Harry joga seu braço esquerdo ao lado vazio da cama e se remexe sentindo o cobertor aquecendo uma parte de seu corpo. Abrindo seus olhos aos poucos, sente um pequeno ardor por conta da luz que invade o quarto.
A palma aberta da sua mão acaricia o local vazio da cama e apoia-se no colchão erguendo seu tronco. Nota que está sozinho naquele quarto e então mais uma vez deita sua cabeça no travesseiro fechando os olhos com força. Tenta se lembrar dos últimos acontecimentos, mas sua mente não parece querer contribuir.
Forçando mais um pouco, consegue finalmente lembrar de alguns detalhes do dia anterior.
A primeira coisa que consegue se lembrar é de seu surto na noite anterior. Automaticamente fecha seu punho dando um soco contra o colchão e gritando forte e abafado contra seu travesseiro. Só consegue pensar no quão ele é um grande idiota.
Se recorda da forma que tratou Louis e forçou um beijo. Também que quase fazia algo qual ele considera nojento. Ele ia mesmo abusar de Louis?
Oh. Ele se odeia por isso.
Sacode sua cabeça erguendo-a um pouco e esfrega seus olhos com as costas das mãos. Sente como se tivesse sido pisoteado por elefantes. Ri secamente de sua comparação ridícula e remexe seu braço sentindo um ponto específico dolorido. Então se recorda dos remédios.
De ter tomado vários comprimidos e também ter usado os remédios injetáveis. Talvez tenha sido por isso que dormiu tanto, mas talvez essa dor corporal não seja maior que a vergonha por pensar que Louis presenciou tudo isso.
E a última lembrança que têm é do ômega com dificuldade o guiando até a cama um pouco antes de apagar completamente. Harry simplesmente capotou.
Remédios. Olhando ao seu redor não encontra nenhum comprimido ou suas seringas. Ele sabe que tem sorte de não ter tido uma overdose depois de ter tomado um frasco inteiro do calmante.
Passa a língua entre os lábios se sentando na cama e percebendo que ainda está sem camisa e usando apenas uma calça jeans. Ele sente seus lábios ressecados e com o olhar busca o relógio de cabeceira.
São onze da manhã.
Ele dormiu a metade de um dia inteiro.
— Merda! — Harry pragueja sentindo uma pontada em sua cabeça. Seus olhos verdes avistam um pequeno comprimido e um copo de suco coberto por um pires. Pega o comprimido e o bebe com auxílio do líquido.
Porém, sua mente rapidamente se volta para Louis. Onde será que ele está? Será que ele foi embora?
E como se lesse seus pensamentos, naquele mesmo instante a porta do quarto se abre revelando o ômega com uma bandeja em mãos.
Louis sorri doce ao perceber que o alfa lupus está acordado. Ele morde o lábio caminhando em direção a cama tentando passar certa confiança. A verdade é que ele não dormiu mais que duas horas naquela noite, a maior parte do tempo ele ficou acordado observando Harry dormir e pensando na situação deles.
Pela primeira vez ele pensou nos dois como "nós".
Tomlinson se questionou sobre estar ou não certo aquilo que estava fazendo. Se era o correto dar aquela chance a Harry. Se era correto ajudá-lo.
Ele conseguiu enxergar algo que talvez ninguém nunca vai enxergar. Que por trás de uma máscara de homem forte e poderoso, existe alguém que precisa de uma ajuda. Mesmo que não queira demonstrar ou tenha medo, Harry está quebrado.
Sozinho.
Como um barco sem uma bússola.
Louis pretende ser como um guia, ele quer ajudar Harry a se encontrar. Isso já está decidido e não vai mudar de ideia.
— Eu já estava vindo lhe acordar para tomar o café da manhã — Louis fala quebrando o contato visual quando se senta ao lado vazio da cama e coloca a bandeja sobre ela — Eu fui no mercadinho aqui perto para comprar algumas coisas para fazer o café... E para o jantar também. Jeffrey, o porteiro, me ajudou a fazer as compras. Sou péssimo em italiano — ri baixinho em uma tentativa de descontrair.
Harry se ajeita um pouco desnorteado, mas em seguida seus olhos se focam nas mãos do ômega que está servindo uma xícara de chá em uma xícara. Ele percebe que Louis usa a pulseira de pingentes.
— Eu não sei o seu sabor de chá favorito, então tomei a liberdade de fazer o meu preferido — Louis sorri olhando nos olhos verdes. Ele mostra suas ruguinhas quando faz isso — Como está?
Styles permanece sério enquanto observa o menor. Ele não acredita que Louis está agindo como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse o machucado, gritado, tratado mal e surtado. Seus olhos verdes analisam toda a feição do ômega e seu olhar foca no pescoço alheio onde pode ver uma marca arroxeada e um pequeno corte.
Ambos feitos por ele.
O alfa leva as pontas dos dedos até aquele local acariciando devagar. Ele sente o menor se arrepiar diante ao seu toque.
— Eu não devia ter feito isso — Harry tem um tom desgastado e rouco. Ele afasta sua mão do ômega sem perder o contato visual — Poderia ter te machucado muito mais... Não acredito que tive coragem de fazer uma merda dessas com você — seu tom a capaz de transmitir a dor que sente. Ele realmente sente dor em saber que machucou seu menino.
— Você não teve culpa... Não era você, não era você ali... Eu sei que não — Louis tem sinceridade em sua voz. Ele sabia que na noite anterior, não era seu Harry — Sei que nunca faria aquilo em sã consciência.
Harry parece ainda um pouco relutante. Ele morde seu lábio fazendo que não com a cabeça evitando olhar nos olhos azuis. A culpa o corrói, e sente raiva pelo fato de que o ômega o perdoa mesmo ele tendo feito tudo aquilo.
Ele não merece um perdão.
É difícil entender isso?
Louis suspira pesadamente olhando para o alfa lupus, ele sabe que Harry está se sentindo imensamente culpado pelo que aconteceu. E por ele ser um alfa lupus a culpa torna-se maior. Tudo que ele sente é com uma maior intensidade. Só que, ele não quer que Styles se sinta assim.
O ômega passa a língua entre os lábios ficando de joelhos sobre a cama. Suas mãos trêmulas vão em direção a face do maior segurando o rosto dele com cuidado e gentileza. Seu polegar esquerdo passeia em torno do lábio inferior alheio, e seus olhos azuis estão fixos ali.
— Todas as vezes que eu disse que confiava em você, não foi da boca para fora. — Louis sussurra em um tom baixo e ele é completamente manso — Não foi apenas coisa de momento, por que eu realmente confio em você e estou disposto a lhe ajudar a enfrentar isso tudo.
