Quando Marinette fez treze anos e descobriu que estar mais velha, não diminuía sua falta de responsabilidade e nem a tornava menos dependente de seus pais, percebeu que fazer dezoito anos era sua nova meta de vida.
Não precisar de autorização dos pais para tudo. Poder dirigir e não depender de ninguém para leva-la a casa de suas amigas, festas ou qualquer outro compromisso que não envolvesse estudo. Ganhar seu próprio dinheiro, poder comprar as roupas que quiser, mais especificamente do tamanho que quisesse e principalmente, nunca mais por os pés na instituição chamada ESCOLA.
Marinette sempre deu um jeito de tirar notas boas.
Estudava, fazia todos os trabalhos e atividades estra curriculares, era uma aluna participativa dentro da sala de aula, comportada, educada e todos os outros adjetivos que fazem o papai e a mamãe encherem o peito de orgulho e tagarelarem na ceia de natal o quanto sua filha era, estudiosa, esforçada e inteligente.
Porem, mesmo sendo tudo isso, não significava que ela gostasse da escola em si.
A mestiça sempre odiou rotina, principalmente aquela na qual ela precisaria acordar cedo.
Levantar, tomar banho, escovar os dentes, se trocar, tomar café, escovar os dentes de novo, ir para a escola, voltar, almoçar, trabalhar na padaria, estudar e dormir.
Essa rotina era exaustiva.
Fazer todo dia sempre a mesma coisa, do mesmo jeito, a deixava com vontade de arrancar o próprio cabelo. Mas é ai que Felix entra na história e transforma a vida da garota.
Ao contrario dela, Félix dava um jeito de ser um dos piores alunos da sala mesmo sendo muito, muito, inteligente.
Sendo o capitão do time de futebol americano da escola, o que não lhe dava só a obrigação de cuidar do time, mas também de sempre manter suas notas em um padrão elevado para continuar a jogar, se não seria expulso da equipe que tanto se esforçou para entrar, montar e planejar.
"Sinto muito Agreste, mas com essas notas, pode ir esquecendo o campeonato no fim do ano."
Sendo assim, ele precisava dar um jeito de tirar notas boas em física, o que era quase impossível, já que essa matéria era sua pior inimiga e tinha nascido somente para o atormentar, perseguir e torturar.
Seu pai, o ocupado Gabriel Agreste, foi até a escola para uma conversa com a orientadora do colégio, com o objetivo de saber o que podia ser feito por seu filho.
Ela indicou Marinette, a garota nova, para dar aulas particulares para Félix até que as provas chegassem.
Dito e feito.
Três dias depois lá estavam eles, sentados na enorme mesa de mármore branco que tinha em seu centro, um vaso de tulipas brancas, na enorme mansão Agreste.
Ela ficava impressionada com o tamanho de tudo. Tudo era extraordinariamente grande e exagerado.
Era uma vastidão de branco e preto dividida em três andares de uma linda mansão. Tudo era tão amplo.
Mesmo se esforçando, a garota se sentia meio deslocada e pequena em meio a tudo aquilo. Era tudo tão lindo e de bom gosto, fazendo parecer exorbitante mente caro.
E certamente era.
Ela andava cautelosa quando passava perto de um vaso chines, da escultura indiana ou de uma tapeçaria persa, com medo de esbarrar em algo, quebrando ou sujando alguma coisa que ela sabia que não teria dinheiro para pagar, nem se juntasse dinheiro até sua próxima vida.
Mas depois de duas semanas de aulas, ela tinha aprendido um caminho seguro para ir até a sala, longe de qualquer artefato histórico importante para a descoberta da humanidade.
E alem disso, já conseguia ver um progresso significativo no entendimento de Félix, que já conseguia fazer algumas contas sozinho e tinha decorado algumas teorias.
...
-A primeira lei de movimento de Newton afirma que, na ausência de forças, um corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme ao longo de uma linha reta. Se não tiver interferência de uma força externa, ele continua em movimento retilíneo uniforme, para sempre. Entendeu?-Disse Marinette, vendo uma expressão confusa mo rosto do loiro.
