CAPÍTULO 10 – COISAS ESTRANHAS (PARTE 3)
—Lena, eu não consigo entender como você pode estar mais animada para isso do que eu. —disse Amélie, enquanto observava a britânica andar de um lado para o outro em seu apartamento. Finalmente, havia chegado o dia do jantar, e aparentemente, Lena estava realmente entusiasmada com a ideia de poder ir em um evento como esses com a namorada.
—Luv, eu estou prestes a conhecer as pessoas com quem você trabalha, e talvez, até mesmo algum velho amigo. Como você se sentiria em uma situação assim? —perguntou Lena, e Amélie sabia que a garota tinha razão. Ainda assim, a francesa não pode deixar de ficar preocupado com o quão agitada Lena estava naquela tarde. Tinha sido uma manhã calma de sexta-feira até então, mas depois do almoço, a britânica parecia ficar cada vez mais ansiosa a medida que as horas passavam.
—Eu te entendo, mon amour, mas talvez você devesse se acalmar um pouco. Venha aqui, sente um pouco comigo. —disse Amélie, sentando no sofá e batendo com a mão no espaço ao seu lado. Lena a encarou por alguns instantes, o cenho franzido.
—Esse convite parece muito mal intencionado, sabia? O que você pretende dessa vez? —provocou Lena, aproximando-se e sentando no colo da francesa. Amélie começou a beijar a clavícula e o pescoço da namorada, arrancando gemidos suaves da garota.
—Eu não sei do que você está falando. —disse Amélie, selando os lábios com a britânica. As duas trocaram alguns beijos, antes de se afastarem por um momento. —Sabe... eu ainda tenho muitas surpresas naquelas sacolas além da lingerie que eu usei ontem a noite. Você quer experimentar algo novo? Ainda temos algum tempo até o jantar? —perguntou Amélie, voltando a distribuir beijos no pescoço da garota.
Enquanto isso, Lena considerava a opção. Ainda estava um pouco cedo, mas a britânica estava um pouco incerta se esse seria o momento adequado para descobrir o que mais Amélie havia comprado e guardado naquelas sacolas. No dia anterior, assim que chegaram da casa de Angela, Amélie fez questão de colocar a lingerie imediatamente, e a partir daí, a britânica não teve descanso. Foram horas de prazer até que as duas mulheres finalmente desabaram de exaustão. Já era madrugada quando isso aconteceu, e antes de cair no sono, Lena ficou imaginando qual seria reação quando Amélie revelasse o que havia nas outras sacolas. Se somente a lingerie fora suficiente para horas de prazer, Lena estava mais do que curiosa para descobrir o que aconteceria com o restante das coisas. Ainda assim, Amélie a fez prometer que não tentaria bisbilhotar as sacolas. Tudo seria uma espécie de jogo entre as duas: a cada dia, Amélie revelaria algo novo. Lena, obviamente, concordou imediatamente com isso. No entanto, a garota temia que se começassem algo novo naquele momento, as duas acabariam por chegar atrasadas no jantar que Amélie havia organizado, ou talvez, nem sequer chegassem. Amélie gostava muito de provocar, e não se importava muito com o tempo quando estava fazendo isso.
Por outro lado, Lena pensava na conversa que havia tido com Angela. A britânica e a francesa ainda não haviam tido aquela conversa sobre revelar o relacionamento para os outros, e Lena tentava decidir se esse seria o melhor momento para trazer o assunto à tona, ou se deveria esperar o evento de Amélie terminar para que as duas tivessem um pouco mais de calma para conversar sobre isso.
Um gemido rouco escapou dos lábios de Lena quando Amélie deslizou a mão por dentro de seu short. Antes que a britânica pudesse dizer qualquer coisa, a francesa a puxou para um beijo quente, enquanto sua mão continuava a ganhar território dentro das roupas de Lena. Não demorou muito, e logo os dedos de Amélie invadiram a calcinha da garota, acariciando com movimentos circulares a intimidade da britânica. Amélie sentiu Lena gemer contra sua língua, e sorriu com satisfação por saber que suas ações estavam causando o efeito desejado na britânica.
—Você é muito má. —disse Lena, ofegante, quando se separou do beijo. Amélie ergueu uma sobrancelha em provocação.
—Eu sou má? Por quê? —disse Amélie, aumentando o ritmo dos movimentos dentro da calcinha da garota. A francesa já podia sentir a umidade se formando na sua mão.
Lena estava prestes a responder a provocação da namorada quando a campainha do apartamento tocou. Os olhos de Lena se arregalaram ao perceber que, provavelmente, a pessoa na porta era Angela.
—Céus! Deve ser a Angela! —disse Lena, agora ainda mais ansiosa do que antes. A garota afastou as mãos de Amélie. —Só um instante, já estou indo! —gritou, e no momento em que a britânica começava a se levantar para atender a porta, Amélie a puxou de volta para seu colo. A britânica ficou um pouco confusa com o ato da francesa.
—Angela! Se for você, por favor, me dê uns cinco minutos! Eu preciso terminar uma coisinha antes! —gritou Amélie, e sem esperar por resposta, a francesa puxou Lena novamente para um beijo selvagem. Foi preciso alguns segundos de luta para que Lena conseguisse se separar da namorada.
—O que você está fazendo? Não podemos continuar, Angela está na porta. —disse Lena, tentando se levantar novamente, mas a francesa a impediu.
—Nós podemos continuar. É só você não fazer barulho e ela não vai ter ideia do que está acontecendo. —disse Amélie, e antes que Lena pudesse protestar, a francesa deslizou novamente a mão para dentro da calcinha da garota. Sem avisos, Amélie introduziu dois dedos dentro da intimidade da garota, arrancando um gemido alto da britânica. Esse, no entanto, foi o último gemido a escapar dos lábios da garota, pois Amélie colocou uma das mãos sobre a boca da britânica, impedindo que qualquer som saísse.
—Precisamos ser rápidas, chérie. Só temos cinco minutos, então você vai ter que me ajudar. —disse Amélie, começando a mexer os dedos dentro de Lena com movimentos de vai e vem, ora curvando os dedos, ora estocando-os com força. A britânica sente seu corpo ficar tenso com toda aquela situação, não sabendo ao certo o que fazer. Certamente era Angela quem estava na porta, e fazer isso com Amélie enquanto a amiga escutava certamente era constrangedor... e excitante. Lena queria se repreender por pensar em algo assim, mas a verdade é que seu corpo parecia bem mais sensível aos toques da namorada ao saber que alguém poderia escutar o que as duas estavam fazendo. Lena ficou ainda mais tensa quando Amélie introduziu o terceiro dedo.
—Docinho, você precisa me ajudar, ou então nós vamos levar bem mais do que cinco minutos. Você não quer deixar Angie esperando ,quer? —provocou Amélie, sabendo muito bem que essas palavras teriam bastante efeito sobre a garota.
Passado o choque inicial da situação, Lena decidiu que Angela provavelmente tinha uma boa ideia do que estava acontecendo ali, e por isso, ainda não havia entrado, afinal, ela também tinha as chaves do apartamento. A situação como um todo, apesar de excitante, era muito constrangedora, mas ao menos Angie não havia interrompido nada dessa vez. Restava a Lena aproveitar isso enquanto podia.
Com certa dificuldade, Lena começou a mexer um pouco os quadris, indo para frente e para trás enquanto Amélie continuava a tocá-la. A francesa não deixou a mudança de atitude passar despercebida:
—Isso mesmo, chérie. Boa garota. —elogiou Amélie, mexendo um pouco mais os dedos e sentindo a britânica se apertar em volta deles. —Rebole um pouco mais para mim, docinho. —pediu Amélie, e com certa dificuldade, Lena fez o que lhe foi pedido. Em questão de segundos, a garota mantinha um ritmo constante de movimentos enquanto era tocada pela namorada.
Amélie recompensou a britânica com beijos e mordidas no pescoço, enquanto ainda mantinha uma mão na boca da garota. Em certo momento, Lena fechou os olhos, e a francesa pode perceber pela expressão da garota que ela estava chegando perto. Amélie, então, aumentou o ritmo dos movimentos, sentindo os quadris da garota ficaram tensos com a mudança. Lena, por sua vez, estava se sentindo no céu. Seu cérebro parecia ter sido desligado enquanto seu corpo assumia o controle, e a britânica já nem se importava mais que Angela estivesse na porta. Tudo o que ela queria era sentir Amélie cada vez mais fundo nela, e a cada toque, a britânica balançava os quadris com mais força e vontade nos dedos da namorada. Lena podia sentir o quão molhada ela estava, e claramente a francesa estava se deliciando com isso.
Lena sentiu seu orgasmo chegando perto quando Amélie pressionou os três dedos com força em seu ponto G. Suas pernas tremeram, e seus quadris ficaram tensos com o movimento, parando abruptamente enquanto Amélie retirava lentamente os dedos, apenas para introduzi-los novamente. A intimidade da britânica se aperta em volta dos dedos da namorada quando seu orgasmo chega, e Lena treme de prazer enquanto aproveita aquele momento. Gemidos abafados escapam de sua boca, e quando o orgasmo finalmente termina, Lena está ofegante no colo da namorada, tremendo e tendo espasmos enquanto a francesa retira calmamente os dedos de dentro da garota.
Amélie manteve a garota ofegante em seus braços, enquanto acariciava gentilmente suas costas. Demorou um pouco para que Lena recuperasse o folego, mas quando o fez, imediatamente suas bochechas coraram ao perceber o que havia acabado de acontecer. A britânica se levantou as pressas, e dessa vez Amélie não fez nenhum esforço para mantê-la no lugar. Divertida, Amélie riu quando a garota correu as pressas para o quarto, voltando logo em seguida com uma muda de roupas, para só então entrar no banheiro. A francesa deu segurou uma risada quando ouviu a porta sendo trancada.