Styles morde a parte interna de seu lábio segurando ambas as mãos do menor afastando-as de seu rosto, Ele desvia o olhar não mantendo um contato visual. Sente vergonha.Vergonha em olhar nos olhos azuis pro muito tempo.
— Você não entende… Eu podia ter… — Harry para de falar engolindo o seco, não quer nem pensar no que ele poderia ter realmente feito. Louis suspira um pouco irritado, mas tenta manter-se calmo e não se exaltar, naquele momento tudo que o alfa precisa de muita paciência.— Você deve me odiar agora.
— Não Harry. — Louis nega mais uma vez segurando o rosto do alfa o obrigando a lhe olhar — Você é a única pessoa que está se culpando aqui. Em momento nenhum eu disse que estou chateado com você, e não estou — se ajeita aproximando-se um pouco mais do maior subindo seus dedos até os cabelos castanhos fazendo caricias ali — Eu quero entender você, mas para isso é preciso que me ajude a te entender. E principalmente, precisa aprender a se perdoar.— ele sente a mão do maior sobre a sua ameaçando tirá-la, mas ele apenas força um pouco mais aquele aperto impedindo que ele o faça — Esquece isso, velhote. — pede tentando parecer descontraído, mas se encolhe ao ver que o alfa permanece sério com sua mandibula travada.
— Não tem como me perdoar sabendo que te machuquei — Harry insiste.— Isso vai ficar martelando em minha cabeça como da última vez, não mereço seu perdão… Na verdade eu mereço sofrer as consequências de meus atos. — ele diz para si mesmo — Eu tenho que receber uma lição… Uma punição.
Louis imediatamente se afasta com brusquidão não querendo acreditar naquilo que acaba de ouvir. Apenas em pensar no alfa se machucando, ele sente dor. Não é algo que consiga explicar, apenas sente. Seu peito se aperta e a garganta fecha um pouco, ele sente como se pudesse chorar a qualquer momento e então suspira trêmulo. Naquele momento ele precisa demonstrar apoio e não tornar a situação pior do que ela já é. Então ele simplesmente ignora aquele sentimento ruim mantendo seu olhar fixo na face alheia.
— Não diga uma estupidez dessas novamente, Harry. Depois de tudo que fez ontem a noite, mesmo com a forma grosseira que me tratou eu fui capaz de lhe perdoar da forma mais sincera. Eu compreendi que você não fez isso tudo intencionalmente, sei que você não tinha essa intenção.Então se eu estou lhe dizendo que está perdoado, não é você quem vai se culpar novamente. — Louis assume um tom de seriedade como nunca tinha feito antes — Se insistir nisso, se fizer qualquer coisa para se machucar novamente… Eu vou pegar o primeiro voo para Londres. Eu saio completamente de sua vida sem olhar para trás. Estou fazendo isso por que eu quero, eu quero te ajudar… Eu preciso te ajudar. — morde a parte interna de seu lábio — Você quem escolhe, ou continua se culpando ou você vai acabar me perdendo. Perdendo sua boneca — ele mais uma vez apela. Sabe que aquilo vai ter um efeito maior em Harry.
Tomlinson ameaça sair da cama, mas sente a mão do alfa lupus fechar em seu pulso o impedindo de sair. Quando seus olhos azuis se voltam para a face do maior, percebe que ele parece um pouco apavorado. Sorri de lado sentindo-se vitorioso, se preciso for, ele vai jogar baixo, mas não vai deixar Harry se destruir.
— Por mais que eu saiba que o mais seguro para você é ir embora… Eu não consigo. — Harry murmura baixo olhando para seu colo. Louis suspira se ajeitando na cama e aproximando do maior. Ele se senta ao colo do dono de olhos verdes sem malicia alguma. Mais uma vez segura o queixo alheio com apenas uma mão estabelecendo um contato visual.
— Eu não iria nem mesmo se você me expulsasse daqui. Arranjaria uma forma de ficar, mesmo contra sua vontade, e iria te ajudar. — O ômega é sincero — Eu fiquei preocupado com você ontem a noite. Você tomou um frasco inteiro de calmante, poderia ter tido uma overdose.
— Eu só pensei que precisava me acalmar ou acabaria fazendo uma loucura. — Harry admite passando um dos braços ao redor da cintura de Louis, a presença do ômega o deixa mais calmo — Eu não sei bem o que aconteceu, eu só queria não existir… Quando eu percebi o que ia fazer, eu apenas queria sumir e te deixar livre de mim. Você merece ser feliz, mas isso é tão complicado. Quero que vá embora, mas sei que não conseguiria te deixar ir.
O dono de olhos azuis suspira e assente com a cabeça. Em seguida ele levanta-se saindo do colo do alfa e vai até a bandeja. Ele senta-se na cama e se levanta com a bandeja em suas mãos, coloca-a no criado mudo e mais uma vez volta para cama sentando-se nela, ajeita os travesseiros e em seguida se deita na cama ajeitando sua cabeça no travesseiro.
Ele ergue seus braços chamando o alfa com as mãos, este, por sua vez, estranha.
— Venha aqui… Eu quero te abraçar, idiota. — Louis chama rolando os seus olhos. Harry parece hesitar sobre aquilo, o menor bufa irritado e se senta na cama erguendo os braços em direção ao maior o puxando pelos ombros. Quando volta a se deitar, ele trás o alfa consigo. — Sabe quantas pessoas iriam sofrer caso acontecesse algo grave com você? Sua família te ama tanto, eles se preocupam muito com você.
Styles morde o lábio ainda hesitando, mas acaba se deitando na cama ajeitando-se e passando seus braços em torno da cintura do menor. Repousa sua cabeça no peitoral do ômega conseguindo ouvir seus batimentos calmos, as pequenas mãos do mais novo vão em direção aos cabelos castanhos alheios começando a fazer carinho.
— Talvez... Se eu não estivesse aqui seria melhor para todos eles e para você. Estaria livre de mim e ninguém precisaria parar de viver suas vidas apenas para checar se não estou tentando um suicídio — Harry fala de forma dolorosa. Louis engole o seco estremecendo apenas de ouvir aquela palavra.
Suidicio.
Por que dói tanto apenas pensar em não ter Harry?
— Se não tivesse mais aqui, que sentido tudo isso teria? Todo seu esforço para me conquistar iria por água abaixo.Todos os nossos momentos não iriam valer de nada, você estaria os desprezando. — Louis não consegue evitar a tristeza em sua voz. Ele não sabe o que está acontecendo com ele, mas essa ideia de perder ou não ter Harry começa a assustar.
