Capítulo 7 Pesadelo
Amélie estava em um lugar diferente. Ela tinha dormido junto com Lena, de conchinha, mas nesse momento, ela se encontrava sentada em um lugar escuro. Olhando em volta, podia ver que havia outras pessoas, mas não conseguia distinguir o rosto de ninguém. E então uma luz forte brilhou, e Amélie percebeu que se tratavam de refletores. O local fora totalmente iluminado, e ao olhar novamente para as pessoas ao seu lado, a francesa apenas viu um monte de pessoas estranhas. As luzes enfraqueceram, até se apagarem completamente, e os holofotes foram direcionados para um local adiante do que Amélie estava. Seguindo a luz, percebeu que no centro do local havia um ringue de boxe. Só então a francesa se deu conta de que estava em uma arquibancada. Não havia tantas pessoas como na Arena Wembley, onde havia sido a luta de Lena no dia anterior. Na verdade, o local em que Amélie estava era bem mais simples. As arquibancadas não estavam completamente lotadas. “Será que isso é um sonho?” se questionava Amélie em seus pensamentos. O locutor começou falando alguma coisa, que Amélie não conseguiu entender no começo. Só então percebeu que o homem se comunicava em espanhol. Tentou se concentrar melhor, tentando compreender o que era dito. Só conseguiu entender uma frase: Final del Campeonato Mundial de Boxeo Amateur Femenino (Final do Campeonato Mundial de Boxe Amador Feminino, em espanhol).
Amélie concluiu que aquilo só podia ser um sonho. Ela nunca havia ido naquele local. E então, os holofotes brilharam em um dos cantos da pequena arena, e o locutor começou a anunciar a entrada de alguém. Uma bela jovem, baixinha, de cabelos curtos, entrava timidamente pela arena. Usava um top e short preto, luvas de boxe vermelhas, e suas botas de boxe mesclavam um tom de branco com amarelo. Era incrivelmente linda. Demorou um pouco para a francesa reconhecer aquela pessoa, mas quando o fez, seu coração parou.
—Lena?! —disse Amélie, completamente chocada. Ela parecia tão jovem. Atrás da britânica vinha Gabriel e dois outros funcionários que a francesa não sabia quem eram. Eles se vestiam exatamente como Doomfist e McCree, usando camisas brancas e calças pretas. Gabriel carregava uma toalha em seu pescoço. O homem abriu espaço entre as cordas para que Lena pudesse entrar no ringue. A morena fez a mesma saudação que na luta anterior. Ela não tinha o corte na bochecha direita, e parecia muito mais jovem. A britânica voltou-se para o corner azul, permanecendo nele, e então, o locutor novamente começou a falar, e os holofotes foram jogados para o outro canto da arena. Amélie não prestou atenção ao nome da garota.
Uma outra garota apareceu. Tinha pele negra, e os cabelos castanhos escuros estavam presos por um elástico, mas Amélie conseguiu ver que ela tinha algumas mechas de cor roxa. Usava um top e short vermelhos, e suas luvas tinham as cores da bandeira do México, contendo também o brasão nacional do país, que era a figura de uma águia voando a partir de alguns cactos e carregando uma serpente viva. Vinham atrás dela três homens, todos vestidos de camisas e calças pretas. Um deles abriu espaço entre as cordas para que a garota entrasse. A garota ergueu ambos os braços, e todos nas arquibancadas levantaram-se para aplaudir e gritar. Um grito único começou a ecoar pelo local através da torcida. Lena pareceu se encolher em seu corner. A outra garota se dirigiu para o corner vermelho. O árbitro as chamou para o centro do ringue, onde explicou as regras. Após isso, as duas se cumprimentaram. Nenhuma delas usava headgear (protetor de cabeça).
Ambas retornaram aos seus corners, onde receberam as últimas instruções de seus técnicos, e em seguida, se prepararam para a luta. Ambas adotaram suas posições de combate, esperando apenas o soar do gongo.
—ROUND 1!
Ring. Ao soar do gongo, Lena avançou, desferindo jabs de esquerda tão rápidos que Amélie quase não conseguia ver. No entanto, a adversária da britânica parecia visualizar todos os ataques, pois se esquivava facilmente. Porém, algo chamava a atenção da francesa. Lena estava lutando de maneira muito agressiva, pressionando sua adversária incansavelmente. Mesmo atacando com toda a sua vontade, a britânica não estava conseguindo atingir a outra lutadora. Lena se movimentava de maneira incrível. Parecia voar no ringue. Conseguia misturar movimentos delicados e graciosos com técnicas mortais, e seus pés se movimentavam de um jeito incomparável. Amélie chegou a ficar com ciúmes da britânica. “Ela daria uma ótima bailarina.” Pensava Amélie, apaixonada por cada movimento da sua amada.
Amélie foi tirada de seu transe quando um golpe de direita acertou em cheio o rosto de Lena, atirando a para o outro lado do ringue. A outra garota avançou, com movimentos bruscos e selvagens. Diferente de Lena, a garota não parecia utilizar de técnicas para golpear. Lançava ataques de ângulos improváveis, e Lena não conseguia defender. A morena foi encurralada no corner neutro, onde continuou a ser espancada. Levantou a guarda, protegendo o rosto, mas deixou o corpo desprotegido, e foi castigada por uma chuva de golpes de sua adversária. Amélie estava horrorizada. O som emitido a cada golpe era algo indescritível, e mesmo estando longe, a francesa sabia que a força de cada ataque deveria ser inumana, pois as pernas de Lena tremiam. A francesa sabia que era apenas uma questão de tempo até a britânica perder o equilíbrio e cair. Mas então, o round acabou. Ring. Ring. Ring.
—Stop! (Parem!) — gritou o juiz, intervindo e separando as duas. Lena mal conseguiu caminhar até o seu corner. Suas pernas estavam trêmulas. Gabriel ajudou-a até o restante do caminho, sentando-a em uma banqueta. No outro corner, a garota de mechas roxas parecia tranquila. Não demonstrava muitas reações, e seu técnico praticamente não estava falando. Gabriel tentou amenizar ao máximo os ferimentos da britânica, mas não havia muito o que fazer.
—SECOND OUT! (AUXILIARES, SAIAM!) — ordenou uma voz através do microfone. Ambos os técnicos saíram, e as lutadoras colocaram-se novamente em suas posições de combate. Após um breve intervalo, todos se preparavam para o reinício da luta.
—ROUND 2!
Ring. Ao soar do gongo, a garota avançou devagar na direção de Lena, que tentava se movimentar pelo ringue. E então o primeiro golpe foi lançado. Foi tão rápido que Amélie só percebeu que Lena havia sido golpeada porque o seu protetor bucal foi atirado para longe devido ao golpe, assim como uma boa quantidade de sangue. A britânica foi obrigada a recuar para as cordas, e esse foi seu erro. A outra lutadora encurralou Lena, que foi massacrada por uma sequência de ataques da outra mulher. A britânica tentou proteger a cabeça, mas os golpes no corpo foram tão fortes que sua guarda abriu, e nesse momento, outra sequência de ataques se iniciou. Sangue voava para todos os lados, até que o golpe final foi desferido, e Lena caiu violentamente no chão, de costas e com os braços abertos. Sua adversária virou-se, levantando ambos os braços em comemoração, e a torcida se levantou mais uma vez para aplaudir e gritar. O árbitro se aproximou de Lena, para iniciar a contagem:
—One! —gritou, mas não continuou. Se aproximando mais um pouco, percebeu que a britânica já não demonstrava nenhuma reação. —O-one... —começou novamente, mas nenhum sinal de resposta da garota. O árbitro então tomou sua decisão. Ergueu ambos os braços acima da cabeça, cruzando os repetidamente em um x, anunciando o fim da luta. Ring. Ring. Ring. Gabriel e os outros dois funcionários entraram correndo dentro do ringue para socorrer Lena, mas a britânica ainda permanecia inconsciente. Enquanto isso, o árbitro declarava a outra garota vencedora da luta. Infelizmente, devido à gritaria vinda das arquibancadas, Amélie não pode entender direito o nome da lutadora.
O sonho então mudou. Tudo ficou desfocado e sem forma em um instante, e no momento seguinte, Amélie se encontrava novamente sentada em um local escuro, com pessoas ao seu lado. Mesmo na escuridão, a francesa podia perceber que o lugar era muito maior. Um show pirotécnico se iniciou, até que as luzes ficaram tão fortes que Amélie foi obrigada a fechar os olhos. Quando os abriu novamente, ficou surpresa ao perceber que estava sentada próxima de um ringue de boxe. Dentro do ringue, o árbitro explicava as regras. As lutadoras eram as mesmas de antes: Lena e a garota de mechas roxas no cabelo, mas agora as duas pareciam bem mais velhas. A britânica agora tinha o corte na bochecha direita, e a outra mulher tinha cabelos mais curtos do que na outra luta. Seus visuais eram praticamente os mesmos: Lena com top e short preto, e a outra mulher com top e short vermelhos, e as suas luvas de boxe com as cores da bandeira do México. Logo que o árbitro terminou, as duas se dirigiram para seus corners, Lena ao azul, e a outra mulher para o vermelho. Amélie ficou feliz ao ver Gabriel como técnico e McCree como auxiliar, e surpresa ao perceber que Doomfist não estava ali. Do outro lado, no corner vermelho, a boxeadora mexicana conversava com seu técnico. E de repente, uma voz feminina falou pelo microfone:
—Senhoras e senhores, o evento principal dessa noite, a luta pelo Título Mundial dos Pesos Pena Feminino da WBC começará em instantes. Por favor, mantenham-se sentados. —pediu a voz. De início, Amélie pensou que havia entendido errado, mas ao olhar em volta, percebeu que era verdade. Não estavam em uma arena, mas sim em um estádio, que deveria ter mais de 80 mil pessoas. Cada momento da luta era transmitido por dois telões imensos, e por toda a arquibancada era possível ver pessoas com faixas e cartazes em apoio à britânica. Amélie percebeu as pessoas gritando em inglês, tentando incentivar Lena. A francesa ficou mais aliviada, pois agora o ambiente parecia bem mais aconchegante com todo aquele apoio.
—SECOND OUT! (AUXILIARES, SAIAM!) — gritou uma voz masculina pelo microfone. Os técnicos e os auxiliares se retiraram do ringue, e a tensão se instalou no local. Todo o estádio ficou quieto.
—Round 1!
Ring. Ao soar do gongo, Lena avançou aos poucos, cautelosa, assim como sua adversária. Enquanto Lena mantinha uma postura mais rígida, a outra mulher sequer mantinha a guarda levantada. Era um início completamente diferente da outra luta que a francesa havia visto antes. E então, novamente a britânica desferiu o primeiro golpe, mas dessa vez acertou em cheio o rosto da mulher. Um jab de esquerda preciso cortou o ar em uma velocidade incrível, e assim que Lena percebeu que havia acertado, aproveitou o descuido da outra lutadora para continuar atacando. Todos os golpes da britânica acertavam perfeitamente o rosto da mulher, que diante daqueles ataques foi forçada a recuar até o corner neutro. O estilo de luta da britânica estava mais parecido com o de sua luta de retorno, que havia acontecido no sábado. Em dado momento, a adversária de Lena tentou inverter as posições, jogando a britânica para as cordas. Tentou desferir golpes, mas não conseguiu acertar, pois Lena esquivou-se facilmente, abusando da movimentação com seus pés. As duas então retornaram ao centro do ringue, onde novamente Lena demonstrou ter domínio da luta, sempre acertando sua adversária e esquivando dos golpes lançados pela mulher. E enfim, o gongo soou. Ring.
—Stop! (Parem!) — gritou o juiz, intervindo. As lutadoras retornaram para seus corners, sentando em suas banquetas. Dessa vez, Lena parecia muito mais calma. Sua expressão demonstrava confiança, e enquanto bebia um pouco de água, ouvia atentamente as instruções de Gabriel. Do outro lado, a mexicana conversava com seu técnico. Apesar do domínio total de Lena no primeiro round, a mulher não demonstrava nenhuma preocupação, assim como sua equipe. Era como se eles estivessem acostumados a situações como aquela.
—SECOND OUT! (AUXILIARES, SAIAM!) — gritou a voz masculina pelo microfone, seguida de um sinal sonoro. Os técnicos e auxiliares se retiraram do ringue, e ambas as lutadoras colocaram de volta seus protetores bucais. —Round 2!