Feliz com sua provocação, Amélie finalmente se ergueu e foi até a porta. Certamente havia passado bem mais do que cinco minutos, mas a ex-bailarina não se importava. Ela havia conseguido o que queria. Abrindo a porta, Amélie encontrou uma Angela completamente constrangida, segurando uma caixa branca. A francesa apenas abriu passagem para a amiga, que entrou relutante no apartamento. Angela tinha as bochechas em um tom avermelhado, e Amélie não perdeu a chance de provocar:
—Estava calor lá fora? Você está um pouco vermelha...
—Não se faça de sonsa. Eu sei muito bem o que estava acontecendo aqui dentro. —disse Angela, depositando a caixa sobre o balcão da cozinha. A doutora aproveitou a oportunidade para puxar uma das cadeiras e se sentar a mesa.
—Não sei do que você está falando. Não tinha nada acontecendo aqui dentro. —rebateu Amélie, sentando-se de frente para a amiga. Angela franziu o cenho.
—Vocês duas... —começou Angela, mas as palavras pareciam fugir de sua mente. Balançando as mãos no ar, numa tentativa de explicar com gestos o que as amigas estavam fazendo, a bela mulher apenas conseguiu arrancar uma risada divertida da francesa.
—Não tenho ideia do que seja isso. —disse Amélie, lambendo os dedos que ainda estavam molhados devido ao orgasmo de Lena. Aquela imagem foi o suficiente para confirmar as suspeitas da doutora, que sentiu o rosto esquentar ao imaginar as amigas em um momento íntimo enquanto ela estava tão perto. Amélie, divertida com toda a situação, riu novamente da amiga.
—De qualquer jeito, onde está Lena? —perguntou Angela, correndo os olhos pelo apartamento.
—Provavelmente no banho. Ela entrou correndo no banheiro depois que nós terminamos, e trancou a porta. —disse Amélie. Angela deu um olhar duro para a amiga, mas Amélie apenas deu de ombros. O olhar da francesa se dirigiu a caixa que a amiga havia depositado em cima do balcão. —Essa caixa não está um pouco grande apenas para um vestido não?
—E quem disse que é apenas um vestido? —rebateu Angela, com um sorriso brincalhão no rosto. A provocação da amiga atiçou a curiosidade da francesa, que se ergueu quase que imediatamente, tentando alcançar a caixa para descobrir o que havia ali dentro. Infelizmente, Angela foi mais rápida.
—Nem pensar. —disse Angela, erguendo a caixa e se afastando de Amélie. Quando a francesa tentou argumentar, Angela foi direta. —É uma surpresa.
Amélie bufou de frustração, mas supôs que era justo no final. Enquanto Lena escondia sua surpresa, a francesa também escondia as delas. Era um jogo divertido, e esse era o momento da ex-bailarina demonstrar seu espírito esportivo.
—Ok, então. Já que é assim, melhor eu pegar as minhas coisas para começar a me arrumar. —disse Amélie, caminhando em direção ao seu quarto.
—Antes disso... será que você não poderia me emprestar o seu quarto? Acho que seria melhor se Lena se trocasse nele. —pediu Angela.
—E onde é que eu vou me trocar? —perguntou Amélie.
—Ora, vista-se na sala ou no banheiro. —sugeriu Angela, e embora não gostasse da ideia, Amélie resolveu concordar. Derrotada, a francesa apenas caminhou até o quarto para pegar suas coisas, e logo em seguida retornou para a sala. No caminho de volta, a francesa percebeu que Lena já havia saído do banheiro, completamente vestida. A britânica parecia envergonhada, e evitava olhar para Amélie e Angela. A ex-bailarina apenas sorriu com a visão, enquanto Angela lhe deu novamente um de seus olhares. Amélie estendeu a língua, e antes que a doutora pudesse revidar, Lena puxou a amiga para dentro do quarto, batendo a porta logo em seguida. Por algum motivo, Amélie tinha a sensação de que ficaria um bom tempo sozinha naquela sala se trocando.
Assim como Lena, a francesa resolveu tomar um banho. Amélie optou pela água fria, e depois de muitos minutos se refrescando, a ex-bailarina resolveu terminar sua ducha. Retornou para a sala apenas de toalha, afinal, não havia necessidade de mudar de roupa duas vezes. Depois de se secar, Amélie finalmente começou a se vestir. Para esse jantar, Amélie não havia deixado a desejar no que se tratava de elegância: a francesa havia escolhido um vestido longo, saia sereia, com um decote poderoso nas costas, além de um decote em V profundo na parte da frente. No entanto, o maior destaque certamente era a cor nada usual: roxo. Apesar de ser uma das cores preferidas da francesa, havia ainda um outro motivo pelo qual ela havia optado por essa coloração: no dia em que Lena e Amélie se conheceram, a ex-bailarina usava um vestido de cor idêntica ao que estava utilizando agora. Amélie esperava que Lena notasse.
Enquanto colocava seus sapatos, Amélie não pode deixar pensar em como as amigas estavam se saindo dentro do seu quarto. As horas estavam correndo bem depressa, e o início do fim da tarde já se aproximava. Ainda assim, enquanto a ex-bailarina estava praticamente pronta, as amigas sequer haviam dado sinal de vida. A francesa caminhou até o quarto, e deu duas batidas na porta, esperando que isso chamasse a atenção das duas mulheres.
—Lena? Angela? —chamou Amélie, e por um segundo, não houve respostas. Amélie estava prestes a bater novamente quando ouviu o barulho de algo se movendo apressadamente do lado de dentro, seguida da voz de Angela:
—Um momento. Já estamos terminando. —disse a doutora, e mais sons de barulhos se seguiram. Amélie pôde ouvir alguma coisa caindo no chão, seguido por um resmungo de Angela.
“Ok, agora eu realmente estou curiosa para saber o que está acontecendo aí dentro...” pensou Amélie, puxando a maçaneta, apenas para descobrir que a porta havia sido trancada.
—Nada de entrar antes da hora, Amé. —gritou Lena, abafando algumas risadinhas.
—Ora, vamos lá, chérie. Abra logo essa porta. Vocês vão acabar me matando de curiosidade. —disse Amélie, puxando a maçaneta novamente e forçando a porta, mas suas tentativas foram em vão. A ex-bailarina bateu novamente na porta, e quando estava prestes a proferir algumas palavras espirituosas para as duas mulheres ali dentro, a francesa pôde ouvir o barulho da porta sendo destrancada.
Tão rápida quanto se abriu, a porta se fechou, permitindo apenas que Angela passasse para o lado de fora, ficando entre a francesa e a porta. Amélie sequer teve a oportunidade de espiar lá dentro.
—Você está muito linda. —disse Angela, e embora Amélie soubesse que o elogio era sincero, a ex-bailarina desconfiava que a amiga havia dito isso por um motivo.
—Muito obrigada. Agora, poderia me dar licença? Eu quero ver o que há nesse quarto para vocês estarem fazendo tanto mistério. —disse Amélie, mantendo uma postura calma. A francesa se aproximou ainda mais da porta, imprensando seu corpo no da amiga, numa tentativa clara de demonstrar que não estava disposta a recuar. Amélie tentou puxar a maçaneta, mas Angela segurou sua mão, impedindo-a. Quando a francesa deu um olhar confuso para a amiga, a doutora tratou logo de se explicar:
—Lena já vai sair, mas ela quer concluir a surpresa dela de um modo especial. Ela quer que você espere na sala. —disse Angela, e antes que Amélie pudesse protestar, a doutora acrescentou. —De olhos fechados.
Amélie suspirou. A francesa sabia que não adiantava discutir, e sentindo mais uma vez que havia sido derrotada pela insistência da amiga, Amélie caminhou para a sala, sentando-se no sofá, de costas para o corredor.
—Já está de olhos fechados? —perguntou Angela.
—Um momento, por favor. —disse Amélie, enquanto se aconchegava melhor. Assim que a francesa se sentiu confortável e relaxada, ela fechou os olhos. —Certo, estou pronta. Quando vocês quiserem. —disse, e a ex-bailarina conseguiu ouvir o barulho de uma porta se abrindo, seguidos por alguns sussurros. Amélie não conseguiu distinguir bem as palavras, e isso só aumentou ainda mais a sua curiosidade. Pela primeira vez, a francesa estava começando a gostar daquele jogo. Talvez porque ele estivesse prestes a acabar.
—Está preparada? —perguntou Angela.
—Oui. —respondeu Amélie.
—Certo. Você pode abrir seus olhos então. —disse Angela, e Amélie imediatamente o fez. A francesa precisou admitir para si mesma que não estava preparada para o que estava vendo a sua frente.
Lena estava... linda, mas diferente. Muito diferente, na verdade. Amélie duvidava que já tivesse visto a britânica daquele jeito. A francesa estava pasma com o vestido de Lena, principalmente pela cor, verde esmeralda, e também por ser um vestido relativamente curto, uma vez que a saia passava apenas alguns centímetros abaixo do joelho, deixando a mostra as pernas definidas da garota. O decote assimétrico deu um ar de elegância a britânica, e quando Lena girou, Amélie percebeu o decote em V cavada nas costas. A ex-bailarina sentiu os lábios ficarem molhados com aquela visão. A visão das costas nuas da namorada reacendeu a chama da excitação na francesa, e tudo o que Amélie queria agora era poder tocar a namorada e distribuir beijos pelo corpo da garota. No entanto, o vestido não era o que mais chamava atenção no visual: era o rosto.