— E você estaria livre. Não seria um prisioneiro... Agora posso perceber o quão egoísta eu fui com você — Harry abraça a cintura do ômega com um pouco mais de força. O desespero é visível em seu tom de voz e então morde a parte interna o lábio — Eu fiz tudo isso, mas em nenhum momento pensei em você... Eu estava pensando apenas em mim... Era para eu ter deixado tudo como estava... Te amar a distância e te poupar de minha insanidade.
Louis poderia achá-lo exagerado ou dramático demais. Porém, a culpa que ele sente é intensa. Ele é um alfa lupus e seus sentimentos são mais intensos que o de qualquer outro gênero.
— Eu tenho uma estranha sensação de que mesmo que se eu não te conhecesse assim... Iria conhecer de alguma forma. É como se fosse para ser — Tomlinson passa a língua entre seus lábios sorrindo.
— Poderia ter sido diferente. — Harry concorda — Mas eu não consigo me arrepender… Sei que se pudesse voltar atrás faria tudo exatamente dessa forma, não mudaria nada. — ergue um pouco o olhar podendo enxergar a face do menor.
Louis concorda com a cabeça e sorri, desce suas mãos até o rosto alheio aproximando seus lábios. Toca gentilmente seus lábios aos dele em um curto selinho, seu polegar acaricia as maçãs do rosto do maior e então seus olhos azuis se voltam para os lábios, para que, em seguida, ele volte a olhar os olhos verdes.
As pontas de seus dedos traçam linhas imaginárias no rosto do alfa. Harry o olha fixamente, naquele momento é a coisa mais importante do mundo para ele.
— Você é bonito. — Tomlinson diz fazendo Harry franzir o cenho. Louis realmente é uma pessoa que consegue mudar de assunto do nada, que divaga com facilidade. — Seus olhos são lindos… Parecem duas grandes esmeraldas.
E pela primeira vez naquele dia, o alfa lupus ri com sinceridade.
— Você as vezes parece obcecado por minha aparência. Primeiro minha boca, agora meus olhos — Styles tem ainda sua voz um pouco rouca e desgastada — O grande problema é que beleza nenhuma desse mundo chega aos pés da sua. As vezes me pergunto se você é real.
— Eu sou real, acredite. — Louis diz dando uma risada, em seguida aproxima-se juntando sua testa com a do alfa lupus. Mas, logo ele lembra-se que seu objetivo não era aquele. Ele tem que conversar com Harry sobre aquela situação e está fugindo de seu foco — Não tente mudar de assunto. Ou me fazer mudar de assunto... Eu não quero que faça mais essas coisas, não quero que se machuque dessa forma — ele pede mansamente — Você promete? Promete fazer isso por você mesmo? E por mim?
— Eu não posso prometer o que talvez não possa cumprir. É difícil para mim, muito complicado — Harry suspira pesadamente. Apesar de ser um pedido sincero qual ele gostaria de atender, não podia simplesmente prometer. Não confiava em si mesmo, sabe o quão é imprevisível — Eu sinto tanta culpa, é algo que me corrói. — admite.
— Meu professor diz que falar sobre o seu problema pode ajudar a superar ou tentar superar... É mais doloroso quando você guarda para si... Sabe... Se você acumula isso dentro de si, então, quando isso explode... Os danos são maiores e irreparáveis — Louis explica fazendo alguns gestos com suas mãos. — Você já tentou ajuda profissional? Um médico especialista — pergunta tentando ser o mais gentil possível, ele teme que o alfa fique irritado com aquela pergunta. Ele não espera uma resposta e trata de se justificar — O que você tem é muito grave, Harry. E por mais que eu queira lhe ajudar, sozinho eu não conseguiria realmente sanar sua dor.
— Médico especialista? Não quer dizer psiquiatra? — Harry franze o cenho mordiscando seu lábio inferior e em seguida suspira pesadamente — Metade da minha adolescência, dos quatorze anos aos dezenove eu vivia em clínicas psiquiátricas. Os médicos davam sempre diagnósticos diferentes, mas alguns concordavam que eu tinha depressão. Eles diziam que eu tinha tendência a ser suicida, e não estavam errados... A maioria das minhas tentativas de suicídio foram nessas clínicas.
Aquele não é um assunto qual gosta de falar com qualquer pessoa, mas Louis não é qualquer pessoa. Ele por muito tempo se manteve calado sobre essa parte de sua vida, preferia guardar aquilo para si e esquecer o que viveu, embora os grandes motivos de insônia estivessem relacionados ao tempo que passou naquelas clínicas. Um dos grandes motivos de não dormir muito, é por que sempre que o sono vem, acompanhado dele vêm as lembranças dos dias e noites que passou nos quartos brancos e vazios. Vinham como pesadelos que assombravam sua mente como uma lenta e dolorosa tortura.
Mas, talvez falar sobre aquilo possa ajudar.
— Eu passei por sete ou oito clínicas psiquiátricas... Minha mãe sempre se preocupou muito e queria o melhor tratamento para mim. Sei que era difícil para ela lidar com aquilo, ela tinha acabado de perder o esposo e estava com um filho problemático — Harry volta a deitar sua cabeça no peitoral de Louis escutando seus batimentos acelerados, o ômega parecia um pouco nervoso — Aos dezesseis foi o período mais complicado para mim... Eu ouvia algumas vozes em minha cabeça que diziam que eu deveria estar morto, que eu não merecia estar vivo. Elas me encorajaram nas tentativas de suicídio... Então quando os enfermeiros vinham me trazer os remédios eu os colocava embaixo da língua e fingia tomar, quando eles saiam, eu os guardava embaixo do colchão... Reunia o máximo de remédios possíveis e depois os engolia a seco. Antes eu tentava usando objetos cortantes que eu achava, mas com o tempo os enfermeiros ficaram espertos e faziam vistoria em meu quarto.
Louis fica inicialmente chocado. Harry passa a língua entre os lábios imaginando que o ômega vai se afastar, mas não é isso que acontece.
— Você ainda escuta essas vozes? — Louis pergunta sentindo o alfa tencionar. Seus dedos voltam para os cabelos dele começando a fazer carícias ali no intuito de deixá-lo mais calmo. E isso parece funcionar.
— Há alguns anos não... Eu comecei a tomar alguns remédios e elas sumiram. — Harry explica. Com o auxílio dos remédios que tomava diariamente ele realmente havia parado de ouvir as vozes que o atormentava, eram eles que também ajudavam a deixá-lo acordado. Não dormir muito era uma das armas para que pudesse afastar também os pesadelos quais faziam se lembrava daquele tempo.
— E os surtos de raiva? Você tem com muita frequência? — Louis pergunta enrolando algumas mechas em seus dedos e depois as solta.