Ring. Ao soar do gongo, novamente o silêncio. Ambas as lutadoras avançaram cautelosamente até o centro do ringue, e Lena tomou a iniciativa, lançando dois jabs seguidos de esquerda que foram defendidos pela outra mulher. A britânica avançou, tentando impedir qualquer reação da outra lutadora, mas a mexicana foi mais rápida, e assim como na outra luta, desferiu um soco de um ângulo improvável, atingindo o rosto de Lena. Continuou os ataques, com uma sequência de golpes que alternava ataques no corpo e no rosto. Assim como da outra vez, Lena foi jogada contra as cordas, e massacrada pela sequência de golpes. A britânica não conseguia revidar ou defender, e sempre que tentava algo, a mexicana frustrava qualquer tentativa de Lena. E então o golpe final foi desferido. Um direto de direita tão poderoso que fez o pescoço de Lena girar de um jeito irregular, e por um instante, Amélie pensou que a mulher tivesse matado a britânica. Colocou as mãos na boca, assustada com aquela situação. Lena caiu no chão, sem nenhuma reação. Seus olhos estavam abertos, mas ela não se mexia. Gabriel jogou a toalha, e o árbitro encerrou a luta imediatamente. Enquanto declarava a mexicana como vencedora, outros funcionários, incluindo o médico do evento e a equipe de Lena corriam para socorrê-la. O sonho então mudou, tudo ficou desfocado e sem forma novamente, até que Amélie se viu sentada em uma varanda, mirando um belo jardim. Estava no segundo andar de uma mansão. Ela usava um vestido simples de cor rosa, com algumas flores. Estava descalça, e com os cabelos soltos. A brisa suave vez ou outra jogava alguns fios de cabelo sobre o seu rosto. Era um lugar mais aconchegante. Ao olhar para o lado direito da varanda, no entanto, seu coração se apertou. Lena se encontrava em uma cadeira de rodas, sendo analisada por um médico. A britânica usava apenas uma camisola cinza, e duas sapatilhas. A francesa se aproximou do médico, aproveitando para observar melhor sua amada. Sua aparência não havia mudado muito, mas ela estava visivelmente mais magra.
—Como... como ela está? —perguntou Amélie, tremendo. Lena não demonstrou nenhuma reação, como quem não havia entendido nada.
—Sinto muito, mas não creio que ela possa se recuperar dos danos. —respondeu o homem. —Ela sofreu uma lesão um pouco acima da sexta vértebra da coluna cervical, e isso a deixou tetraplégica. Poderíamos tentar um tratamento cirúrgico, mas não acho que traria resultados. Os socos da outra mulher também afetaram o cérebro, causando uma lesão que culminou em afasia global, que é a situação onde Lena não consegue ler, escrever, falar ou compreender o que falamos. Também podemos tentar um tratamento, mas já adianto que as chances de recuperação não são grandes. Os golpes daquela mulher eram realmente monstruosos para conseguir causar tantos danos. —disse o médico. Amélie estava chocada de mais. “Eu não quero mais ver isso! Eu quero acordar!” gritava Amélie em seus pensamentos.
—Sra. Amélie, se não se importar, tenho que ir agora. Tenho outro paciente marcado para daqui a pouco. —disse o homem, e Amélie apenas assentiu. O médico então reuniu seus instrumentos e se retirou do local. A francesa se ajoelhou ao lado da britânica, tocando sua bochecha esquerda. Amélie não conseguiu segurar as lágrimas.
—É realmente triste esta cena. —disse uma voz feminina, e imediatamente Amélie se virou, assustada, para a porta da varanda, onde uma mulher negra, de cabelos longos de cores castanhos escuros com mechas roxas se encontrava. Ela vestia um jeans preto, assim como uma jaqueta de um tom bem escuro. Usava tênis, e tinha brincos e piercings nas orelhas.
—V-você! O que faz aqui?! —disse Amélie, chocada. Algumas lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto.
—Sabe por que isto aconteceu com Lena? —perguntou a mulher, ignorando as palavras da francesa. Era notável o sotaque mexicano na voz dela. — Confúcio uma vez disse: “Se queres prever o futuro, estuda o passado.”. A história se repete, chérie. Ela não poderia me vencer, não importa quantas vezes tentasse. Agora, está aí, nessa cadeira, sofrendo as consequências de sua teimosia em me desafiar. —disse a mulher.
—A culpa de tudo isto é sua! —gritou Amélie.
—Sim! Eu sou a causa de todo o seu sofrimento e o de Lena. E vim aqui para por um fim nisso. —disse a mulher, com uma expressão sombria no rosto. Amélie tremou ao ver o olhar assassino da mexicana.
—O que você quer dizer com isso? —perguntou Amélie, mas não esperou resposta. —Saia agora da minha casa. Você não é bem-vinda aqui!
—Eu sairei, mas primeiro vou terminar o serviço. —disse a mexicana, que avançou na direção de Amélie, agarrando-a pelo pescoço e erguendo-a no ar com apenas um braço. Amélie ficou assustada com a força da mulher, que sequer fazia esforço. A mão da mexicana começou a apertar o pescoço da francesa, que aos poucos ficava sem ar. Quando estava quase desmaiando, Amélie foi atirada para o outro lado da varanda, caindo no chão gelado. Seu corpo tremia violentamente, e a francesa tossia, tentando recuperar o ar. Ao levantar seus olhos, percebeu a mulher indo na direção de Lena.
—NÃO! P-PARE! —gritou Amélie, mas a mulher continuou a fazer o seu caminho. A mexicana começou a bater no rosto de Lena, machucando-a. Doía na francesa ver aquela cena. A britânica não podia fazer nada para se defender, e talvez nem soubesse o que de fato estava acontecendo. —POR FAVOR, PARE! EU A AMO! NÃO FAÇA ISSO COM ELA! —gritou Amélie, desta vez com mais força, porém de nada adiantou. A mulher golpeou a britânica com tanta força que a derrubou da cadeira de rodas, jogando-a no chão. A francesa se levantou e, com dificuldades, começou a caminhar na direção de sua amada. A mexicana percebeu o esforço de Amélie, e apenas riu em desdém. Em seguida, a mulher ergueu Lena com os braços.
—Dê uma última olhada, Amélie. Você não a verá nunca mais! Ao menos, não viva! —disse a mulher, e antes que Amélie pudesse gritar, implorando por misericórdia, a mexicana atirou Lena da varanda, e a francesa pôde ouvir o corpo de sua amada bater no chão com violência.
—NÃO! —gritou Amélie, caindo de joelhos. Lágrimas caíam de seu rosto. “Por que eu não acordo? Eu não consigo mais suportar isso!” pensava Amélie.
—Não se preocupe, minha querida francesinha. Você é a próxima. —disse a mulher, avançando na direção de Amélie e erguendo a francesa no ar novamente apenas com o braço esquerdo, tendo sua mão pressionando o pescoço de Amélie. —Estou lhe fazendo um favor. Com sorte, vai lhe poupar o sofrimento da morte da sua amada, e ainda vai conseguir encontra-la do outro lado da vida. —disse, e em seguida, desferiu golpes de direita na barriga de Amélie, subindo aos poucos. O ar começou a faltar, e a dor era tanta que a francesa podia sentir suas costelas se partindo à medida que os socos iam subindo. Após se dar por satisfeita, a mexicana atirou Amélie da beirada da varanda, que despencou em direção ao nada.
—Ah! —gritou Amélie, mas já não estava mais no sonho. Era madrugada, o céu estava escuro, ainda com algumas estrelas. Ela estava em King’s Row, deitada ao lado de Lena, no apartamento da britânica. A francesa tremia, e estava toda suada. O sonho tinha sido assustador. Observou Lena. Felizmente, a britânica não havia acordado com o grito de Amélie, o que provavelmente era um sinal de que a baixinha deveria estar muito cansada. Lentamente, Amélie se afastou, buscando não acordar Lena enquanto se levantava. Com certa dificuldade, caminhou até a cozinha, onde pegou um copo e o encheu de água, consumindo o líquido em seguida. A francesa não conseguia tirar de sua mente a terrível imagem de Lena sendo atirada da varanda. Procurou se sentar em uma das cadeiras da cozinha. Passou os olhos pelo cômodo, tentando se distrair com algo e se acalmar, mas não obteve sucesso. Resolveu tomar um banho de água fria, pois isso sempre a revigorava e a fazia pensar melhor. Foi até o banheiro. De frente para o espelho, a francesa retirou o sutiã e a calcinha roxa. Ver a imagem de seu belo corpo a fez se acalmar um pouco. “O que será que Lena pensaria se me visse assim?” pensava Amélie, colocando as mãos em seus seios fartos e enormes, mas ao pensar na britânica, novamente as imagens do sonho retornaram a sua mente. Sacudiu a cabeça, e com pressa, entrou no pequeno box, abrindo o chuveiro no máximo. A água fria tocou o seu corpo. Amélie esperava que a água revigorasse seus sentidos, lavasse sua alma e lhe trouxesse paz, mas não foi bem isso que aconteceu.
À medida que o líquido ia percorrendo toda a extensão de seu corpo, Amélie sentia uma sensação ruim. “Frio... nunca senti tanto frio! Será que isso é a morte?” pensava, mas então se deu conta do quão absurdo era aquele pensamento. Ou será que não?
Amélie fechou o chuveiro, e se enrolou em uma toalha branca que Lena costumava deixar pendurava em um gancho. Caminhou até o quarto devagar, apenas com a toalha em seu corpo. Ia se enxugando da melhor maneira possível. Os longos cabelos estavam agora molhados, e várias gotas de água ainda estavam espalhadas pelo corpo da francesa. Entrou de fininho no quarto, tentando não acordar Lena, mas assim que colocou os pés no cômodo, a britânica se levantou, sentando-se na cama e esfregando os olhos.
—Te acordei, chérie? —perguntou Amélie, tentando esconder a sua aflição devido ao pesadelo.
—Bom, mais ou menos. Eu ouvi a água caindo do chuveiro, e depois percebi que você não estava deitada comigo. —disse Lena. A britânica parecia estar tendo um pouco de dificuldades para focar a sua visão. —Enfim, aconteceu alguma coisa? Você está bem? —perguntou.
—Ah, claro. Não se preocupe, estou bem. —respondeu Amélie, de maneira apressada, o que deixou Lena desconfiada. —Não aconteceu nada. Eu apenas gosto de tomar um banho frio na madrugada. É um hábito comum meu, me ajuda a relaxar. —disse Amélie.
—Hmm, eu nunca vi você fazer isso desde que começou a dormir aqui. —disse Lena.
—Ah, bem, eu... —dizia Amélie, enquanto tentava pensar em alguma desculpa. —... é que eu estava evitando tomar esses banhos aqui. Na verdade, eu não precisava. Sempre que durmo com você, me sinto tão bem que não havia necessidade de continuar com esse hábito. —disse Amélie, e só então percebeu que poderia ter se complicado.
—E o que a fez mudar de ideia? Você está passando mal ou algo do tipo? —questionou Lena.
—Não, está tudo bem. —respondeu Amélie, mas era visível o nervosismo em sua voz. A francesa sentiu seu corpo tremer novamente, e não sabia se era por causa do frio ou das terríveis imagens do sonho que retornavam a sua mente. Uma sensação de pânico invadiu o seu corpo.
—Amélie. —chamou Lena, com uma expressão de preocupação no rosto. A britânica bateu levemente a mão na cama, pedindo que a francesa se sentasse ali. Amélie obedeceu prontamente, mesmo ainda estando um pouco molhada e apenas de toalha. Sentou-se ao lado da britânica, encostando seu ombro no da garota.
—Ei, o que foi que aconteceu? —perguntou Lena, acariciando o rosto de Amélie com a mão esquerda.
—Eu... tive um pesadelo. —confessou Amélie.
—Um pesadelo? Por isso essa expressão de pânico? —perguntou Lena, e a francesa apenas assentiu. —Quer falar sobre isto? —perguntou, mas não houve resposta. A britânica apenas continuou a acariciar o rosto de Amélie, e com o tempo, começou a dar beijos no ombro desnudo de sua amada, que pareceu relaxar um pouco. Lena percebeu quando a francesa fechou os olhos, e isso a incentivou a continuar com as carícias. Colocou a mão direita no outro ombro, e subiu os beijos até o pescoço de Amélie. Ao sentir os lábios quentes da britânica em seu pescoço, Amélie não pôde deixar de se arrepiar. Lena colocou ambas as mãos nos ombros da francesa, e começou a massageá-los, sem interromper os beijos no pescoço. Aos poucos, Amélie foi relaxando, e a sensação de pânico foi desaparecendo, sendo substituída pelo prazer causado pelos toques suaves da britânica.
—Se sente melhor? —perguntou Lena, interrompendo os toques.
—Sim. —respondeu Amélie. —Obrigada, mon amour. —disse, virando o rosto e beijando a britânica.
—Então... —disse Lena, interrompendo o beijo. —... quer conversar agora? —perguntou.
Amélie pôs se a pensar. A francesa não sabia se deveria contar o seu sonho, mas também não achava certo esconder de Lena o que havia acontecido. Por fim, decidiu revelar apenas algumas coisas:
—Nós morremos. —disse Amélie.
—O que? —disse Lena, sem entender.
—No meu pesadelo. —disse Amélie. —No meu pesadelo, nós duas morremos. —explicou.
—Então era por isso que você estava com aquela expressão de pânico. —disse Lena. —Estava se lembrando do pesadelo, não estava? —perguntou, e Amélie assentiu. —Como nós morremos? —perguntou Lena, mas Amélie apenas negou com a cabeça e fechou os olhos.