Lena estava maquiada. E era completamente hipnotizante. As bochechas estavam levemente rosadas, enquanto os lábios tinham um tom suave de rosa. Os cílios dela haviam ficado maiores, e suas sobrancelhas haviam sido afinadas. Seus cabelos curtos haviam sido delicadamente penteados, dando um ar moderno a britânica.
—E então, o que você achou? —perguntou Lena, ansiosa pela opinião da namorada. Amélie, no entanto, não disse nada. —Amé? O que foi, você não gostou? —perguntou Lena ao perceber a expressão em choque da namorada.
—Eu acho que você deixou ela sem palavras Lena. Talvez você seja um pouco demais para Amélie. —brincou Angela, vendo suas duas amigas corarem logo em seguida. A brincadeira pareceu retirar Amélie de seu transe.
—Você... você está linda, chérie. —disse Amélie, mas a francesa sabia que o elogio era muito pouco para descrever a namorada. Lena estava completamente deslumbrante.
—Você vai ficar aí babando a noite toda, Amélie? Vocês vão chegar atrasadas no jantar desse jeito. —provocou Angela, e finalmente Amélie conseguiu desviar os olhos da namorada, apenas para dar um olhar duro a amiga. A doutora apenas riu com a ação.
—Ela tem razão. —disse Lena, e Amélie se virou imediatamente para a garota, chocada com a afirmação. Lena pareceu entender o que havia dito, e consertou. —Eu quis dizer sobre chegarmos atrasadas.
—Certo, certo. Vamos indo, então. —disse Amélie, levantando-se do sofá. A francesa aproveitou a oportunidade para roubar um beijo da namorada. Amélie sentiu seu corpo esquentar com o sabor e a maciez dos lábios da britânica.
—Você vai amassar o meu vestido desse jeito. —disse Lena.
—Talvez seja melhor tirá-lo, então. —sugeriu Amélie, as mãos percorrendo as costas nuas da namorada.
—Receio que eu não possa entrar nua no seu jantar, luv. —brincou Lena, e com muita insistência, as duas mulheres conseguiram se separar.
—Acho que estamos indo, então. —disse Amélie, pegando a sua bolsa. Lena também estava utilizando uma, que combinava com o vestido da garota. —Eu contratei um motorista para nos levar até o local. Ele já deve estar nos esperando. —anunciou, enquanto conferia as horas. Amélie viu, pelo canto do olho, quando a britânica agradeceu a Angela pela ajuda. A ex-bailarina não pode deixar de sorrir com a imagem. Aos poucos, Amélie começava a perceber que a dinâmica do relacionamento entre as duas parecia estar mudando, embora tanto Angela quanto Lena não parecessem ter notado isso. Antes duas amigas, agora as duas mais pareciam mãe e filha.
—Tem certeza de que não quer ir? Ainda temos tempo... —disse Amélie, mas Angela apenas negou com a cabeça.
—Talvez numa próxima vez. Essa noite é sobre vocês duas. —disse Angela, e as três mulheres se abraçaram.
—Obrigada por tudo. —agradeceu Lena, e Angela assentiu em reconhecimento.
—Agora vão. Não se preocupem com o apartamento, eu arrumo e tranco tudo quando eu sair. Não esqueça suas chaves, Amélie. —disse Angela, embora não fosse necessário, já que Amélie nunca andava sem suas chaves.
Finalmente, sem mais delongas, as duas mulheres saíram do apartamento, e desceram até a entrada principal do prédio, onde um carro e um motorista aguardavam por elas. Em alguns minutos, Lena e Amélie se encontravam na estrada, a caminho do evento.
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Lena precisou de muito força de vontade para impedir a francesa de tocá-la enquanto as duas estavam no carro. Durante todo o caminho, Amélie tentou dar algumas investidas sutis na britânica. As duas haviam se sentado no banco de trás, então não havia como o motorista ver muito bem o que estava acontecendo, mas ainda assim, o coração de Lena disparava toda vez que a namorada colocava uma mão em suas pernas, ou tentava puxar seu vestido para baixo. Lena se certificou de usar seu olhar mais mortal contra a namorada, no intuito de que ela parasse com as tentativas, mas tudo o que ela conseguiu foi uma risada divertida da francesa. Amélie, então, apenas estendeu as mãos em um resto de rendição, e Lena olhou desconfiada para a namorada, imaginando que seria um blefe.
Suas suspeitas, no entanto, mostraram-se infundadas. Amélie finalmente se acalmou, e a partir de então, as duas conseguiram aproveitar a curta viagem. As duas conversaram pouco, mas o clima entre elas era verdadeiramente agradável, ao ponto em que as duas apenas buscavam apreciar a companhia uma da outra.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, o motorista finalmente parou o carro, anunciando que haviam chegado ao seu destino. Lena deu uma boa olhada no lugar, e a primeira coisa que chamou sua atenção foi o nome: La Lumière.
—“A Luz”... —murmurou Lena, enquanto saía do carro.
—Oui, você traduziu certo, chérie. —disse Amélie, esperando a britânica circular o veículo para ficar ao lado dela.
Lena teve que bufar para impedir uma risada. O nome do lugar só podia ser uma grande ironia, afinal, com exceção do primeiro andar, todo o restante da casa de eventos estava completamente apagada.
—Não há necessidade de acender as luzes dos outros andares, chérie. —disse Amélie, como se estivesse lendo seus pensamentos. —Quando entrarmos, você verá que o primeiro andar é mais do que suficiente para todos os convidados. —explicou.
—Na verdade, eu estava pensando o porquê de uma casa de eventos em Londres ter um nome francês. —brincou Lena, agora ao lado da namorada. As duas começaram a caminhar lentamente em direção as escadas que davam acesso a entrada do local.
—Na verdade... ele não tinha esse nome... —disse Amélie, e deixou as palavras pairarem no ar. Demorou alguns instantes antes de Lena realmente entender o que aquilo significava.
—Você comprou uma casa de eventos só pra fazer uma festa? —perguntou Lena, um pouco chocada.
—Bem, sim, mas não é exatamente assim... —disse Amélie, e Lena percebeu que a namorada estava corando. — Já faz alguns anos que eu comprei o local, mas eu não consegui dar um uso muito útil para ele nos negócios da empresa, então eu apenas mudei o nome do lugar e deixei alguém administrando isso para mim, organizando eventos de outras pessoas. Até que um dia alguém me deu essa ideia de fazer a festa da empresa aqui, e desde então, é para isso que o local serve. —disse Amélie, parando no topo da escada, de frente para as portas de vidro. A francesa correu os olhos pelo local, como se estivesse avaliando alguma coisa.
Na verdade, somente quando chegaram ao topo da escada é que Lena percebeu que não só as portas, mas toda a entrada era feita de vidro espelhado. Os andares acima seguiam o mesmo padrão, o que fez com que a britânica não tivesse ideia do que havia do lado de dentro do lugar. Lena precisou admitir para si mesma que estava um pouco curiosa para ver o interior do lugar. Quando a britânica voltou seus olhos para a namorada, na esperança de perguntar o que deveria esperar quando entrassem, Lena percebeu que a francesa parecia um pouco nervosa, quase como se ela não quisesse estar ali.
Lena usou sua mão livre para entrelaçar os dedos com Amélie. A britânica deu um leve aperto, o que fez a francesa se virar e encarar a garota.
—Você está linda, chérie. —disse Lena, seu sotaque arrancando uma risadinha da outra mulher. —Sabe, eu queria te dizer isso mais cedo, mas meio que não tive a oportunidade. Esse vestido... é da mesma cor que aquele que você estava usando no dia em que nos conhecemos, não é? —perguntou Lena, e o sorriso no rosto de Amélie dizia que ela tinha acertado.
—Achei que você nunca fosse dizer, mon amour. —disse Amélie, sorrindo. Sua expressão, entretanto, logo assumiu um tom sério. —Lena, eu sei que você está animada com isso, mas eu meio que acabei esquecendo de te perguntar... você-
—Se eu sei etiqueta? —interrompeu Lena, e Amélie apenas assentiu. A britânica deu um sorriso tranquilizador para a namorada. —Relaxe, minha mãe me ensinou tudo quando eu era mais nova, e eu já fui em alguns jantares chiques, para a sua informação, então não precisa se preocupar comigo fazendo você passar vergonha.
Amélie bufou com as últimas palavras da garota.
—Eu jamais teria vergonha de você, chérie. Eu só não quero que você se sinta desconfortável. —disse Amélie, e Lena colocou uma mão em seu ombro.
—Eu sei, luv. —disse Lena, sorrindo da forma mais carinhosa possível. Amélie finalmente pareceu relaxar, e Lena retirou a mão do ombro da namorada. —Então... vamos entrar? —perguntou.
—Oui. No entanto, devo lhe avisar: o ambiente pode ser um pouco... intenso. —disse Amélie, um sorriso brincalhão no seu rosto. Lena sabia que era uma piada, mas por algum motivo, sentiu um arrepio percorrer o seu corpo, quase como um mau pressentimento. No entanto, a britânica não deixou isso transparecer. Essa era uma noite muito especial para Amélie, e Lena não iria estragar isso por causa de um simples calafrio. Sem mais delongas, as duas finalmente caminharam em direção as portas do local.
A primeira coisa que surpreendeu Lena foi a percepção de que havia alguém do lado de dentro esperando para abrir a porta para elas. O homem, que provavelmente era um segurança, cumprimentou Amélie com um aceno de cabeça, e logo em seguida seu olhar correu para a britânica. Parecia haver um brilho de curiosidade nos olhos do rapaz, mas depois de um tempo, o homem apenas cumprimentou Lena da mesma maneira que havia feito com Amélie. Lena apenas sorriu e deu um aceno de cabeça em resposta.