— Não com tanta frequência, mas eu continuo tomando meus remédios e também tenho algumas consultas com um psiquiatra que me acompanha desde os dezenove. — Harry explica levando as pontas dos dedos até a barra da blusa do ômega, em seguida enfia as pontas dos dedos por debaixo do tecido tocando a pele naturalmente quente. — Os calmantes tomo sempre que fico um pouco nervoso com o trabalho ou outras coisas, é um comprimido apenas. Só que as vezes não resolve e quando eu fico com muita raiva, como ontem... Tenho que tomar os injetáveis.
Harry dá uma pequena pausa como se soubesse que Louis precisava daquele tempo para absorver o que acaba de ouvir.
Louis assente lentamente. Ok! Harry realmente tem problemas. E é mais grave do que ele pudesse imaginar. Não é culpa dele. Nada disso é intencional.
Então consegue se lembrar de algo que leu na internet sobre alfa lupus há algumas semanas.
"(...) Alfas lupus, geralmente, tem uma pré-disposição à adquirir alguns distúrbios psicológicos que podem ser tratados com medicação. Geralmente é comum entre alfas lupus episódios de raiva, são poucos os que sabem se controlar(...)"
E agora tudo faz sentido.
— No dia da festa, quando acabei encontrando você e Stanley... — Harry continua a dizer logo chamando a atenção de Louis — Eu realmente surtei. Não podia aceitar a possibilidade de te perder para ele.
Louis morde o lábio inferior e automaticamente se lembra de outra coisa que leu sobre alfas lupus.
"(...) Alfas lupus costumam ser ainda mais possessivos quando se diz a respeito ao seu parceiro ideal, já que a ideia de perder ele ou ela o deixa completamente fora de si. Guiado pelo medo da perda ele pode acabar agredindo psicologicamente ou fisicamente seu parceiro ou parceira como forma de revindicação(...)"
— Quando eu te feri... — Harry tem mágoa em sua voz apenas por se lembrar daquilo — Eu só queria sumir. Por isso que fui para casa e tomei todo o frasco de calmante e usei outros injetáveis. Esses remédios me acalmam, mas há um porém, um deles adiantam meu rut... Foi por isso que eu desapareci. Meu rut já estava próximo, seria uma ou duas semanas depois daquele evento.
Tomlinson está mais uma vez chocado. Não vai mentir, ele realmente pensou que quando Harry sumiu, ele estava fugindo. Se acovardando.
Mas, não.
Harry viajou pelo bem dele.
— Você... Viajou por causa disso? — Louis pergunta sentindo seu corpo se arrepiar com os toques lentos das pontas dos dedos do alfa em sua pele.
— Eu sabia que meu rut viria mais cedo após os remédios, então eu fui para uma ilha particular que tenho. Sei que se ficasse perto, acabaria te machucando. — Harry explica — Ainda mais.
Tomlinson se sente um grande idiota. Na verdade, naquele momento, ele se acha redondamente injusto. Ele sempre julgou mal o alfa sem nem se perguntar o por que de tudo aquilo. Ele nunca tentou encontrar um motivo, por que era mais fácil apontar e julgar.
Ele sumiu por que tinha um rut e não queria machucá-lo. Que outro alfa faria isso? Nenhum que ele realmente conheça. Geralmente alfas pensam mais em seu próprio prazer que no bem estar dos ômegas.
Harry é diferente.
"Talvez eu não mereça todo esse amor e atenção" Louis pensa. "Harry merece alguém que o valorize"
Porém, todos esses pensamentos são afastados quando vem uma dúvida enorme.
"Com quem ele passou o rut?"
— E... com quem você passou seu rut? — Louis pergunta um pouco disparado sem se importar com o tom de cobrança e ciúmes existente em sua voz.
Dane-se. Ele estava mesmo com ciúmes, mesmo que tenha sido algo antes deles ficarem. Se Harry tem o direito de estar com ciúmes, por que ele não?
— Com ninguém. Eu passei meu rut sozinho. Não poderia ser tão irresponsável e acabar ferindo alguém que não tem nada a ver com meus problemas... Já tinha a culpa por ter te machucado... — Harry explica.
— Oh... — Louis assente desviando o olhar.
— Além do que... — Styles continua chamando a atenção do ômega — Mesmo que para você não seja assim, para mim, estou em uma espécie de compromisso com você. E se eu ficasse com outra pessoa, para mim, seria traição. E eu odeio traições. — ele finaliza.
Tomlinson morde o lábio analisando a situação. Se para um ômega passar um heat sozinho é complicado e doloroso, mesmo usando acessórios. Para um alfa lupus deve ser ainda pior.
Um dos motivos de Harry não ter ficado com ninguém foi ele.
Por ele.
Caralho! De onde surgiu esse homem?
— Traições não são legais — Louis concorda não conseguindo conter a felicidade de saber que Harry não vai ficar com outras pessoas estando com ele. — E-Eu também não penso em estar com outra pessoa desde que ficamos pela primeira vez... Digo... Eu não quero ficar com outra pessoa, só você — explica descendo seus dedos dos cabelos castanhos até as costas nuas.
— Isso me deixa feliz e aliviado — Harry assume fechando os olhos e apenas aproveitando as carícias de Louis.
Passando seus dedos por ali, Louis pode sentir as cicatrizes. Ele passa a pontinha dos dedos tentando não machucar com sua unha grande. Começa a passear levemente as pontas dos dedos nas cicatrizes percebendo que são muitas.
Seu peito se aperta em imaginar todas as vezes que Harry se machucou.
— Qual foi a última vez que se machucou? — Louis quebra o silêncio. Sua pergunta soa adorável aos ouvidos do alfa. O ômega não diz a palavra mutilou e sim machucou.
— Há algumas semanas, foi depois do lançamento da coleção de jóias... Me sentia tão culpado — Harry morde o lábio ainda de olhos fechados. Ele se lembra da dor que sentiu quando as tiras de aço encontraram sua pele. — Eu só sentia que deveria ser punido por agir como um monstro com você.
Louis não sabe por que, mas ele novamente sente uma dor estranha que o faz se contorcer um pouco e fechar seus olhos. Por um impulso ele abraça o alfa com força enterrando seu rosto no pescoço dele.
Harry abre os olhos confuso, mas apenas se ajeita na cama trazendo o ômega para seu peito. Consegue sentir o desespero dele, os batimentos acelerados e o corpo trêmulo.
Louis está chorando.
— Isso foi culpa minha...Me desculpa, por favor — O ômega pede — Se eu soubesse... Eu não teria dito aquelas coisas. Nada disso é culpa sua — seu tom é choroso e deixa um soluço escapar. Consegue se acalmar um pouco quando o aperto dos braços de Harry se tornam firmes em sua cintura — Você passou por tanta coisa... E ainda passa... Deve ser tão difícil lutar contra si mesmo. — ele não sabe o que está acontecendo com ele mesmo, não consegue entender o motivo daquilo.