-Espera. Quer dizer que se o Quarterback, não gritar "audibles" e mudar uma posição ariscada durante o "hudlle", o risco de perder a partida a continua?-Disse, fazendo traços estratégicos em um papel, deixando Marinette um pouco confusa.
-Annn, acho que sim.-Confirmou, achando interessante o modo como Felix montava mapas mentais para memorizar o conteúdo.-Certo, A segunda lei de Newton é um pouco mais difícil de entender, mas é quando a aceleração adquirida por um corpo é diretamente proporcional á intensidade da resultante das forças que atuam sobre um corpo, tem direção e sentido dessa força e é inversamente proporcional a sua massa.
As lágrimas teriam brotado nos olhos do loiro, caso estivesse sozinho. Aquiko era impossível e ele nai tinha entendido uma palavra se quer.
Marinette, literalmente, desenhou a teoria para que ele entendesse, despertando talvez algum reconhecimento.
-São como os Tight End, que ficam para proteger a linha defensiva. Eles precisam de agilidade com o dobro de sua força para ganhar tempo para que o Quarterback entre na linha de fundo do campo adversário.
-É exatamente isso. Mas lembre que essa força é diretamente proporcional e não inversamente. -Disse, se orgulhando por entender pelo menos o básico sobre futebol.- E a terceira lei de Newton, é o principio da ação e da reação. As forças se manifestam em pares. Se A exerce uma força sobre B, que reagirá com uma força de mesmo módulo, porem com o sentido contrario.-Explicou vendo o rapaz fazer uma careta.-Pense assim, uma pessoa deu um soco bem forte em uma parede. Essa força que ele exerceu no concreto volta com a mesma intensidade, porem em um sentido oposto, fazendo com que uma onda de pressão seja aplicada em sua mão. Entendeu? -Deu o exemplo, vendo um semblante de compreensão no rapaz.
-Acho que sim. Essa é ate bem fácil.-Disse com um sorriso, comemorando.
-Muito bem!-Vibrou, por ver que ele estava conseguindo entender.- Por hoje é só. Você está indo muito bem, continue assim.-Elogiou o amigo que ficou feliz, mas que ainda não tinha perdido o nojo por física. Nunca perderia.- Vou deixar esses exercícios para você fazer, ok? Se precisar de ajuda para resolver algum, só me mandar mensagem.
-Beleza.-Assentiu sorrindo, percebendo que tinha se enganado ao achar que Marinette era uma garota chata.- Vou começar a usar como estratégia as leis de Newton, antes do jogo. No vestuário, vou fazer o time gritar as leis em ordem.-Falou rindo maldosamente, vendo a garota manear a cabeça, rindo.
-É como vai fazer pra todos obedecerem você? Não sei se eles vão querer decorar tudo isso.-Argumentou a garota.
-Se não decorarem, vou fazer todos correm ao redor do campo vinte vezes.-Riu, vendo o semblante de deboche da garota.-Pelados.
Ele riu do rosto assustado da garota, mas logo se surpreendeu com sua fala.
-Então eu e as meninas esperamos que eles não decorrem absolutamente nada.
O loiro riu, não esperando que aquilo fosse sair da boca da mestiça, que sentava na cadeira da frente e vivia concentrada na aula.
-Eles vão enlouquecer.-Falou, mandando a mensagem para o grupo do time de futebol, dando a ordem para que todos decorassem as leis.-Meu deus, não é que física serve pra alguma coisa?-Fez ela rir e se levantar para ir em bora.
Ele a levou até a porta e se despediu com um abraço. Sim, já eram amigos em um prazo de apenas duas semanas se conhecendo. Rápido não?
-Que horas eu te busco 'pra festa?-Perguntou, antes que ela fosse embora.-Nem acredito que consegui te convencer a ir.
-Nem eu acredito que você me convenceu.-Disse com a mão na testa.-As 22:00, não quero chegar cedo.-Disse revisando mentalmente seu guarda roupa, decidindo o que usaria naquela noite.
-Ótimo, assim poderei dormir até as 21:50.-Disse rindo ao ver a careta da amiga. Da melhor amiga.
-Não se atrase. É sério.
...
Ela sentia falta da época na qual sua maior preocupação, era dar aulas de Física para Félix, que com muito esforço, tinha conseguido tirar notas boas o suficiente para ficar no time. Melhorou nas matérias e no futebol.