A segunda coisa que surpreendeu Lena foi o tamanho do lugar. A britânica reparou que o local parecia ser muito maior do lado de dentro do que o lado de fora, mas provavelmente era apenas impressão dela, pois não era possível ver muito devido a baixa iluminação do lado de fora.
A terceira coisa que surpreendeu Lena foi a decoração. Lustres de cristais estavam espalhado por toda a extensão do ambiente, com um lustre maior e mais imponente no centro. Havia um palco no final, e devido a distância, a britânica não foi capaz de identificar de que era feito, mas se assemelhava muito a mármore negro. O piso do local, aliás, era feito de mármore branco, o que combinava perfeitamente com a decoração e as luzes de tom predominantemente dourado. Haviam luzes nas paredes, e arranjos de flores espalhados ao redor. As mesas estavam organizadas entre dois ou três lugares, mas alguns convidados já haviam movidos algumas cadeiras para se juntar a seus companheiros.
—Surpresa? —perguntou Amélie, com um sorriso presunçoso em seu rosto. Lena olhou o local mais algumas vezes antes de se virar para responder a namorada.
—Por acaso eu estou no meu casamento e alguém esqueceu de me avisar?—brincou Lena, e Amélie revirou os olhos, divertida. A britânica estava prestes a agarrar a mão da namorada e puxá-la para uma das mesas quando um casal se aproximou delas. Lena percebeu que eles já deveriam ter uma idade um pouco elevada, mas ainda assim, não deixou de se admirar com a beleza de ambos. O senhor tinha um terno preto simples, mas elegante, e apesar do rosto enrugado e da pouca quantidade de cabelos, ainda mantinha uma expressão vívida em seu rosto. A senhora que o acompanhava (que Lena supôs ser a esposa) usava um vestido vermelho longo. Seu rosto tinha traços mais suaves, e seus olhos eram realmente escuros. Ela tinha um sorriso divertido no rosto, e mantinha os cabelos grisalhos amarrados em um coque elegante.
—Madame Lacroix, é uma honra poder revê-la. —disse o homem, que em um gesto de cavalheirismo, cumprimentou a francesa com um beijo em sua mão. Amélie apenas de um sorriso ao homem, antes de se virar para apertar a mão da senhora que o acompanhava.
—É um prazer poder vê-los aqui, Sr. e Sra. Smith. —disse Amélie, enquanto recolhia sua mão.
—O prazer é todo nosso. No entanto, estou curiosa... —disse Sra. Smith, virando-se para Lena com curiosidade. —Quem é a sua acompanhante?
Lena pensou ter visto uma expressão de pânico passar pelo rosto da namorada, mas foi tão rápido que a britânica não tinha certeza se realmente aconteceu. Ao invés de ficar pensando nisso, Lena deixou que Amélie a apresentasse:
—Essa é a Srta. Oxton. Ela é... uma amiga valorosa. —disse Amélie, um pouco incerta. Lena sentiu uma pontada no coração ao ouvir as palavras, mas resolveu não questionar, principalmente na frente de duas pessoas que aparentemente eram importantes. Sua mente procurou lhe lembrar que ela ainda não havia conversado com a francesa sobre contar sobre seu namoro para as pessoas, então Lena imaginou que estaria tudo bem em fingir essa história por enquanto. E, de certa forma, não deixava de ser verdade: ambas as mulheres eram muito amigas, apesar do namoro em si.
Com seu sorriso mais amigável, Lena estendeu a mão:
—Prazer em conhece-los. —disse Lena, que sentiu sua mão ser agarrada subitamente pela Sra. Smith. A mulher segurava com as duas mãos, e Lena tentou esconder o desconforto que se formou em seu interior pela maneira intensa com a qual a mulher lhe olhava.
—O prazer é todo nosso. Sabe, não é sempre que temos a oportunidade de conhecer um amigo de Amélie. Mal me lembro da última vez em que ela veio acompanhada de alguém para essa festa. —comentou a Sra. Smith, e seu marido assentiu, como que concordando com as palavras da esposa.
—Ora, não seja assim. Eu vim acompanhada de Angela em muitas ocasiões. —rebateu Amélie, mas em um tom respeitoso.
A Sra. Smith deu um olhar de canto para Amélie.
—Eu quis dizer alguém diferente de Angela. —disse com desgosto, e de repente, Lena sentiu que essa mulher era muito menos simpática do que parecia. A britânica ficou mais do que feliz quando a Sra. Smith relaxou o aperto e permitiu que ela liberasse sua mão. Lena manteve um sorriso no rosto em todo o momento, mas por dentro, ela não conseguia deixar de se sentir mal pelo modo como a mulher havia se referido a Angela. Amélie também não parecia ter gostado, a julgar pelo olhar de raiva em seu rosto. A francesa, no entanto, manteve uma expressão neutra.
“Manter as aparências...” pensou Lena, lembrando-se das palavras de sua mãe. De repente, isso parecia muito mais difícil do que antes. Mais do que nunca, Lena queria puxar a namorada para uma daquelas mesas, e se afastar o máximo possível dessas pessoas, mas a Sra. Smith não se contentou em parar por ali:
—Sabe, você é bem musculosa, agora que eu estou observando com mais atenção. Uma mulher não deveria ser tão musculosa, deveria? —perguntou, e Lena teve que se segurar para não dizer algumas palavras nada elegantes para ela.
—Lena é uma atleta profissional. —explicou Amélie, embora não houvesse necessidade. Não havia nenhum problema em uma mulher ser musculosa, e tanto Amélie quanto Lena sabiam muito bem disso.
—Lena? —questionou a Sra. Smith.
—É o meu primeiro nome. —disse Lena, antes que a mulher perguntasse. A Sra. Smith pareceu ficar mais surpresa com a descoberta do primeiro nome da britânica do que com a informação de que Lena era uma atleta profissional.
—Vocês se chamam pelo primeiro nome? Vocês devem ser muito íntimas... —observou a Sra. Smith, com uma curiosidade que incomodou Lena. Amélie também parecia estar um pouco nervosa com a situação.
—Que tipo de esporte você pratica? —perguntou o Sr. Smith, falando pela primeira vez desde que os havia cumprimentado. Diferente da esposa, ele parecia genuinamente curioso, e também não parecia incomodado com o fato de Lena ser musculosa.
—Com esses braços e pernas, certamente deve ser algo que exige bastante força. —disse a Sra. Smith. Lena abriu a boca para dizer que era boxeadora, mas pensou melhor e imaginou que não seria uma boa ideia revelar isso. A Sra. Smith parecia ter uma opinião bastante conservadora sobre o que as mulheres deveriam ou não fazer, então dizer que era boxeadora provavelmente não terminaria uma conversa. Provavelmente começaria um escândalo.
—Eu sou... nadadora olímpica. —mentiu Lena, colocando em seu rosto o melhor sorriso que poderia em uma situação como essa. O Sr. Smith apenas deu um “oh” em reconhecimento, e aparentemente, até mesmo a Sra. Smith parecia satisfeita com a resposta.
—Incrível. Mal posso esperar para vê-la conquistando uma medalha na próxima olimpíada. —disse a Sra. Smith, e Lena apenas assentiu.
“Minta sempre que precisar...” disse a mãe de Lena. A britânica pensou que sua mãe estivesse brincando quando disse isso. Não parecia ser algo que alguém deveria aprender em uma aula de etiqueta. Lena nunca imaginou que sua mãe estaria certa. Natação era um esporte de elites em vários lugares do mundo, então a britânica imaginou que isso poria um fim a desconfiança da Sra. Smith. Inacreditavelmente, funcionou.
Amélie não disse nada, apenas manteve sua postura, como se tudo o que a namorada estivesse dizendo fosse verdade. O Sr. e a Sra. Smith se despediram logo depois, indo para algum outro canto do local. Depois deles, algumas outras pessoas vieram cumprimenta-los, tecendo comentários e fazendo observações tão desagradáveis quanto a Sra. Smith. Houve um ponto em que Lena estava lutando para manter o sorriso no rosto e fingir não se importar com as coisas que eram ditas. “Céus... Amélie passa por isso todos os dias?” se perguntou Lena, tendo um novo nível de respeito pela namorada, que precisava enfrentar essas pessoas todos os anos. Lena só estava nesse jantar há alguns minutos e já estava ficando sem ar.
Depois do que pareceu uma eternidade, Amélie e Lena finalmente conseguiram se sentar em uma das mesas mais afastadas. A francesa lhe disse que essa era uma mesa especial, destinada a ela, e por isso, geralmente ficava mais afastada das outras. Dali, ainda era possível ter uma visão privilegiada do palco.
—Você enfrenta essas pessoas todos os anos? —perguntou Lena, quase em um sussurro, tentando não chamar a atenção das outras pessoas.
—Infelizmente, sim. E também costumo me encontrar com eles em algumas viagens ou reuniões. —respondeu Amélie, e depois deu a Lena um olhar culpado. —Sinto muito por você ter ouvido essas coisas. Sei que deve ter sido difícil para você, principalmente quando você mentiu sobre ser nadadora.
—Não se preocupe com isso, luv. —disse Lena, dando o sorriso mais amável que poderia. Essa noite era especial para Amélie, e a britânica não queria que a namorada ficasse preocupada com isso. —Além do mais, a sua expressão de durona era totalmente quente, sabia? —provocou Lena, arrancando um rubor e uma risada divertida da francesa.
—Merci, chérie. —agradeceu Amélie.
—Então... quem eram aqueles Sr. e Sra. Smith? —perguntou Lena, tentando mudar de assunto.
—Eles são sócios da minha empresa. Controlam a nossa divisão no Canadá e na parte Norte dos Estados Unidos. —explicou Amélie. Lena apenas assentiu, e olhou ao redor. Haviam várias pessoas no local no momento, mas parecia haver quase que um padrão entre a aparência delas.