Louis afasta o rosto do pescoço de Harry e limpa suas lágrimas com as pontas dos dedos. Sorri de lado e aproxima seus lábios dos do maior os selando demoradamente.
Ele quer ao máximo aproveitar a sensação de ter a boca do alfa lupus contra a sua.
— Eu prometo que vou te ajudar... Eu vou estar do seu lado e não vou te deixar cair. — Louis sussurra baixinho. Harry sorri pela primeira vez em anos se sentindo verdadeiramente seguro sobre si mesmo.
Pela primeira vez ele sabe que não está sozinho.
Louis está com ele.
— Obrigado. — Harry agradece — Achei que fosse desistir de mim.
Tomlinson sorri e nega.
A partir daquele momento ele jamais vai desistir de Harry.
E não conseguiria. Por que agora sim é tarde demais. Louis sabe que está gostando de Harry e não tem como reverter a situação.
E ele não quer isso.
~•~
Steven balança seus pés no ar de forma impaciente tendo suas bochechas cheias de ar. Assopra o ar de suas bochechas fazendo um som alto com a boca indicando impaciência. Niall caminha até a sala encontrando seu filho impaciente e ansioso no sofá, ele sorri sabendo que toda essa ansiosidade tem um motivo; Gabe.
Após muita insistência conseguiu com que deixassem Gabe passar aquele final de semana em sua casa. Não podia estar mais feliz.
O loirinho arregala os olhos e salta do sofá assim que ouve o som de uma buzina. Então corre um pouco desleixado quase tropeçando em direção a porta.
— Não corra amor. — Niall pede para o filho que está ficando nas pontas dos pés para alcançar a maçaneta. Assim que finalmente a alcança, ele a gira e puxa abrindo a porta.
Mesmo com o chuvisco ele sai de casa parando na varanda. É uma das poucas casas naquele condomínio qual não é cercada por enormes muros. Steven morde o lábio ficando animado quando vê uma mulher ruiva abrindo a porta do carro cinza, mas nada se compara ao brilho que surge em seus olhos quando ele vê Gabe descendo do carro usando uma touca lilás que combina perfeitamente com seus olhos. Elas prendem seu cabelo impedindo que os fios caiam em sua testa.
Steven não pensa duas vezes antes de correr em direção ao outro garotinho. Gabe também não fica atrás, ele adianta mais os passos no intuito de poder abraçar seu loirinho.
Assim que eles se encontram, se abraçam. Gabe ergue o garotinho menor em seus braços ouvindo uma risada adorável do outro.
— Eu senti sua falta Steven — Gabe confessa finalmente colocando o loiro no chão. Steven analisa o amigo percebendo que ele está um pouco diferente, eles não se vêem faz alguns dias. Quase uma semana. Gabe está um pouco mais alto e parece mais forte. Antes ele fazia um pequeno esforço para o erguer no ar, agora ele faz isso com mais facilidade.
— Você está mais alto — Steven comenta tendo que olhar um pouco para cima — Queria ser alto como você. — faz um bico adorável vendo que o de cabelos castanhos ri.
— Você ainda vai crescer — Gabe fala como uma promessa e deixa um beijo na testa de Steven. O loirinho percebe que a voz do amigo-namorado está um pouquinho diferente.
— É melhor entrarmos, está chovendo e vocês podem acabar pegando um resfriado — A mulher ruiva que trouxe Gabe avisa quando chega perto dos dois garotos que concordam.
Gabe segura a mão de Steven entrelaçando os dedos. O loirinho, de imediato fica corado e abaixa seu olhar. O mais alto sorri caminhando em direção a entrada da casa, em momento nenhum ele solta a mão de Steven.
— Olá tio Niall — Gabe saúda o loiro mais velho que os espera na porta.
Niall sorri levando suas mãos até o rosto do garotinho fazendo carinho com as pontas dos dedos. Em seguida ele franze o cenho percebendo uma diferença visível de altura entre o garoto e seu filho. Há um tempo eles eram quase da mesma altura, agora é evidente que Gabe está mais alto.
— Olá pequeno. — Niall sorri quando desperta de seu transe. Em seguida volta seu olhar para a mulher ruiva que tem uma mochila em sua mão esquerda. — Quer entrar?
— Não... Vim apenas trazê-lo — Indica Gabe com a cabeça. Em seguida ela entrega a bolsa para o ômega grávido — Preciso voltar para o orfanato... Mas segunda feira pela manhã eu venho buscá-lo. — ela volta sua atenção para o garoto de olhos violetas — Se comporte mocinho, segunda feira venho buscar você.
Gabe assente com a cabeça prontamente, em seguida sente um puxão em sua mão. Steven sorri para ele tentando arrastá-lo para dentro de casa.
— Vamos Gabe — Steven pede vendo que diante de todas suas tentativas, não consegue fazer com que Gabe se mova. O mais alto dá uma risada e finalmente se deixa ser levado pelo loirinho — Eu quero te mostrar o desenho bem legal que eu fiz, mas acho que vou ter que fazer outro. — suspira pesado assim que chegam a sala. Steven finalmente larga a mão do amigo-namorado indo até a mesinha de centro onde tem um papel. Pega o desenho e volta a caminhar até o outro — Só que no desenho você não está tão alto. — faz bico.
— Eu gostei do desenho — Gabe fala observando que são eles dois de mãos dadas e vários corações em volta.— Stee... Eu posso ficar com ele?
— Você gostou mesmo? — Steven pergunta animado com os olhos verdes brilhando.
— É claro que gostei... Eu vou colocar ele em um quadro... Ou melhor, vou colocar ele no álbum de fotografias que você me deu. Vou colar naquela folha em branco que tem na última página — Gabe conta ficando animado com a ideia.
Steven da um pulo animado batendo palminhas, em seguida abraça o amigo-namorado pela cintura com força, mas quando percebe se afasta corando fortemente. Gabe ri ao ver o loirinho encolher os ombros ficando tímido rapidamente, o de olhos violetas sorri de lado do jeito Styles e sorri dando um beijo na bochecha do menor. Na verdade um pequeno beijo no canto do lábio.
Niall suspira observando os dois com atenção. Ele pode perceber que já existe um sentimento entre os dois e é algo forte o suficiente para que ninguém possa quebrar. Ele passa a língua entre os lábios e faz um som com a garganta chamando a atenção dos pequenos.
— Vocês estão com fome? Eu estava fazendo um bolo e biscoitos para vocês lancharem. — Niall diz vendo que Gabe olha para Steven esperando uma resposta dele. É como se ele só fosse aceitar se Steven quisesse, caso contrário, mesmo se estivesse com fome, não aceitaria.
