Irmão é uma palavra pequena, mas que possuí um enorme significado.
Algumas pessoas costumam dizer que existem dois tipos de irmandade: aquela entre duas pessoas que partilham de um laço familiar e aquela que surge entre dois amigos de forma intensa e natural. Troy Austin pode dizer que já experimentou ambas as maneiras. Ele é o mais velho entre quatro irmãos e sempre se deu muito bem com todos eles, era visto como um exemplo a ser seguido e o mais novo considerava-o um segundo pai. E por mais que o alfa lupus não tivesse os escolhido, ainda sim era muito grato por tê-los, já que não conseguia imaginar sua vida sem a presença deles. No entanto, isso não significa que ele não tenha tido o direito a escolha. Desmond Styles era alguém que não tinha uma gota do seu sangue nas veias, mas ele era como um verdadeiro irmão.
Os dois se conheceram quando ainda eram muito pequenos, seus pais tornaram-se sócios e as famílias foram unidas. A amizade foi surgindo com naturalidade, tornado-os grandes cúmplices e inseparáveis. Inicialmente, a relação deles era vista com maus olhos, já que ambos eram alfas lupus e alguns tinham pensamentos maldosos, enxergando-os com segundas intenções. Eles, no entanto, não se importavam com as baboseiras que eram ditas.
Desmond e Troy também fizeram faculdade juntos, assumindo a empresa deixada por seus pais assim que se formaram. Era especulado que aquela bela amizade se desgastasse quando ambos encontrassem seus respectivos parceiros para constituir suas famílias, mas isso também não aconteceu. Os Styles e Austin’s se tornaram como um só. Seus filhos criaram fortes laços fraternais e alguns até amorosos, para a felicidade de ambos. Era como um sonho se realizando, mas Desmond não pôde estar ali para presenciar aquilo que mais desejava.
E tudo isso graças a Mark Tomlinson. Troy realmente não conseguia entender como aquele garotinho havia se transformado naquilo. Por ironia, o homem que afastou e destruiu seus laços de irmandade, um dia foi também um irmão. Na verdade, foi um pouco mais que um irmão. O beta era também como um filho.
A verdade é que Austin fez tudo que podia e não podia por Mark.
O alfa lupus sempre soube que o casamento de seus pais não tinha amor envolvido, era algo entre negócios e comodismo, mas mesmo assim eles tinham uma grande amizade e carinho mútuo. Troy lembra-se de uma época em que seu pai começou a chegar muito tarde em casa, ele sempre tinha um perfume diferente impregnado em suas roupas e parecia mais feliz que o comum, como não era com sua mãe. Naquele tempo, o relacionamento de Gregory e Moly já não era o mesmo, as brigas tornaram-se constantes e dormiam em quartos diferentes. E foi justamente nessa época que veio a grande notícia, a matriarca da família Austin estava esperando seu quarto filho (mais tarde nomeado por Frederich Joshua Austin) e aquela notícia deixou seu esposo extremamente feliz, ainda mais quando soube que o caçula seria um alfa lupus, assim como todos os outros. Aos poucos a relação do casal foi voltando ao que era antes, deixando Troy realmente contente.
E durante sete anos foi dessa forma, mas, de repente, tudo mudou. No leito de morte de Gregory, acabou descobrindo algo que mudaria toda sua vida: Ele tinha um outro irmão. Não era um de seus irmãos, mas sim um fruto de um relacionamento extraconjugal do seu pai com uma ômega que trabalhou na empresa da família há muitos anos. Após algum tempo pensando sobre aquela notícia, decidiu que gostaria de fazer parte da vida do garotinho de apenas sete anos de idade, qual não tinha culpa de nada. Troy o procurou e quando o viu, imediatamente se encantou. Mark era um menino adorável, tímido e carente. A ausência de seu pai (misturada a rejeição, que veio quando foi descoberto que o garoto era um beta) tinha causado grandes danos em sua vida, tornando-o tão solitário e retraído. E Austin estava disposto a ser tudo para o pequeno Tomlinson: um amigo, um irmão e um pai.
Nunca deixou que nada faltasse a ele, sempre deu-lhe tudo do bom e do melhor: as melhores escolas, as melhores roupas, os melhores cursos, os melhores brinquedos e principalmente muito amor e carinho. Era Austin quem ia assistir suas peças da escola, os musicais, que ia nas reuniões com professores (a mãe do menino cuidava do pai adoentado e não tinha tempo para essas coisas) e também foi ele quem o levou no primeiro show da banda favorita, quem o ensinou a dirigir e quem lhe deu o primeiro carro, um belo Mustang Preto 64. Aquele automóvel sempre foi um grande sonho para o mais novo e Troy estava disposto fazer qualquer coisa para vê-lo sorrir.
E após ter feito de tudo, Tomlinson lhe retribuiu de uma forma suja e desumana. O alfa lupus sente-se um grande estúpido por não ter percebido que havia uma inveja por parte de seu irmão, sempre o amou demais para enxergar algum defeito nele. E, infelizmente, sabe que ainda o ama um pouco. Por mais que tenha acontecido tudo aquilo, Troy tem um pingo de sentimento bom, até por que, foi ele quem criou Mark por maior parte de sua vida. O mais velho demorou algum tempo para aceitar que foi seu menino quem havia arquitetado friamente seu acidente, qual resultaria em sua morte.
Porém, agora que, depois de tantos anos tem a oportunidade de olhar nos olhos azuis do beta, pode perceber que sim, que ele teve coragem de cometer tal barbaridade. Troy só não consegue entender o por que de tudo isso, sendo que nunca lhe tratou mal e não lembra de ter feito algo realmente grave para que Tomlinson tenha tomado aquela atitude… Não poderia ser somente por conta de Johannah, poderia? Talvez nunca saiba ao certo, mas tentaria arrancar qualquer informação relevante.
Molhando os lábios, Austin torna a analisar o mais novo, querendo encontrar algum traço semelhante ao do rapaz ou garotinho a quem deu tanto amor e carinho, mas não consegue nada. É como se fosse outra pessoa em sua frente. Uma pessoa assustada e incrédula, com uma sombra de frieza no olhar. Por fim, o alfa lupus sorri de lado, não demonstrando o pouco de decepção que o toma, ele vê que o beta olha para os lados, querendo ter certeza que ninguém pode ouvi-lo.
— Não repita isso novamente! Não diga isso! Alguém pode ouvi-lo. — Mark pede em um tom baixo, mas sua voz soa com um pouco de firmeza. Esse pedido faz com que o sorriso do mais velho aumente, eram nesses momentos que qualquer respingo de sentimentos bons eram esquecidos.
— Por que ninguém pode nos ouvir? Do que você tem medo, Mark? Somos apenas dois irmãos conversando, que mal há nisso? — O cinismo faz-se presente na voz de Troy, que tem os braços cruzados na altura de seu peito. Todo seu autocontrole está sendo usado naquele momento, sabe que poderia facilmente desfigurar o rosto do beta com socos (mesmo que depois tivesse a iniciativa de levá-lo para um hospital).
Mark ainda carrega a feição assustada em seu rosto, balançando a cabeça negativamente como quem desaprova essa situação. Austin percebe o nervosismo do mais novo, que está a todo momento enxugando as mãos em sua calça social e engolindo o seco. Por um milésimo de segundo, Troy sente pena, mas logo retira tais pensamentos e sentimentos de si mesmo. Ele não merece nada disso, qualquer sentimento positivo ou de pena por ele deve ser enterrado. Dita em seus pensamentos, estando disposto a seguir seu próprio conselho.
— Como você conseguiu sobreviver? — Tomlinson torna a perguntar aquilo que está atormentando sua mente, ignorando completamente o que foi dito por seu irmão há pouco tempo atrás. — Eu fui ao seu enterro! Não tem como ter sobrevivido… É impossível! Eu mesmo garanti que não iria. — murmura a última parte, como se estivesse dizendo para si mesmo, mas o outro consegue ouvir devido a sua incrível audição.
E essa última afirmação é como uma facada no peito do alfa lupus. Mark está admitindo a autoria daquele acidente, mesmo que sem usar palavras diretas e objetivas. Claro que não está surpreso e não esperava que ele fosse inocente, mas não imaginou que seria tão doloroso ouvir aquilo dos lábios do beta e perceber que não existe um pingo de remorso.
Como e quando ele se tornou isso?
Porém, antes mesmo de Troy poder formular algo para respondê-lo, a voz melodiosa de seu filho o tira de todo aquele mar de questionamentos. Olhando para o lado, encontra Louis se aproximando e sorrindo, um sorriso contagiante que deixa em evidência aquelas ruguinhas tão lindas, quais tinha herdado de sua mãe.
— Eu disse que não iria demorar. — Louis diz assim que para próximo aos dois, olhando-os de forma intercalada, querendo ter a certeza de que tudo está bem. — E então, conversaram bastante? — questiona curiosamente, não notando a tensão existente entre ambos.
— Realmente adorei conhecer e conversar com seu pai. Acho que poderemos ter uma ótima amizade, não é mesmo, Mark? — Austin quem responde, olhando sorridente para o recém-chegado. — Até disse agora a pouco que ele me lembrava um antigo amigo, qual eu considerava um irmão… Infelizmente aconteceram algumas coisas e nos afastamos, nunca mais ouvi falar dele. Enfim, isso não importa mais. — leva uma de suas mãos até o rosto do menor entre os três, lhe acariciando as bochechas cuidadosa e amorosamente.
O Tomlinson mais novo sorri ainda mais largo, tentando conter a felicidade que apodera-se de seu corpo. Ele assente com a cabeça e passa um dos braços em torno da cintura de seu pai, que está tão próximo, sentindo o mesmo estremecer, mas logo sorrir.
— E você, papai? Não disse nada. — Louis encara o beta de soslaio, esperando dele uma resposta também bastante positiva.