No entanto, uma mulher se destacou em meio a multidão. Ela tinha cabelos curtos platinados, um batom vermelho que deixaria qualquer um com inveja, e sua pele era branca, bem pálida. A mulher também tinha uma pinta bem pequena, um pouco afastada da boca. De longe, Lena pensou que seus olhos eram vermelhos, mas não tinha certeza se havia visto corretamente. A mulher usava um vestido branco com alguns detalhes em dourado, com um decote em V profundo que não deixava muito para a imaginação. Ela também usava sapatilhas douradas.
—Aquela é Elizabeth Caledonia Ashe. —disse Amélie, percebendo o olhar de Lena. A britânica se virou para a namorada, esperando que ela continuasse. —Ela cuida de toda a parte da nossa divisão do Sul dos Estados Unidos, desde a Califórnia até a Carolina do Norte. Bom... na verdade, ela paga alguém pra cuidar disso para ela. Ashe nasceu em uma família rica, e nunca ligou muito para os negócios da família. Sua paixão sempre foi fotografar, e é com isso que ela trabalha, embora seja mais um passatempo para ela do que qualquer outra coisa. Geralmente, ela só vem as festas da empresa. —explicou.
—Hum. —disse Lena, percebendo o olhar cautelosos que Amélie tinha em relação a mulher. Havia mais nessa história do que a francesa estava contando. —Então, o que houve entre vocês? Você parece um pouco nervosa por ter de falar sobre ela.
—Não houve nada entre nós! —adiantou-se Amélie, um pouco rápida demais, Lena percebeu. —Ela é... apenas uma amiga. —disse, mas não parecia estar muito confiante sobre isso.
Não fosse a expressão de desgosto no rosto da namorada, Lena estaria com um pouco de ciúmes. Ashe era realmente uma mulher linda, e por mais que Lena se achasse bonita, a britânica não poderia disputar com a outra mulher.
“Espero que ela não seja uma ex-namorada de Amélie...” pensou Lena, uma carranca se formando em seu rosto com o pensamento. No entanto, a britânica logo afastou essa ideia de sua mente, e recolocou um sorriso em seu rosto. “Essa é a noite de Amélie.” lembrou-se Lena, segurando a mão da namorada por baixo da mesa. Lena sentiu a francesa relaxar um pouco depois que as duas entrelaçaram os dedos.
O lugar foi ficando ainda mais cheio com o passar do tempo. Algumas pessoas até mesmo foram até a mesa das duas para cumprimentar Amélie e conversar um pouco. Alguns curiosos até perguntaram por Lena, que manteve a mesma história que havia contado ao Sr. e Sra. Smith. Lena se sentiu um pouco mal, principalmente porque os outros convidados pareciam um pouco impressionados com ela. Parecia que eles realmente haviam comprado a história, e a britânica não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
—Não se preocupe. Não é como se eles fossem checar o registro de todos os nadadores na federação olímpica de natação ou algo do tipo. —tranquilizou Amélie, apertando a mão da britânica. Lena sorriu para a namorada, e por um instante, a britânica se concentrou fixamente nos lábios da outra mulher. Eles pareciam tão convidativos naquele momento. Lena estava tentada a roubar um beijo da namorada, mas sabia que talvez não fosse uma boa ideia. Mordendo os lábios, Lena desviou sua atenção para a entrada do local, e foi nesse momento que ela viu um rosto conhecido entrando no evento:
Satya Vaswani. A famosa arquiteta indiana de 28 anos de idade que havia revolucionado o modo de construir em todo o mundo.
A lendária “Symmetra”.
Lena sentiu seu corpo ficar frio de repente, e o nervosismo a atingiu como nunca. Não é que Lena estivesse realmente animada para conhecer uma pessoa famosa. Longe disso. Essas sensações eram provocadas pelo fato de que Symmetra sabia muito bem quem ela era.
—Lena, o que houve? —perguntou Amélie, percebendo o modo como a namorada havia ficado pálida.
—Ela sabe. —murmurou Lena, deixando Amélie um pouco confusa.
—Quem sabe o que? —perguntou Amélie.
—Symmetra. —disse Lena, indicando a mulher que estava entrando no local. Amélie correu seus olhos pelo lugar, finalmente encontrando a mulher. Ela usava um visual um pouco atípico, mas definitivamente ousado: um vestido preto e dourado, com um detalhe de uma flor no centro, que deixava ambas as pernas a mostra. Ela usava botas douradas, e meias pretas longas que alcançavam a metade de suas coxas. Para completar, ela usava seu tradicional “capacete”, que cobria seus olhos com um visor azul, enquanto permitia que seus cabelos ficassem completamente livres. Funcionava quase como uma coroa. Além disso, ela ainda usava brincos longos dourados, que combinavam com sua gargantilha, também da mesma cor.
Foi preciso alguns segundos para Amélie se lembrar de que isso não respondia a pergunta que ela havia feito a Lena. A francesa se virou para a namorada novamente, uma pontada de culpa surgindo em seu peito ao pensar que ela simplesmente havia ficado analisando o visual de outra mulher enquanto Lena parecia preocupada com a presença de Symmetra.
—O que... —começou Amélie, tentando formular uma frase. Lena ainda mantinha os olhos na outra mulher, e parecia vidrada demais para ter notado a dificuldade da francesa em organizar as palavras. —O que exatamente ela sabe? —perguntou Amélie, conseguindo se recompor.
Finalmente, a britânica voltou os olhos para a namorada.
—Ela sabe quem eu sou. —disse Lena, e Amélie esperou para que ela explicasse. —Quando eu decidi disputar o cinturão mundial, minha primeira luta para conseguir uma posição no ranking foi contra uma lutadora indiana. Ela era, tipo, a maior lutadora de boxe do país deles. Nenhuma outra mulher indiana havia chegado tão longe. O nome dela era Saniya. Haviam muitas pessoas importantes na noite em que lutamos, e Symmetra estava lá, na primeira fila. Ela viu em primeira mão quando eu nocauteei a garota, Amélie. —disse Lena, sua respiração acelerada. —Ninguém se esquece quando você derrota um herói ou heroína nacional.
—Você está preocupada que ela perceba a sua presença e revele que você é uma boxeadora para os outros convidados? —perguntou Amélie, embora fosse óbvio a resposta. A britânica apenas assentiu, sua respiração ainda acelerada. Por um momento, Amélie temeu que a namorada tivesse uma crise de ansiedade. A francesa agarrou a mão da namorada por baixo da mesa, e apertou firmemente, fazendo com que a garota olhasse para ela. —Vai ficar tudo bem. Ela não vai dizer nada. Talvez ela não se lembre de você, chérie. Eu não conheço ela a fundo, mas tive a oportunidade de conversar com ela algumas vezes. Ela tem um pouco de dificuldade para guardar rostos e nomes. —disse Amélie, tentando tranquilizar a namorada. Essa última informação, no entanto, só era verdadeira em parte. Symmetra tinha realmente dificuldade em gravar nomes e rostos, mas apenas de pessoas que não eram famosas ou que ela julgava serem menos importantes. No restante, a mulher indiana era muito boa em lembrar das pessoas, principalmente quando ela gostava ou odiava alguém. Amélie realmente estava torcendo para que Symmetra não se lembrasse de Lena, ou as coisas poderiam ficar complicadas.
Por sorte, a mulher pareceu não notar a presença de Amélie e Lena. Ao invés disso, Symmetra foi até um grupo de pessoas, onde começou a conversar calmamente. Lena pareceu relaxar com isso, e Amélie sorriu para a namorada, como se estivesse tentando dizer “Viu? O que foi que eu disse?”. Lena sorriu de volta, revirando os olhos.
Depois disso, não demorou muito, e os pratos começaram a ser servidos. A mesa de Lena e Amélie foi uma das primeiras a ser servida. Lena não prestou muita atenção na comida e no vinho, principalmente porque assim que todos foram servidos, Amélie foi chamada para fazer um pequeno discurso no palco. A francesa olhou incerta para a namorada, mas Lena apenas sorriu e a encorajou:
—Vá. Eu estarei aqui pra você quando você voltar. —disse, vendo um sorriso se abrir no rosto da francesa. Amélie caminhou até o palco, subindo graciosamente os degraus até estar diante do microfone que havia sido posicionado de frente para todos. A francesa foi simples: agradeceu a todos pela presença, desejando ótimos negócios e um delicioso jantar. Aplausos simbólicos se seguiram, e Lena se juntou a eles, feliz pela namorada. Assim que Amélie desceu os degraus do palco, algumas pessoas foram até ela para falarem alguma coisa e tirarem fotos. Enquanto isso, o jantar havia começado, e Lena estava sozinha em sua mesa.
Não demorou muito para esse cenário mudar.
Logo alguém havia colocado uma terceira cadeira ao redor da mesa, a direita de Lena, e antes que a garota pudesse dizer qualquer coisa, Ashe estava sentada ao seu lado, encarando-a com curiosidade. Ela tinha um sorriso divertido no rosto, mas seu olhar era o que preocupava Lena. Era um olhar de alguém que estava faminto, e a britânica estava com medo de se perguntar sobre o que seria essa fome.
—Oi. —disse Ashe, e Lena ficou sem reação por um segundo.
—O-olá... —disse Lena, sem saber ao certo como começar. Agora que estavam mais próximas, Lena reparou que Ashe era bem mais alta do que aparentava. Talvez até mesma do tamanho de Amélie.
—Me chamo Ashe. Elizabeth Caledonia Ashe, mas pra você é apenas Ashe, querida. —disse Ashe, se apresentando.
—Eu sou Oxton. Lena Oxton... hm, muito prazer em conhece-la, Ashe. —disse Lena.