Sorriu, se lembrando de todas as vezes que se sentiu intimidada com a casa dos Agrestes, que hoje, era praticamente sua. Todas as festas, sociais, roles e jogos que Félix tinha a forçado a ir e que hoje, era ela quem o convidava.
Sorriu. É, ela tinha aproveitado o ensino médio.
Mas sem conseguir evitar, um pensamento rondava sua cabeça sem parar. Tentava se distrair daquilo e espantar as lembranças, mas era como se estivesse tatuado em seu cérebro, impedindo que ela se livrasse daquele maldito pensamento.
Como, depois de três anos, indo quase todos os dias para a casa de Félix, ela nunca ter tido uma conversa com Adrien antes? Como ela só bateu naquela porta agora?
O via antes, pelos corredores, mas apenas brevemente, levando um susto quase emitidas as vezes.
Passou a droga do fim de semana inteiro tentando adivinhar o que ele podia estar fazendo. Se já tinha comido, saído do quarto para ir a algum lugar além do banheiro, se já tinha escolhido alguma área de Astronomia para se especializar, aberto as cortinas ou qualquer coisa.
Ela, sem poder controlar o instinto, se preocupava com o bem estar dele, mesmo que ele só a tivesse tratado mal desde o primeiro momento.
Se bem que ele havia a ajudado quando estava passando mal. Talvez fosse por isso que ela vinha gastando cada segundo do seu dia pensando naquele imbecil.
Se perguntava o que ele poderia estar sentindo. Alguma dor ou enjoou, fome ou com sede, cansaço ou indisposição. Ela só queria ajuda-lo.
-Mas não tem como ajudar quem não quer ser ajudado, Marinette.
-Eu sei, mas isso não quer dizer que eu não possa tentar. Ele só é um pouco teimoso.
-Ele deve achar você insuportável. Para de se intrometer na vida dele. Ele só quer ficar sozinho.
-Ninguém quer ficar sozinho. Ele só precisa se acostumar comigo.
-Esse é o problema, ele não quer se acostumar com você! Deixa ele em paz! Tem vários outros rapazes querendo ficar com você. Para de insistir em quem não dá a minima para o que você sente. Porque não liga para aquele garoto ruivo lá da festa, em? Ele foi tão legal, coisa que Adrien nunca é.
-Esse é o problema, eu não quero outros rapazes. Eu quero ajudar o Adrien, entende? Eu escolhi ele.
-Mas ele não te escolheu, como você pode ver. Você sabe no que isso vai dar. Ele vai continuar te dispensando até você ficar em pedaços e não ter mais forças 'pra insistir. Você vai querer desistir, mas vai ser tarde de mais, já vai estar apaixonada por ele. Se é que já não está.
Ela não estava, apaixonada. Só tinha conversado com ele duas vezes e sido insultada como nunca antes.
Mas não podia negar que existia um sentimento confuso crescendo dentro dela desde o dia em que ele a abraçou.
Mas não era paixão, era alguma outra coisa. Um instinto talvez.
Tinha um sentimento, uma força, um impulso que a fazia querer lutar por ele. Desejar que ele melhorasse, que ele aproveitasse as pequenas coisas.
E era por isso que ela estava naquele carro , indo em direção a mansão Agreste, para tentar falar, esbarrar, conversar ou fazer qualquer coisa que envolvesse Adrien no assunto. Dizer um oi ou escutar ele brigando com ela.
Naquele momento, qualquer coisa valia. Não se importava muito.
Não, Marinette não era idiota de achar que Adrien nutria algum sentimento por ela, nem mesmo amizade. Mas essa não era mais a ideia principal.
Agora era tirar Adrien daquela casa a qualquer custo, antes que ele criasse raízes tão profundas lá dentro, que não conseguiria mais cortar. Se é que já não tinha criado.
Logo ela estacionou seu carro em frente a casa de Félix e tocou a campainha, sendo recebida pela empregada, que disse que Félix estava na sala de jogos.
Ela subiu até o terceiro andar e viu o amigo jogando um jogo de tiro, no qual parecia que o objetivo era faze-lo dizer cerca de dez palavrões a cada frase.