—Me desculpe. Eu não consigo... —disse Amélie, e Lena percebeu que ela se segurava para não chorar.
—Está tudo bem. Não tem problema. —disse Lena, beijando o ombro esquerdo da francesa. A mão direita da britânica foi até o outro ombro, onde repousou gentilmente. —Era só um pesadelo. Estamos vivas, e estamos juntas, e é isto o que importa. —disse Lena, subindo os beijos para o pescoço e começando a massagear os ombros de Amélie novamente. Lena podia sentir a excitação da francesa a cada vez que recebia um de seus toques, e então, a britânica resolveu deixar a brincadeira um pouco mais indecente. A mão esquerda desceu pelo corpo da francesa, passeando pelas costas da bela mulher e retornando novamente para o ombro, para em seguida invadir a toalha e descer até o seio esquerdo. Já a mão direita foi até o pescoço de Amélie, e subiu até que fosse possível manter o rosto da francesa erguido. Lena se aproximou ainda mais do corpo de Amélie, mordendo a parte de cima de sua orelha, o que arrancou um gemido da outra mulher.
—Lena? —chamou à francesa, mas a britânica não respondeu. Lena então começou a massagear o seio esquerdo de Amélie, fazendo movimentos circulares e depois de cima a baixo. —Lena?! —chamou novamente Amélie.
—Shhhhhhhhh... —sussurrou no ouvido da francesa. —... eu só quero te mostrar que eu estou viva, ok? —disse a britânica, com um olhar malicioso. Lena então pressionou o seio de Amélie, apertando-o e soltando-o, e arrancou mais gemidos da francesa. Aos poucos a toalha foi caindo, até que Amélie a retirou completamente, revelando o seu corpo. Lena ficou vidrada com a visão daquele corpo perfeito. Continuou os movimentos, e a francesa parecia não conter suas reações, o que incentivava ainda mais a britânica.
O corpo de Amélie ainda estava um pouco molhado devido ao banho, mas o que mais chamava a atenção de Lena era a maciez daquela pele, principalmente dos seios, que eram grandes e firmes. A francesa tentou arquear o corpo para frente, mas Lena não permitiu, puxando-a novamente para trás, e mordiscando a sua orelha, enquanto apertava o seu seio esquerdo e mantinha o rosto de Amélie erguido com a mão direita. Amélie não fazia questão de segurar seus gemidos, o que estimulava Lena a continuar. A britânica queria sentir a sua amada, tocá-la com todo o seu amor, mas a verdade era que aos poucos estava perdendo o controle da situação. Lena não sabia o que fazer. Estava indecisa e insegura, e isso fez com que parasse os movimentos.
—O que foi? —perguntou Amélie, virando o rosto. As mãos da britânica deixaram o belo corpo da francesa.
—Nada. —disse Lena, envergonhada.
—Não pare. Você estava indo bem. —elogiou Amélie, tentando motivar Lena.
—Acho que talvez seja melhor mudarmos algumas coisas. —disse Lena, e a princípio Amélie não entendeu o que a outra dizia, mas assim que Lena removeu sua t-shirt, tudo ficou claro. —Venha. —pediu Lena.
De início, Amélie não acreditou, mas ao que tudo indicava, Lena realmente estava dando o controle da situação para a francesa.
—Tem certeza? Antes, você disse que estava um pouco dolorida... —argumentou Amélie, mas Lena colocou o dedo indicador sobre os lábios da francesa, pedindo para que ela ficasse em silêncio.
—Não se preocupe com o que eu disse antes. Apenas venha, e faça comigo o que você quiser. —disse Lena, corada. Amélie colou seus lábios no da britânica, e a deitou lentamente na cama.
—É a sua primeira vez, não é? —perguntou Amélie novamente, e Lena assentiu, confirmando. —Bem, isso pode doer um pouco.
—Tudo bem. Eu confio em você. —disse Lena, e essas palavras foram o suficiente para encorajarem a francesa. Amélie olhou a britânica de cima a baixo, não sabendo por onde começar. Focou o olhar nos seios da garota, que tinham biquinhos rosados. Aproximou-se novamente e beijou Lena, pressionando os seios da britânica com os seus. Enquanto suas línguas dançavam, Amélie podia ouvir os gemidos abafados da britânica. Com suas mãos, começou a explorar o corpo da garota, passando pelas coxas bem torneadas, subindo pelo bumbum e fazendo um caminho para a barriga de Lena, onde Amélie arranhou levemente a pele macia da sua amada, o que causou arrepios na morena. Lena, por sua vez, aprofundava o beijo, envolvendo o pescoço de Amélie com seus braços, e trazendo-a para ainda mais próxima de si. Suas línguas agora dançavam de maneira desordenada. Ambas as mulheres pareciam estar desesperadas por contato. O desejo era tanto que nenhuma das duas queria interromper o beijo, mas infelizmente foi necessário, devido à falta de ar. Se afastaram um pouco, apenas para seus olhares se encontrarem. Lena ofegava devido aos toques de Amélie. A britânica mantinha aquele olhar apaixonante que Amélie amava. Agora tal olhar era uma mistura de desejo, amor e paixão.
—Je t'aime (“Eu te amo”, em francês). —disse Amélie.
—I love you too my dear (“Eu também te amo, minha querida”, em inglês)—disse Lena, sorrindo. —Vem cá. —ordenou Lena, abraçando a francesa e puxando-a para perto de si. Os cabelos de Amélie cobriam o rosto de Lena, mas ainda assim a britânica gostava daquela sensação. O cheiro agradável dos longos cabelos negros de Amélie fazia Lena se lembrar do doce perfume das flores de jasmim. Lena não se conteve em agarrar os cabelos da mulher com ambas as mãos.
—O que foi? —perguntou Amélie, estranhando a ação. A francesa mantinha o rosto colado ao da britânica.
—Seus cabelos. —disse Lena, ainda segurando os longos fios. —Eles são tão bonitos e cheirosos... —disse, passando os fios pelo seu rosto. —... estou com inveja. —admitiu. Amélie levantou o rosto, e encarou Lena.
—Não diga isso. Seus cabelos também são lindos. —elogiou Amélie, acariciando os cabelos de Lena com sua mão direita. —Além disso, você fica melhor assim, de cabelo curto. Te deixa mais sexy. —disse Amélie, com um olhar malicioso.
—Não chego aos seus pés. —disse Lena. —Você é tão linda... você é melhor que eu em todos os quesitos.
—Hmmmm, por mais que eu goste de ser elogiada por você, tenho que discordar. Você é melhor em muitas coisas. —disse Amélie, em um tom de voz sedutor.
—Ah é? E o que seria? —perguntou Lena.
—Hummmm, esse pescoço, por exemplo. —disse Amélie, aproximando seu rosto do pescoço de Lena e depositando beijos naquela pele macia. Suas mãos desceram para a cintura da britânica, apertando-a. Lena, por sua vez, arranhava as costas de Amélie, deixando à francesa ainda mais excitada. —Veja bem, essa pele macia... é tão gostosa... —disse, dando um chupão naquela área, arrancando um gemido agudo da britânica. —Oh, é mais sensível do que eu esperava. Quem diria que uma boxeadora tão durona teria este tipo de fraqueza... —brincou Amélie, afastando o rosto para encarar Lena, que estava completamente corada. —Você vai me mostrar seus outros pontos fracos, ou eu vou ter que descobrir do meu jeito? —perguntou Amélie, sedutoramente. A francesa sentiu a britânica se arrepiar toda embaixo de si. Sem esperar por resposta, Amélie se aproximou novamente do pescoço da britânica e começou a morder a pele macia com intensidade, enquanto suas mãos passeavam pelo corpo da outra mulher. Amélie não continha suas ações. Mordia ambos os lados do pescoço de Lena, arrancando gemidos da garota. Se afastou novamente, encarando uma britânica corada.
—Eu amo esses seus lábios... eles têm um rosa tão suave, e são tão macios... —disse Amélie, beijando Lena e mordendo os lábios da garota levemente. —... você gosta quando eu faço assim? —perguntou sedutoramente, mordendo os lábios da garota novamente. Em seguida, subiu até a orelha esquerda, passando a língua naquele local e arrancando ainda mais arrepios da morena. —Eu sei que você gosta disso. Não adianta negar, já fizemos isso outras vezes... —disse Amélie, erguendo as mãos até os seios de Lena e segurando-os. —... e ainda tem estas belezinhas aqui... —disse, se afastando e observando aquela imagem deslumbrante. Amélie começou a apertar levemente os seios de Lena com ambas às mãos, e a cada toque, Amélie podia sentir a excitação aumentando em ambas. Estimulada pelos constantes gemidos da britânica, Amélie levou seus dedos até os biquinhos dos seios de Lena, e os puxou com delicadeza.
—Ahnnn! —gemeu Lena, de prazer. —A-amélie! E-eu acho que não é uma boa ideia... —gaguejou.
—Discordo. Você está reagindo de uma maneira muito fofa! —retrucou Amélie, sorrindo. —Não precisa ter vergonha. Eu amo a sua voz. E, além disso, não ouse dizer que não está gostando, pois seu corpo diz o contrário. —disse, continuando a puxar os biquinhos dos seios de Lena.
—Ahnnn... ahnnn... A-amélie... —gemia Lena. A britânica levou a mão direita a boca, tentando abafar seus gemidos.
—Hummmm, talvez seja hora de avançar um pouco mais. —disse Amélie, que subitamente parou de puxar os biquinhos dos seios da britânica. A francesa se ajeitou na cama, até ficar com o rosto na altura dos peitos da menor, e aproximando-se do corpo da garota, colou os lábios no mamilo direito de Lena, chupando-o, enquanto usava a mão direita para esfregar o biquinho do seio esquerdo. Os gemidos ficaram com um som agudo, e Amélie sentiu o corpo da morena tremer de prazer. Aos poucos, a pele da britânica começava a ficar quente. Mordeu o biquinho do seio, puxando-o um pouco, antes de larga-lo. Um pouco de saliva ligava o seio e os lábios de Amélie. Lena, completamente corada, encarava aquela bela mulher. A britânica ofegava um pouco, devido a enorme onda de prazer que estava sentindo. Amélie encarou Lena, e seguiu para o outro seio, lambendo o mamilo enquanto observava a britânica. A francesa tinha uma expressão sensual no rosto, e um olhar de desejo que Lena jamais havia visto.
—Ahnnnn! —gemeu Lena quando Amélie mordeu seu seio novamente. —Droga Amélie! Por que você está me torturando desse jeito? —perguntou.
—Porque você é minha, e eu quero comer você toda! —respondeu Amélie, deixando Lena ainda mais corada. —Céus! Você é tão deliciosa... o gosto do seu corpo... seu cheiro, a maciez da sua pele... —dizia, enquanto ia descendo seus lábios pelo corpo da garota, lambendo a pele da britânica. Desceu a mão direita até a calcinha, tocando a região íntima de Lena por cima do tecido, e surpreendeu-se um pouco ao fazer isso.
—Oh, você está toda molhada! —disse Amélie. A francesa começou a fazer movimentos de cima a baixo por cima do tecido, estimulando a britânica. Sua mão esquerda foi até o ombro de Lena, empurrando a garota na cama e impedindo-a de se levantar. Começou a alternar os movimentos, de cima a baixo para círculos. Enquanto isso, Amélie puxou a britânica para um beijo apaixonado. Continuou a estimular a garota, arrancando gemidos da mesma. E então chegou a hora da verdade.
Amélie invadiu a calcinha de Lena, tocando a intimidade da garota. A britânica estava completamente molhada. Continuou a fazer movimentos naquela área, mas agora o contato era direto. A pele da garota estava muito quente, principalmente naquele local, e isso excitava Amélie. A francesa tocava a garota com vontade, mas ainda não havia introduzido nenhum dedo. “Ainda não é o momento...” pensava Amélie.
—A-amé... —gemeu Lena, causando arrepios na francesa.
—Sim? —disse Amélie.
—E-eu... me sinto estranha... —disse Lena, ofegante. —Meu pulso está acelerado... meu corpo está tremendo, mas eu me sinto tão quente... o-o que está acontecendo comigo? —perguntou, completamente corada.
—Ah, mon amour (“Meu amor”, em francês). —disse Amélie, acariciando os cabelos de sua amada com a mão esquerda. —Isso se chama excitação, querida. —disse, mexendo os dedos que estavam dentro da calcinha da britânica. Ergueu-os até o rosto da garota, para que ela visse por si mesma e entendesse o que Amélie queria dizer.
—Olhe. —pediu Amélie, mostrando os dedos completamente molhados para Lena. —Olhe, mon amour. É disto que estou falando. —disse, e em seguida, lambeu os dedos, chupando-os logo depois. —Wow, você é tão doce!
—S-sério? —perguntou uma Lena completamente corada, virando o rosto.