— Uhm… — Mark sente sua voz arranhar um pouco, em seguida faz um som com a garganta, no intuito de limpá-la. — Gostei de conhecê-lo… É u-uma boa pessoa. — soa com incerteza e isso é perceptível para o menor, mas ele resolve não questionar sobre aquilo. Louis imagina que seu pai esteja desconfortável por estar em uma festa organizada pela família de Harry, com quem ele tem diversos problemas. O homem não parece estar em um bom clima para comemorações, o ômega se sente mal por ter que, de certa forma, obrigá-lo a ficar ali e fingir que tudo está bem, mas esse é o momento mais importante de sua vida.
— Tudo bem, tudo bem. — Louis acena positivamente. — Então… O que acham de conhecer o resto da família? Tenho certeza que podem se dar bem com eles também. A Anne vai adorá-los, ela quem organizou toda essa festa para mim e Charlotte… Está sendo como uma mãezona. — A empolgação é evidenciada em cada fala, ele imagina que seu pai possa gostar mais da mãe de Harry do que do próprio, já que ela é uma mulher tão gentil e acolhedora.Consegue até vislumbrar uma amizade entre seus pais e a matriarca dos Styles, principalmente com Johannah, levando em conta que elas aparentam ter tantas coisas em comum. — Venham!
E então o garoto segura uma das mãos de cada um dos dois homens com as suas, os puxando em direção à mesa de presentes, onde deixou sua mãe e Jennifer. Durante aquele pequeno trajeto, Mark não ousa olhar para o lado, sempre mantém sua atenção no caminho que está fazendo, mas sabe que é analisado pelo alfa lupus. Nesse momento arrepende-se por ter ouvido sua esposa, sabia que não deveria ter ido à essa festa, tinha certeza que algo iria acontecer, mas não imaginou que seria justamente isso. Nunca passou por sua cabeça que Troy Austin poderia ter sobrevivido a um acidente em que quase todos morreram, as chances eram mínimas, ele sabia, mas estava contando com a sorte e ao que parece, o seu irmão também.
O Tomlinson mais velho encontra-se ainda em um estado de choque, não tem ideia sobre quando sua ficha realmente irá cair. Talvez demore um dia ou dois, quem sabe até uma semana. Ele ainda sente que está dentro de um sonho ruim e que a qualquer momento poderá acordar ao lado de sua esposa amada. E se der muita sorte, seu filho estará no quarto ao fim do corredor… Assim tudo voltaria a ser como antes e sua família poderia finalmente ser feliz. Entretanto, há algo que diz que nada disso vai acontecer, lá no fundo uma voz grita sobre o quão ferrado ele está… Troy Austin era o único capaz de acabar com sua vida e ele não morreu. Esse homem já lhe tomou tudo uma vez e não poderá fazer isso novamente, Mark não deixaria. Ele fará o que for possível para que tudo seja como deve ser, sem a interferência de pessoas indesejadas.
E muito próximo dali, as duas mulheres aguardam juntas a chegada de seus respectivos maridos. Jennifer permanece em silêncio, olhando ao seu redor como uma forma de distração, ela analisa cada minúsculo detalhe da decoração daquela festa, achando tudo maravilhoso. Não tem coragem de olhar para a outra mulher ali presente, é completamente estranho e constrangedor estar na presença da ex-mulher de seu marido. Johannah, por sua vez, tem seus pensamentos tomados por Troy Austin. Enquanto acaricia sua barriga e encara o chão, só consegue tentar imaginar o que está havendo. O seu maior desejo é que nada disso estivesse acontecendo, mas ela sabe que não pode fazer exatamente nada a respeito. Após tantos anos o homem que já foi o grande amor da sua vida reaparece vivo. Nada daquilo fazia o menor sentido, não entende como ele conseguiu forjar sua morte por tantos anos… Oh, se ela soubesse que Troy estava vivo, não teria hesitado em procurá-lo. Entretanto, o destino não quis assim.
E agora, ela sente sua cabeça girar ao tentar formular alguma teoria plausível para tudo aquilo, enchendo-se de frustração por não conseguir nenhuma explicação aceitável para que Austin tenha feito o que fez.
Lembra-se de quando foi ao enterro, optou por deixar seus filhos em casa e se manteve todo tempo ao lado do caixão (qual hoje ela sabe que estava vazio ou com um corpo qual não era do seu ex-marido), se recusava a deixá-lo e ficou aos prantos quando houve o sepultamento. Mark foi seu alicerce. Seu cunhado e melhor amigo foi quem lhe deu todo o apoio possível, enxugando suas lágrimas e prometendo que daquele dia em diante cuidaria dela e de seus filhos.
Porém, devido aos últimos acontecimentos, sente que tudo aquilo foi uma mentira. Ela sofreu por uma morte que nunca aconteceu. Mais do que nunca, sabe que precisa de respostas… Ela quer entender o que houve e somente Troy pode explicar.
Porém, todas suas ideias são dissipadas quando percebe a aproximação de seu menino, apenas sua risada doce é o suficiente para fazê-la retornar a realidade. Seus olhos azuis focam-se em seu filho, que traz seus pais junto a si. De certa forma, não pode negar, fica contente em ver que Louis realmente se deu bem com Troy e em poder apreciar pai e filho juntos. Mas, por outro lado, fica receosa. O retorno do alfa lupus muda muita coisa, toda a verdade que escondeu por tanto tempo poderá ser descoberta e seu filho pode odiá-la para sempre. Johannah sabe que sua menina guarda sentimentos ruins por ela. A beta já perdeu Charlotte e não pode perder Louis também.
— Espero que tenham se dado tão bem quanto esses dois aqui. — O ômega brinca assim que chega ao seu destino, ele olha as duas mulheres que acenam e dão sorrisos gentis, embora imperceptivelmente forçados. — Imaginei que iriam gostar de se conhecer. Quem sabe algum dia possamos combinar um jantar, mas com todos juntos. Ia ser tã…
— Louis, querido, não acha que está sendo um pouco precipitado? Mal nos conhecemos. — Johannah rapidamente o corta, não querendo imaginar aquela hipótese. Por mais que queira conversar com Troy, não tem coragem. Ela tem medo do que pode ouvir e de sua reação ao saber tudo que foi feito após a falsa morte.
— Eu adoraria. É uma bela oportunidade para nos conhecermos melhor, não é mesmo Mark? — Austin lança seu olhar diretamente para o beta, sendo carregado ironia. E é quando Louis acena a cabeça positivamente várias vezes consecutivas, se mostrando completamente de acordo com o que foi dito pelo alfa lupus.
O Tomlinson mais velho, por sua vez, continua o encarando. Percebe que os olhos azuis do irmão são direcionados para Johannah por alguns segundos, e esse simples gesto o deixa levemente irritado. Mark passa um dos braços pelas costas de sua esposa, prevalecendo o contato visual com Troy, se mostrando também na defensiva. O que mais deseja é manter aquele homem longe de sua família.
— E nós podemos marcar para a próxima semana. Eu adoraria fazer o jantar para vocês. — Louis conta animadamente sobre seu plano, gesticulando com as mãos de forma um pouco exagerada.
— Pode ser algo bom. — Johannah se surpreende ao ouvir aquilo dos lábios de seu esposo. — É só encontrarmos um dia bom para todos e poderemos fazer isso. — Afirma, encarando seu irmão como se tudo aquilo fosse uma espécie de desafio.
Troy faz um breve aceno com a cabeça. Ele sabe que o beta está assustado e tenta fingir que tudo está bem, quando ele claramente sabe que não está. Toda aquela pose é como uma máscara, máscara essa que está prestes a cair.
— Perfeito! — O Tomlinson mais novo exclama euforicamente, batendo palminhas por saber que seu pai também parece disposto a aquela aproximação. E nesse mesmo instante sente braços fortes contornando sua cintura e suas costas são coladas a um peitoral duro, o cheiro marcante de seu alfa torna-se perceptível e molha seus lábios, arrepiando-se após um beijo ser pressionado em sua nuca.
— E eu poderia saber qual é o motivo da felicidade do meu garoto? — Harry murmura ao mesmo tempo que assopra suavemente naquela região qual seus lábios estão encostados, notando seu namorado encolher-se e rir baixo.
Ainda sorrindo, Louis vira-se e sela seus lábios aos do maior. Com aquela visão, Mark sente-se incomodado, achando desnecessário aquela troca de carinho entre os dois, mas tudo se torna pior por conta da presença de Austin. Troy, por sua vez, está sorrindo para aquela cena diante de si, percebendo o imenso cuidado que seu afilhado tem para com seu filho.
— Não poderia ter chegado em um momento melhor. Nós estávamos combinando um jantar, não seria perfeito? — O ômega tem seus olhos azuis brilhantes e Harry sorri de forma confusa, percebendo o olhar alegre e cheio de expectativas. O cacheado franze o cenho e procura por uma explicação ao que encara Austin, que acena discretamente. Com aquele gesto, Styles volta-se para seu namorado e mostra suas covinhas.
— É claro, meu amor. Será um prazer recebê-los em nossa casa. — O de olhos verdes está agora olhando para seus sogros, percebendo Mark se remexendo em nervosismo, a sua mão trêmula que acaricia a barriga de Johannah evidencia isso. Louis acena e gira os calcanhares, voltando a olhar os outros presentes naquele semicírculo. E então lembra-se que deve apresentar os filhos e a esposa de Austin, quais seu namorado ainda não conhece.
— Oh, deixe-me apresentar… Esses são Jennifer, esposa do Austin, e os filhos deles, Logan e Félicité. — O castanho indica os três, que estão ao lado do alfa lupus mais velho.
— É um grande prazer conhecê-los. — Harry os cumprimenta, recebendo um olhar confuso da garotinha, que ergue as sobrancelhas como quem não entende a situação. Logan, percebendo a reação de sua irmã, lhe dá uma cotovelada e se inclina para sussurrar algo em seu ouvido, ganhando um aceno positivo após alguns segundos. Em seguida, o ômega mais novo sorri largamente para o cacheado, mas esse gesto não passa despercebido por Louis. O Tomlinson mais novo poderia ficar irritado por ver alguém sorrindo daquela forma para seu namorado, mas não consegue sentir ciúmes ou raiva, por que pode enxergar um carinho e admiração no olhar do seu amigo, longe de qualquer malícia.
