelos quais eu passava.
— O que…? Como?
O tremor e medo em sua voz eram visíveis. Ela estava tão desesperada quanto eu. Eu fiquei em silêncio sem saber como respondê-la.
— Raiden, como você deixou isso acontecer? Não é possível.
— Eu não sei! Ele me intimou no jantar beneficente de ontem… disse que sabia sobre meu sobrinho, mas não contou como descobriu. O que eu faço?!
Ficou em silêncio e posteriormente bufou, nervosa.
— Ok. Calma. Eu vou entrar em contato com a equipe de advogados da Yanfei e assim que eles retornarem….
— Ele disse que não é para eu contratar advogados, se não vai ser pior. Ele tá decidido que quer as empresas. Me deu dois meses.
— Pelos Arcontes… dois meses?!
Kujou estava tão perdida quanto eu. Não sabia se contar sobre isso tinha sido uma boa ideia, mas eu já o tinha feito. Decisões tinham que ser tomadas, e rápido.
— Acho melhor conversarmos sobre isso quando você retornar a Narukami. Até mais, Sara.
Desliguei sem escutar sua resposta.
Era frustrante ver como a minha vida aos poucos, estava desabando, e eu sequer tinha controle sobre alguma coisa.
Perder essas empresas significaria mais do que simplesmente abrir mão de investimentos financeiros ou oportunidades de negócio. Significaria despedir-me de uma parte intrínseca da minha história familiar. Era como perder um elo com meus pais, uma herança tangível que me conectava ao presente. Elas eram o legado deixado por meus pais, uma conexão tangível com minha história e uma parte preciosa da minha própria identidade. A possibilidade de perdê-las era como ter as raízes arrancadas da minha existência.
Apoiei minha cabeça na janela do carro, sentindo-me exausta como nunca. Como tudo tinha simplesmente desmoronado de uma semana para outra?
Poucos minutos depois, estava em casa. Ao abrir a porta e tirar os sapatos, escuto alguns sons de risadas vindo da sala de estar, surpresa, sigo os sons abafados e me deparo com Yae Miko Guuji e Kunikuzushi imersos no que parecia ser uma partida animada do Banco Imobiliário.
— Sra. Raiden, você chegou na hora certa. Estamos tendo uma disputa intensa pelo domínio do Boardwalk - Exclamou Miko, com um sorriso contagiante.
Por alguns instantes, algo dentro de mim se iluminou. O clima alegre e descontraído da cena talvez tivesse descarregado um pouco do peso da preocupação que eu vinha carregando.
Eu me aproximei da mesa onde ela e meu sobrinho disputam acirradamente, analisando meticulosamente o tabuleiro bagunçado.
— Tia, joga com a gente. Não tem graça jogar com a tia Miko, ela é muito ruim! - O menor zombou cruelmente de sua babá, que não pareceu não se importar muito com a sátira.
Bom, eu não tenho mais nada a perder.
Puxei uma cadeira ao lado de Kunikuzushi e me sentei de frente para Yae Miko. A rosada me olhou visivelmente surpresa.
Que mal faria uma partida de Banco Imobiliário a essa altura do campeonato? Minha vida já estava uma bagunça, de qualquer modo.
— Ok, o que eu perdi aqui? Alguém pode me explicar como funciona esse jogo?
Yae Miko e Kunikuzushi se entreolharam desorientados e posteriormente começaram a explicar as regras, detalhando cada aspecto do jogo de forma liberada. Escutei atentamente, fazendo perguntas ocasionais para pontos específicos
À medida que o jogo progredia, pareci estar um pouco perdida no começo, fazendo movimentos cautelosos e seguindo as orientações dadas por Miko e Kuzushi. No entanto, à medida que as rodadas avançavam, comecei a demonstrar uma compreensão sutil das estratégias e um conhecimento surpreendente do jogo.
— Bem, eu entendi agora. Essa é a estratégia. - Exclamei de repente, conseguindo minhas peças com confiança.
Yae Miko observou o tabuleiro cautelosamente e franziu o cenho.
— Nossa… você aprendeu bem rápido. - Frustrada, coçou a cabeleira.
— O jogo começou agora pouco e você já está cheia de dinheiro, tia! - O menor reclamou, tão ludibriado quanto sua cuidadora.
Eu sorri descaradamente. Ele e Miko trocaram olhares confusos, surpresos com a minha rápida evolução de habilidades estratégicas.