—Ouais mon amour (“Sim meu amor”) —respondeu Amélie. —Seu gosto é doce e suculento como o mel, chérie. E eu acho que está na hora de irmos adiante. —disse Amélie. Lena lançou um olhar assustado para a mulher. “Acho que desta vez ela entendeu o que eu quis dizer...” pensou Amélie. —Não se preocupe. Eu serei gentil com você. Prometo que não vou lhe machucar, ok? —disse Amélie, tentando confortar a britânica. —No início, vai doer um pouco, já que é a sua primeira vez, mas não tenha medo, eu estou aqui com você. Logo a dor vai passar. —disse, tranquilizando a morena.
—O-ok. Eu confio em você. —disse Lena, envolvendo o pescoço de Amélie com os braços e puxando-a para um beijo suave. Após alguns segundos, voltaram a se encarar. A francesa podia ver um misto de emoções pelos olhos de Lena. A garota parecia nervosa e insegura, mas ao mesmo tempo, também demonstrava uma ansiedade e desejo pelos toques de Amélie. “Essa garota... está me deixando cada vez mais louca...” pensava Amélie. “Tenho de me conter um pouco, ou vou acabar assustando ela.”. Gentilmente, a francesa retirou a calcinha da garota, revelando os lábios rosados da região íntima de Lena.
De maneira bem delicada, Amélie introduziu o primeiro dedo, que era o indicador. Lena ficou um pouco assustada, o que era completamente normal. A francesa começou a fazer movimentos circulares, arrancando gemidos da garota, que eram um misto de dor e prazer. Forçou um pouco mais o indicador, abrindo caminho por aquela região apertada. Lena fechou os olhos com força, e agarrou o colchão.
—Lena, se estiver te machucando, eu posso parar. —disse Amélie.
—Não! Por favor, continue! —pediu Lena, praticamente implorando pelos toques da francesa, o que estimulou Amélie a continuar.
A francesa começou a mover o dedo com um pouco mais de velocidade, vez ou outra dando uma leve estocada na garota. Os gemidos de Lena agora demonstravam dor, e a britânica começou a lacrimejar. “Acho que é assim mesmo... ela disse que a dor vai passar logo...” pensava Lena, recordando as palavras de Amélie. E então, repentinamente, Lena sentiu como se algo tivesse se rompido dentro dela. A dor aumentou, e a britânica não conteve o grito de dor.
—AH! —gritou a britânica, tremendo.
—Lena, acalme-se! —pediu Amélie, acariciando o rosto da garota com a mão esquerda e limpando-lhe as lágrimas dos olhos. A francesa puxou a garota para um beijo gentil, e delicadamente retirou o seu dedo, que estava molhado pelo sangue de Lena. —Vê? Isto é porque eu rompi o seu hímen. Acontece na primeira vez. —explicou Amélie, se afastando e mostrando o dedo indicador para Lena. Ficaram assim por um tempo, apenas se beijando e trocando carícias, até que a britânica se sentisse confiante novamente para continuarem.
—Amélie... —chamou Lena, baixinho.
—Sim? —disse Amélie.
—Vamos continuar... —pediu Lena, corada. —... agora não vai mais doer como antes, não é? —perguntou.
—Ah... —disse Amélie, sorrindo. —... talvez doa um pouco ainda, no começo, mas agora que rompi o seu hímen, a tendência é que a dor pare logo. —disse, e sem delongas, puxou Lena para mais um beijo apaixonado. Desta vez, Lena sentiu algo diferente. O beijo parecia muito mais quente, cheio de desejo e malícia. Parecia que só agora as duas estavam demonstrando o verdadeiro desejo que sentiam uma pela outra.
As carícias foram ficando mais quentes, com as duas deixando que suas mãos passeassem livres por seus corpos. Amélie brincava com os seios de Lena, e a britânica levava suas duas mãos para a bunda de Amélie, apertando com força aquela região.
—Já te disse que você tem uma bunda muito grande? —perguntou Lena, brincando. Amélie introduziu o dedo indicador na intimidade da garota, arrancando um gemido alto da britânica.
—Já. —respondeu Amélie, sorrindo maliciosamente. —E eu sempre soube que você queria apertá-la do jeito que está fazendo agora. —disse, mexendo o dedo para cima e para baixo.
—Ahnnn... —gemeu Lena no ouvido de Amélie, causando arrepios na francesa. A britânica deixou que suas mãos passeassem pelo corpo da outra mulher. Lena estava amando aquela sensação inebriante de tocar sua amada e ser correspondida por ela. Aproveitou para arranhar as costas da francesa, causando arrepios na mesma.
Aos poucos, a sensação de dor foi sendo substituída pela de prazer, e Lena tinha que admitir que se sentia no céu naquele momento. Seu corpo estava completamente relaxado, e sua mente já não pensava em mais nada. A britânica apenas se concentrava na linda mulher que agora distribuía carícias pelo seu corpo, fosse pele suave toque de suas mãos, ou pelo contato agressivo dos lábios da francesa com a pele da garota. Lena estava prestes a se entregar completamente para Amélie. A excitação da britânica crescia a cada estocada da francesa. Lena se sentia um pouco constrangida, mas ao mesmo tempo leve. Era como se Amélie estivesse invadindo o mais íntimo do seu ser.
“Não! Invadindo não é a palavra certa... é como se ela estivesse... penetrando no meu ser, descobrindo cada canto da minha existência, revelando segredos e mistérios sobre mim que nem mesmo eu sabia... e por isso me sinto leve. Compartilhar algo assim com alguém... é como se ela estivesse tocando a minha alma... Céus! Como eu amo esta mulher!” pensava Lena. Era difícil mentalizar qualquer coisa tendo na sua frente a imagem maravilhosa de Amélie. A francesa estava começando a ficar suada, assim como Lena, e os cabelos de Amélie agora estavam bagunçados, e caíam pelo corpo da britânica. A francesa tentava disfarçar, mas Lena podia perceber que ela estava prestes a perder o controle. Era possível ver um brilho selvagem em seus olhos, demonstrando um desejo incontrolável por saciar a sua vontade de possuir a britânica. Ao olhar para aqueles olhos, Lena ficou ainda mais excitada.
Com certa rispidez, Amélie começou a introduzir o segundo dedo. Lena gemeu ao sentir o dedo do meio da francesa se espremendo dentro dela junto do dedo indicador. Diferente de antes, Amélie não esperou Lena se acostumar, e começou a dar estocadas com força. A francesa colou seu rosto ao de Lena, fechando os olhos.
—Não me provoque, garota. —disse Amélie, mordendo os lábios. Ela ainda tinha os olhos fechados. Tal frase deixou Lena completamente arrepiada.
O desejo, o sentimento, o corpo de Amélie sobre o seu, exalando o suave aroma da flor de jasmim, suas faces coladas, seus seios se tocando, o suor escorrendo de seus corpos, e a pressão causada pelos dedos de Amélie faziam Lena experimentar um nível de prazer totalmente diferente de qualquer coisa que já houvesse provado. Sentiu algo estranho, uma sensação nova. Sentiu uma forte tensão em seu ventre e virilha, e suas pernas se enrijeceram. Uma onda de calor começou a tomar conta do seu corpo, assim como um frio na barriga. Sua consciência parecia estar prestes a deixar o seu corpo. Lena não conseguia mais pensar direito, mas ainda assim, ergueu ambas as mãos até os ombros de Amélie, cravando as unhas com força na pele da francesa, que abriu os olhos imediatamente, assustada. Suas faces ainda estavam coladas. Seus olhares se encontraram, e Lena não conseguia mais se controlar:
—Amé... —chamou Lena, gemendo manhosa. Sentiu os dedos de Amélie ficarem apertados em seu interior. —... e-eu vou... —Lena não conseguia terminar a frase, mas a francesa pareceu entender o recado.
Contrariando tudo o que Lena havia imaginado que poderia acontecer, Amélie retirou os dois dedos de dentro da britânica, que ficou sem entender aquilo.
—E-espera... e-eu quero mais... —implorou Lena. Amélie ergueu os dois dedos, completamente molhados, e os levou para frente do rosto da garota.
—Está vendo? —perguntou Amélie, mostrando os dedos molhados com o néctar da britânica. —Vamos, abra a boca e prove. É tudo o que você provará hoje. O restante... o seu primeiro orgasmo é todo meu, entendeu? —disse, causando arrepios na britânica. Lena assentiu, e Amélie aproximou os seus dedos, que foram abocanhados pela britânica, que os chupou desesperadamente. —Vê como você é deliciosa? Você tem um gosto tão doce... —disse Amélie, enquanto a britânica se deliciava com seu próprio néctar.
“Realmente... é tão doce... nunca tinha experimentado algo assim. É semelhante ao mel, porém muito mais saboroso...” pensava Lena, enquanto lambia e chupava os dedos da francesa. Ao terminar, Amélie retirou-os, e as duas voltaram a se encarar novamente. Ambas tinham um olhar de desejo, e seus sentimentos estavam completamente estampados em suas faces.
—Bem... acho que chegou a hora de terminarmos a nossa noite. —disse Amélie, de maneira sedutora.
—Madrugada. —corrigiu Lena, e as duas riram. E então, Amélie começou a descer pelo corpo da britânica, até que suas mãos repousaram na cintura da garota, e o rosto da francesa ficou de frente para a intimidade de Lena. —O-o que você está fazendo? —perguntou Lena.
Amélie apenas limitou-se a sorrir, lançando um olhar safado para a britânica.
—Você já vai descobrir. —disse Amélie, e sem aviso prévio, introduziu sua língua na intimidade de Lena. A britânica se arrepiou ao sentir a língua da francesa invadir o seu interior.
“É tão úmida e quente... e-eu não vou aguentar muito!” pensava Lena. Amélie então retirou sua língua, e começou a lamber a coxa direita da garota, às vezes dando leves mordidas apenas para causar mais arrepios na garota. Sempre que Amélie fazia isso, Lena afastava suas pernas, porém ao perceber que a francesa aproximava seu rosto novamente de sua intimidade, por algum motivo a britânica juntava novamente suas pernas.
—O que foi? —perguntou Amélie, não entendendo o motivo de tanta resistência da jovem garota. —Você não está gostando?
—Eu... não sei. —disse Lena. —Quer dizer, é claro que estou gostando. Céus, você é maravilhosa, e eu nunca senti nada como isso. Mas, não sei explicar direito o motivo disto. É como se meu corpo reagisse sozinho, apresentando resistência para o desconhecido. —disse.
—Ah, entendo. —disse Amélie. —Você está um pouco constrangida. É normal. É o seu primeiro oral. Não se preocupe, você vai gostar. —disse, e em seguida, lambeu a intimidade de Lena, até encontrar o clitóris da garota. O contato fez Lena sentir como se uma descarga elétrica estivesse passando pelo seu corpo. Se sentiu quente, e seus gemidos ficaram mais altos. —Ohh, parece que eu finalmente encontrei o seu clitóris. —disse, continuando a lamber aquela região. Lena voltou a sentir aquela tensão de antes em seu ventre e virilha, porém agora ela também atingia suas pernas. Amélie voltou a introduzir sua língua, que dessa vez, encontrou um caminho muito mais estreito do que antes. A francesa afastou as pernas de Lena com suas mãos, arranhando as coxas da britânica. Levou a mão direita até a intimidade da britânica. Retirou a língua, e começou a penetrá-la novamente com dois dedos.
Com sua língua, começou a brincar com o clitóris de Lena, lambendo-o de maneira sensual, ao mesmo tempo em que penetrava a britânica com dois dedos. Inconscientemente, Lena começou a rebolar nos dedos de Amélie. Sua mão esquerda foi até a parte de trás da cabeça da francesa, e tentou aproximá-la de sua intimidade novamente, porém Amélie resistiu. A francesa não parecia disposta a encerrar aquele momento.
Lena sentiu seu corpo esquentar, e aos poucos, começou a erguer o seu quadril. Gemia de puro prazer, e não tentava mais conter suas reações. Sentiu vontade de se contorcer, mas não conseguia. A tensão aumentou ainda mais, e Lena parecia prestes a explodir. O frio na barriga era algo inimaginável. Com as duas mãos, agarrou o colchão com força, e mordeu os lábios.
—Amé... n-não a-a... aguento muito mais... r-rápido... —implorou Lena, e finalmente Amélie atendeu seu pedido. Retirou os dois dedos, e começou a lamber a intimidade da britânica. Percebendo que a garota estava prestes a gozar, Amélie segurou as coxas de Lena, afastando suas pernas, e aproximou seu rosto da intimidade da britânica.
—Muito bem. Venha quando quiser, ok? Eu estou aqui. Não precisa mais se segurar. —disse Amélie, que em seguida colou os lábios a intimidade de Lena, começando a chupá-la. Lena tentou se contrair e fechar as pernas, porém Amélie forçou-as a permanecerem abertas.
Lena apertou com mais força o colchão. Já havia se entregado completamente ao prazer. Sentiu a tensão aumentar novamente, seu corpo ficando ainda mais quente. Perdeu um pouco a noção do que estava acontecendo, mas a sensação de prazer que Amélie lhe dava era simplesmente maravilhosa.