— O prazer é todo nosso. — Jennifer quem responde, estendendo sua mão para que o de olhos verdes possa apertá-la e assim é feito. Nesse instante, é a vez de Johannah se remexer devido ao incomodo causado por aquela situação, não suportando mais receber aquele olhar do seu ex-marido. É como se estivesse sendo minuciosamente analisada pelos olhos azuis, que parecem ler sua alma e descobrir todos seus pecados.
— Mark, vamos procurar um lugar para nos sentarmos? Não me sinto muito bem. — Ela pede, sustentando sua mão sobre o ombro de seu esposo. Além do desconforto, seus pés doem como nunca, já que sua barriga está muito pesada.
— Mamãe? Está tudo bem? — Louis se aproxima de sua mãe, sua tonalidade é carregada de preocupação. Johannah realmente não parece estar bem. — Você está passando mal? O que está acontecendo? É alguma coisa com os gêmeos? — leva sua mão até a barriga da mulher, acariciando-a levemente.
— Não se preocupe, meu anjo. É apenas um mal estar passageiro. — A beta põe sua outra mão sobre a do filho, sorrindo para poder tranquiliza-lo. — Só preciso me sentar um pouco, não posso ficar muito tempo em pé.
— Tudo bem, mas se quiser eu posso ir com vocês e… — Louis é interrompido.
— Não, de maneira alguma. É a sua festa e seus convidados, não precisa se preocupar comigo, eu estou bem. — Ela garante, deixando um beijo na lateral do rosto do seu filho. Seus dedos acariciam a bochecha do mais novo e permanece por algum tempo o olhando.
— Então me deixe pelo menos levá-los até a mesa qual reservei para vocês. — O Tomlinson mais novo pede, encarando seu namorado logo depois. — Eu já volto, tudo bem? — Um pequeno bico forma-se em seus lábios, fazendo com que o maior dê uma risada e acene com a cabeça. — Vamos, encontrei ótimo lugar para vocês. — Começa a guiar seus pais para a mesa qual eles ficariam, deixando os outros para trás.
Harry imediatamente desvia sua atenção para Austin, que suspira pesadamente conforme passa os dedos nos fios de cabelo, os puxando sem muita força. Jennifer percebe que seu marido não está nada bem, tudo aquilo pareceu deixá-lo, no minimo, atordoado e isso é completamente compreensível. Ela olha seus dois filhos e Styles acompanha seu olhar, percebendo que é melhor que conversem sem a presença dos dois mais novos.
— Loggie, querido, por que não leva a Fizzy até a mesa de doces? Tem até o seu favorito, Louis mandou encomendar especialmente para você. — O cacheado pisca, indicando uma grande mesa abaixo de um toldo branco. O ômega encara os olhos verdes por um tempo e logo depois ri gostosamente.
— Se vocês querem ter um papo de adultos é só dizer, não precisa inventar desculpas. — Logan responde, a forma que ele fala acaba fazendo com que a carranca de seu pai se converta em um quase sorriso. — Mas já estamos indo. Vocês podem ter a conversa que tanto querem.
O garoto gira os olhos e pega a mão de sua irmã, a trazendo consigo conforme caminha para a tal mesa de doces. Harry os acompanha com o olhar e quando estão a uma boa distância, seus olhos voltam-se para seu padrinho. O ar de seriedade retorna a aquela situação.
— Troy… O que está acontecendo? Eu imaginei que contaria para Louis sobre toda a verdade nessa noite, mas ao que parece você se sentará a mesa para jantar com o homem que matou meu pai e tentou nos matar. Realmente espero que saiba o que está fazendo. — O seu tom de voz não é rude ou repreensivo, mas sim confuso. Não entende o motivo seu padrinho ainda não ter feito nada a respeito de Mark.
— Amor… Um jantar com Mark é realmente uma loucura. E se ele tentar algo novamente? Agora que ele sabe que está vivo pode querer dar continuidade a aquilo que começou. — Jennifer está acariciando o ombro de seu esposo, olhando-o de perfil. — Não posso perder você, Troy. Nós não podemos te perder.
— E vocês não vão me perder. — Austin está olhando para a ômega, mas em seguida desvia a atenção para o outro alfa lupus, deixando claro que aquele aviso serve para ele. Sabe que é uma figura paterna para Harry e também o tem como um de seus filhos. — Eu já pensei e repensei a respeito, mas dessa vez terei mais cuidado e se algo acontecer comigo, as pessoas certas vão saber quem é o culpado. — explica a sua mulher, para que em seguida responda a pergunta do afilhado. — E Harry... Eu sei o que eu estou fazendo. Mark está assustado, eu o conheço o suficiente para saber que sim. Provavelmente está digerindo a informação e imaginando uma forma de se livrar de mim e de qualquer acusação, mas ele não fará nada, por que Johannah poderia desconfiar e ele não quer nem pensar em perdê-la. Você sabe por quê. — seu modo de falar é sugestivo, fazendo com que o mais novo entenda rapidamente o que ele quis dizer com aquilo.
— Sim, eu sei. — Harry realmente sabe, mas não consegue entender como funciona a cabeça de Mark Tomlinson. Já foi chamado de louco, obcecado e psicopata por muitas pessoas, mas se elas conhecessem o beta, certamente mudariam de opinião rapidamente. Aquele homem beira a insanidade, às vezes lhe dá muita pena e outras muito ódio, é algo confuso. Em sua percepção, Mark deveria estar usando uma camisa de força enquanto está preso em um hospital psiquiátrico. Talvez após um longo tratamento, ele melhore parcialmente.
Por algum tempo também sentiu raiva Johannah, a sua madrinha, mas quando soube de toda a verdade, essa raiva foi convertida em pena e mágoa. Ele percebeu que a mulher foi manipulada, assim como muitas outras pessoas. E é disso que ele tem medo. Conhece Troy o suficiente para saber que ainda há algo bom dentro dele para com seu irmão, teme que Mark saiba e use disso para manipulá-lo.
— Filho, eu sei o que está pensando. E isso não vai acontecer. — Com suas palavras, Troy suga Harry de seu mundo particular de pensamentos. — Ele nunca irá conseguir me manipular essa forma. Vou conseguir colocá-lo na cadeia e nós poderemos seguir em frente, como uma família feliz.
— E se…
— Se Louis não te quiser? É com isso que está preocupado? Oh, Harry. — Austin faz que não com a cabeça. — Louis não vai deixar você… Ele pode até ficar chateado por ter omitido tantas coisas, ele pode precisar de um tempo e se afastar por uns dias… Mas meu filho vai voltar. Ele não vai te abandonar.
— E como pode ter tanta certeza? Louis já disse que jamais me perdoaria se eu escondesse ou mentisse para ele… — Styles lamenta, deixando seus ombros caírem. Aquela preocupação qual costuma guardar para si está sendo exposta, o que deixa-o um pouco fragilizado.
— Eu sou o pai de Louis e eu o conheço. Posso ter ficado anos longe, mas sempre vou conhecer meu filho e posso lhe garantir que vocês dois tem um futuro brilhante pela frente… E muitos netos para me dar. Não deixe isso atormentar sua cabeça, apenas viva ao sua vida com ele de forma intensa. — Austin pisca, causando vergonha e um par de bochechas vermelhas em seu genro e afilhado. O cacheado umedece seu lábio superior e não demora a sentir o cheiro de seu ômega, anunciando sua chegada. Troy faz um pequeno aceno com a cabeça, como quem diz que tudo está realmente bem.
Logo a atenção de Harry é tomada por Louis, que para ao seu lado. O menor tem os braços cruzados na altura do peito, ele deixa um longo suspiro sair de sua boca e dá ao namorado um sorriso tristonho. Styles rapidamente estranha, já que pouco tempo atrás o garoto esbanjava sorriso e felicidade.
— O que houve? — O alfa lupus pergunta, passando seu braço em torno dos ombros do menor e o puxando para ainda mais perto.
— Hum… Não foi nada demais. É só que essa situação está tão chata, eu só gostaria que meu pai tentasse se dar bem com você, da mesma forma que você está tentando. — Tomlinson recosta sua cabeça no peitoral do mais velho, sentindo os lábios quentes pressionados em sua testa. Para Harry não é nada fácil tratar Mark bem, mas ele tenta dar seu melhor por conta de seu garoto e imaginava que o beta também poderia se esforçar, só que se enganou sobre isso.
— Lou, amor, você não pode fazer nada. Seu pai não se sente confortável em minha presença e acredito que isso nunca vai mudar. — E com aquelas palavras, Styles ganha um som arrastado e desanimado em compreensão.
— Seu pai realmente não gosta do Harry? — Austin pergunta, recebendo a atenção do jovem casal para si. — Desculpe-me, não queria me intrometer. — pede, ao notar o olhar tão quebrado do garoto. Percebe que Louis não se sente bem com aquela situação e em hipótese alguma quer entristecer o filho em seu próprio aniversário.
— Tudo bem, não tem problema. — Louis o tranquiliza. — E não, meu pai não gosta do Harry e não se esforça para tentar se dar bem com ele. Sabe… Fiz questão da presença dos meus pais nessa festa, por que gostaria que todos pudessem tentar criar laços, mas meu pai simplesmente não colabora. Não entendo por que de todo esse ódio por Harry, tudo bem que aconteceram coisas ruins antes, mas penso que como pai, deveria tentar ficar feliz por minha felicidade, mas nem isso ele pode fazer. — Louis lamenta, com seu olhar preso no nada. Harry tem os braços ao redor de seu corpo e faz suaves carícias em sua cintura.
— Infelizmente, nem tudo é como desejamos, mas também não posso entender por que seu pai não gosta de Harry. Em pouco tempo, pude notar que ele é um ótimo rapaz. — Troy o responde. — Vocês formam um belo casal.
— Obrigado. — Tomlinson deixa um sincero sorriso, mesmo que pequeno, surgir em seus lábios. — E é uma pena que ele não veja Harry com outros olhos… Queria tanto que meu pai fosse como você. — Uma de suas mãos vai em direção ao rosto do maior, acariciando seu maxilar com lentidão e carinho, ele fica nas pontas dos pés para poder deixar um beijo no queixo do namorado, não percebendo o brilho que toma conta dos olhos de Austin diante de sua última fala.