— Vamos! Eu ajudei o papai com os morangos — Steven exclama animado olhando para Gabe que sorri assentindo — É de morango com pedaços e cobertura de chocolate. — conta baixinho apenas para o castanho ouvir.
— Deve estar delicioso se você ajudou a fazer — Gabe sorri de lado mostrando uma de suas covinhas — Quero provar o bolo com certeza, tio Niall.
Steven concorda com a cabeça pegando a mão do garoto mais velho entrelaçando os dedos e em seguida começa a puxá-lo em direção a cozinha. Niall sorri fazendo que não com a cabeça e então segue os dois pequenos.
Quando chegam na cozinha, os dois pequenos caminham em direção a mesa. Gabe senta-se sem nenhuma dificuldade, porém, Steven tem uma certa dificuldade para subir na cadeira. O garotinho de olhos violetas sorri vendo que o seu amigo-namorado está bravo por não conseguir subir na cadeira, ele se levanta da sua indo até o menor.
— Deixa que eu ajudo você — Gabe fala puxando um pouco a cadeira e em seguida estende a mão para Steven o ajudando a subir e sentar-se na mesma. Em seguida ele caminha até sua cadeira sentando-se nela.
Niall que até então observa a cena sorrindo, caminha até a mesa servindo os dois pequenos com o bolo de morango. Serve a eles também com o suco favorito do castanho - segundo Steven - e volta a se encostar na bancada para arrumar a sujeita que fizeram pela cobertura do bolo.
— Está uma delicia. — Gabe fala após provar um pedaço do bolo. Steven cora olhando para as próprias mãos. Ele somente ergue o olhar quando ouve a voz de seu pai anunciando sua chegada.
— Oi papai! — Steven exclama animado ao ver seu pai adentrar a cozinha. Ian sorri para o filho caminhando até ele e deixando um beijo em sua testa e em seguida caminha até o outro garotinho e leva sua mão até a touca do mesmo bagunçando-a um pouco, ele consegue perceber que o garoto está um pouco diferente, mas não sabe em que ao certo. O pequeno sorri ajeitando a touca em seguida. Steven em seguida volta sua atenção para o bolo em sua frente.
Ian caminha até o marido dando um selinho demorado nos lábios dele. Em seguida leva suas mãos até a barriga já grande sentindo um chute leve.
— Como foi na empresa? — Niall pergunta olhando nos olhos azuis do esposo. Ian sorri dando mais um beijo no marido vendo que o mesmo gira os olhos.
— Entediante, estressante e chato. — Ian suspira tirando sua gravata com uma só mão. — A empresa fica uma loucura sem Harry… Mas ele está merecendo essa folga. Tristan está ajudando bastante lá. — comenta.
— Não entendo por que Tristan não assume o cargo que é dele por direito dentro da empresa… Digo… Ele é formado em administração em Oxford. Ele se formou ainda antes que Harry e mesmo assim prefere trabalhar como segurança. — Niall comenta indo pegar um copo para servir suco.
— Tristan não nasceu para ficar dentro de um escritório usando gravata.— Ian prontamente defende o amigo —Para ele, isso é careta. E acho que não combina com o espírito aventureiro dele.
Niall concorda com a cabeça não querendo discutir sobre esse assunto. Em seguida ele morde o lábio pegando um morango e entrega o copo de suco para Ian. Ele novamente olha Gabe e Steven
— Eles são tão adoráveis... Gabe está ficando grande, percebeu?— O ômega comenta em um tom baixo para apenas seu marido ouvir. Ian sorri analisando o seu filho e o amiguinho dele, em seguida o sorriso começa a sumir de seus lábios quando a imagem de Gabe lhe faz lembrar alguém.
— Assim como Harry...— Ian diz parecendo preocupado vendo que Steven leva um pedaço de bolo até a boca de Gabe.
— Nem havia me tocado sobre isso... Realmente... Com Harry foi a mesma coisa. Nessa idade ele já parecia mais velho — Niall comenta pensativo — Três anos depois ele entrou em seu primeiro rut.
Ian arregala os olhos. Em três ou quatro anos Gabe entrará em seu rut, visto que ele é um visível alfa lupus. E em seis ou sete anos seu filho certamente se mostrará um ômega. Steven terá um “namorado alfa” para ajudá-lo nisso. Oh não. Não mesmo! Pode até parecer precipitado de sua parte, visto que isso só vai acontecer em alguns anos.
Mas é seu filho.
Observa seu filho, em um ato inocente, limpando o canto do lábio de Gabe com o polegar e em seguida sorrir corando. Ok! Talvez ele deva ter uma conversa seria com Gabe. Sim. Ele deve!
Niall rola os olhos apenas de imaginar o que seu marido vai fazer, mas vindo de Ian, ele pode esperar qualquer coisa.
— Quer um bolo papai? Fui eu quem cortei e coloquei os morangos — Steven diz orgulhoso de si mesmo assim que vê seu pai se sentando a mesa.
— Na verdade não, meu anjo — Ian sorri e em seguida ele suspira — Na verdade eu quero ter uma conversa com Gabe... Bem... Na verdade, uma conversa séria com vocês dois. — tenta parecer sério e ganha um olhar confuso dos dois garotinhos. Niall gira os olhos não acreditando que seu marido vai fazer realmente aquilo.
— O que nós fizemos, senhor Somerhalder? — Gabe pergunta já ficando precupado. Ele não quer ter feito algo de errado e ser proibido de ver Steven.
— Na verdade não é sobre o que fizeram. — Ian fala vendo que os dois garotinhos ficam confusos. Gabe olha para Steven que dá os ombros como quem diz não saber de nada.— É sobre o que possivelmente farão. — fala deixando os dois garotos ainda mais confusos. Niall arregala os olhos deixando o morango que havia pegado cair de sua mão.
— Ian! — Niall repreende o marido que faz um sinal com a cabeça como se dissesse que sabe o que está fazendo.
—Não entendi, papai — Steven fala um pouco confuso se ajoelhando na cadeira e apoiando os braços na mesa inclinando para frente — O que nós vamos fazer? — pergunta curioso.
—Eu sei que vocês gostam muito um do outro e que são muito amigos — Ian começa a dizer, mas é interrompido pelo seu filho.
— Eu não gosto dele...— Steven fala girando seus olhos verdes e ganha um olhar surpreso de Gabe, mas o loirinho continua olhando para seu pai —Na verdade eu amo muito ele... E não somos amigos, somos namorados.
— Vocês não acham que estão muito novinhos para namorarem? — Ian franze o cenho olhando para o filho. Steven, porém, mantém sua pose Styles desafiadora.