—A-a... Amé... eu vou... e-eu vou... Amé!!! —gritou Lena, de puro prazer. Seu corpo se contraiu, uma onda de calor percorrendo o seu corpo. Toda a tensão explodiu, e se não fosse Amélie, teria fechado suas pernas. Sentiu um líquido jorrando, e Amélie bebendo cada gota dele. Gemeu alto. Sentiu espasmos involuntários, e aos poucos, seus músculos foram se relaxando. A sensação de prazer foi indo embora, assim como toda aquela tensão. Seu primeiro orgasmo durou alguns longos segundos, e após ele, Lena sentiu-se sonolenta, fora do ar. Seu corpo estava suado, e a britânica estava esgotada, mas, estranhamente, sentia-se leve. Parecia estar derretendo.
Amélie se ergueu, lambendo os lábios. Havia um pouco do néctar de Lena em seu rosto, mas logo a francesa tratou de limpá-lo com os dedos, para logo depois saboreá-los em seguida. A francesa engatinhou sobre a cama, pegando um cobertor que há muito havia caído no chão. Aproximou se de Lena, colando seu corpo ao da britânica, e tapando ambas com o cobertor.
—Você foi maravilhosa! —disse Amélie, tocando o rosto de Lena com as duas mãos. —E então, o que achou da sua primeira vez?
—Foi perfeita. —respondeu Lena, sonolenta. Sua respiração estava ofegante. Amélie esbanjava um sorriso em seu rosto.
—Vamos, durma. Você está muito cansada. Mais tarde você me devolve o favor. —disse Amélie.
—Pode deixar. —disse Lena, e então seus olhos ficaram pesados. Sentiu Amélie fazer um carinho em seu rosto, mas o cansaço venceu a britânica. Fechou os olhos, e adormeceu ouvindo o doce som da voz de Amélie dizendo as palavras que ela mais gostava de ouvir da francesa:
—Je t'aime ma chérie (“Eu te amo, minha querida”, em francês) — disse Amélie, e Lena enfim adormeceu.
O sonho de Lena era um conjunto de imagens desconexas e desfocadas. Era difícil focar em alguma coisa. “Caramba, eu já vi muitas coisas estranhas, mas ter de fazer esforço para sonhar é sem dúvida alguma uma das mais esquisitas. Se for para ser assim, melhor que meu sonho seja apenas uma escuridão...” pensou Lena, e para sua surpresa, seu desejo pareceu ser atendido. Todas as imagens sumiram imediatamente, e tudo ficou escuro e silencioso. A britânica se sentia um pouco pesada. “Será que estou acordada”? se perguntava Lena. Ela ainda não sentia direito seu corpo, então não tinha certeza do que realmente estava acontecendo. E então uma luz forte brilhou, cegando-a completamente, e então Lena entendeu que ainda estava sonhando. A luz permaneceu brilhante, e a britânica sentiu alguém lhe erguendo sobre os ombros. Até então, não havia se dado conta de que estava em pé. A luz começou a diminuir, e finalmente Lena percebeu onde estava: uma arena completamente lotada, com tantas pessoas que a britânica não se arriscava a contar. A multidão aplaudia e gritava seu nome, e outros erguiam cartazes ou tiravam fotos com seus celulares. Lena olhou em volta, e percebeu que estava dentro de um ringue. Muitos jornalistas e fotógrafos tentavam entrar dentro do mesmo, porém eram barrados por seguranças. Ao olhar para baixo, a morena viu Gabriel, que continha um grande sorriso em seu rosto. McCree estava ao seu lado, chorando, mas a julgar pela comemoração, não parecia ser por um motivo ruim. Até mesmo Doomfist, que estava ao lado do cowboy, tinha um sorriso tímido no rosto. Lena começou a se perguntar do porquê de tanta alegria. De repente, a britânica se sentiu extremamente cansada. Seus braços e seu rosto doíam, e suas pernas formigavam de câimbras. Olhou novamente para baixo. Percebeu seu top e short preto, assim como as luvas de boxe vermelhas. Ficou impressionada com a grande quantidade de hematomas, tanto nos braços quanto nas demais partes do seu tronco, mas o que mais chamou a sua atenção foi algo que estava em sua cintura.
Bem pesado, em sua cintura encontrava-se o cinturão de Campeã Mundial dos Pesos Penas pela IBF (International Boxing Federation – Federação Internacional de Boxe). Lena ficou chocada ao vê-lo. Na parte da frente do cinturão, havia três grandes círculos dourados, sendo o do meio o maior deles. Dentro deste último, havia uma águia dourada na parte superior, e logo abaixo dela, havia dois globos, onde eram mostrados partes do mundo. O globo da direita mostrava o continente americano, enquanto que o da esquerda mostrava os demais continentes. No globo da direita, lia-se as palavras World Champion (“Campeã Mundial”, em inglês) sendo o World na parte superior e o Champion na parte inferior. Já no globo esquerdo, encontrava-se as palavras International Boxing Federation, sendo o International na parte superior e o Boxing Federation na parte inferior. Entre os dois globos, envolto em uma parte vermelha e escrita em letras brancas com linhas douradas, encontrava-se a sigla IBF. Ao seu redor, várias linhas com muitos detalhes em pedrinhas brilhosas, as quais Lena não sabia se eram joias verdadeiras ou apenas enfeites. Na parte inferior, era possível ver duas luvas de boxe prateadas. Os outros dois círculos tinham asas douradas em suas partes superiores. Todos eles eram rodeados pela cor azul claro do cinturão.
Olhou em volta, procurando por Amélie. Não a encontrou. Um sentimento de desespero começou a invadir a britânica, porém logo sua agonia passou. Levantando-se calmamente de uma das cadeiras próximas do ringue, Amélie calmamente caminhou até o local, subindo as escadas no entorno do ringue e entrando no mesmo. Ela estava linda. Usava um vestido roxo com decote em V, que também tinha uma fenda na perna direita, revelando parte da bela perna da francesa. Ela também usava um batom roxo belíssimo, além de brincos de argolas pequenas totalmente prateados. A britânica pediu para que Gabriel a colocasse no chão, e foi atendida imediatamente. Suas pernas agora doíam, e pareciam tão pesadas quanto o cinturão. “Será que o peso do mundo é assim?” se perguntou Lena, olhando para o cinturão. Com enorme esforço, caminhou até Amélie, mancando um pouco. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, a francesa a abraçou fortemente, segurando-a com força. Após alguns instantes, as duas se afastaram um pouco para se olharem nos olhos, e então Lena entendeu. Não era preciso nenhuma palavra. As duas já haviam passado dessa fase há muito tempo. Podiam ver tudo o que quisessem apenas se olhando, e naquele momento, tudo o que as duas queriam era poder se beijar.
“Será que devemos?” perguntou Lena através do olhar.
“Por que não?” disse Amélie, lançando um olhar provocante. As duas se aproximaram, e tocaram os lábios suavemente. Houve uma explosão de gritos e aplausos. O beijo que de início era apenas um selinho fluiu para algo mais quente, e logo suas línguas começaram a dançar. A sensação era tão boa... tão quente...
E então tudo se apagou. Lena acordou sorrindo, com a luz do dia batendo em seu rosto. Se sentia extremamente cansada, embora desconfiasse que tivesse dormido por muitas horas. Ergueu um pouco o corpo, ficando sentada, e esfregou os olhos, tentando focar sua visão. Estava sozinha na cama, e dormia tapada. Olhou para os cantos do quarto, e viu suas roupas jogadas no chão, e só então se lembrou do que havia acontecido naquela noite. Seu rosto ficou quente. Afastou um pouco o cobertor, revelando seu corpo completamente nu e com várias marcas vermelhas e roxas das mordidas e dos chupões de Amélie.
A britânica ficou assustada com o som da porta de seu quarto se abrindo, e imediatamente puxou o cobertor para si, tapando todo o seu corpo, porém, permanecendo sentada na cama.
—Oh, você acordou? Bonjour, ma chérie (“Bom dia, minha querida” em francês). —cumprimentou Amélie. Ela usava uma camisola de um preto suave. A francesa se sentou na cama, perto da britânica. —E então, teve uma boa noite de sono? —perguntou, sorrindo docilmente.
—S-sim... —respondeu Lena, com o rosto quente.
—Você estava dormindo como um bebê. —disse Amélie. —Ainda é um pouco cedo, e como é domingo, não quis acordar você, principalmente depois de tudo o que aconteceu ontem à noite com a sua luta, e ainda mais depois do que fizemos nessa madrugada. —disse, com um sorriso malicioso. —Enfim, está com fome? Quer que eu pegue algo para você?
—Hmm... —disse Lena, pensando. Ela não estava com muita fome ainda.
—Ora, vamos. Café ou chocolate quente? Eu posso fazer para você. —disse Amélie, se aproximando e inclinando seu corpo sobre Lena. —Ou talvez você queira um pouco de creme, ou leite, ou... açúcar para acompanhar? —perguntou. A francesa estava inclinada de uma forma que era possível ver grande parte de seus seios, e Lena não conseguia tirar os olhos daquela imagem maravilhosa. Ao voltar seus olhos para Amélie, percebeu que a francesa lhe encarava com um olhar malicioso novamente, e isto fez a britânica corar ainda mais.
—Q-qualquer coisa está bom. —disse Lena, desviando o olhar. —Você não precisa adicionar leite.
—Hee. Você é realmente adorável... você fica muito fofa quando está com vergonha. —disse Amélie, colocando a mão no queixo e sorrindo ainda mais. Ela parecia radiante.
—Hey, pare de tirar sarro de mim! —disse Lena, brincando com a situação. Amélie se aproximou, depositando um beijo em seu nariz.
—Bom dia, meu amor. —disse Amélie novamente.
—Bom dia, ma chérie. —disse Lena, com o sotaque britânico arrastado. —E-eu... vou tomar uma ducha, eu acho. E aí eu tomo um café. Que tal? —perguntou Lena.
—Uma ótima ideia. Mas seria bom se você fosse rápida... eu ainda não tomei café da manhã, e estou começando a ficar com fome... —respondeu Amélie, lambendo os lábios de forma provocante e olhando de maneira sugestiva para Lena, que corou ainda mais.
—E-eu estou indo! Estou indo agora! —disse Lena, levantando-se apressada e correndo com o cobertor para o banheiro. Pode ouvir a risada de Amélie no quarto. A britânica entrou no banheiro e fechou a porta, recostando-se na mesma. “Ela me deixa louca...” pensou Lena, suspirando. “Poder dormir ao lado dela é simplesmente muito bom...” pensou enquanto um sorriso bobo surgia em seus lábios. “A primeira pessoa que vejo quando acordo e a última que vejo antes de dormir...”.
—Eeee! Isso me faz sentir quente e embaraçada ao mesmo tempo! —disse sorrindo, enquanto deixava o cobertor cair e entrar no pequeno box. Abriu o chuveiro, e deixou que a água fria molhasse toda a extensão do seu corpo. No entanto, ficou assustada ao olhar para o seu corpo. Amélie havia deixado várias marcas na britânica, tanto de chupões quanto de arranhados, de tal modo que a morena agora não sabia mais o que eram apenas hematomas e o que eram as marcas carinhosas de sua amada. Com delicadeza, começou a ensaboar o seu corpo, utilizando um dos sabonetes que sempre deixava no suporte que havia na parede do box. Sentiu um pouco de dor em seu peito, e suas pernas estavam bem pesadas. Os danos da luta do dia anterior começavam a aparecer aos poucos, assim como o cansaço. Após ensaboar todo o seu corpo e deixa-lo coberto por espuma, Lena pegou o shampoo e, após despejar um pouco do seu conteúdo em suas mãos, começou a esfrega-las em seus cabelos.
—Toc, toc. —disse Amélie, o que assustou Lena, que se desequilibrou e, por sorte, não caiu.
—Amélie! —disse Lena, constrangida. —Um pouco de privacidade, por favor!
—Oh, mas por quê? Você esqueceu que me mostrou todo esse corpo nessa madrugada? —perguntou Amélie. Ela já não usava mais a sua camisola. Agora estava vestida de maneira bem casual, com uma camisa com mangas curtas de um azul suave e um short jeans. Seus cabelos estavam soltos, o que por sinal, a deixava ainda mais bela. Em suas mãos, a francesa trazia uma muda de roupas. —São para você. —disse Amélie, referindo-se as roupas que trazia em suas mãos. —Você foi tão rápida para o banheiro que se esqueceu de levar suas roupas.
—O-obrigada. —agradeceu Lena, constrangida. —Ei Amélie.
—Oui (“Sim” em francês)? —disse Amélie.
—Será que você poderia... —começou Lena, mas não precisou terminar a frase. A francesa pareceu entender o recado.
—Ok, ok. Eu saio. —disse Amélie, deixando as roupas penduradas em um gancho na parede. —Sabe, Lena. Eu só não entro ai agora e começo a brincar com você porque eu já me vesti. —disse, deixando a britânica completamente corada. Em seguida, apenas se virou e saiu, deixando Lena em baixo do chuveiro, totalmente desnorteada com aquela frase.
ALGUNS MINUTOS DEPOIS...