— Não fique assim, babe. Essa é sua festa e tem que aproveitá-la o máximo possível. — Harry pede, subindo sua mão pelo braço e chega até o ombro do mais novo, acariciando aquela região com as pontas de seus dedos. — Pense que temos muitas pessoas especiais aqui e você tem que ficar feliz por elas. Gabe, por exemplo, nosso garotinho está se divertindo abeça.
— Então o famoso Gabe está por aqui? Será que poderei conhecê-lo hoje? — Troy pergunta curiosamente. Já havia visto sua neta por algumas fotos, achava Lux uma garotinha linda, muito parecida com Charlotte, mas não tinha tido a oportunidade de conhecer Gabe e estava ansioso por isso. Sabe que seu filho irá adotar o menino em breve e quer poder criar laços com ele o mais rápido possível, gostaria de fazer parte da infância do neto. Isso, de certa forma, poderia tirar o peso das suas costas de não ter sido um pai presente para Louis, Lottie e Tristan (não por sua culpa).
— Está sim, da última vez que o vi estava no parquinho com Steven e Henry. Gabriel parece se divertir muito. — Harry comenta, olhando para os lados no intuito de encontrar o pequeno, mas essa é uma missão falha, pois não consegue achá-lo. Então torna a encarar seu namorado, sabendo que seu filho deve estar muito ocupado brincando. — Está vendo, amor? Não tem por que ficar entristecido, todos nós estamos felizes em estar aqui e você também deveria ficar.
— Harry tem razão, não deve ficar triste em um dia como este. — Jennifer prontamente concorda com o esposo e o dono de olhos verdes, em seguida estende sua mão até o menor. — Quer vir comigo procurar Logan e Fizzy? Adoraria que você me mostrasse sobre a festa e que pudéssemos conversar um pouco. Será bom distrair-se.
— Isso, vá com ela. — Harry indica a mulher com a cabeça. — Enquanto isso, apresentarei algumas pessoas para Austin. — Propõe, olhando nos olhos azuis como quem espera uma permissão. Louis concorda com a cabeça e o maior inclina-se para poder beijar seus lábios, em seguida o ômega estende a mão, pegando a da mulher e logo os dois afastam-se (não sem antes Jennifer se despedir do marido), sob o olhar atento dos dois alfas lupus.
Assim que ambos os ômegas se afastam, Harry faz um gesto com a cabeça, chamando o mais velho para acompanhá-lo. O cacheado enfia as mãos nos bolsos de sua calça conforme começam a caminhar em direção a um canto mais afastado, próximo a lateral do jardim. Eles podem ver de longe as pessoas da festa, Styles enxerga seu namorado conversando com Jennifer quando o pequeno e eufórico Gabriel se aproxima, contando alguma coisa para o mais velho e corando ao notar a presença desconhecida. O menino de olhos violetas parece envergonhado quando é apresentado para a mulher, mas logo deixa o sorriso habitar em seus lábios.
Em seguida, desvia o olhar para seu padrinho, notando-o pensativo, mas este percebe que está sendo observado e faz um som com a garganta, devolvendo o olhar para seu afilhado.
— Então, para onde estamos indo? — Austin finalmente quebra aquele silêncio que foi instalado entre eles.
— Para meu escritório, quero te mostrar duas coisas, por que necessito de sua opinião. E também acredito que você esteja precisando de um lugar tranquilo para pensar sobre o que vai fazer agora. — Harry explica, observando o semblante do mais velho. — Mark já sabe que você sobreviveu e dentro de pouco tempo todos os outros também saberão, inclusive Tristan e Lottie… Você ao menos já sabe o que falará para eles? — E recebe um aceno negativo. En seguida, Troy passa os dedos em seu rosto, mostrando-se preocupado.
— Imaginei esse momento durante anos, decorei todas as palavras que usaria e as possíveis reações de cada um deles, mas hoje, ao chegar aqui, eu posso lhe ser sincero ao dizer que não tenho a minima ideia do que farei. É como se tudo que esteve em minha mente fosse apagado. — Troy é sincero, molhando os lábios antes de continuar. — Talvez com Charlotte as coisas sejam mais fáceis, mas quanto ao Tristan, eu tenho minhas duvidas.
— Tenho certeza de que ele entenderá seu lado, só irá precisar de um tempo. — E Harry concorda com a cabeça. Sabe que Tristan é uma ótima pessoa, mas quando pisam na bola com ele é uma tarefa difícil de consertar. Charlotte, ao contrário do irmão, é um pouco mais tranquila, então para ela será mais fácil compreender e ouvir o pai.
— Espero que sim. Você sabe que nunca foi a minha intenção ficar tanto tempo longe, mas depois do acidente… Eu estava tão perdido e minha cabeça uma bagunça. Não sei o que seria de mim sem a Jennifer, ela salvou minha vida e me trouxe esperanças quando achei que era meu fim. — Austin fala de forma apaixonada sobre sua esposa.
— Jennifer é uma ótima pessoa, mas… — Harry hesita, notando seu padrinho fazer um gesto para que ele continue a dizer. — Uhm… E a Jay? Como fará em relação a ela? Você já a amou muito e agora estão próximos outra vez. Seja franco comigo, como sempre sou com você… Ainda sente alguma coisa por ela? Você é um alfa lupus e pode amar uma única vez. — Passa a língua por seu lábio inferior, notando que o mais velho está olhando para o céu estrelado, parando no caminho por alguns segundos. — Você ainda a ama? Ou ama Jennifer?
— Harry… Essa é uma questão complicada. — Troy começa a dizer, fechando os olhos e inspira o ar puro. — Johannah foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, eu acredito que o que senti por ela foi uma grande paixão, mas talvez não amor. Nós dois construímos uma família juntos e tivemos dois lindos filhos, mesmo com todas as pessoas dizendo que não iria dar certo por ela ser uma beta, mas isso nunca importou para mim. — Sorri ao lembrar-se dos velhos tempos. — Acredite ou não, enquanto estive com ela, eu nunca olhei para um ômega com segundas intenções, por que Johannah me bastava e eu estaria com ela até hoje se nada disso tivesse acontecido, mas as coisas não foram como planejado e eu conheci Jennifer. Foi por ela quem eu me apaixonei e essa paixão se tornou amor. — Explica, tornando a olhar para o de olhos verdes. — Provavelmente se eu ficasse mais um pouco ao lado de sua madrinha, essa paixão teria sido convertido em amor. Ainda sinto um carinho enorme por ela, mas agora tenho a minha família e minha esposa e não pretendo deixá-los.
— Acredito que Johannah também pensa o mesmo em relação a isso, já que ela está grávida de Mark. Deve amá-lo muito para ter coragem de se deitar com ele, um monstro. — O rancor é evidente na voz do de olhos verdes, vendo o mais velho acenar positivamente quando finalmente chegam na casa. Eles estão em silêncio quando atravessam a porta que dá acesso ao interior da residência, Harry vai caminhando na frente, indicando o caminho para o padrinho. Desde o ocorrido, não tinham feito muitas mudanças na mansão Styles, o escritório ainda estava no mesmo lugar, mas ele não tem certeza se Austin se recorda do trajeto.
E em questão de segundos, eles chegam até o cômodo desejado. Harry abre a porta para que o mais velho vá na frente, e entra logo em seguida. Austin busca um assento, indo até uma das poltronas próximas da mesa vernizada, observando atentamente cada movimento alheio.
— Quer beber alguma coisa? Um uísque ou vinho? — Styles oferece, com uma sobrancelha erguida.
— Não, obrigado. Estou dirigindo. — Troy recusa, mas mantêm o contato visual. — Então… O que você queria me mostrar? — deixa a curiosidade tomar conta.
— Só um instante. — Harry pede, indo até um lado afastado do escritório, onde tem um pequeno quadro pendurado na parede. Quando o objeto de arte é retirado, dá espaço a um cofre, no qual ele coloca a senha e abre logo em seguida, tirando de lá uma caixinha e um envelope. Após ter tudo em mãos, o mais jovem volta a caminhar em direção ao padrinho, sentando-se sobre a mesa, mas mantendo os pés firmes no chão. — Tenho dois presentes para Louis e ainda estou em dúvida sobre qual dar... O primeiro é uma passagem com direito a três acompanhantes para um resort em Dubai, ele ficaria por lá durante dez dias, acho que Louis merece isso. E o outro é uma viajem para Paris, mas apenas para nós dois. Não tenho certeza se ele iria preferir passar um tempo com os amigos, seria egoísta de minha parte dar um presente pensando em mim, querendo que ele fique comigo. — explica. — E você é o pai dele. Como mesmo disse, o conhece melhor que ninguém.
— Certo, entendo. — Troy acena positivamente. — As reservas não tem datas, certo?
— Não, não tem data. — Harry nega. — Quando ele quiser é apenas ligar e avisar, que tudo será preparado em, no mínimo, uma semana.
— Então dê ambos os presentes e deixe que ele decida qual gostaria de usar primeiro. — Austin lhe dá a solução, como se fosse algo simples. — Ele poderia passar um tempo com os amigos e com você, hum? Isso soa bom para você? — Pergunta, vendo Harry concordar com a cabeça e deixar o envelope sobre a mesa, mas continua com a caixinha em suas mãos, parecendo estar um pouco apreensivo. — E o que é isso? É mais um presente para Louis?
— Não. — Styles sacode a cabeça negativamente. — É um presente para nós dois, na verdade. Não sei se vou dar a ele hoje ou em outro momento, eu trabalhei nisso durante quase dois meses e ainda estou inseguro. — Ele ri nervosamente, notando o mais velho franzir o cenho diante da resposta que não é concreta.
— Posso ver? — Troy estende a mão, e Harry assente, entregando o objeto. Austin toma cuidado quando abre a pequena caixinha, ficando surpreso ao ver o conteúdo dela. Ele alterna seu olhar entre o objeto e seu afilhado, o sorriso está quase rasgando seus lábios. — É o que estou pensando que é? — Fixa seus olhos no mais jovem, esperando uma confirmação. — Esse é o anel que Louis desenhou uma vez? O que ele disse que seria seu anel de noivado?