— Hãm… — Steven pensa um pouco — Não?— ele suspira e em seguida se inclina um pouco mais em direção ao seu pai — Veja bem, papai... Se eu gosto do Gabe e ele gosta de mim... Não há problemas namorarmos.
Ian fica surpreso. Seu filho tem mesmo cinco anos?
— Mas existem certas coisas que podem ser muito perigosas para vocês, principalmente quando estiverem maiorezinhos e eu quero evitar que essas coisas aconteçam... — Ian fala tentando parecer o mais explicativo possível.
— E que coisas são essas? — Gabe que até então estava em silêncio pergunta curioso.
Ian busca o olhar de seu marido que agora tem um sorriso divertido nos lábios.
— É amor... Que coisas são essas?—Niall faz-se de desentendido. Ian engasga por alguns segundos, depois morde o lábio e sorri.
— Bem... Quando vocês forem maiores vão querer fazer algumas coisas. E vão ter que se controlar um pouco — Ian fala incerto — Há coisas que se fizerem podem resultar em consequências irreversíveis.
— Irreveniveis? — Steven pergunta tentando imitar a palavra, mas não consegue com sucesso. — Palavra engraçada… O que é isso?
— Irreversíveis, meu amor — Ian fala carinhosamente para o filho e bagunça os cabelos loiros dele vendo que o pequeno sorri — São coisas que acontecem e não podemos mudar, que não podemos voltar atrás para consertar.
— E por que temos que nos controlar? Por que não podemos fazer essas tais coisas? Você e o tio Niall já fizeram não é mesmo? E são namorados... Steven e eu somos namorados também, mas por que não podemos fazer essas "coisas"? — Gabe pergunta fazendo aspas com os dedos. Ele cruza os braços sobre a mesa olhando diretamente para o pai de seu amigo-namorado. Agora ele está realmente curioso.
— Bem... Por que, por que são muito pequenos para isso. Niall e eu somos adultos e temos idade para fazermos essas coisas — Ian tenta explicar começando a ficar um pouco nervoso por conta do olhar do garotinho de olhos violetas, ele parece disposto a descobrir o motivo daquela conversa.
— O senhor disse que faríamos isso daqui a alguns anos... E daqui a alguns anos nos seremos adultos, então por que não poderemos fazer?— Gabe questiona arqueando uma das sobrancelhas e semicerrando os olhos. Ian por um segundo fica assustado sobre como o garotinho fica imensamente parecido com Harry.
— Que coisas são essas? O senhor está me deixando confuso, papai — Steven leva as mãozinha até seu rosto suspirando pesadamente.
— Acho melhor encerrarmos o assunto. Isso só vai dar mais voltas ainda na cabeça de vocês e não chegarão a lugar nenhum — Niall diz olhando para Ian sugestivamente percebendo que os pequenos já terminaram o lanche — Steven, mostre a Gabe os presentes que compramos para ele.
Steven concorda com a cabeça parecendo animado e se levantam limpando as migalhas de bolo que caíram em sua blusa, em seguida estende a mão para Gabe que sorri pegando a mão do menor.
— Com licença — Gabe pede para Niall e Ian antes de ser arrastado para fora da cozinha.
Niall olha para seu marido fazendo que não com a cabeça e caminha em direção a ele. O ômega se senta no colo do alfa sentindo os braços fortes em torno de si.
— Eles são apenas crianças, amor...— Niall fala fazendo caricias nos cabelos de Ian — Vai demorar até que tenham uma certa malícia para algumas coisas... Tudo que eles fazem, são coisas inocentes
— Eu sei... É só que... Gabe em alguns anos se apresentará como alfa lupus... E Steven o ama tanto, e esse amor é recíproco. Tenho medo de que algum deles saia magoado ou que as coisas saiam do controle — Ian admite em um tom pesaroso.
— Nós dois sabemos melhor que ninguém que separá-los será pior... Tentar impedir isso não é algo saudável. Há uns dias atrás até pensei nisso... Mas sabemos quais seriam as consequências — Niall fala vendo seu esposo assentir com a cabeça, em seguida dá um beijo no canto do lábio do seu alfa — Essa história não vai se repetir.
~•~
O pequeno garoto sorri descendo as escadas com seu belo desenho recém-feito em mãos. Apoia uma das mãos no corrimão e desce pulando de degrau em degrau. Ao chegar ao meio da escada fica curioso ouvindo uma voz desconhecida.
— O acidente foi muito grave… Todos que estavam no carro tiveram ferimentos muito sérios. — O homem vestido com uma blusa preta fala para as três mulheres na sala.
— E o meu filho? Onde está meu menino? — Uma das mulheres, a de olhos verdes, pergunta parecendo desesperada.
— Ele teve ferimentos graves, mas está bem… — O homem, agora pode enxergar ser um policial, fala tentando acalmar as mulheres.
— E meu marido? Ele está bem, não está? Todos ficaram bem… Não ficaram? — Agora é a mulher de olhos azuis que pergunta preocupada.
O policial nega.
— Sinto informar que apenas o garoto sobreviveu — O policial diz vendo que as duas mulheres mais novas entram em choque.
O garotinho então termina de descer as escadas, ele sente algo ruim em seu peito.
— Mamãe? O que aconteceu? Onde está o papai? — O pequeno pergunta em um tom baixo — Onde está o meu papai? E o titio?
— Filho… — A mulher de olhos azuis tenta se aproximar.
— Onde está o meu grandão? — Ele se afasta um pouco sentindo seus olhos lagrimejando. A mulher tenta mais uma vez se aproximar do filho, mas ele simplesmente sai correndo chorando.
Louis acorda completamente ofegante, seus olhos azuis estão arregalados e seu corpo está tenso. Ele não percebe, mas lágrimas molham seu rosto e sente uma dor profunda em seu peito. Nesse mesmo instante, Harry entra no quarto parecendo um pouco preocupado e desesperado.
Styles olha para a cama encontrando o ômega em prantos. Caminha até a cama sentando-se ao lado vazio e antes que faça algum movimento o seu corpo é agarrado pelo menor que enterra o rosto no pescoço alheio.
A alfa lupus inicialmente fica em choque, mas logo envolve o pequeno em seus braços o puxando para seu colo. Um de seus braços está em torno da cintura dele e sua outra mão acariciando os cabelos castanhos lisos. Tomlinson tem seus olhos arregalados e seus braços curtos estão em torno do pescoço do maior, tem uma necessidade enorme de abraçá-lo.
— Está tudo bem… Shiii… Estou bem aqui. — Harry tenta tranquilizá-lo, Quer tentar devolver o apoio que o menor deu a ele mais cedo. O pequeno funga baixinho soltando aos poucos seus braços do redor do maior e limpando as lágrimas com a manga de seu moletom cinza, na verdade, o moletom não é seu e sim de Harry. — Você fica bonito com esse moletom — comenta tentando fazer o ômega se distrair — Fica melhor em você do que em mim.