—Igualmente. Então... nadadora olímpica, em? Curioso, eu podia jurar que havia te visto em uma luta de boxe há algum tempo. —disse Ashe, e Lena sentiu seu nervosismo voltar quando percebeu que a mulher também sabia quem ela era. —Não se preocupe, eu não disse nada a eles.
Isso Lena estranhou. Embora a britânica realmente se sentisse grata por Ashe manter seu segredo, a garota tinha a leve sensação de que havia mais nessa história do que a outra mulher estava contando. Lena apenas encarou a outra mulher, esperando que ela continuasse, mas Ashe permaneceu em silêncio. Aparentemente, ela estava muito feliz em apenas encarar o rosto da britânica.
—Então... eu queria perguntar-
—O cabelo é natural, muito obrigado por perguntar. Os olhos também. —disse Ashe, interrompendo Lena. A britânica apenas franziu o cenho com a resposta.
—Eu queria perguntar se você era americana... —disse Lena, mas já sabia sua resposta. Ashe havia respondido sua pergunta da maneira mais americana possível.
Ashe revirou os olhos, como se não acreditasse na garota. No entanto, Ashe conseguiu perceber pelo olhar da britânica que ela estava falando sério.
—Desculpe. É que geralmente as pessoas não costumam me perguntar muitas coisas além da cor do meu cabelo e dos meus olhos. —disse Ashe, um pouco envergonhada. Lena achou fofo o modo como ela ficava corada quando estava com vergonha.
—Bem, não se sinta mal. Eles são lindos. —elogiou Lena, com sinceridade.
—Obrigada. —agradeceu Ashe, e depois disso, o silêncio voltou a reinar entre as duas.
Lena correu os olhos para Amélie, na esperança de que ela estivesse prestes a voltar para a mesa. Infelizmente, a francesa parecia bastante ocupada conversando com vários casais.
—Vocês duas são namoradas? —perguntou Ashe, e Lena sentiu o rosto esquentar com a pergunta.
“O que eu deveria responder?” pensou Lena, desesperada. Não havia passado pela mente da garota que alguém pudesse lhe fazer uma pergunta do tipo.
—N-não. Nós somos apenas amigas. —disse Lena, mas as palavras soaram forçadas até mesmo para seus ouvidos. Ashe lhe deu um sorriso provocador em resposta.
—Tem certeza? Eu não sei, vocês se olhem com bastante intensidade para serem apenas duas amigas. —disse Ashe, e Lena ficou ainda mais vermelha do que já estava. —Talvez namoradas seja uma palavra muito forte. Que tal amantes? Talvez um “caso”? —disse, fazendo aspas. Lena não gostou nada da maneira que ela havia dito a última palavra.
—O que você quer? —perguntou Lena, deixando de lado qualquer traço de simpatia.
Ashe apenas riu.
—Você sabe quem eu sou? —perguntou Ashe, mas Lena permaneceu em silêncio, esperando que ela continuasse. Ashe se aproximou de Lena, antes de sussurrar. —Eu sou a amante de Amélie. —disse, retornando a sua posição inicial.
Lena sentiu seu sangue gelar com as palavras da mulher. De repente, foi como se tudo tivesse ficado em câmera lenta. Uma dor forte atravessou seu peito, e a britânica sentiu as lágrimas começarem a se formar nos cantos de seus olhos. Lena perdeu um pouco da noção espacial ao seu redor, e a garota estava prestes a se levantar e sair correndo para qualquer lugar quando as palavras de sua mãe invadiram sua mente:
“Não confie em ninguém.”
Sua mãe havia lhe dito que essa era a lição mais importante de etiqueta. Respirando fundo, Lena voltou a encarar a outra mulher. Ashe tinha um sorriso presunçoso no rosto. A princípio, a britânica ficou confusa, mas então os fatos foram voltando para a sua mente. Não havia como essa mulher ser a amante de Amélie, principalmente porque antes de Lena, a francesa nunca havia demonstrado interesse em mulheres, e antes disso, a única pessoa que ela amou foi Gérard. Os olhos de Lena se arregalaram quando a britânica percebeu que Ashe estivera todo esse tempo apenas brincando com ela.
—Você não é a amante de Amélie. —disse Lena, mas soou mais como uma acusação do que como uma constatação.
—Sim, é verdade. Eu não sou a amante da Amélie, mas você pode apostar que não foi por falta de tentativa. —disse Ashe, se inclinando sobre a mesa. —Demorou bastante para você descobrir isso, em. Me faz questionar se você é realmente rápida como na televisão.
Lena fez uma careta com a provocação.
—Não me diga que você realmente assistiu a minha luta? —perguntou Lena, incrédula. Isso apenas pareceu divertir ainda mais a mulher.
—É claro que assisti. Você era pura tensão sexual naquele ringue, garota. —disse Ashe, deixando Lena vermelha novamente. —Vou ser sincera: eu costumo fazer sexo com várias pessoas, mas não me masturbo para qualquer um. No entanto, depois que eu vi você naquele ringue, toda suada... eu tive que fazer justiça com minhas próprias mãos.
“Ok, isso foi... completamente constrangedor...” pensou Lena, atordoada com as palavras da outra mulher. A britânica ainda não acreditava que Ashe tinha dito algo assim com tanta naturalidade, ainda mais ao redor de tantas pessoas. Lena só podia imaginar que deveria estar completamente corada de vergonha. Entretanto, uma pequena parte de sua mente começou a imaginar se o que Ashe havia dito era verdade. Uma imagem da mulher de cabelos brancos gemendo o nome da britânica se formou na mente de Lena, mas a garota sacudiu a cabeça e tratou de afastar esses pensamentos.
—Pare de se desviar do assunto. Eu não quero saber o que você faz ou deixa de fazer. Eu quero que você responda minhas perguntas: por que você está aqui, e o que você quis dizer com “não foi por falta de tentativa”? —perguntou Lena, lançando um olhar sério para a outra mulher. Ashe beliscou um aperitivo do prato da britânica, antes de se voltar para a garota novamente.
—Tudo bem, vou te dizer. —disse Ashe, e começou a comer. Lena apenas esperou pacientemente enquanto a outra mulher se deliciava com o aperitivo. —Quando eu disse isso, eu realmente falei a verdade. Eu já dei em cima de Amélie várias vezes quando nos encontramos no passado pela empresa ou em eventos, mas ela nunca me deu nenhuma chance. Na verdade, eu ela me recusou tantas vezes que eu cheguei a acreditar que não houvesse um ser tão hétero no mundo quanto ela. Mas aí, eu vejo vocês duas entrarem juntas aqui hoje, e de repente eu começo a me perguntar o motivo de ela não ter trazido a amiguinha doutora, e sim você. Meu único palpite é que vocês duas estavam tendo alguma coisa bem íntima, e eu acredito que isso vá além da amizade. Então, acertei? —perguntou.
Lena permaneceu em silêncio, sem saber ao certo se deveria responder, ou o que deveria responder.
—Ora, vamos garota. Eu não contei que você era boxeadora para eles, mesmo depois de ouvir o que você estava dizendo sobre ser nadadora e tudo mais. —disse Ashe.
—Na verdade, foi bom você ter lembrado disso. Por que você não contou nada a eles? —perguntou Lena, estreitando os olhos para a mulher.
—Só respondo a sua pergunta se você responder a minha. —disse Ashe, e voltou a beliscar um aperitivo do prato. Lena imaginou que não conseguiria tirar mais nada da mulher se não estivesse disposta a dar algo em troca.
Relutante, a britânica respondeu:
—Sim. Eu e Amélie... estamos namorando. —disse Lena, e os olhos de Ashe se arregalaram com a revelação. —Mas não conte nada a ninguém, por favor. Nós ainda... não discutimos sobre isso.
Ashe apenas assentiu.
—Muito bem. O motivo pelo qual eu não contei nada a eles é o mesmo motivo pelo qual eu estou aqui, sentada junto com você: eu estava curiosa. —respondeu Ashe, e Lena franziu o cenho.
—Curiosa sobre o que? —perguntou Lena, inocentemente.
Ashe colocou o sorriso mais sedutor que poderia em seus lábios antes de se inclinar e responder:
—Curiosa sobre você, querida. —disse Ashe, afastando-se novamente.
Lena sentiu seu rosto esquentar de novo. Essa mulher realmente sabia como mexer com ela.
—Por que? —perguntou Lena, um pouco nervosa.
—Eu te disse: eu queria saber o motivo de Amélie ter trazido você ao invés de Angela, e também o porquê de você não ter contado que era boxeadora. Tudo em você me intriga, pra ser sincera. —disse Ashe, e Lena não sabia ao certo como responder a isso.
—Bem... imagino que seus amigos não iriam aceitar muito bem se soubessem que eu sou uma boxeadora. —disse Lena, mais para tentar mudar o foco da conversa.
—Sim. Eu pude ver como a Sra. Smith estava com dificuldade para aceitar os seus músculos. —disse Ashe, e Lena bufou com o comentário, arrancando uma risada da mulher.
—Então, se vocês estão namorando, por que ainda não contaram isso para todos? —perguntou Ashe, e Lena realmente sentiu que a mulher estava apenas curiosa para saber sobre isso.
—Bem... acho que essa é a pergunta de um milhão de dólares. Meio que ainda não tivemos essa conversa. —disse Lena, encarando a comida em seu prato.
Ashe arqueou uma sobrancelha com a resposta.
—E desde quando é preciso ter uma conversa pra isso? —questionou Ashe, e por um momento, Lena realmente ficou sem palavras.
—Bem... e-eu... as pessoas não podem aceitar isso muito bem. Digo, as pessoas com quem Amélie trabalha. —disse Lena, referindo-se as pessoas que estavam no evento.