Austin ainda está surpreso, parecendo não acreditar naquilo. Faz tanto tempo desde que aquilo foi feito. Lembra-se de quando o pequeno ficava horas deitado no tapete da sala, rodeado de lápis de cores enquanto fazia inúmeros desenhos, mas em uma noite especial, ele entregou aos pais um desenho diferente, era a imagem de um anel, que surpreendia muito pela riqueza de detalhes. Louis contou aos seus pais que gostaria que seu anel de noivado fosse exatamente daquela forma e quando viu, Harry prometeu que faria um exatamente assim para quando se tornassem noivos. O casal imaginou que aquilo não passava de uma brincadeira de criança, mas parece que Harry levou isso muito a sério.
— Não tenho dúvidas de que será um ótimo marido para meu filho, ele não poderia ter feito uma escolha melhor. — Austin diz, ainda nostálgico. — Hum… Eu posso ver o desenho? Você ainda tem?
— Claro, tenho. — Harry balança a cabeça positivamente, ele caminha novamente para o cofre aberto e pega um papel amarelado e dobrado, tendo alguns rasgos nas laterais. Styles novamente vai até o sogro e lhe entrega o desenho, parando ao seu lado enquanto o observa desdobrá-lo.
— Uau! — Troy entreabre os lábios quando observa os traços tortos em um colorido não muito perfeito, mas sabe que seu garotinho ficou horas caprichando naquele desenho, querendo deixá-lo o mais bonito possível. E no fim, estava orgulhoso de seu trabalho. — Realmente, eles estão muito parecidos, tem até as pedrinhas verdes e azuis que ele disse que queria. — Ri, como um verdadeiro pai babão, não deixando de reparar nos nomes escritos no canto do papel. “Louis e Harry” contornado por um coração colorido.
— Tentei ser fiel ao desenho, esperava que quando visse o anel, ele pudesse se lembrar de alguma coisa. — Harry confessa, demonstrando-se esperançoso quanto aquilo. — Mas não sei quando isso pode realmente acontecer, não sei se tenho coragem para propor… E antes de tudo, gostaria de ter sua permissão. — morde o lábio, parecendo agora receoso. — Queria saber se você permite que eu, em algum momento, peça Louis em casamento. Sei que posso estar sendo meio precipitado, por que estamos há pouco tempo juntos, mas não quero perder nenhum único segundo. Não tenho duvidas que o amo e quero passar o resto de minha vida com ele. — explica, vendo que Austin se levanta, fazendo um sinal negativo com a cabeça.
— Filho! Não precisa nem me pedir permissão, você sabe que sempre terá a minha autorização para que possa se casar e construir sua família com Louis. Ele gosta de você e sei que serão mais que felizes juntos. — Troy deixa a caixinha, agora fechada, e o desenho sobre a mesa, indo abraçar o afilhado logo em seguida. — Não há ninguém em que eu confie mais para cuidar do meu filho além de você. — Murmura baixo, sentindo os braços fortes do mais novo o apertando naquele contato, e então deixa um beijo na testa alheia. — O seu pai ficaria muito orgulhoso do homem que você se transformou. Nunca irei me cansar de lhe dizer isso.
Os dois permanecem por mais um tempo daquela forma, mas logo eles se afastam e é nesse momento que os olhos azuis de Troy encontram outros olhos azuis, olhos de uma pessoa que está parada na porta de entrada do cômodo, olhando-o de forma chocada. É como se acabasse de ver um fantasma, uma expressão semelhante a de Mark há minutos atrás. Harry, estranhando a tensão repentina dos músculos de seu padrinho, vira-se, procurando o motivo do mais velho estar daquela forma e não demora a encontrar. Ele perde o ar, mas sabia que aquilo iria acontecer cedo ou tarde.
— Tristan… — Austin chama seu filho mais velho, dando um passo para frente, mas vê o outro ainda inexpressivo. O loiro sente que seus batimentos cardíacos estão acelerados e suas mãos trêmulas, se pergunta quando irá despertar desse sonho, por que é essa é a única explicação. Seu rosto está mais pálido que o comum, logo fazendo um sinal negativo várias vezes consecutivas. É como se estivesse digerindo aquela cena, não conseguindo entender o por quê de tudo aquilo estar acontecendo. Não fazia o menor sentido, afinal, seu pai estava morto. Mas, de repente, ao perceber aquele olhar de seu cunhado, consegue compreender parcialmente as coisas.
Aquilo não é um sonho e tampouco uma miragem.
— Quando? — O loiro finalmente tem uma reação, entrando completamente no escritório, fechando a porta atrás de si logo depois. Sua voz é carregada de mágoa. — Quando pretendia me contar que estava vivo? — franze o cenho, sustentando seu olhar sobre a figura do pai.
— Filho… Vamos conversar. — Troy pede, afastando-se um pouco de Harry para que possa aproximar-se de Tristan.
— Conversar? Agora você quer conversar? Tudo bem! Vamos conversar! Comece falando sobre como você nunca me procurou depois de todo esse tempo ou quem sabe como me deixou sofrer todos os anos na data de seu acidente. — Evans despeja tudo aquilo sobre Austin, não se importando se suas palavras podem ou não magoá-lo. Está sendo instintivamente guiado pela raiva.
— Tristan, filho… Acredite, eu não podia te procurar. Era muito arriscado… Eu tinha medo do que Mark faria se soubesse que eu sobrevivi, eu também estava muito fragilizado. — O mais velho tenta reverter a situação. — Eu temia por você, pela Jay, por seus irmãos e por todos nossos amigos. Por favor, tente me entender. Eu te amo e se não te procurei, foi por que estava pensando em sua segurança. — E como esperado, ele recebe um aceno negativo, não aceitando aquela explicação.
— Mark nunca saberia que você me procurou, ele foi embora quando você morreu. Você podia sim ter me procurado, a mim e a Charlotte. — O tom de voz de Tristan se eleva. — Sabe o quão já sofremos por sua causa? — Acusa, ainda encarando o pai.
— Tris. — Harry finalmente se intromete no assunto, colocando-se de frente para o amigo de infância e olhando nos seus olhos. — Você tem que entender o lado de seu pai. Troy não fez isso por mal, ele só estava pensando em vocês. — E então ele percebe que Tristan não esboça nenhuma reação.
De repente, antes que qualquer um possa reagir, um soco é dado no rosto de Styles. Harry sente uma dor absurda, devido ao fato de Evans ter reunido todas suas forças para poder socá-lo, em claro sinal de sua raiva. O loiro olha enfurecido para o cacheado, vendo um filete de sangue no canto dos lábios do mais velho, mas este não esboça nenhuma reação e tampouco faz menção de revidar.
— E você? Você mentiu para mim, Harry! Você escondeu tudo isso de mim! Achei que éramos irmãos, mas o que esperar de você, não é mesmo? — Tristan ri secamente, carregado de sarcasmo. — Se mente tanto para Louis, não deveria ser problema mentir para mim também. — Ele tem o punho fechado, se mostrando na defensiva.
— Tristan, entendo que esteja com raiva e… — Styles é interrompido.
— Cala a boca! Não venha com desculpas. — Evans grita tão alto que pode se enxergar as veias em seu pescoço. — Não é por que não tem seu pai, que não tenho direito de ter o meu!
E diante daquelas palavras, Harry se cala. Inicialmente, parece não acreditar no que foi dito pelo seu amigo de infância e ao mesmo tempo tenta não demonstrar como aquilo o atingiu. Realmente entende que essa não é uma situação fácil, por que Tristan acaba de descobrir que seu pai qual achava estar morto - e por quem chorou a morte por tantos anos - agora encontra-se vivo. E pior, que o homem nunca havia o procurado, mesmo que - aparentemente - soubesse onde ele estava e ao invés disso procurou o afilhado. No entanto, acredita que o loiro poderia ter sido menos duro, não usando palavras tão fortes.
— Tristan! Você já passou dos limites. — Austin o repreende, seu tom firme de voz faz com que o filho encolha os ombros, parecendo se dar conta do que disse e consequentemente arrepender-se. — Olha, eu entendo que esteja nervoso com tudo isso. Eu deveria ter lhe procurado, mas não o fiz. Errei muito e me arrependo. Só que a culpa é exclusivamente minha e não pode agir com Harry dessa forma. Se ele não lhe contou nada, foi por que eu pedi que não contasse… Ele estava apenas tentando ajudar e esteve ao seu lado durante momentos ruins, tal como você esteve ao lado dele. — Aos poucos, vai tornando-se manso. — Não importa o que um exame de DNA possa dizer, mas vocês dois são irmãos e não deve tratá-lo dessa forma.
Envergonhado. É dessa forma que Evans encontra-se após as palavras do pai, mas tudo parece ficar pior quando vê os olhos verdes, agora avermelhados. Harry respira fundo, passando a palma aberta em seu rosto.
— Harry, eu… — Tristan começa a dizer, no intuito de retratar-se, mas a única coisa que recebe é um aceno negativo e o cacheado está caminhando para fora daquele cômodo em pouco tempo. O alfa lupus loiro faz menção de segui-lo, mas sente a mão de seu pai contornando seu braço, o impedindo de ir adiante.
— Deixe-o ir, Tris. Harry sabe que você não falou nada disso por mal, ele sabe que estava com a cabeça quente. — E com essas palavras, o mais novo engole o seco, concordando com a cabeça. — Além do quê, nós dois precisamos conversar. Tenho que explicar para você sobre tudo que aconteceu. — Pede e percebe o seu filho ficando estático por algum tempo, mas logo suspira, erguendo o olhar e o encara .
— Tudo bem, pai. Então vamos conversar e por favor, me explique tudo que aconteceu. — O loiro se dá por vencido.