—Demorou eim! —disse Amélie, que já havia colocado duas xícaras de café sobre a mesa da cozinha, que também tinha um pote com pães quentinhos.
—Sorry, luv. —disse Lena, meio sem jeito. A britânica ainda enxugava os cabelos molhados. Usava um short moletom cinza e uma camisa branca em que se lia “I can be romantic but we can make love first?” (“Eu posso ser romântico (â), mas podemos fazer amor primeiro?” em inglês). Lena odiava essa camisa. Só havia comprado porque estava muito barata na época, mas se arrependeu na hora. Sempre que usava aquela camisa, as pessoas a olhavam incrédulas ou simplesmente riam dela. Não que houvesse algo de errado com a frase em si, mas talvez a camisa fosse direta e sincera de mais.
—Aqui, sente-se. —disse Amélie, e Lena obedeceu, sentando-se em uma das cadeiras. A francesa posicionou outra cadeira ao lado da britânica, e se sentou também. —Aqui, pegue um pãozinho. —ofereceu, levando o pão até a boca da britânica. Lena apenas abriu a boca para abocanhar o alimento. Estava tão cansada da luta e da “brincadeira” da madrugada que nem discutiu com a francesa o quão infantil aquele ato parecia. Ergueu a xícara, bebericando algumas gotas do café quente.
—Estou curiosa. Como vamos aproveitar o nosso domingo? —perguntou Amélie, lançando um sorriso para a britânica.
—Humm, não sei. Na verdade, eu ainda não tinha pensado nisso. —admitiu Lena. A britânica estava tão cansada que seus pensamentos ainda estavam lentos, mesmo ela já tendo tomado uma boa quantidade do café forte que Amélie havia feito.
—Quais são seus hobbys? —perguntou Amélie, animada.
—Eu, hã... —por um longo instante, Lena não conseguiu formular uma resposta. Estava cada vez mais sonolenta, e Amélie pareceu entender isso. —... Amélie, que horas são? —perguntou, mudando de assunto. Amélie procurou seu celular, e mostrou o visor do mesmo para Lena, onde era possível ver a marcação de 11h e 35min. “Caramba! Dormimos tanto assim?” perguntou-se Lena em seus pensamentos. —Bom, hã, meus hobbys são... ler livros, assistir séries ou filmes às vezes, e praticar boxe. —disse, e em seguida suspirou. —Acho que estou precisando de hobbys novos.
—Hummm, que tipo de livro você gosta de ler? Eu não vi nenhum por aqui no seu apartamento. —disse Amélie, curiosa.
—Ah, é porque eu guardo eles embaixo da cama. E alguns eu leio pelo celular mesmo, já que não tenho muito espaço para ficar guardando eles aqui no apartamento. Gosto de ler livros de fantasia, romance, ficção científica... vez ou outra arrisco um livro de poesias. —disse Lena, sorrindo.
—E quanto às séries e os filmes? —perguntou Amélie, bebendo um pouco do café em sua xícara.
—Praticamente os mesmos estilos, com exceção da poesia. —respondeu Lena, tomando as últimas gotas do seu café. A sonolência parecia ter passado um pouco, mas a britânica ainda não se sentia disposta a sair por ai e aproveitar o dia com Amélie em um passeio. —Humm, será que podemos apenas assistir um filme ou uma série? Desculpe, eu ainda estou um pouco cansada. —disse Lena.
—Claro, não se preocupe com isso. Deixemos o passeio para mais tarde. Ou para outro dia. —disse Amélie, sorrindo. A francesa estava tão animada que sequer notou como a britânica realmente estava cansada. —Você assiste pelo celular mesmo? —perguntou.
—Sim. Tenho uma boa internet, felizmente. —disse Lena. —Podemos deitar no sofá ou no chão, se não se importar. O que você preferir. —sugeriu.
—Acho que podemos tentar o sofá. —disse Amélie, e as duas se levantaram, indo em direção à sala. Amélie acomodou-se primeiro, ficando virada para cima, e Lena deitou-se de costas sobre o corpo da bela mulher.
Passaram então para a escolha do entretenimento. Lena abriu um aplicativo em seu celular, e junto da francesa, começou a procurar por opções de filmes ou séries para assistirem. As diferenças de gosto logo apareceram: Amélie preferia filmes com histórias mais profundas, como dramas ou histórias baseadas em fatos reais, que retratassem aspectos da atual sociedade e fizessem o espectador refletir sobre os problemas do seu mundo e o que poderia ser feito para mudá-los, já Lena era mais fã de histórias que fugiam da realidade, que a levassem por mundos novos e mágicos, ou que a encantassem de uma maneira que ela voltasse a acreditar em seus sonhos.
Após longos minutos de discussão, Amélie cedeu um pouco, e acabaram ficando entre dois filmes, os quais, curiosamente, eram animações: “Fievel – Um conto Americano” foi a escolha de Amélie. Apesar de não ser o foco da história, a francesa enxergava no filme uma certa crítica ao que era dito sobre a América há muitos anos atrás, e que até hoje permanecia como uma grande “verdade” para muitos. A pequena família de ratos fugia da Rússia para a América com a esperança de que naquela nova terra não houvesse gatos, e que tudo seria melhor. No entanto, ao chegarem, descobriam que as coisas não eram bem assim. A francesa amava essa história porque ela mostrava que não havia essa utopia de lugar perfeito: todos os países tinham seus problemas, alguns diferentes, outros iguais, porém em maior ou menor escala. Pelo menos era essa a opinião de Amélie.
Lena, por sua vez, escolheu o filme “Anastasia”. Amélie se lembrava do clássico. Era um dos mais belos filmes animados que a francesa já havia visto. O longa contava a história de Anastasia, a princesa russa que foi separada de sua avó durante a revolução que deu fim a sua família. Perdendo a memória, a garota passou a viver em um orfanato, mas ao ficar mais velha, já em idade adulta, é convidada a ase retirar do orfanato e com o desejo de reencontrar a família, retorna a São Petersburgo, onde foi separada de sua avó.
Ambos os filmes apresentavam, no fundo, uma crítica a dois mundos completamente diferentes, porém Amélie, intrigada pela escolha da britânica, abriu mão do orgulho e resolveu assistir o filme que Lena havia escolhido.
—Ei Lena. —chamou Amélie, enquanto a britânica selecionava o filme. —Por que você escolheu esse filme? Foi por causa da crítica?
—Crítica? —disse Lena, que de início pareceu não entender. —Ah, bem, acho que ambos os filmes apresentam uma crítica. Pelo menos de certa forma, não é? Mas não foi por isso que eu escolhi esse filme. —disse.
—Então por que foi? —perguntou Amélie.
—Pela história. Eu amo esse filme. É um dos meus favoritos. —respondeu Lena, com os olhos brilhando. —Luv, se preocupe menos com as críticas e mais com a profundidade da história do filme. —disse, sorrindo.
—Hmm, ok. Estou curiosa então para ver o porquê de você gostar tanto desse filme. —disse Amélie, e em seguida, abraçou a cintura da garota. A britânica ergueu o telefone para o alto, de modo que as duas conseguiam ver. Suas cabeças estavam uma ao lado da outra, e o calor gerado pelo corpo das duas produzia uma sensação gostosa de carinho e amor.
O tempo foi passando, e a história foi se desenrolando. Uma antiga lembrança há muito esquecida, retornou aos pensamentos de Amélie: ainda em sua época como bailarina, quando tinha 22 anos, a francesa havia protagonizado um espetáculo com uma das músicas daquele filme, “Once upon a december” (traduzido do inglês, seria “Uma vez em dezembro”, porém no Brasil, a música foi chamada de “Foi no mês de dezembro”, o que em si não alterou a qualidade da belíssima dublagem do filme.). Nessa época, Amélie era a prima ballerina (Prima ballerina, que significa primeira bailarina, é o título dado a principal bailarina dentro de uma companhia de ballet. Algumas bailarinas se destacaram tanto em suas carreiras que receberam o título de prima ballerina assoluta. Significa literalmente primeira bailarina absoluta), em uma das companhias de ballet de Paris, onde atuava. Fora um espetáculo fantástico. O teatro estava completamente lotado. Haviam repórteres de vários lugares do mundo para registrar aquele momento. Cada movimento, cada passo, foi dado com o coração, e tamanha entrega a arte lhe rendeu enormes elogios do público e da crítica em geral. Foi um sucesso. Toda a França ouviu falar da beleza da prima ballerina Amélie Lacroix. Nostálgica, Amélie decidiu afastar tais pensamentos e se concentrar novamente na história da animação.
À medida que o filme foi passando, Amélie foi se interessando mais e mais pela história. Mesmo tendo visto aquele filme várias e várias vezes no passado, era impressionante imaginar que ele ainda era tão encantador. Subiu um pouco suas mãos, deixando-as um pouco acima da cintura de Lena. No entanto, nesse momento, Amélie percebeu que algo estava errado. A britânica parecia estar tremendo, quase como se estivesse fazendo um grande esforço para manter o celular erguido.
—Lena, está tudo bem? —perguntou Amélie.
—C-claro... —disse Lena. Ela parecia um pouco nervosa. Suas mãos ainda tremiam um pouco, e agora era visível o esforço da britânica para manter o aparelho no ar. Amélie colocou as mãos nos braços da morena, ajudando-a a mantê-los erguidos.
—Talvez seja melhor você mudar a posição. —sugeriu Amélie, que ainda tentava entender o que estava acontecendo. —Se você apoiar seu celular em sua barriga, o esforço vai ser menor. —disse, porém não houve resposta da britânica. A francesa então ergueu um pouco mais as suas mãos e segurou os pulsos da garota, e Lena parou de tremer nesse momento. Amélie sabia que alguma coisa estava errada, mas a britânica não parecia estar disposta a falar sobre isso naquele momento, então tudo o que a francesa fez foi colar o seu corpo ainda mais no de sua amada, e beijar a sua cabeça. Tentou prestar atenção no filme novamente, mas a preocupação lhe impedia. Aos poucos, um sentimento de culpa cresceu em seu íntimo. “O que será que aconteceu? Será que ela já estava assim antes, e eu não percebi? Acho que fiquei tão animada depois do que aconteceu com a madrugada que acabei não reparando direito nela...” pensava, e esta última parte era a que mais lhe fazia sentir-se culpada. Desde que Lena havia acordado, Amélie quase não havia tirado os olhos da britânica, mas ainda assim não percebeu que algo estava errado com ela.
Amélie passou mais alguns minutos observando a britânica, e ao ver que ela não havia dado mais sinais estranhos, voltou sua atenção ao filme novamente, sempre atenta a qualquer sinal que Lena demonstrasse. O longa caminhava para a parte final, onde Anastasia finalmente reencontrava sua avó, porém, no meio do diálogo emocionante entre as duas, Amélie novamente percebeu que as mãos de Lena tremiam.
—Lena, o que está acontecendo? —perguntou Amélie, preocupada. —Suas mãos estão tremendo...
Entretanto, a britânica não deu resposta. Antes que a francesa pudesse perguntar novamente, Lena colocou o celular em cima da mesinha de vidro que tinha em sua sala, e em seguida, ergueu-se e virou-se sobre Amélie, enlaçando a cintura da linda mulher. A britânica recostou o rosto no peito de Amélie, e fechou os olhos.
—Lena?! —disse Amélie, confusa com a repentina ação da morena.
—Só... podemos ficar assim um pouco? Estou muito cansada... e seu abraço é tão gostoso... —disse Lena, sonolenta. Ela estava deitada sobre a francesa.
—Tudo bem... eu acho... —disse Amélie, abraçando a britânica e fazendo um carinho no cabelo da jovem. Mesmo não sabendo ao certo o que estava acontecendo, a francesa não pode deixar de admirar a beleza de sua amada, embora notasse a expressão abatida de sua namorada. Ainda assim, os traços de seu rosto, as sardas quase imperceptíveis abaixo de seus olhos, os lábios de um cor de rosa suave e os cabelos lisos, que como sempre estavam rebeldes, fazendo um belo topete na garota, formavam uma imagem maravilhosa. Amélie tocava os cabelos de sua amada com gosto, sentindo o cheiro e a maciez dos mesmos. Algumas vezes levava sua mão para a nuca da garota, mas logo retornava para os cabelos da britânica.
Os minutos foram passando, e os braços e as pernas de Amélie foram começando a ficarem dormentes, já que a francesa não se movia. Olhou para baixo e percebeu que Lena havia adormecido.
—Ei. —chamou Amélie, fazendo um carinho na bochecha direita de Lena. —Amor, acorde. Eu preciso levantar. —pediu, porém não houve resposta. Não queria acordar a garota, mas não via outra saída. Cutucou a britânica com os dedos, mas nada aconteceu. Balançou os ombros da garota, e não houve resposta, e nesse momento, Amélie começou a se desesperar.