A cada jogada, eu me tornava mais confiante e astuta, surpreendendo ambos com minhas jogadas inesperadas.
Horas depois, conforme o jogo se aproximava do fim, eu estava à beira da minha décima segunda “vitória inesperada”. Kunikuzushi se encontrava com a cabeça deitada sobre a mesa, frustrado com tantas derrotas. Guuji, estava com o cabelo preso em um coque desajeitado e mãos unidas, a tempos observando o tabuleiro sistematicamente, analisando com cautela seu próximo passo. A menor encabulada, ainda não estava decidida de sua próxima estratégia.
— Como isso é possível… - Ela esfregou a mão no queixo, indignada.
Com um sorriso orgulhoso, eu revelei:
— Bem, talvez eu tenha um truque ou dois na manga que eu não mencionei antes.
Guuji e meu sobrinho me olharam surpresos.
— Na verdade, eu cresci jogando isso com meus pais. Sou uma especialista nesse jogo, mas quis ver como vocês lidariam com a situação e também queria testar se eu ainda tinha as manhas.
Os dois se entreolharam encabulados.
— Isso não é justo! Tia, você é uma trapaceira e é uma….
— Baita estrategista e manipuladora. É de se esperar de uma empresária capitalista. - Miko completou, cruzando os braços com um sorriso divertido na boca e um olhar desafiador.
Entre trocas de olhares divertidos, risadas e alguns movimentos arriscados no jogo, talvez aquele momento era um refúgio precioso da ansiedade que vinha enfrentando. Enquanto as propriedades do Banco Imobiliário mudavam de mãos e as piadas fluíam, consegui relaxar e me permitindo entrar na brincadeira.
A noite avançava com as horas sendo engolidas pelo jogo. Quando menos percebi, o anoitecer havia chegado.
— Cansei de derrotá-los. Bom, foi divertido. Vou tomar uma ducha e resolver alguns compromissos. Qualquer coisa estarei no meu escritório, Yae Miko. - Declarei, levantando da cadeira e me sentindo dolorida após horas sentada.
Ela me assistiu espreguiçando e pegando minha bolsa que estava sobre a mesa. Acenei com a cabeça em sinal de despedida, pois provavelmente aquela seria nossa última interação do dia e rumei até meu banheiro.
Amarrei meu cabelo num coque, fechei o grande box, liguei a ducha de inox com os chuveiros laterais e senti uma sensação de paz imensurável quando o jato de água quente atingiu minha pele. Era isso o que eu estava precisando o dia inteiro.
Enquanto me ensaboava, me peguei pensando em Yae Miko.
Ainda que tudo estivesse desabando para mim, me confortava um pouco em ver que ela e Kunikuzushi estavam criando uma conexão. O garoto precisava de alguém para entretê-lo durante esse meio tempo, e mesmo que eu soubesse que ele não ficaria aqui por muito tempo, estava feliz por vê-lo feliz.
Era uma pena aquela felicidade ser temporária.
Após meia hora de ducha reflexiva, me sequei e vesti um cardigã preto simples de botões e uma calça roxa pantalona em tecido re-nylon. Passo a mão no embassado do espelho, encarando meu reflexo, eu estava precisando seriamente me cuidar. Fiz minha skin care e uma trança nos meus longos cabelos.
Depois de sair do banheiro, subi para o meu escritório, fechei a porta e caminhei de um lado para o outro, tentando formular um plano. Abri a gaveta de arquivos e documentos, folheei papéis, revi contratos, mas todas as soluções me levavam a um beco sem saída. A sensação de impotência cresceu, e eu me via sem opções viáveis.
Sentada em minha mesa, com as mãos trêmulas, percebi que precisava de ajuda.
Aquilo era um absurdo.
Com a cabeça fritando, deitei ela sobre os inúmeros papéis espalhados sobre a mesa. Faz anos que eu não sentia esse esgotamento emocional. Observo com feição o retrato de meus pais que ficava posicionado ao lado de meu notebook e o trago em mãos.
Eu não poderia decepcioná-los.
De repente, ouço batidas suaves na porta. Me desperto, arrumo a postura na cadeira de escritório e ponho o retrato em seu devido lugar na mesa.
A porta se abriu num gesto educado.
— Posso entrar? – Perguntou Yae Miko, com gentileza.
Olhei para cima, surpresa com a visita, mas acenei para que ela se aproximasse.
— Claro, por favor.