[•••]
Louis sorri, observando atentamente enquanto Gabriel afasta-se, sendo acompanhado por Félicité. Os dois riam e conversavam de forma animada, enquanto caminhavam em direção a área infantil daquela festa, ambos carregando copinhos cheios de doces. Por mais que inicialmente o de olhos violetas tenha ficado tímido e acanhado, ele acabou cativando e sendo cativado pelos três desconhecidos que acompanhavam seu futuro papai - tinha vindo no intuito de pegar algumas guloseimas para seu loirinho -. Dentro de poucos segundos, mostrou-se um verdadeiro tagarela, contando para a mulher mais velha sobre seu amigo-namorado e sobre como estava adorando aquela festa. E por fim, após quase quinze minutos de conversa, lembrou-se que deveria ir e convidou a garotinha de cabelos castanhos para acompanhá-lo, dizendo que adoraria ter sua tê-la junto a si para que pudessem brincar.
— Gabe é adorável! Você e Harry são muito sortudos por tê-lo. — Jennifer sorri largamente, ainda olhando o garotinho e sua filha, que comem alguns doces que levam enquanto gesticulam com as mãos que estão livres.
— Ele é muito precioso. — Louis concorda com a cabeça, cruzando os braços na altura de seu peito. —E sim, nós também seremos pais muito sortudos. Gabe merece tudo de bom e estamos felizes por poder adotá-lo... Sabe que por muito tempo imaginei como seria estar grávido, como seria amar alguém que eu nunca vi antes com tanta intensidade, mas eu estou experimentando a paternidade de uma outra forma. Eu o conheço e eu já o amo muito, fico ansioso para que ele possa ter meu nome em sua certidão de nascimento e que possa viver comigo, só então vou poder dormir tranquilo, sabendo que meu filho está seguro e em nossa casa. — Suspira apaixonadamente, acompanhando o olhar da mulher.
— Acredite, não há nada que se compare com a sensação de sentir aquele pequeno ser chutando sua barriga e se mexendo dentro de você. Mas ser mãe ou pai, é muito mais que isso, vai além dos nove meses e tenho certeza de que você será um ótimo pai para o Gabe, assim como Harry. — A ômega sorri, levando sua mão até a de Louis, apertando-a suavemente. E o mais novo concorda com a cabeça, olhando para a mulher.
— Só quero que ele saiba que nós o amamos e que independente do que aconteça, sempre vamos amá-lo. — Tomlinson já pode imaginar-se vivendo maravilhosos momentos em família, dando muito amor e carinho para seu garotinho. — Gabe já sofreu tanto em tão pouco tempo...
— O que quer dizer com isso? — Jennifer pergunta, estando confusa e curiosa. Logan acompanha o olhar da mãe e espera uma resposta de seu irmão.
— Oh, bem... É que ele foi abandonado muitas vezes por famílias. A primeira foi sua biológica, nós conversamos com a irmã do orfanato nessa semana e ela contou a história dele, que é triste e tem uma incrível coincidência. — Louis gesticula com as mãos, lembrando-se nitidamente de quando soube aquilo e como ficou surpreso. — Segundo ela, Gabe é filho de uma mulher de família rica e conservadora, e apesar de ter um noivo, ela acabou se relacionando e engravidando de um dos funcionários da casa. Quando os pais dela descobriram, ficaram irritados e expulsaram o empregado, que também não tinha nenhum interesse pela criança… Com medo do que as pessoas falariam, sua mãe a incentivou fazer aborto e ela tentou duas vezes, mas não conseguiu. — conta aquela parte com pesar, vendo Jennifer olhá-lo horrorizada.
— Isso é desumano. A criança não tem culpa. —Ela instintivamente passa um dos braços em torno do corpo de Logan, ainda estando chocada com aquela informação.
— Também não sou favorável à isso. — Louis está entristecido, sentindo algo ruim ao imaginar que se a mãe biológica do garoto tivesse conseguido, Gabe não estaria ali. — Enfim, quando ele nasceu, a mãe deixou-o em uma caixa de papelão na rua e um empresário o encontrou, por incrível que pareça, esse alguém foi Harry... Ele quem levou Gabe para um orfanato e quando a irmã nos contou sobre o homem que trouxe o recém-nascido, Harry lembrou-se do que aconteceu há alguns anos atrás. — agora ele sorri bobamente, esquecendo-se da parte ruim da história e focando-se no melhor, quando seu namorado salvou Gabriel, quando ele ainda era um bebê. — Acho que as vidas deles estavam ligadas... Dizem que o que é para ser seu, sempre acaba voltando e, aparentemente, Gabe realmente era para ser seu filho.
— Não tenho dúvidas. — Jennifer sorri, beijando a testa de Logan. Toda aquela história tocou-a de forma intensa. — Gabe e Harry tem uma linda história juntos. O que o destino traça, as circunstâncias não podem impedir que seja cumprido.
— Até agora me espanto e me arrepio ao lembrar do que a irmã disse. Mas isso só reforça a certeza que tenho de que logo ele estará conosco e poderei chamá-lo de filho. — Tomlinson termina de tomar o seu drink e deixa a taça sobre a mesa mais próxima, sabendo que logo um dos garçons irá recolhê-lo.
— E esse dia está muito próximo. Vocês já entraram com o processo de adoção? — A mulher franze o cenho e recebe um aceno negativo.
— Ainda não. Nós estamos conversando com o nosso advogado sobre tudo isso e acredito que em breve iremos conseguir. — Louis fala esperançosamente, sabe que não é algo fácil, mas Harry contratou o melhor advogado para que pudessem ter a guarda definitiva. — Ele já está ansioso para ter irmãozinhos, nesses dias estava perguntando quanto tempo iria demorar para que eu finalmente engravidasse. — faz que não com a cabeça, rindo baixo por recordar-se daquele dia.
— E você não está? — Jennifer pergunta, parecendo confusa. Olha-o com atenção, fixando seu olhar por algum tempo na barriga do mais novo, erguendo uma sobrancelha. E é nesse momento que a risada de Louis torna-se um pouco mais alta, quase que contagiante.
— Não, ainda não. — E diante dessa negação, Jennifer ri fraco, concordando com a cabeça, mais ainda o olhando de forma diferente. — Mas ficaria feliz de poder dar um filho a Harry. É algo que nós dois queremos.— Louis morde o lábio, suspirando por aquilo em seguida. — Harry uma vez me disse que seu sonho é ter uma família grande e eu acho que acabei me acostumando com essa ideia... Vendo ele com tantos irmãos me faz querer isso para Gabe. Sei como foi solitário para mim viver sozinho, sendo filho único... Então. — dá os ombros — Porém, ele não pode saber disso, caso contrário vai me convencer que o melhor é termos um time de futebol.
— Com certeza ele não acharia essa ideia ruim.— A ômega responde, sendo contagiada pela risada do enteado. Por mais que a mulher tenha afirmado, como se realmente conhecesse Harry, Louis não se preocupa em perguntar sobre como ela sabe daquilo, muito pelo contrário, ele apenas acena com a cabeça. Mas no instante seguinte, ele vê que Charlotte aproxima-se, a loira está sorridente, parece feliz com a festa e há uma marca de batom vermelho em uma região próxima ao seu pescoço, sendo evidentemente de sua esposa.
A ômega para ao lado do castanho, segurando seu braço sem muita força, acariciando os dedos no bíceps alheio. Ela inicialmente não nota as outras duas presenças, tampouco o olhar que o ômega mais novo lhe dá, pois sua atenção é direcionada completamente para seu irmão gêmeo.
— Lou! — Charlotte exclama, deixando um beijo demorado na bochecha de Tomlinson. É evidente que ela está um pouco mais animada, provavelmente por conta da bebida. — Eu estava mesmo atrás de você, a Anne queria te achar para podermos verificar o bolo. Luke fez exatamente como pediu, mas queria sua aprovação final antes dos parabéns, ele ficou até agora fazendo os últimos detalhes.
— Se tratando do Luke, o bolo deve estar delicioso. Ele é um ótimo cozinheiro. — Louis acena com a cabeça, salivando por imaginar o quão bom deve estar. Pode parecer estranho, mas havia sonhado com aquele bolo e o desejo de poder experimentá-lo era forte. — Mas, antes de irmos, gostaria que conhecesse a Jennifer e seu filho Logan. Eles dois são meus amigos e convidados especiais. — Indica com os dois presentes, sentindo as mãos da loira soltando seu braço para que possa cumprimentá-los. Ela estende sua mão para a mulher, que sorri grandemente quando retribui aquele gesto.
— É um prazer conhecê-los. Sou Charlotte, esposa da irmã do Harry. — Charlotte apresenta-se docemente, desviando o olhar para o dito Logan logo em seguida. Esse ômega em questão está sorrindo como se presenciasse a coisa mais importante de sua vida, sempre com um olhar admirado. A loira retribui o sorriso, achando o menino realmente adorável.
— O prazer é todo nosso... E feliz aniversário, Harry nos disse que você também está aniversariando hoje. — Jennifer parabeniza. Ela está surpresa por encontrar tantos traços de seu marido na naquela garota, é inegável qualquer parentesco entre os dois.
— Obrigada! Esse aniversário está sendo muito especial para mim e com certeza a minha noite será maravilhosa. — Charlotte diz, passando um dos braços em torno dos ombros de Louis, beijando novamente seu rosto, sempre estando carinhosa. — É maravilhoso dividir esse momento com o Lou.
— E eu posso dizer o mesmo. É como se nos conhecêssemos há anos, nós dois temos uma ligação muito forte. — Tomlinson conta, recebendo um aceno de concordância da ômega ao seu lado. Em seguida, seu olhar volta-se para Charlotte, encarando-a. — Então, o que você estava mesmo dizendo?
— É que alguns dos pequenos já parecem cansados, Anne deu a ideia de batermos logo o parabéns, servir o bolo para as crianças e as que acabarem adormecendo, colocamos para dormir. — A loira explica. Louis tinha dado a ideia de separarem um espaço com vários colchões, para caso os pequenos fiquem com sono. Os pais não precisariam ir embora, apenas deixariam seus filhos dormindo e terminariam de aproveitar a festa. — Então… É hora de irmos. Vocês também, vamos apresentá-los ao resto da família. Se são amigos de Louis, são muito bem-vindos aqui.
Charlotte faz um gesto, indicando por onde eles deveriam ir. Ela ainda tem seu braço em torno dos ombros do irmão e o braço dele circula sua cintura, ambos sorriem largamente, mas o sorriso da loira diminui gradativamente quando escuta uma voz familiar chamando pelo nome de Louis, fazendo-a paralisar completamente.