—E desde quando essas pessoas precisam aceitar alguma coisa? Dane-se o que a alta sociedade pensa. Eles precisam respeitar a vida das pessoas, independente do que elas escolham para si mesmas. —disse Ashe, pegando uma taça de champanhe de um dos garçons que passava ao redor.
—Você realmente pensa assim? —perguntou Lena, curiosa.
—É claro. Eu mesma não pauto a minha vida pela opinião de outras pessoas. E acho que vocês duas deveriam fazer o mesmo. —respondeu Ashe, tomando um gole de sua bebida. Lena pensou por alguns segundos, refletindo sobre as palavras da mulher.
—Eu não sei... eu... —começou Lena, mas ela não sabia como começar.
—Você tem vergonha do seu relacionamento, ou do fato de você gostar de mulheres? —perguntou Ashe.
—N-não. —respondeu Lena, apressadamente.
—Então qual é o problema? Não vejo o porquê de vocês não revelarem isso. —disse Ashe.
—Mas...eu e Amélie... não conversamos sobre isso. —disse Lena, e Ashe estreitou os olhos.
—Não me diga que ela tem vergonha de namorar com você? —perguntou Ashe.
—É claro que não! —disse Lena, absolutamente ofendida.
—Então qual é o problema? —perguntou Ashe, e mais uma vez Lena ficou sem palavras para responder. —Ela te toca em público? —perguntou Ashe.
—O que? —perguntou Lena, que não havia entendido a pergunta.
—Eu estou perguntando se ela faz algum tipo de demonstração de afeto em publico. Ela te beija, te abraça ou algo do tipo? —perguntou Ashe.
—Bem... nós damos as mãos as vezes. —respondeu Lena, não entendendo aonde Ashe queria chegar.
—Mas vocês fazem isso para que todos possam ver? Tipo, caminhar em um parque de mãos dadas na frente de pessoas que vocês não conhecem? —perguntou Ashe, agora mais específica em seu questionamento.
—Bem... não. Nós nunca fizemos algo do tipo, e geralmente ela só segura a minha mão quando não há ninguém por perto. E... nós nunca nos beijamos em público. Nos abraçamos algumas vezes, é claro, mas acho que um abraço não especifica muito bem o relacionamento entre duas pessoas. —respondeu Lena, sentindo uma pontada no coração ao pensar nisso.
—Curioso. —disse Ashe, e por um momento, a mulher ficou pensativa. —Ela não era assim com Gérard.
Lena franziu o cenho, surpresa com a informação:
—Como? Você conheceu Gérard? —perguntou Lena.
—É claro que sim. Eu já era sócia da empresa quando eles se casaram. Sabe, eu sou alguns anos mais velha que sua namorada. —disse Ashe, e Lena realmente ficou curiosa.
—Quão velha? —perguntou Lena, apenas por curiosidade.
—Tenho 39 anos, querida. —respondeu Ashe, apenas para saciar a curiosidade da garota, e dessa vez, Lena ficou impressionada. Para uma mulher que tinha praticamente quarenta anos, ela parecia muito mais jovem. —Vejo que você não esperava por isso, não é? —brincou, e Lena apenas assentiu. —Eu me cuidei bastante para ter um corpo desses. —disse Ashe, orgulhosa de si mesma. —No entanto, acho que esse não é o foco da nossa conversa.
—Sim, acho que você está certa. Você estava falando sobre Gérard... —disse Lena, esperando que a mulher continuasse.
—Sim. Veja, quando eles se casaram, as coisas não eram assim. É claro que Amélie sempre foi muito reservada sobre a vida dela, mas você sempre via ela e Gérard trocando um beijo ou outro durante os eventos da empresa, e eles sempre andavam de mãos dadas ou abraçados. —disse Ashe, colocando a taça vazia sobre a mesa. —Você já parou para se perguntar que talvez, e só talvez, Amélie tenha um pouco de vergonha em estar em um relacionamento com você? —perguntou Ashe, e Lena sentiu uma leve irritação com a suposição da outra mulher.
—Amélie não tem vergonha de mim. Ela apenas... é tudo muito novo pra ela, ela precisa de um tempo para se acostumar. —respondeu Lena. Ashe apenas a encarou.
—Eu não sei, querida. Eu também teria um pouco de vergonha se eu fosse dona de uma empresa bilionária e estivesse namorando uma boxeadora qualquer como você. —disse Ashe, e as palavras da mulher atingiram Lena como um balde de água fria.
A pior parte em si não era o insulto, mas sim que ela poderia ter razão.
—Ora, vamos. Não me diga que você pensou que seria uma mulher a altura de Amélie? Pessoas como nós apenas se divertem com mulheres como você. Você não pode esperar nada além de diversão conosco. —disse Ashe, colocando uma mão na perna de Lena. A britânica sentiu a mão da mulher começar a subir perigosamente pela sua perna.
—Tire suas mãos de mim, antes que eu as quebre. —ameaçou Lena.
Normalmente, Ashe não recuaria diante de uma ameaça. Mas algo no tom de voz da garota a fez perceber que talvez não fosse uma boa opção continuar com isso. E havia ainda aqueles olhos... havia um brilho perigoso neles. Ashe sentiu calafrios percorrerem seu corpo. Aquele olhar transmitia puro ódio para ela. Era quase como se ela estivesse olhando nos olhos de um assassino.
Ou assassina.
—Desculpe. —disse Ashe, retirando sua mão e recuando. “Essa garota é mais interessante do que eu imaginava.” pensou Ashe.
Lena apenas balançou a cabeça e voltou a encarar seu prato, um olhar perdido em seus olhos. A britânica percebeu um movimento a sua direita, e percebeu que Ashe estava tirando um papel e uma caneta de dentro de uma pequena bolsa. Lena não havia percebido até então que a outra mulher carregava uma bolsa consigo.
Ashe rabiscou alguma coisa no papel antes de entregar a Lena.
—O que é isso? —perguntou Lena, sem sequer abrir o papel.
—Meu número de telefone. —disse Ashe, e Lena ficou confusa.
—Por que eu precisaria do seu número de telefone? —perguntou Lena.
—Você não se lembra? Eu não respondi a sua pergunta. —disse Ashe, deixando Lena ainda mais confusa. —Você me perguntou o que eu queria quando começamos a conversar.
Lena apenas ficou em silêncio, encarando a mulher. Ashe sorriu, uma expressão sedutora em seu rosto. A mulher se inclinou na direção de Lena, antes de falar:
—É muito simples. Eu quero você, querida. —disse Ashe, erguendo-se e se retirando do lugar, deixando uma Lena corada para trás.
Depois que Ashe havia se afastado, Lena rasgou o papel que ela havia lhe dado sem sequer ter lido o número que estava ali. A britânica grunhiu de raiva ao pensar nas palavras que a mulher havia lhe dito, e no modo como Ashe havia brincado com ela. No entanto, quanto mais pensava nisso, mais Lena achava que Ashe tinha razão: talvez Amélie realmente tivesse vergonha dela. Isso explicaria o comportamento dela em público, ao separar as mãos das duas, e também explicaria o motivo de elas ainda não terem dito nada sobre para ninguém sobre o relacionamento delas.
Enquanto pensava, Lena não percebeu quando Amélie se aproximou e se sentou ao seu lado, de volta em seu lugar, a esquerda da britânica.
—Lena, chérie, eu vi quando Ashe veio aqui. Eu tentei voltar logo, mas não consegui. O que ela te disse? O que ela queria? Ela fez alguma coisa que você não gostou? —perguntou Amélie, e Lena podia sentir a sua preocupação. No entanto, essa era uma noite muito importante para francesa, lembrou-se Lena, e a britânica não queria estragar isso.
—Está tudo bem. Aquela cadela só estava falando algumas bobagens. —disse Lena, um pouco irritada. Amélie ainda parecia preocupada.
—Ela te ofendeu? O que foi que ela disse? Eu vou matar aquela mulher... —disse Amélie, correndo os olhos pelo lugar para procurar Ashe.
—Não se preocupe. Não é nada com que eu não possa lidar. —disse Lena, colocando o melhor sorriso que poderia colocar em seu rosto em uma situação como essa.
—Você tem certeza? —perguntou Amélie, incerta.
—Sim. Está tudo bem. —tranquilizou Lena, e Amélie finalmente pareceu ceder. —Então, vamos comer um pouco? —perguntou Lena.
—Oui. —disse Amélie, e finalmente, as duas começaram a provar os pratos.
Durante a maior parte do tempo, as duas comeram em silêncio. Lena optou por beber apenas água, enquanto Amélie preferiu beber o champanhe. Como nenhuma das duas iria dirigir, não havia muitos problemas com isso. Tudo se encaminhava para um fim de noite tedioso quando Ashe apareceu novamente no local com a brilhante ideia de fazer uma “balada improvisada”. Na verdade, era mais como um baile, mas as outras pessoas pareceram gostar bastante da ideia. Aparentemente, Ashe não levava jeito apenas com as fotografias. Ela também era muito boa com festas.
Logo os funcionários, e até mesmo alguns sócios, estavam movendo mesas e cadeiras para abrir espaço, enquanto alguém tentava improvisar uma playlist de última hora para os convidados dançarem. Depois do que pareceram apenas alguns minutos, havia um enorme espaço no centro do primeiro andar, e os convidados já estavam posicionados para começarem a dançar. A primeira música foi lenta, apaixonada. Lena não conhecia, mas era definitivamente o tipo de ritmo que você dançava agarrado com a pessoa que amava, antes de puxá-la para um beijo apaixonado.
Pouco a pouco, os casais começaram a se mexer na “pista de dança”, alguns com mais maestria do que outros, mas no fim, todos estavam se divertindo.
Quase todos.