-QUE MERDA, VAI PARA O INFERNO.-Gritava o loiro, apertando os botões do controle de videogame furiosamente, atirando nos personagens do jogo. -AÍ QUE DROGA, A ARMA DESCARREGOU.
-Felix, pelo o amor de deus, é só um jogo, pra que tanto estresse?-Disse, se sentando ao lado do amigo, que levou um susto.
-Avisa quando chega sua maniaca! E se eu estivesse pelado? -Deu um pulo, se assustando com a garota que chegou tão derrapante. - E não é "SÓ um jogo" é "O jogo".
-Se você estivesse pelado, suas roupas estariam jogadas perto da porta.-Disse, já tirando os tênis e relaxando sobre o sofá.- E eu tenho certeza que sou bem melhor nesse jogo do que você, mesmo nunca tendo jogado.-O olhou com desafio.
-Você só fala Marinette, não faz nada.
-Pegue o outro controle, que eu te mostro como é que se faz. Te garanto que eu deixo a arma carregada.-Disse, tentando desestabilizar o amigo.
-É o que vamos ver.
Ela nunca tinha jogado aquilo antes, mas já conhecia o gráfico e as estratégias de batalha, pelo fato de Felix sempre gritar o que estava fazendo enquanto jogava. Ou seja, os movimentos dele eram previsíveis e ela os usava contra ele.
Trinta minutos de um jogo suado e difícil, Marinette estava dançando sobre o sofá. Comemorando sua vitória e empurrando a cabeça do melhor amigo.
-GANHEI! EU SOU INCRÍVEL! SEU FRACO.-Gritava a garota que via o amigo de braços cruzados.-Não fica assim, eu não conto 'pra ninguém.
-Foi sorte de principiante.-Argumentou, largando o controle no canto.- Você nunca mais consegue fazer de novo.
-Quer apostar?-Disse ela, rindo da cara do amigo.
-Não mesmo.
Durante toda a tarde eles se divertiram com todo o entretenimento oferecido, pela enorme sala de jogos, que era sem dúvida, a mais completa que Marinette já tinha usado.
Félix era o rei do pebolim e nunca deixava Marinette marcar nem um ponto se quer, e além disso era um mestre na sinuca, e por mais que ela se esforçasse não conseguia segurar o taco direito, sendo obrigada a escutar que o mesmo era maior que ela.
Mas em compensação, Marinette era ótima no bolichem. Fazer strike pra ela, era brincadeira de criança, sempre vencendo Félix em cada arremesso. E modéstia parte era a deusa do xadrez.
-Estou faminto.-Disse o rapaz, que naquele momento, se encontrava esparramado pelo chão da sala de jogos, completamente suado devido a ultima partida de poker na qual apostaram a bola de futebol de Félix, autografada por ninguém mais ninguém menos que Dak Preescott.
Quaterback do DALLAS COWBOYS, que foi o time mais valioso da NFL pelo nono ano consecutivo, devido aos mais de quatro bilhões de dólares arrecadados.
BILHÕES.
Ele tinha motivo para suar.
-Eu também, mas antes podemos jogar uma outra partida, só que dessa vez, pela camiseta.-Disse, apontando para a parede aonde, dentro de um vidro blindado, estavam o uniforme, os sapatos, o equipamento de proteção e o boné do Dallas, todos autografados, protegidos e prontos para serem preservados para todas as gerações Agreste.
-Nunca.-Disse, vendo a amiga rir e pegar o celular para pedir comida.-O que acha de comida tailandesa?
-SIM. Eu quero uma porção de Pad Thai, aquele macarrão com camarão e carne de porco. E de acompanhamento aquela sopa, Tom Kha Gai, de frango com leite de coco.-Anunciou, perguntando para a azulada se tinha dito os nomes corretamente.
-Eu vou pedir, aquele espetinho que pedimos da outra vez, Stay, de porco com amendoim, fica maravilhoso com aquela cerveja preta que o Nino trouce. E junto, aquela sopa de camarão com pimenta. E sorvete de manga pra sobremesa. -Selecionava a garota, no aplicativo.-Pronto, em quarenta minutos eles chegam.