—Lena!? —disse Amélie, balançando os ombros da garota que ainda permanecia deitada sobre o corpo da francesa. Depois de sacudir freneticamente a jovem e não obter nenhuma resposta, Amélie começou a se mexer, e com muita dificuldade, conseguiu sair de baixo de Lena, sem derruba-la do sofá. Já de pé, Amélie tornou a cutucar a britânica, mas assim como das outras vezes, não teve nenhuma resposta ou reação. A francesa notou que a respiração de Lena estava pesada, e se desesperou mais ainda com a situação. Começou a caminhar em volta do sofá, tentando pensar no que deveria fazer. Então olhou para o celular de Lena, que a garota havia deixado sobre a mesinha da sala. Pegou o aparelho, e indo na agenda, procurou pelo número de Gabriel, na esperança de que ele pudesse ajuda-la. Finalmente, depois de algum tempo procurando, encontrou na lista o nome “Gabe”, e imediatamente ligou. Enquanto chamava, Amélie observava Lena com preocupação.
—Alô?—disse uma voz rouca do outro lado da linha.
—Gabriel, é a Amélie. Por favor, eu estou desesperada! —disse Amélie, não escondendo o tom de preocupação em sua voz.
—Amélie, se acalme. O que aconteceu? Por que você ligou do número de Lena? —perguntou Gabriel, sério.
—É a Lena. Ela... ela... —começou Amélie, mas não conseguia formular direito nenhuma frase, devido a enorme preocupação que sentia.
—Calma. Respire fundo, conte até três, e depois me diga o que aconteceu, ok? —disse Gabriel, demonstrando enorme paciência. Amélie seguiu o conselho do homem, e após respirar fundo, e contar até bem mais que três, finalmente começou a falar. Procurou resumir a história o máximo possível, contando apenas os detalhes relevantes, então por fim, acabou apenas por dizer que as duas estavam assistindo um filme e que, do nada, Lena simplesmente apagou, e não queria mais acordar.
—Amélie, escute bem. —disse Gabriel. —Quero que você ligue para a Angela e diga para ela ir para aí imediatamente, entendeu? Eu vou apenas trocar de roupa, e logo estou aí. —disse Gabriel.
—Ok, vou fazer isso agora. Não demore, por favor. —pediu Amélie, e em seguida, desligou o telefone, e imediatamente, digitou o número de Angela. Não demorou muito, e a doutora logo atendeu.
—Lena? —disse Angela, do outro lado da linha.
—É a Amélie. Preciso da sua ajuda, Ziegler. É a Lena... —disse Amélie.
—Onde vocês estão? —perguntou a Dra. Ziegler.
—No apartamento de Lena. —respondeu Amélie.
—Chego aí em alguns minutos. —disse Angela, e em seguida, desligou o telefone. Em alguns momentos, Amélie odiava a capacidade de sua amiga de compreender as pessoas, mas em outros, a francesa amava. Não foi preciso dizer ou explicar praticamente nada. A doutora sabia que sua amiga precisava de ajuda apenas pelo seu tom de voz.
Amélie, então, colocou o celular da britânica de volta sobre a mesa, e voltou-se para a morena, acariciando os cabelos rebeldes dela. Restava a francesa apenas esperar por Gabriel e Angela. Lena ainda respirava pesadamente, e desde o momento em que adormeceu, a britânica ainda não havia tido nenhuma outra reação, e nem sequer havia se mexido do lugar. Pela primeira vez em muito tempo, Amélie estava sentindo medo. Pensar nas possibilidades do que poderia estar acontecendo deixava a francesa ainda mais preocupada. “Não! Acalme-se, Amélie! Você não vai conseguir ajudar Lena desse jeito. Fique calma!” disse a si mesma em pensamentos, e voltou a andar de um lado para o outro, impaciente. Cada minuto parecia uma eternidade, o que em si era uma tortura para a francesa.
Finalmente, após longos minutos, alguém bateu na porta, e Amélie correu de prontidão para atender. Era Gabriel. O homem vestia apenas uma jaqueta de couro preta, calça jeans e tênis, e seu semblante estava bem sério. Logo que entrou, Angela também apareceu, para alívio da francesa. A doutora usava uma blusa de moletom vinho, com duas listras brancas em cada braço, além de calça jeans e um sapato simples de cor preta, e carregava consigo sua maleta médica. Não trocaram muitas palavras, e a doutora pôs se logo a examinar a britânica, enquanto Gabriel sentou-se no outro sofá, observando atentamente a garota.
Amélie fechou a porta, e caminhou até onde os três estavam. Gabriel parecia extremamente sério. Ele ainda não havia dito nenhuma palavra. Após alguns minutos, Angela solicitou ajuda para virar Lena, e tanto Amélie quanto Gabriel se aproximaram, para ajudar. Agora, de barriga para cima, Angela ergueu um pouco a camisa da britânica, como se estivesse a procura de algum ferimento mais grave.
Amélie colocou-se a caminhar de um lado para o outro. A francesa tentava esconder, mas estava quase tendo uma crise de ansiedade. Gabriel também parecia inquieto, observando atentamente a doutora, que agora examinava a cabeça e o rosto da britânica. Angela abriu os olhos, verificando as pupilas, que não deram nenhum sinal. Finalmente, após alguns minutos angustiantes, Angela finalmente falou:
—Não se preocupem, não é nada grave. —disse a doutora.
—Tem certeza? —perguntou Amélie, ainda muito preocupada.
—Sim. Ela apenas está dormindo por causa da fadiga. —disse Angela. —Parece que a luta de ontem a noite foi mais desgastante do que imaginávamos. Afetou tanto a parte física quanto a psicológica da nossa garota. —disse.
—Hmm, agora que disse isso, Doomfist me disse que, no intervalo do segundo para o terceiro round, logo depois que Elen fez aquele corte na Lena, nossa garota pareceu muito preocupada. Quase desesperada, na verdade. Acho que o emocional dela estava muito abalado nos últimos tempos, com toda aquela história da derrota que ela sofreu, de querer se aposentar, mudar de categoria, e etc... —disse Gabriel, suspirando. Ele parecia um pouco mais aliviado do que quando havia chegado no apartamento. —... de qualquer jeito, eu ainda acho que isso não seria o suficiente para deixar Lena nesse estado. —disse Gabriel, olhando para Amélie. De início a francesa não entendeu o olhar, mas logo a ficha caiu.
—Ah, bem... nós não fizemos nada de mais... —começou Amélie, tentando esconder o que haviam feito com medo da reação do homem, mas mal terminou a frase, e Gabriel estava rindo.
—Ora, vamos Amélie. Eu vi as marcas pelo corpo de Lena. Barriga, pescoço... não são marcas feitas em uma luta de boxe. —disse Gabriel, sorrindo. —Sabe, acho que no fundo, eu sempre soube que havia algo entre vocês duas. Quando você foi à academia pela primeira vez, e saiu de lá arrastando a nossa garota aqui, eu fiquei curioso para perguntar sobre você para Lena, mas acabou que eu não sabia como fazer essa pergunta para ela, então acabei adiando esse momento. Enfim, o tempo foi passando, e eu percebi que na verdade, eu não precisava fazer essa pergunta. Estava bem claro. O modo como Lena olhava para você, o sorriso que ela colocava no rosto ao falar com você... e nos últimos tempos, vocês começaram a dormir juntas aqui... estava bem claro, todo esse tempo. —disse, sorrindo.
—Eu... e-eu... —começou Amélie, mas não conseguia formular nenhuma frase diante das palavras ditas por Gabriel.
—Calma, não precisa ficar preocupada. Eu não tenho nada contra isso. Na verdade, fico feliz que Lena tenha encontrado alguém que a ame do modo como ela é. —disse Gabriel, sorrindo. —Mas estou curioso: quando é que vocês iam contar sobre vocês? —perguntou.
—Bom, na verdade... nós ainda não havíamos conversado sobre isso. Meio que começamos a namorar a tipo, no fim da noite de ontem. —disse Amélie, nervosa.
—Bem, ainda assim, parece que você exauriu a nossa amiga aqui completamente. Poxa, podia ter dado um descanso para ela, né Amélie? Ou será que seu desejo era tanto que você não conseguiu se segurar? —perguntou Angela, em tom brincalhão, e acabou arrancando risadas de Gabriel. Amélie estava completamente corada nesse momento.
—Angela, você não está ajudando. —disse Amélie, corada. A doutora ainda riu por algum tempo, acompanhando Gabriel, mas logo os dois pararam.
—Bom, como vocês ainda não conversaram sobre isso, vou manter como segredo por enquanto, até que vocês duas estejam prontas para revelar isso a todo mundo. —disse Gabriel, sorrindo.
—Obrigada. —disse Amélie, aliviada. A francesa aproveitou a brecha para mudar de assunto. —Mas Angela, você acha que vai demorar muito para Lena acordar? —perguntou.
—Bem... acho que vai demorar um pouco. —disse Angela, observando Lena com uma expressão séria no rosto. Só olhar para a face de sua amiga foi o suficiente para Amélie entender que a doutora estava escondendo alguma coisa.
—Talvez devêssemos leva-la para o quarto. Ela estaria mais confortável na cama. —sugeriu Gabriel. Angela colocou uma mão no queixo. A doutora parecia estar considerando a sugestão.
—Amélie, como foi que Lena chegou aqui, no sofá? O que vocês estavam fazendo antes? —perguntou Angela, agora olhando atentamente para Amélie.
Amélie achou a pergunta estranha, mas contou à doutora o que havia acontecido, desde o momento em que Lena havia acordado até quando as duas estavam assistindo um filme, quando a britânica simplesmente apagou.
—Agora que você disse isso, acho que talvez não seja uma boa ideia leva-la para o quarto. Como ela simplesmente apagou do nada, provavelmente vai acordar bem confusa, e se levarmos ela para o quarto, acho que vai ser pior. Vamos evitar isso. —disse Angela, olhando para Lena, que agora dormia calmamente.
—Bom, nesse caso, o que devemos fazer? —perguntou Gabriel.
—Vamos deixa-la descansando. Quando ela acordar, levamos ela para o quarto. —explicou Angela.
—E você acha que isso vai demorar? —perguntou Gabriel.
—Não sei dizer ao certo. Pode levar alguns minutos, ou talvez horas. Vai depender do quão cansada a nossa amiguinha está. —disse Angela, com um semblante mais tranquilo no rosto. —Por que a pergunta?
—Bem... é que eu tenho algumas coisas para resolver... —disse Gabriel, coçando a cabeça.
—Algum problema em questão? Talvez eu possa ajudar. —disse Amélie.
—Ah, não se preocupe. É apenas o Doomfist. Ele está me enchendo o saco porque ainda não consegui um lugar para ele ficar. Ele teve que dormir na academia esses dias. Ainda bem que o cowboy conseguiu se virar sozinho aqui em Londres. —disse Gabriel, suspirando em seguida. O homem parecia muito cansado. —Enfim, eu prometi que iria ajudar Akande a encontrar um lugar para ele ficar. Eu e ele iríamos dar uma volta hoje para olharmos uns lugares, mas ai Amélie me ligou, então eu vim correndo pra cá...
—Entendo. Sabe, acho que você deveria ir então. Não se preocupe com a Lena. Eu e Amélie cuidaremos da sua garota. —disse Angela, dando um sorriso para Gabriel. —Acho que não deve ser uma boa ideia deixar Akande esperando.
—Acredite, não é. —disse Gabriel, e ambos riram. —Tem certeza de que não vão precisar de ajuda para quando ela acordar? —perguntou.
—Tenho. Eu e Amélie damos conta do recado. —disse Angela, piscando para Gabriel. —Agora, vá lá, não deixe o Doomfist esperando.
—Tudo bem, então. —disse Gabriel, ainda um pouco inseguro com a ideia. Ainda assim, o homem resolveu aceitar a sugestão de Angela, e após se despedir de Amélie e da doutora, Gabriel saiu do apartamento.
Agora, Angela e Amélie estavam sozinhas no apartamento, juntas de Lena, que dormia no sofá.
—Vou pegar um cobertor para Lena. Talvez ela esteja sentindo frio. —disse Amélie.
—Ah, faça isso. É uma boa ideia. Eu vou pegar meu notebook, que deixei no meu carro. Enquanto esperamos ela acordar, podemos assistir alguma coisa. —disse Angela, saindo do apartamento para ir até o seu carro. Amélie vasculhou o guarda roupa da britânica, e encontrou um cobertor rosa claro, mais fino que o que as duas haviam usado na noite anterior. Voltou imediatamente para a sala, cobrindo a garota com o cobertor. Depositou um beijo suave na testa da morena, e em seguida, sentou-se no outro sofá. A única coisa que impedia uma nova crise de ansiedade da francesa era a imagem reconfortante de Lena, que mesmo desacordada, ainda era a visão mais bela do mundo na opinião de Amélie.
A francesa estava tão distraída com Lena que só percebeu a presença da doutora quando a mesma colocou a mão em seu ombro, o que assustou Amélie.
—Desculpe. —disse Angela, com o notebook embaixo do outro braço. —Não se preocupe. Ela vai ficar bem. Você vai ver. —disse, tranquilizando Amélie. —Agora, enquanto a nossa britânica favorita não acorda, o que acha de assistirmos alguma coisa? —perguntou. Amélie sabia que a amiga estava tentando o melhor para deixa-la tranquila, mas a francesa não tinha cabeça para ver qualquer coisa naquele momento.