É um estado de choque onde não consegue mover um único músculo e de repente o medo toma conta de todo seu corpo, não tendo a menor coragem de olhar para trás e encarar a dona daquela voz. Um misto de sensações tomam conta dela, sentindo seu corpo ficando trêmulo e sua garganta seca, seu peito se aperta e é como se o frio tomasse conta de todo seu interior.
— Mamãe! — Louis solta-se da loira rapidamente, indo em direção a sua mãe, que está parada com a mão em sua barriga enquanto encara a garota pelas costas. Johannah está cheia de expectativas, relutando para desviar seu olhar até seu filho, mas enquanto sorri, acaba acatando o chamado do ômega.
— Oi, filho. — A beta molha seus lábios suavemente, sentindo uma felicidade incomum apoderar-se de seu corpo, por que seu sonho está realizando-se. Depois de quatorze anos, o seu sonho de ver novamente seus gêmeos juntos, lado a lado, bem em sua frente. Lembra-se de quando eles ainda eram muito pequenos, dois bebês adoráveis que não passavam um único segundo separados, só conseguiam dormir de mãos dadas, sentindo o calor um do outro. — Eu estava lhe procurando, seu pai não está se sentindo muito bem e gostaria de ir para casa, mas queria falar com você antes, avisar que nós estamos indo. — Explica, novamente olhando para sua filha.
— Oh sim, mas agora? Nós vamos bater os parabéns… Esperem só esse momento, por favor. — O Tomlinson mais novo pede, fazendo sua melhor carinha de filhote que caiu da mudança, sabendo que isso iria comover sua mãe. Sempre que queria alguma coisa, usava desse artificio. — Onde está o papai? Vou chamá-lo para irmos apagar as velas.
— Mark foi ao banheiro e aproveitei para vir lhe procurar, mas minha intenção não era atrasá-los ainda mais. — Johannah respira fundo, notando que a loira engole o seco e gira os calcanhares, finalmente olhando-a nos olhos. Por alguns segundos, a beta perde todo seu ar, conseguindo ver como sua filha cresceu e em como ela se tornou uma linda mulher. Sua vontade é somente abraçá-la e dizer sobre como sentiu sua falta, sobre como a ama e como gostaria que tudo fosse como era antes do acidente. Porém, o olhar de Charlotte faz com que ela perceba que não será tão fácil.
— Oh! Essa é a Charlotte, mamãe. Foi dela que eu falei. — Louis segura a mão da mulher e a puxa para perto, fazendo-a ficar frente a frente com a loira. Jennifer, que até então os olha, pode observar que Johannah realmente está feliz por ver sua filha, que ela é uma mãe que ama os filhos e também nota um grande arrependimento em sua maneira de olhar.
— Então você é a famosa Charlotte? Louis me falou muito sobre você. — A beta estende sua mão, esperando que a garota pegue-a, mas isso não acontece por que ela permanece estática. — Você é uma moça muito bonita.
Por mais que deseje pronunciar qualquer palavra, sua garganta parece fechada. Sua respiração descompassada e ela percebe que não estava preparada para esse momento. Durante toda a noite anterior vem tentado se preparar emocionalmente por aquele encontro, já sonhou muitas vezes sobre como ele seria, ensaiou tudo que diria e agora a reação não chega. Charlotte se dá conta que nunca esteve pronta para encontrar sua mãe, tudo que achou não passou de uma grande ilusão. Johannah, sua mãe, a mulher que a abandonou há quatorze anos atrás está diante de si e nenhum sentimento bom se desperta em seu interior.
— O-obrigada. — Após algum tempo, ela consegue agradecer, gaguejando fortemente. Louis estranha aquilo, não entendendo o motivo daquela reação de sua amiga. — U-uhm… E-eu preciso ir. Estou t-te esperando lá, tudo bem, Lou? — Finalmente encara o irmão, recebendo um aceno positivo com a cabeça.
— Tudo bem. — Louis a responde e em seguida a loira se retira, o ômega a acompanha com o olhar, tendo as sobrancelhas erguidas e uma grande interrogação em sua cabeça. Por que Charlotte agiu dessa forma? Não conseguia encontrar um sentido, talvez ela pudesse não gostar de Mark, já que ele roubou a empresa da família dela e de sua esposa, mas não encontrava um motivo para que ela tenha sido dessa forma com Johannah. Sua mãe sempre foi alguém carismática que conseguia cativar as pessoas ao seu redor, mas algo deu errado dessa vez, aparentemente. Faz um lembrete mental de mais tarde poder questioná-la sobre esse ocorrido. — Então, vamos? Você vai ficar para os parabéns? — Volta-se para a mulher, sorrindo e esperando uma resposta positiva. A beta demora para despertar do seu transe, tendo um grande pesar no peito devido a reação de sua menina.
— Não sei… Seu pai está querendo ir embora. — Johannah responde incerta, não sabendo se é uma boa opção continuar ali. Tem medo do que pode vir a acontecer naquele dia, já que toda a verdade parece próxima, além do que, tem medo do que Troy Austin pode tentar fazer. Seu marido ficou completamente desconfortável com tal situação e deve haver um motivo para isso, não quer descobrir tão cedo, sua gravidez é de risco e não pode passar por fortes emoções.
— Ele está no banheiro, certo? Fazemos assim, Jennifer e Logan podem lhe acompanhar até o local onde iremos bater os parabéns, que é logo ali. — Indica o centro da festa, onde tem uma enorme mesa com vários bolos pequenos e um espaço vago no meio para o maior. — E vou procurar o papai e conversar com ele, tenho certeza que ele vai me ouvir.
— Tem certeza que quer isso, filho? Algo me diz que não é uma boa ideia. — A beta leva sua mão até o rosto do mais novo, acariciando sua bochecha com o polegar. Louis ri e acena, colocando sua mão sobre a de sua mãe, puxando-a com cuidado e deixando um beijo em sua palma aberta.
— Claro que sim. — Louis insiste. — Vocês podem cuidar dela um pouco? Volto em poucos minutos, só vou achar meu pai e se eu der sorte acho Austin e Harry também. — Pede, recebendo um aceno positivo de Jennifer. A ômega jamais poderia negar um pedido daquele, por mais que não tenha uma opinião favorável sobre a ex-mulher de seu marido, jamais recusaria um pedido de alguém tão doce como Louis, ainda mais quando há uma mulher grávida em questão (ela trabalha na área da obstetrícia e gosta de cuidar e ajudar gestantes). — Está vendo? Não se preocupe, não vou demorar. — E então deixa um beijo na testa de sua mãe, sorrindo em seguida, logo afastando-se para que possa caminhar em direção ao banheiro, sem fazer a minima ideia do que realmente o espera.
Tomlinson toma seu caminho, indo em direção a casa, onde fica os banheiros. Durante o caminho que faz, olha para os lados, no intuito de tentar achar Austin ou Harry, mas não obtém sucesso nessa busca em questão. Suspira pesadamente, enfiando as mãos nos bolsos de sua calça, desviando seu olhar para o chão, ele acaba respirando fundo, sentindo a brisa tocar seu rosto e desalinhar alguns fios de seu topete, mas não se dá ao trabalho de consertar aquilo. Quando finalmente ergue o olhar, percebe Tristan saindo de dentro da casa, parecendo nervoso e pisando forte. Louis decide apressar os seus passos, no intuito de alcançá-lo para poder perguntar sobre Mark ou quem sabe Harry e Austin, mas mesmo com seus chamados, é ignorado pelo mais velho, que parece não ouvi-lo.
No entanto, como se um imã o atraísse, seu olhar volta-se para o lado interno da mansão. Através do vidro, pode ver a silhueta de Mark, que parece nervoso enquanto gesticula alguma coisa com alguém. Louis franze o cenho, não entendendo o por que de seu pai estar assim, mas de repente, é como se sua ficha caísse. Harry poderia estar ali com Mark? O ômega não quer imaginar o que pode estar acontecendo agora lá dentro, sabe como seu namorado pode ter um temperamento explosivo, não quer que ninguém saia machucado, tampouco seu pai, que com certeza não teria força para defender-se e sabe que seria o único a quem Style iria ouvir.
Decidido a intervir, Tomlinson apressa seus passos, quase tropeçando em seus próprios pés. Seus batimentos estão mais acelerados devido a adrenalina que percorre seu corpo, já imaginando o pior que pode ter acontecido lá dentro. Ele não entende o por quê de Tristan ter ido embora e deixado Harry sozinho com Mark, ele é um alfa lupus e poderia tentar conter o cacheado, evitando uma grande briga naquele dia em questão, que foi planejado com tanto carinho por Anne. Entretanto, quando finalmente chega à porta de vidro qual liga a área externa até a cozinha, fica estático ao ver que o homem com quem seu pai discute não é seu namorado… É Austin.
Imediatamente Louis franze o cenho, não conseguindo compreender o que está acontecendo. Há minutos atrás, os dois estavam se dando muito bem, eles estavam agindo como amigos e tinham marcado um jantar juntos, não fazia sentido que eles dois estivessem se desentendendo tão pouco tempo depois. O ômega molha os lábios, fazendo menção de se aproximar e intervir, mas as palavras de seu pai deixa-o paralisado.
— Eu já disse que não pode se aproximar dele, Troy! Louis não é mais seu filho! Ele é meu!
[...]
Tristan ainda está sem reação diante de tudo aquilo que ouviu quando estava no escritório, sua razão compreende todos os motivos que seu pai teve para que ficasse tanto tempo longe, mas ainda sim há uma parte que carrega um pouco de mágoa por não ter sido procurado, sabe que poderia ter ajudado tanto quanto Harry ajudou. Enquanto caminha pela cozinha, em direção a saída, ainda encara seu filho em expectativa, esperando alguma resposta que não seja completamente negativa, vendo o mesmo parar do nada, fazendo que sim com a cabeça.