Miko se sentou à minha frente, com uma expressão de preocupação genuína.
— Notei que você estava um pouco inquieta desde o jogo. Parece que algo está te incomodando. Quer conversar sobre isso?
Hesitei por um momento, mas vi em Yae uma “amizade” temporária em potencial nesse momento difícil. Respirei fundo, de qualquer maneira ela já sabia desde a minha discussão com meus tios até sobre a proposta de Ayato e a ameaça iminente de perder tudo o que eu tinha.
— Estou ficando sem saída, Yae Miko. É como se minha vida inteira ficasse suspensa por um fio. Se eu não ceder às exigências do Kamisato, posso perder tudo o que construí. Mas ceder significaria abrir a mão do legado dos meus pais, algo que não posso permitir. – Ela me escutou atentamente, demonstrando empatia, algo que eu não via em alguém há anos.
— Sei que é uma situação difícil, mas você não está sozinha, tem que haver uma solução. Você é forte e inteligente, há um jeito de passar por cima disso, só não sabemos ainda. – Disse Miko com sinceridade.
Eu retribuí com um sorriso de conforto.
Nos encaramos e percebi que nunca havia reparado nas suas orbes tons de roxo púrpura. Seus olhos eram grandes e redondos e transmitiam uma luz que eu não sabia como descrever. Nesse meio tempo, acabei lembrando da noite passada.
Por um instante, me senti envergonhada ao lembrar de como tinha me permitido mostrar uma vulnerabilidade que raramente exibia. A imagem de Yae Miko me abraçando e consolando enquanto estava bêbada era desconfortável e constrangedor, aquela cena certamente comprometeu minha habitual postura reservada.
Desviei meu olhar dela, sentindo que minhas bochechas poderiam denunciar o meu constrangimento.
Decidi deixar aquilo para trás, como se fosse apenas um lapso momentâneo de fraqueza. Afinal, sempre fui uma pessoa forte e independente, incapaz de depender dos outros ou de demonstrar minhas emoções com tanta clareza para alguém que nem era tão íntimo de mim.
Não poderia me dar ao luxo de ser vista como frágil ou dependente, especificamente por alguém como Yae Miko, uma pessoa que eu mantinha a uma distância profissional pelo nosso próprio bem.
— É… o jantar está pronto, caso queira descer para comer comigo e com o Kuni.
Ela se levantou desorientada e com o olhar perdido. Eu apenas assenti e a observei, se retirando com pressa do meu escritório.
Era mais fácil para eu somente ignorar que enfrentaria a complexidade daquela situação e o impacto que aquela noite poderia ter em minha relação com a Yae Miko.
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos sobre Miko que rondavam minha cabeça.
Eu tinha que pensar num plano. Sem distrações externas.
Yae Miko
Cinco dias depois do dia em que jogamos juntas Banco Imobiliário, a Shogun estava chegando tarde em casa por conta de seus compromissos, o que impossibilitava uma interação direta entre eu e ela. Quando escutava o som da porta abrindo que denunciava sua chegada, já era tarde da noite e eu estava em meu quarto me preparando pra dormir, e se eu conseguisse dormir…
Tinha um turbilhão de pensamentos antes de cair no sono, pensando na noite de abraço e consolo. Vi uma mudança sutil no comportamento de Shogun Raiden, uma distância que não parecia despercebida aos meus olhos atentos. A falta de interação entre nós, somada aos compromissos incessantes de Raiden que a mantinham afastada de mim, contribuíram para um vazio incômodo na minha rotina
Por mais que eu tentasse racionalizar meus sentimentos e evitar, me surpreendi com a decepção que senti pelo afastamento de Shogun. Questionei a mim mesma, relembrando que a relação entre eu e ela era puramente profissional. No entanto, algo dentro de mim me causava um incômodo e parecia resistir a essa ideia, uma sensação de proximidade que ia além do ambiente de trabalho…
Era simplesmente ridículo!
Todas as noites antes de dormir, me pegava revivendo aqueles momentos íntimos, a conexão óbvia que a gente havia experimentado enquanto consolava ela naquela noite. A confusão de sentimentos era muito desconcertante para alguém que sempre manteve uma fronteira clara entre sua vida pessoal e profissional.
E eu até me flagrei desejando um encontro casual nos corredores ou uma simples troca de palavras, mas os dias passaram sem oportunidades para um contato sequer. Me sentia confusa e, ao mesmo tempo, culpada por dar tanta importância à proximidade com a minha chefe. Afinal, não era maduro nutrir sentimentos pessoais por alguém com quem eu mantinha uma relação profissional.