-Quarenta? Eu vou morrer até lá Marinette.-Reclamou o rapaz, que tinha o estômago roncando brutalmente.
Depois de longos minutos de tortura a comida finalmente chegou, e se iniciou uma discussão para decidir quem iria até lá em baixo buscar a refeição.
No fim, Marinette precisou ir buscar, por saber que mesmo que ganhasse no pedra, papel e tesoura, Félix nunca faria o trabalho sujo.
Desceu as escadas rapidamente, abrindo a porta para o entregador, que lhe passou quatro sacolas com seus pedidos. Deu a ele o dinheiro, fechou a porta e levou a comida para dentro, caminhando até a cozinha para colocar tudo dentro de pratos e levar lá para cima.
Mas foi só abrir a embalagem e começar a organizar tudo, que escutou passos vindos das escadas, passos rápidos, e até mesmo empolgados.
Era ele.
Com os cabelos bagunçados, descalço e com calças largas de moletom preto com duas cordinhas brancas usadas para ajustar, junto a uma camiseta cinza larga, que com certeza era dois números maiores que o "usual" do rapaz, mas que mesmo assim, o deixavam lindo.
Um lindo ridículo, mas ainda sim lindo.
Ele parecia procurar por alguma coisa, quando se aproximou da cozinha e a avistou, junto com as sacolas vermelhas do restaurante de comida tailandês.
-Isso é cheiro de Stay? - Perguntou já abrindo as sacolas, procurando os espetinhos, fazendo ela abrir um sorriso bobo.-Diga que sim.
-É sim. Eu não sabia que existia outo ser humano no mundo que gostava disso.- Indagou, abrindo a embalagem de comida, pegando um e o estendendo ao loiro, que o agarrou de imediato.
Ele tinha aquele jeito próprio de comer. Com pressa e quase desespero, como se estivesse amarrado a uma semana em uma jaula e tivesse sido solto somente agora, com uma fome devastadora .
Em meio minuto, ele já tinha terminado seu espeto, limpado a boca na manga curta da camiseta e partindo para outro, comendo como se o mundo fosse acabar.
Ela o olhava admirada e se sentia uma idiota por achar fofo o jeito como ele comia. Igual a um troglodita ou um homem das cavernas.
Depois de um tempo o encarando ele levantou a cabeça e a olhou diretamente.
-O que foi?-Perguntou seco, depois que notou que estava sendo observado.
-Parece que comida Tailandesa abre o seu apetite.-Disse risonha, vendo o rapaz se sentar em uma banqueta e abrir a embalagem na qual tinha sopra de frango e logo dar uma colherada.-Essa sopa é do Félix! Ele vai achar que foi eu quem tomei, solta essa colher agora.-Disse, pegando a sopa e deixando longe do loiro.-Pegue a sopa de camarão.
-Eu não quero a sopa de camarão.-Disse, cruzando os braços, vendo a garota pegar um prato fundo e colocar a sopa do amigo dentro.-Eu quero essa.
Adrien era um abusado de primeira e o fato, de já não ter cortado as asinhas dele logo no começo, a fazia contradizer a si mesma.
Se fosse outra pessoa, sem dúvida nenhuma, já teria dado uma boa lição de moral por seu comportamento, e jamais voltariam a conversar.
Mas o que era mais controverso, era que ele tinha sido um babaca é ela estava ali, o olhando apaixonadinha e dividindo sua comida com ele, sem que ele não pedisse ao menos um por favor.
Precisava puxar as rédias daquela relação de uma vez, ou caso não fizesse, seria empurrada do cavalo, ou pior, seria ele.
-Não Adrien, você não quer a sopa de frango, você quer a sopa do Félix.-Reclamou, ja podendo ver que a falta de educação do rapaz ia crescendo.-Tem noção do quanto seu irmão fica bravo quando comem a comida dele? Se eu subir e não tiver 500ml de sopa, ele vai querer tomar da minha! -Falou, tentando descontrair, não tendo êxito algum.
-Ah, mas é claro! Me desculpa se eu comi a comida do seu jantarzinho romântico.-Disse sarcástico, a olhando.-Tem velas na segunda gaveta.-Disse rude, se levantando bruscamente e caminhando até a geladeira.