Lena estava esperando ansiosamente. Será que Amélie iria chama-la para dançar, ali, na frente de todos? Claro, Lena não sabia dançar, mas tinha certeza que conseguiria mexer os pés de um lado para o outro, agarrada com a namorada. Amélie, no entanto, parecia contente em apenas observar os casais dançando. A britânica nada disse, e apenas procurou apreciar o momento junto da namorada.
Ao menos era o que Lena estava tentando fazer quando Symmetra se aproximou da mesa das duas.
Lena imaginou que finalmente havia sido reconhecida, mas Symmetra simplesmente pareceu ignorá-la. Dirigindo-se apenas a Amélie, ela falou:
—Aceita dançar comigo, Sra. Lacroix? —perguntou, estendendo a mão para a francesa. Lena ficou chocada com a mulher, e mais ainda quando a namorada parecia considerar a proposta. Lena percebeu que várias pessoas ao redor estavam começando a olhar para a mesa das duas, e se sentiu um pouco constrangida com a situação.
Quando a britânica voltou os olhos para a francesa, Amélie lhe encarava, como se não tivesse certeza se deveria ou não aceitar. Lena não queria que ela aceitasse, mas as pessoas estavam olhando para elas, e a britânica tinha certeza de que isso causaria um certo desgaste se Lena pedisse para Amélie não aceitar. Contra sua vontade, Lena colocou o melhor sorriso que tinha no rosto e disse:
—Vá. Eu estarei aqui quando você voltar. —tranquilizou Lena, embora essas palavras a estivessem matando por dentro. Ela queria que Amélie recusasse Symmetra, mesmo tendo dito que ela deveria dançar.
Amélie, no entanto, fez justamente o contrário. Segurando a mão da outra mulher, Amélie se ergueu, e permitiu que Symmetra a guiasse até o centro do local. As duas pararam por um momento, antes de Symmetra passar um braço pela cintura da francesa, e juntar suas mãos para começarem a dançar. Lentamente, as duas começaram a se mover, e Lena sentiu seu coração apertar ao perceber o quanto as duas estavam próximas.
O modo como as pernas das duas faziam contato, pele com pele. O corpo colado, o braço apertado na cintura, a mão de Amélie nas costas da indiana, as mãos entrelaçadas das duas. Seus rostos estavam bem próximos, e Lena só podia imaginar que, naquela distância, as duas podiam sentir a respiração uma da outra. Amélie não desviou os olhos dos de Symmetra em momento algum, e isso magoou Lena. A francesa realmente parecia interessada em dançar com a mulher indiana. Mas então, por que ela não havia dançado com Lena?
—Elas formam um belo casal. —alguém comentou perto de Lena, e os outros convidados próximos concordaram.
“Sim, elas formariam um belo casal. Uma empresária de sucesso, famosa e bilionária, e uma mulher que era uma verdadeira gênia. Não havia combinação melhor, havia?” pensou Lena. Foi só então que a ficha caiu. A britânica percebeu que, aparentemente, as pessoas da alta sociedade não ligavam para o fato de que você era homossexual, desde que você namorasse a pessoa certa. Alguém “digno” da alta sociedade. Alguém que estivesse à altura de Amélie. Alguém como Symmetra.
Olhando para as duas, Lena fez o possível para segurar as lágrimas. A britânica sorriu, apenas para manter as aparências. Ela não queria estragar a noite da namorada, e talvez, no fundo, todos esses pensamentos fossem apenas coisa de sua imaginação.
Ainda assim, as palavras de Ashe voltaram a invadir seus pensamentos, mas no fim, a frase que reinou foi formulada pela própria mente da britânica:
“Amélie tem vergonha de mim.” pensou Lena.
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As duas chegaram ao apartamento de Amélie por volta de 01h 00min da madrugada. Durante todo o caminho de volta, as duas mulheres permaneceram em silêncio. Amélie sentia que algo estava errado, a julgar pela expressão dura no rosto da namorada, mas preferiu não tocar no assunto na frente do motorista. Assim que entraram no apartamento, a francesa questionou a namorada:
—Lena... está tudo bem? —perguntou Amélie, não sabendo ao certo se eram as melhores palavras que ela poderia ter escolhido.
Lena apenas se virou e colocou um sorriso pequeno nos lábios, mas seus olhos estavam distantes.
—Estou bem, luv. Apenas com um pouco de dor de cabeça. O ambiente foi muito “intenso”, como você havia dito. Acho que vou tomar um banho e ir dormir. —disse Lena, e Amélie apenas assentiu. A francesa suspeitava que houvesse algo a mais, mas estava cansada de mais para insistir nisso. Amélie apenas retirou seu vestido e seus sapatos, e pegou uma muda de roupas para tomar um banho. Ela planejava tomar um banho junto com a namorada, mas suas expectativas foram frustradas quando descobriu que a porta do banheiro estava trancada. Restava a Amélie esperar a namorada terminar.
Depois de quinze longos minutos, Lena finalmente saiu do banheiro, com um pijama azul. Ela tinha uma toalha nos ombros, e seus cabelos espetados ainda estavam um pouco molhados. Amélie notou que ela havia removido toda a maquiagem. Lena apenas deu um sorriso fraco para a francesa enquanto seguia em direção ao quarto, passando a toalha pelos cabelos novamente, na esperança de secá-los completamente.
Enquanto Amélie entrava no banheiro, Lena se deitou na cama de casal, e se enrolou em baixo do cobertor, ficando de costas para o lado em que Amélie costumava dormir. A britânica não queria encarar a namorada essa noite. Ela estava muito chateada com a francesa. As imagens de Amélie e Symmetra dançando ainda estavam muito vivas em sua mente, e isso a magoou muito. Lena fechou os olhos, na esperança de que o sono viesse e lhe libertasse dessas dolorosas lembranças. No entanto, de nada adiantou. A imagem de sua namorada dançando com outra mulher permanecia cristalizada em sua mente.
Lena deve ter perdido a noção do tempo, pois enquanto pensava nisso, sentiu um peso do outro lado da cama. Amélie, agora de banho tomado e roupas trocadas, se aconchegou ao lado da britânica.
—Lena? —chamou Amélie. —Você está acordada? —perguntou Amélie, checando a garota. Lena apenas permaneceu com os olhos fechados. A francesa deve ter desistido, pois Lena sentiu o peso da cama mudar, e Amélie se virar para o outro lado da cama. Agora, as duas estavam deitadas de costas uma para a outra.
Lena estava tentando descobrir como as coisas haviam chegado a esse ponto. Tudo começou com a pergunta da britânica, pedindo a Amélie para ensiná-la a dançar. Vieram os dias em que Amélie teve de ficar ocupada com o trabalho, e depois, os momentos em que Amélie agiu estranha com ela durante a caminhada de mãos dadas até o restaurante e o almoço. E então, houve esse jantar, onde Lena foi obrigada a mentir sobre quem era, a suportar insultos e perguntas nada agradáveis, e terminar a noite vendo a namorada dançando agarrada com outra mulher. Tudo isso com um sorriso no rosto.
Doeu. Isso foi muito mais do que ciúmes. Foi o tipo de coisa que a fez se questionar se Amélie realmente gostava dela.
Se Amélie gostava, por que as duas não podiam revelar para os outros sobre seu relacionamento? Por que Amélie não havia chamado Lena para dançar?
“Mas nós ainda não tivemos essa conversa” argumentou a parte racional da mente de Lena, tentando aliviar suas dores. No entanto, as palavras de Ashe voltaram a invadir seus pensamentos.
“E desde quando é preciso ter uma conversa para isso?” havia questionado Ashe.
“Você já parou para se perguntar que talvez, e só talvez, Amélie tenha um pouco de vergonha em estar em um relacionamento com você?”.
“Eu não sei, querida. Eu também teria um pouco de vergonha se eu fosse dona de uma empresa bilionária e estivesse namorando uma boxeadora qualquer como você”.
“Ora, vamos. Não me diga que você pensou que seria uma mulher a altura de Amélie? Pessoas como nós apenas se divertem com mulheres como você. Você não pode esperar nada além de diversão conosco”.
A cada vez que Lena pensava nessas palavras, a imagem de Symmetra e Amélie dançando tomava conta de seus pensamentos novamente. “Ela seria uma mulher a altura de Amélie...” pensou Lena, sentindo as lágrimas se formarem.
“Pelo menos essa festa teve um lado positivo. Eu finalmente descobri o motivo de Amélie estar agindo de maneira estranha: Amélie tem vergonha de mim.” pensou Lena, sentindo as lágrimas rolarem pelas suas bochechas.
“Amélie tem vergonha de mim.” pensou Lena, novamente. A britânica chorou baixinho, tentando evitar que Amélie percebesse.
Amélie, no entanto, percebeu as lágrimas silenciosas que sua namorada estava derramando. A francesa se sentiu a pior namorada do mundo, principalmente porque ela sabia que isso era provavelmente sua culpa. Amélie apenas não entendia o que havia feito de errado.
Sem saber o que fazer, Amélie apenas fechou os olhos, esperando que Lena adormecesse logo. Pareceu uma eternidade, mas a certo ponto, a britânica finalmente parou. Amélie se sentiu um pouco mais tranquila ao ver a namorada respirando com mais tranquilidade. Com delicadeza, a francesa tocou a bochecha úmida, acariciando levemente o local.
Amélie colocou o rosto na curva do pescoço de Lena, e passou um braço pela cintura da britânica, chegando mais perto da garota. Ela estava quente, e a francesa gostou da sensação. Amélie esperava que ela fosse capaz de resolver tudo o que estava causando esse sofrimento a sua namorada quando acordassem. Agora, no entanto, tudo o que ela poderia fazer, era dormir.
Fechando os olhos, a francesa não demorou a adormecer.
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