— Eu entendo… Realmente entendo. — O loiro acena com a cabeça, passando as pontas dos dedos em seu queixo. — Só preciso de um tempo, por favor. Não jogue tudo isso em mim e espere que eu tenha uma reação cem por cento maravilhosa… Só preciso pensar e colocar minha cabeça em ordem. Tenho que preparar Charlotte, para que ela possa entender o que aconteceu. — Explica, recebendo um aceno positivo de seu pai.
— Tudo bem, filho. Tenha o tempo que for preciso… Quando quiser me encontrar, procure Harry, ele tem meu endereço e meu número. Vou ficar feliz de recebê-lo em minha casa e tenho certeza que vai adorar conhecer seus outros irmãos, são jovens maravilhosos. — Troy sorri grandemente, cheio de expectativas sobre um possível futuro encontro. Evans olha para os lados, não sabendo mais o que dizer e cruza os braços na altura do peito.
— Ok, mas agora tenho que ir. Preciso espairecer, mas vou te procurar… Pai. — Tristan garante ao mais velho, em seguida ouve um som de risada, seguida por palmas. É automático, os dois alfas olham para trás, encontrando nada mais e nada menos que Mark Tomlinson, que os olha com grande deboche.
— Uma linda cena entre pai e filho. — Mark sorri cinicamente, sendo completamente diferente do homem assustado no início da noite. Tristan imediatamente fecha os punhos, fazendo menção de avançar no beta, mas é impedido por seu pai, que se coloca em sua frente.
— Não, Tris. Você não vai se meter em confusão. Deixe que eu resolvo isso. — Austin ordena, olhando o mais jovem de perfil. — Vá, Tristan. Agora! — Após aquela ordem, o loiro dá um último olhar para o homem que um dia chamou de tio e estragou sua família, seguindo para fora daquele cômodo, deixando os dois irmãos, pela segunda vez naquela noite, a sós. — O que quer agora, Mark? Criou coragem para me enfrentar?
— Não exatamente, apenas tive tempo o suficiente para digerir tudo isso. — Tomlinson o responde, dando um passo a frente. — Ainda me pergunto como conseguiu escapar do maldito acidente… Eu o planejei perfeitamente e você escapou.
— Para seu azar, não é mesmo? — Troy pergunta, mesmo estando enojado com a tamanha falta de caráter do beta. — Não entendo como você se tornou isso… Todo dia, antes de dormir, me pergunto onde errei com você, Mark. Eu te dei tudo: estudos, oportunidades, dinheiro e amor. Fui um irmão e um pai, mas mesmo assim você não pensou duas vezes antes de tentar me matar.
— Ah, Troy, não me venha com lamúrias. — Mark gira seus olhos, achando tudo aquilo ridículo. — Você está vivo, não é mesmo? Ao que parece, eu não consegui o que queria. — Ele parece lamentar por aquilo, mas suspira, passando os dedos nos seus fios de cabelo. — Só que não é sobre isso que quero falar. Na verdade, vim até você para pedir que fique longe de meu filho. Não quero que se aproxime novamente de Louis.
E então Austin ri, não acreditando que acaba de ouvir aquilo. — Está falando sério? Está pedindo para que eu me afaste de meu filho?
— Seu filho? — Tomlinson ri, fazendo que não com a cabeça. — Como você já me disse uma vez… Pai não é aquele que faz, mas sim aquele que cria. E quem criou Louis fui eu, não você. — Gesticula, apontando para si mesmo de forma exagerada.
— Por que você não deixou, seu maldito. Você os tirou de mim. Você tirou meu filho e minha mulher de mim, seu monstro. — O tom de voz do alfa lupus aumenta, quando ele aponta o dedo em direção ao mais novo. Seu rosto fica avermelhado e algumas veias são visíveis em seu pescoço e testa. — Louis é o meu filho. Ele é um garoto incrível e não irei abrir mão de ter uma boa relação com ele, Mark. Ele merece saber de toda a verdade!
— Ora! Cale sua boca! — Mark acaba se exaltando. — Eu já disse que não pode se aproximar dele, Troy! Louis não é mais seu filho! Ele é meu!
— Não, Mark. Ele nunca foi seu. Já falei e torno a repetir, eu sou o pai do Louis, é meu sangue que corre em suas veias. — Austin aponta para si mesmo, ouvindo o som de algo caindo, o fazendo olhar para porta, encontrando os olhos azuis do seu garotinho.
Louis parece não acreditar naquilo que acaba de ouvir, por um segundo deseja que seja um pesadelo, por que Austin não pode ser o homem que o abandonou há anos atrás. Austin não omitiria dele uma coisa tão séria e importante, ele jamais o perdoaria se tivesse feito. O ômega desvia o olhar para seu pai, percebendo que ele também está surpreso com sua presença, mas em seguida sorri de lado, de forma confortante. Voltando a olhar o alfa lupus, Louis espera que ele negue tudo aquilo, mas apenas a culpa presente em sua expressão é o suficiente para que ele entenda que é tudo verdade.
De repente, as coisas fazem sentido. Nenhum daqueles encontros foi um acaso, tudo foi planejado por aquele homem.
Quando ainda era pequeno, Louis sempre imaginou como seria seu encontro com o pai, como seria caso ele voltasse para casa. Nunca guardou mágoas, sempre pensou que o aceitaria de braços abertos caso ele resolvesse retomar todo aquele tempo perdido e agora isso está acontecendo, mas o sentimento presente nele naquele momento é diferente do que achou que seria.
Ele sente raiva.
Não pelo abandono, mas sim por conta da mentira.
Troy o enganou. Ele mentiu e omitiu coisas. Isso é algo inaceitável. Louis não pode evitar toda raiva que o consome lentamente, logo as lágrimas começam a molhar suas bochechas sem aviso prévio. Suas bochechas estão quentes e os olhos ardem. Austin, por sua vez, sente-se ainda pior. É a segunda vez naquela noite que um de seus filhos tem uma reação negativa sobre ele.
Primeiro Tristan, e agora Louis.
Troy não pode perdê-los. Não agora que finalmente os encontrou.
— Louis, eu posso te explicar. — Austin está rezando para que o ômega possa ouvi-lo, tal como Tristan fez. — Eu posso te explicar tudo, meu filho.
— Não me chame disso. — Louis murmura, entredentes. Ele leva uma de suas mãos até seu rosto, no intuito de enxugar as lágrimas que molharam suas bochechas e acaba fungando baixo. — Você mentiu… Você me enganou. — A vermelhidão das escleras de seus olhos ficam visíveis para o mais velho, que sente seu coração partir em pedaços. — Por quê?
— Me desculpa… Eu deveria ter lhe dito. Não deveria ter mentido para você. — A essa altura, Troy sente seus olhos ardendo, anunciando o choro. Mark, que apenas os observa, sorri de forma vitoriosa, ficando feliz por ver a forma que seu filho trata aquele homem. — Mas eu posso te explicar, eu posso te contar toda a verdade.
— E você acha que vou acreditar? Você mentiu e omitiu para mim, acha mesmo que vou acreditar que o que diz de agora em diante é a verdade? Não sou idiota, Austin. — O Tomlinson mais novo grita em plenos pulmões a última parte, agora deixando que o choro venha compulsivamente. — Eu quero que você suma! Quero que suma de minha vida!
— Lou, eu…
— N-não quero s-saber de suas des-desculpas. Não quero ouvir sua v-voz. — Gagueja, por conta do choro. — Eu te odeio! Vá em-embora da minha casa, por favor. Somente vá.
Troy pensa em argumentar, mas acaba desistindo. Com Tristan foi mais fácil de conversar, mas Louis parece mais abalado que o irmão e diante do filho em prantos, não consegue ter uma reação a altura. Sabe que assim como seu primogênito, Louis precisa por sua cabeça em ordem.Tem convicção que seu filho é justo e que em algum momento irá ouvir seu lado da história. Porém, por hora, ele acaba suspirando, fazendo que sim com a cabeça e recolhendo sua gravata que está sobre a bancada, guardando-a em seu bolso da calça.
— Quando quiser conversar, você tem meu número. — Austin diz baixo, olhando uma última vez para o filho, esperando alguma reação, mas este encara o chão. Troy suspira muxoxo e caminha para fora da casa, notando o olhar debochado de seu irmão.
— Você quer dormir lá em casa hoje, filho? Acho que nós precisamos conversar um pouco, não é mesmo? — Pode se ouvir a voz de Mark. Louis ergue o olhar para porta, como em um gesto natural, e nota que Troy já não está naquele cômodo, ele pode vê-lo através do vidro, caminhando em direção a festa cabisbaixo. Seu peito se aperta e algo dentro dele pede para que vá atrás de seu pai biológico, mas os seus pés estão presos ao chão.
E nesse momento, vê que seu namorado está entrando na cozinha, com o olhar preocupado e seus instintos buscam por seu ômega. Ele parece completamente confuso e ao ver que lágrimas molham as bochechas rosadas, não hesita em ir até o menor, rodeando seus braços em torno do corpo trêmulo, beijando sua cabeça várias vezes consecutivas, no intuito de acalmá-lo.
— Louis… — Mark tenta chamar mais uma vez, fuzilando o alfa lupus com o olhar. Harry no momento não se importa com isso, só pensa em consolar o namorado que soluça baixo por conta do choro que tenta conter.
— Q-quero o H-Harry. Q-quero ficar com ele. — O ômega tenta fazer com que sua voz saia alta o suficiente para que o seu pai possa ouvir. Styles deixa um último beijo na testa do menor antes de trazê-lo para seu colo, passando um braço em torno de suas coxas e outro por suas costas, pegando-o no estilo noiva. Louis agarra-se com força no pescoço do maior, enterrando seu rosto na curva de seu pescoço. — Me tire daqui, por favor. E-eu preci-
— Shi… — O cacheado faz aquele som ao pé de seu ouvido. — Vou te levar para nosso quarto e lá poderemos conversar em paz, tudo bem?
Louis assente com a cabeça lentamente, sentindo sua cabeça doer fortemente. Ele acaba de descobrir que seu pai biológico está vivo e mentiu para ele, não pode perdoar uma coisa dessas. Por um momento, sente que não pode confiar mais em ninguém, somente em seu namorado.
Por que ele sabe que Harry o ama e jamais o enganaria.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.