Tentei afastar esses pensamentos, lembrando a mim mesma de que Shogun Raiden era minha chefe, e nada mais. Porém, aquela sensação de vazio persistia, a ausência de interação me bagunçava mais do que eu desejava.
Afaguei meu rosto contra o travesseiro como uma adolescente frustrada.
Eu estaria mentindo se dissesse que não estava bolando planos estúpidos para interagir com a minha chefe, mas eu nunca admitiria isso em voz alta. Meu ego estava ferido e eu estava determinada a romper aquele silêncio desconfortável que pairava entre eu e Shogun.
No dia seguinte, após preparar Kunikuzushi para sua aula matinal, me sentei no sofá da outra sala de estar e liguei meu notebook apoiado em cima de uma almofada em minhas pernas.
Analisando relatórios e documentos sobre a biografia que vinha escrevendo, bolei um plano para interagir com Raiden de uma maneira casual, mas que aparentava ser eficaz.
Decidi usar uma abordagem mais sutil. Eu sabia que, por causa dos compromissos lotados de Raiden Shogun, seria difícil encontrar um momento para uma conversa espontânea nos corredores da mansão. Então, optei por uma estratégia diferente.
Após algumas considerações, tive uma ideia: escrever um breve e-mail a Shogun, apresentando um resumo dos projetos do livro que estavam em andamento e sugerindo discuti-los pessoalmente, - e claro, sem nenhuma pretensão de minha parte - Eu esperava que essa abordagem profissional fosse uma forma discreta de conversar com a Raiden, demonstrando minha dedicação aos meus projetos iniciais e, ao mesmo tempo, criando uma oportunidade de interação mais próxima.
Com cuidado, eu escrevi o e-mail, expressando meu interesse em discutir ideias para os próximos passos nos projetos em andamento. Também incluiu algumas sugestões e pontos relevantes, mostrando meu grande e ótimo comprometimento.
Terminando de revisar e ajustar a mensagem algumas vezes, respirei fundo e enviei o e-mail para Raiden, esperando que essa abordagem profissional pudesse abrir as portas para uma interação mais próxima.
Enquanto aguardava a resposta dela, eu mantinha um misto de ansiedade e esperança. Toda notificação que meu notebook emitia, era um pulo e eu corria para checar, entretanto, Raiden não aparentava sinais que responderia rápido.
Entediada, abri meu aplicativo de mensagens.
Quarteto Fantástico
Ontem, às 00:28
[00:18] Gorou <3: APAGA ESSA FOTO PELO AMOR
Hoje
[12:25] Miko: Oi gente, como estão as coisas por aí?
[12:26] Gorou <3: Uau, ela lembrou que tem amigos
[12:28] Yoimi: A gente que te pergunta, como estão as coisas por aí? sumida! >:(
[12:29] Itto bundão: A vida na cidade grande tá te transformando em uma empresária chique… perdemo família
[12:29] Gorou <3: Como tá sendo trabalhar com a ricaça da Shogun Raiden?
[12:29] Miko: Ah, eu continuo na mesma
[12:29] Miko: Trabalhar com a Shogun
[12:29] Miko: Sla é interessante
[12:30] Miko: Ela é exigente, mas está tudo sob controle
[12:30] Miko: Não sei se mencionei que estamos morando no mesmo teto, longa história….
[12:30] Yoimi: QUE??
[12:30] Yoimi: QUANDO VOCÊ VOLTAR VAI CONTAR ESSA HISTÓRIA DIREITO
[12:30] Gorou <3: Como isso foi acontecer??
[12:30] Gorou <3: E por que não contou antes?????
[12:31] Itto bundão: Opa, convivendo 24 horas por dia com a chefe?
[12:31] Itto bundão: Isso é que é coragem
[12:31] Itto bundão: Vocês estão fazendo guerra de travesseiros no meio da noite? shgshasnssh
[12:31] Miko: Não, mas eu já a ajudei a apagar uma panela pegando fogo na cozinha…
[12:31] Miko: Ela é horrível na cozinha, acho que não sabe fritar nem um ovo
[12:31] Yoimi: Ela deve ser bem focada né
[12:31] Yoimi: Não deve rolar muitas festas por aí
[12:32] Miko: O próxima de festa que tivemos foi uma batalha do Banco Imobiliário outro dia. Ela levou bem a sério
[12:32] Gorou <3: Vocês já têm uma amizade de dar uns pegas bêbadas e no dia seguinte fingir que nada aconteceu ou ainda estão na fase "olá, bom dia"?