—Acho melhor não, Angela. Depois disso tudo, eu não estou com cabeça pra mais nada. —confessou Amélie, suspirando em seguida. Fechou os olhos, tentando relaxar um pouco. Pôde ouvir a doutora se sentar e colocar seu computador sobre a mesa da sala. Ouviu a mulher digitar alguma coisa, e mesmo tendo dito que não iria assistir nada, a francesa teve sua curiosidade atiçada quando ouviu, sob aplausos, o início de uma música familiar tocar. Instrumentos de sopro iniciavam suavemente a sinfonia, e em seguida, apenas uma flauta continuava a música, voltando a alternar com outros instrumentos de sopro. O coro da orquestra, aos poucos, fazia sua voz ser ouvida.
Amélie abriu os olhos, reconhecendo de imediato o vídeo que a doutora assistia, afinal, era justamente de um dos espetáculos que a francesa havia protagonizado: “Daphnis et Chloe (Daphnis e Chloe, traduzido do francês)”. Fora um dos espetáculos mais difíceis que Amélie já havia feito, mas também um dos mais belos e reconhecidos. No vídeo, aos poucos o cenário foi sendo iluminado, e os personagens da peça começaram a aparecer. E então, uma jovem Amélie, com um vestido de um amarelo suave, surgiu em cena acompanhada por um outro bailarino, que a francesa não mais recordava o nome.
—Só você mesmo para ver uma coisa dessas. —brincou Amélie, embora no fundo, soubesse que a doutora amava o ballet tanto quanto ela.
—Ora, você sabe muito bem que essa foi uma das suas melhores apresentações. E não tente dizer que não foi porque eu estava lá e vi com meus próprios olhos. Nenhum espetáculo foi tão belo como o seu durante aquele ano. —disse Angela, encarando Amélie com os olhos brilhando e um sorriso gentil em seu rosto. A doutora fez sinal para que a francesa se sentasse junto com ela no chão, para assistir a apresentação, e assim Amélie o fez. —Fico feliz que tenha se juntado a mim. Imagino que você tenha visto essa apresentação centena de vezes, mas ainda assim, arte é arte, não é? —disse Angela, com os olhos fixos na tela do computador.
—É verdade. Arte é arte, mas... eu acho que nunca assisti uma apresentação minha assim, em um vídeo. —confessou Amélie, o que tirou a atenção de Angela do computador.
—Você está brincando, certo? —perguntou Angela.
—Não. Tudo o que me lembro de minhas apresentações está nas minhas memórias ou no álbum de fotos que eu tenho em algum lugar do meu apartamento. —disse Amélie.
—E por que você nunca procurou por vídeos das suas apresentações na internet? —perguntou Angela, pausando o vídeo.
—Não sei. As coisas ficaram complicadas depois que eu me lesionei, e então, após a minha aposentadoria, toda aquela coisa que eu tive com Gerard, a doença dele, a empresa... não sei, haviam tantas coisas boas e ruins acontecendo ao mesmo tempo na minha vida... acho que eu não queria ver isso. Só me faria sofrer mais, já que era apenas mais uma das coisas que eu jamais poderia ter em minha vida novamente. —explicou Amélie, colocando para fora sentimentos que há muito tempo guardava. Mesmo a francesa estava surpresa pelas coisas que havia dito, e principalmente, com a facilidade com que as palavras haviam saído de sua boca. Então olhou para Lena, e finalmente entendeu o porquê: era o medo de perder novamente algo que era extremamente importante em sua vida.
Angela abraçou a francesa, que recostou sua cabeça no ombro da doutora:
—Desculpe. Eu não deveria ter colocado esse vídeo. —disse Angela, apertando Amélie em seu abraço.
—Não se preocupe. Está tudo bem. —disse Amélie, mas a doutora insistiu no abraço.
—Você está com medo de perdê-la, não é? —perguntou Angela. O olhar das duas mulheres se cruzou, e a doutora pôde ver uma Amélie insegura e assustada com a possibilidade de ver a mesma história se repetindo novamente.
—Eu não posso perdê-la, Angela. Ela é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. —revelou Amélie, com a voz falhando. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e a francesa abraçou a doutora ainda mais forte.
—Shhhhhhhh, está tudo bem. Não se preocupe, tudo vai ficar bem. Você não vai perdê-la. —disse Angela, tentando tranquilizar a outra mulher.
—Como pode ter certeza? —perguntou Amélie, e tal pergunta pegou a doutora de surpresa. “Nada é certo na vida, Angela... não faça promessas que não possa cumprir.” Pensou Angela, recordando as palavras de seu pai, antes dele ter falecido por causa da guerra.
—Tem razão. Não posso prometer algo assim, mas todos podemos lutar por aqueles que amamos, e não devemos desistir tão fácil. —rebateu Angela. —Não tenha medo. Eu vou estar aqui para te ajudar com Lena. Para ajudar vocês duas. —continuou, encorajando a francesa com suas palavras.
Amélie pareceu se acalmar um pouco com as palavras da amiga, para alívio da doutora.
—Vamos, vou colocar outra coisa para assistirmos. —disse Angela, se separando do abraço.
—Não, vamos assistir isso. Depois você coloca outra coisa. —disse Amélie.
—Tem certeza? —perguntou Angela, agora insegura quanto à ideia.
—Sim, não tem problema. Vai ser interessante ver a apresentação da perspectiva de um espectador. —insistiu Amélie.
—Tudo bem então. —concordou Angela, ainda um pouco insegura, mas resolveu não falar mais nada. Apenas deu um clique retomando o vídeo novamente, para que a apresentação continuasse. Com o passar dos minutos, a trama do espetáculo foi se desenvolvendo, com os bailarinos alternando entre passos simples e complexos. No entanto, evidentemente, era Amélie quem mais chamava a atenção de todos. Mesmo os passos mais simples eram feitos com tamanha perfeição que era evidente a paixão da prima ballerina por aquilo que fazia.
Uma hora se passou até que, enfim, o espetáculo se encerrou, com uma salva de aplausos da plateia, encantada pela apresentação e, principalmente, por Amélie Lacroix. O sorriso no rosto da francesa ao fim da peça demonstrava a sua satisfação com o seu trabalho. “Bons tempos... demorou muito para eu ver um sorriso desses no seu rosto depois que você se aposentou, não é mesmo, Amélie?” pensou Angela, refletindo sobre como Lena havia transformado sua amiga em tão pouco tempo, trazendo de volta à felicidade que há muito a francesa não sentia.
Enquanto Angela se pôs a procurar alguma outra coisa para assistirem, Amélie acariciava levemente a mão direita de Lena, trazendo-a até seu rosto e beijando-a.
Após algum tempo, Angela finalmente encontrou algo para assistirem. Um filme aleatório sobre fantasia e comédia. Nenhuma das duas estava realmente prestando atenção no filme, embora mantivessem os olhos grudados na tela do computador. A verdade era que mesmo Angela já estava começando a ficar preocupada com a britânica, que já deveria ter demonstrado alguma reação, por menor que fosse.
“Se ela não acordar logo eu vou ter que leva-la para o hospital e verificar se o problema é mais grave do que parece.” Pensou Angela, mas não disse nada para não deixar sua amiga ainda mais preocupada.
No entanto, felizmente não foi preciso pensar muito a respeito disso. Assim que concluiu seu pensamento, Lena bocejou e começou a esfregar os olhos, acordando. O sorriso no rosto de Amélie surgiu tão espontaneamente que nem parecia que há alguns instantes ela estava tão preocupada com a garota.
—Lena! —disse Amélie, enlaçando o pescoço da garota que agora estava sentada. A francesa abraçou a garota com força.
—Hey, luv. Assim eu não consigo respirar. —disse Lena, e Amélie afrouxou um pouco o abraço. —Aconteceu alguma coisa para você estar assim? —perguntou. Angela e Amélie se entreolharam.
—Você não lembra o que aconteceu? —perguntou Angela, apreensiva.
—Não. Só me recordo de ter deitado aqui com a Amélie para assistirmos um filme, mas não me lembro de mais nada depois disso. —respondeu Lena, esfregando os olhos.
—Lena... você apagou enquanto assistia o filme com Amélie. —disse Angela. De início, Lena ficou confusa, mas após Amélie e a doutora explicarem o que aconteceu, a britânica pareceu entender.
—Ah, não se preocupem. Isso é normal. Já aconteceu algumas vezes comigo depois de algumas lutas difíceis. —respondeu Lena, sorrindo, mas Amélie beliscou a bochecha dela com força.
—Como você pode dizer que isso é normal? Você apagou do nada, mon amour. (“meu amor”, em francês). —disse Amélie, ainda beliscando a bochecha de Lena.
—Ela está certa, Lena. Você tem que se cuidar mais. Esses sintomas... talvez não seja nada, mas pode ser que sejam indícios de alguma doença. —disse Angela, preocupada. —Eu aconselho você a passar na clínica assim que puder, para eu poder fazer alguns exames.
—Que isso gente, eu estou bem. Sério, não precisam se preocupar. Isso já aconteceu várias vezes. —disse Lena, finalmente retirando a mão de Amélie de sua bochecha.
—Lena... —começou Angela. —... por mais que pareça comum, apagar do nada e acordar sem se lembrar do que aconteceu não é bom. Eu insisto, marque um dia e passe na clínica. Nós vamos fazer uns exames, ok? E eu não aceito não como resposta. —disse a doutora.
—Pode deixar, ela vai. —disse Amélie.
—E quem vai pagar por isso tudo? —questionou Lena, e a doutora e a francesa ficaram confusas. —Olhe, eu não posso pagar por isso. Não posso ficar abusando de você, isso não é certo. E nem me venha dizer que vai pagar os exames porque eu não aceito, Amélie. —disse Lena.
—Ora Lena, não seja boba. Eu não vou cobrar pelos exames. Somos amigas. —disse Angela.
—E mesmo que ela cobrasse, eu pagaria. Sua saúde em primeiro lugar. —disse Amélie, mas a britânica pareceu não gostar disso.
—Eu não vou aceitar. —disse Lena, cruzando os braços.
Tanto Angela quanto Amélie ficaram sem saber o que responder. As duas se entreolharam novamente. Tanto a doutora quanto a francesa sabiam que a britânica precisava fazer esses exames o mais urgente possível, mas a postura da garota iria dificultar muito as coisas.
“Depois cuidamos disso.” Disseram em seus olhares.
—Bom, já que é o caso, acho melhor deixar isso pra lá então. —disse Amélie, e Lena ficou desconfiada.
“Essas duas nunca desistem fácil de alguma coisa. Céus, elas vão tentar me convencer a aceitar fazer esses exames.” Pensou Lena, já sentindo a conversa desgastante que teria pela frente com as duas.
Por sorte, nenhuma delas tocou novamente no assunto. Angela e Amélie ajudaram Lena a ir até o banheiro, muito embora ela não estivesse debilitada para isso. Depois, as três foram para a cozinha, e enquanto Angela preparava alguma coisa, Amélie fazia um chocolate quente de micro-ondas. As três passaram o resto da tarde conversando sobre trivialidades, e quando a noite chegou, Lena pegou alguns cobertores e os colocou na sala. Após tomarem banho, uma de cada vez, e se trocarem para dormir, as três afastaram o sofá, e arrumaram os cobertores no chão da sala mesmo, e com alguns travesseiros e almofadas de apoio, se deitaram ali mesmo. Conversaram mais um tempo sobre algumas coisas, e por fim, Amélie se aconchegou em Lena, abraçando-a, e não demorou muito para a francesa adormecer. Angela dormiu logo em seguida. Lena ficou acordada, observando as duas dormirem. As duas não haviam tocado mais no assunto dos exames, mas ainda assim a britânica não conseguia afastar a sensação de que as duas ainda não haviam desistido do papo sobre os exames. Não que a britânica tivesse algo a esconder, mas a ideia de Amélie e Angela estarem bancando todas aquelas coisas para ela a incomodava muito. Lena sentia como se estivesse se aproveitando da amiga e da namorada.
Essa ideia a incomodou tanto que não conseguiu pegar no sono. Ela não tinha total noção do tempo, mas chutava que já havia se passado pelo menos uma hora desde que haviam se deitado ali.
“Ok, eu preciso dormir agora. Pensar nisso só vai me torturar ainda mais. Preocupe-se com seu trabalho Lena, amanhã você acorda cedo para trabalhar.” Disse Lena, e com muito esforço, ela tentou afastar qualquer tipo de pensamento de sua cabeça. Sem sucesso. Por mais que se esforçasse, todas aquelas ideias acabavam voltando para a sua mente. Olhou para Amélie, e a imagem da francesa ali, abraçada com o seu corpo, com os cabelos soltos, e a respiração quente, foi o suficiente para acalmá-la. Acariciou levemente o rosto de sua amada, e aos poucos, Lena sentiu suas pálpebras pesarem, e com o tempo, acabou adormecendo.
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