O maior leva as pontas dos seus dedos até a face do pequeno limpando as lágrimas que ainda molham as bochechas. Louis fica em silêncio tentando tranquilizar sua respiração e repara que sobre a cama tem alguns de seus livros qual estava lendo mais cedo, ele adormeceu enquanto estudava.
— Onde você estava? — O ômega pergunta em um tom baixo, não é um tom de cobrança, mas sim de curiosidade.
— Eu estava lá na sala fazendo uma ligação, mas vim o mais rápido que pude quando ouvi seus gritos. — Harry fala em um tom preocupado vendo que o menor está um pouco trêmulo, mas está mais calmo. Ele ajeita o ômega em seu colo percebendo como ele fica ainda mais pequeno e adorável, e também como ele se encaixa perfeitamente em seus braços. — O que aconteceu?O que te fez acordar assim tão desesperado? — pergunta apoiando o queixo no ombro do mais novo percebendo ele voltar a ficar tenso — Eu só quero ajudar você, assim como você me ajudou.
— São esses sonhos… Eles são tão estranhos e parecem tão reais. — Tomlinson murmura baixo enterrando o rosto no pescoço do maior — Quando acordo é como se tudo aquilo fosse real.
— Louis...— Harry diz se afastando um pouco no intuito de olhar nos olhos azuis — Esses sonhos estão cada vez mais frequentes, assim como se preocupa comigo também me preocupo com você. É agoniante ver sua aflição e não poder ajudar de alguma forma. — ele dá uma pequena pausa levando seu polegar até a bochecha do pequeno fazendo caricias — Não acha que também deve procurar ajuda? Eu estava ligando para o meu psiquiatra quando escutei seus gritos. Agendei uma consulta para a semana seguinte do aniversário de minha mãe. Se caso quiser, podemos marcar uma consulta para você também.
— Psiquiatra? — Louis passa a língua entre os lábios. — Você acha realmente necessário?
Harry ri baixo.
— Não dessa forma que está pensando... Frederich também é psicólogo. Eu acho que esses sonhos podem estar relacionado a alguma coisa... Digo, talvez tenha um motivo para o eles e seria bom que você pudesse tentar entender o porquê. Um psicólogo poderia ajudar, não sei... Só que se você não quiser, não vou te obrigar — Harry dá os ombros. Não quer obrigar o garoto a fazer nada, mas acha que aquela é a melhor opção.
Louis pensa por alguns segundos. Talvez se aceitar ir a essa consulta possa estar encorajando Harry.O que importa naquele momento é apenas ajudar o alfa lupus, então se isso for ajudá-lo, não pode recusar.
— Eu aceito — Tomlinson concorda com a cabeça. Styles sorri beijando a lateral do rosto do menor, as pontas dos seus dedos voltam a acariciar os cabelos castanhos e sua outra mão acaricia a cintura coberta pelo moletom cinza.
— Você quer falar comigo sobre esses sonhos? — Harry pergunta em um sussurro. Louis morde o lábio e inicialmente hesita um pouco não sabendo o que responder, ou se deve falar sobre aquilo — Se não quiser contar, não vou insistir. Você tem que se sentir confortável para isso e eu não posso e não vou forçar nada.
O ômega passa a língua entre os lábios pensando em não contar, mas em seguida se lembra que Harry contou sobre ele e seus problemas da adolescência. Se o alfa pode confiar nele para contar sobre seu passado, por que ele também não pode confiar e contar sobre seus estranhos sonhos.
— A maioria dos sonhos são com pessoas que eu não conheço. Eu não entendo o motivo deles, sabe? Sempre com as mesmas pessoas e sempre comigo quando criança. — Louis explica se ajeitando no colo do maior e deitando a cabeça em seu ombro
Harry por alguns segundos fica em choque, ele parece pensativo e também surpreso. Em seguida morde o lábio inferior hesitante.
— Como… Lembranças? — Harry pergunta parecendo tentar conter animação em sua voz. Louis morde o lábio agora pensativo e nega com a cabeça.
— Não sei ao certo... Não acho que sejam lembranças. Essas pessoas... Eu tenho certeza que não as conheço, embora pareçam familiares.— O menor começa a gesticular com as mãos, é como se aquilo fosse ajudar na explicação.— Se bem que, nesses dias eu acabei sonhando com um alfa que vi apenas duas vezes na vida. No sonho eu era pequeno... Parecia tão real... Que por alguns segundos achei que fosse... Mas lembrei que eu conheci ele há menos de um mês.
— Ele quem? — Harry pergunta franzindo o cenho ficando levemente enciumado.
— Austin.— Louis responde em um tom baixo — Ele apenas disse que se chamava Austin. É tão confuso, Hazz. No sonho da noite anterior ele era o meu pai e foi tão real, ao mesmo tempo Austin me é tao familiar. Minha mente esta um caos e eu não consigo lidar com isso. Você entende? — pergunta franzindo o cenho.
Harry fica alguns segundos em silêncio fazendo carícias nos fios de cabelos de Louis. Tira alguns fios da testa dele o abraçando pela cintura com força e enterrando seu rosto no pescoço do ômega deixando dois beijinhos ali.
— Eu entendo — Styles concorda — É como se você não tivesse controle sobre seus sonhos... Ou sobre sua vida E isso parece deixar você completamente louco... Você quer entender, mas parece um mundo estranho — passa a língua entre os lábios os umedecendo. — É como sentir que isso existe e ao mesmo tempo não...— então ele ri — Sua cabecinha deve estar mais bagunçada que o comum.
Louis rola os olhos.
— Acho que você que é o cabeça de vento aqui —Louis se defende olhando para a mão do alfa que usa o anel que ele deu de presente. Ele morde o lábio segurando a mão do maior passando as pontas dos dedos ali e percebe que no pulso dele tem algumas marcas qual ele não tinha visto antes —Eu aqui te enchendo com meus sonhos bobos.
— Não são sonhos bobos —Harry diz afastando seu rosto do pescoço do menor e apertando a pontinha do nariz de Louis — E não precisa se importar com essas coisas... Já se preocupou muito comigo hoje, deveria se preocupar mais com você. Você é o mais importante neste instante.
Tomlinson sorri mordendo o lábio.
— Eu admiro isso… Mesmo com tudo isso você ainda se preocupa comigo. — Louis comenta — Diante de tudo você ainda arranja um tempo para se preocupar comigo. Você é mais forte do que imagina.
Harry nega com a cabeça.
— Você me faz forte. — Styles sorri.
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