Meu rosto ficou instantaneamente vermelho ao ler aquela mensagem.
[12:32] Miko: Claro q não idiota
[12:32] Miko: Ela é minha chefe e a gente nem tá se falando direito
[12:32] Miko: As chances disso acontecer são abaixo de zero
[12:32] Miko: Isso é ridículo
[12:33] Itto bundão: Se tá negando tanto assim é pq já rolou algo ( ͡° ͜ʖ ͡°)
[12:33] Yoimi: E quando sai o casamento cm a chefe milionária ein?
[12:33] Miko: Não existe nada disso, é só trabalho
[12:33] Miko: Parem de encher o saco
[12:33] Gorou <3: Claro claro
[12:34] Gorou <3: É só uma questão de tempo até vcs anunciarem o noivado
[12:34] Miko: Vcs têm uma imaginação bem fértil
[12:34] Yoimi: Mas vcs têm o mesmo endereço, trabalham juntas, são inseparáveis…
[12:34] Yoimi: isso tá com cheiro de romance!
[12:34] Miko: Tecnicamente vc tá errada no “inseparáveis”
[12:35] Miko: Mas todo o resto tbm é ridículo
[12:35] Miko: TUDO ISSO É RIDÍCULO
[12:35] Miko: VCS SÃO RIDÍCULOS
Jogo o notebook pro lado, frustrada em perceber como era fácil ser tirada do sério pelos meus amigos. Esfreguei o rosto com esperanças de disfarçar o rubor na bochecha. Aquilo era ridículo, eles não sabem de nada.
Chega de internet por hoje.
Me levantei e com intenções de me manter ocupada, fiz uma faxina na casa, exceto pela sala onde Kunikuzushi estava tendo aula. Dei ração a todos os cães da Shogun e terminei de preparar o almoço.
No fim da aula, acompanhei Rukkhadevata e Nahida até a porta e me despedi de ambas. Dei almoço ao Kunikuzushi e ele me ajudou com a louça, de forma desengonçada visto que uma criança de seis anos não tem coordenação motora como a de um adulto, mas ajudou e foi adorável o esforço do pequeno.
No final da tarde ao início da noite, eu e Kuni nos sentamos no tapete da sala para jogar UNO. Algumas horas depois, eu ouço o barulho da porta se abrindo e os cães correm para averiguar.
Ela finalmente tinha chegado e então eu me levantei num pulo, soltando as cartas no chão e avisando ao Kunikuzushi que tinha que conversar com sua tia.
Quando ela passou por nós, nem sequer se dignou a olhar para mim e apenas passou reto.
— Sra. Raiden?
Ela parou sua caminhada e se virou, dando-me sua atenção. Seu semblante era distante.
— Você teve a chance de ler o e-mail que enviei sobre o livro? – Questionei tentando esconder as expectativas em meu olhar.
— Não, não tive tempo ainda. Muitas coisas para resolver lá fora. - Respondeu brevemente com uma expressão cansada.
Ok. Talvez aquilo tivesse me acertado como um balde de água fria.
— Ah, tudo bem… sem problema. Podemos conversar sobre isso mais tarde? - Desapontada, tentei manter o ânimo e falhei miseravelmente.
— Estarei ocupada com alguns compromissos aqui em casa esta noite. Talvez amanhã. - Respondeu com a mesma postura distante.
O tom cortante e a falta de disponibilidade da Shogun me atingiram mais do que eu esperava.
Tentando disfarçar minha decepção, engoli em seco e assenti com um simples:
— Está bem, sem problemas.
Raiden subiu as escadas sem olhar para trás.
Me jogo no sofá sem saber o que eu tinha errado, desapontada e um pouco magoada pela frieza dela. Era como se a relação entre nós, que já estava abalada, tivesse se distanciado ainda mais naquele momento.
Me esforcei para não deixar transparecer minha frustração perto de Kunikuzushi, mas ao mesmo tempo, aquela troca breve e distante me deixou com um certo peso.
— Tiaaaa! Vamos jogar! - O pequeno suplicou, impaciente.
Percebi que, mesmo tentando me manter profissional, a falta de reciprocidade e proximidade de Shogun Raiden me afetava mais do que queria admitir.
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