A abriu, tirando de lá o resto de uma lasanha que o chefe de cozinha, tinha guardado para ele. Jogou tudo dentro de um proto e o enfiou com força no micro ondas, com um semblante de raiva manchando aquele rosto gracioso.
Agora ele tinha passado dos limites.
-Você disse, jantar romântico?-Perguntou, sem acreditar no que tinha escutado.-Isso é sério? Você acha mesmo que entre eu e Félix existe algum tipo de envolvimento romântico?-Perguntou, não conseguindo conter a risada sarcástica e furiosa.
-Claro que eu acho. Vocês passam o dia inteiro juntos, saem quase todos os dias juntos, ficam o dia inteiro mandando mensagens ou conversando por vídeo um com o outro. E hoje você passou o dia inteiro aqui, fazendo sabe-se lá o que. É obvio que vocês tem algo. Você nem sabe mais viver sem ele.-Disse, insinuando algo com as sobrancelhas.
Ah meu deus, aquilo era sério?
Talvez, em um universo paralelo, em uma outra dimensão, em um diferente espaço e tempo e junto a outra realidade alternativa, talvez, só talvez, Félix e Marinette podiam ser mais que amigos. As probabilidades disso realmente acontecer, eram quase nulas.
Sim quase. Marinette era desastrada e poderia cair em cima de Félix acidentalmente e beija-lo.
-Sim Adrien, eu não sei mais viver sem seu irmão.-Disse séria, olhando diretamente para o garoto, que agora fingia que ela nem estava ali.-Porque depois de tanto tempo, ele se tornou meu irmão também. Mas ao contrário de você, eu quero aproveitar o tempo que eu tenho, com o único garoto que se importa se eu cheguei bem em casa ou se consegui fazer meus trabalhos da escola. O que compra meus remédios e que me ajuda com o que eu pedir. Seu irmão 'pra mim é um presente, mas não do tipo que você está insinuando.-Disse, ficando mais irritada. As bochechas ficaram infladas e vermelhas.-E tem mais, seu irmão desde sempre teve muito respeito por mim e nunca, nunca, durante todo o tempo da nossa amizade, tentou fazer nada comigo, principalmente isso que você está pensando. E mesmo se tentasse, qual e seu problema com isso? Eu sou livre pra ficar com quem eu quiser!- Disse furiosa, se segurando para não mostrar a ele o dedo do meio, colocando toda a comida dentro de uma bandeja, pronta para levar tudo pra cima.-Ridículo. -Sussurrou, antes de ir em bora, mas não antes de escuta-lo dizer.
-Sou mesmo.
Quem ele pensava que era para abrir a boca e falar aquele tipo de coisa sobre ela? Comer da sua comida, insinuar coisas sobre si e a desrespeitar?
E o pior de tudo é que tinha feito isso após a tratar mal diversas vezes antes, quando se encontraram.
Ela subiu depressa as escadas, chateada e furiosa. Era aquilo que ele pensava dela? Era aquilo que todos pensavam dela?
Ela chegou até a sala de jogos, vendo Félix cansado de tanto esperar.
-Porque demorou tanto? O entregador por um acaso era bonito? -Debochou, balançando as sobrancelhas de um jeito engraçado. - Pensei que você tinha se esquecido de mim e estava comendo tudo sozinha lá em baixo. Só não fui até lá ver o que tinha acontecido, por que Bridgetted, a rainha dos meus delírios e coração, me mandou uma mensagem.-Falou, com um sorriso de orelha a orelha.
-Ah, e o que ela disse?-Perguntou curiosa, pelo fato de saber que a irmã nunca daria o primeiro passo. Era tímida de mais para isso.
-Perguntou se você iria dormir aqui.-Disse, vendo a amiga abrir um sorriso debochado.-Eu sei, mas escuta. "Loirinho, a Marinette vai dormir ai na sua casa?" "Ela não chegou até agora e também não enviou nenhuma mensagem"...L-O-I-R-I-N-H-O.-Soletrou, sorrindo igual a um bobo, olhando a foto de perfil da mestiça.
-E o que você respondeu?-Perguntou, se sentando ao lado do amigo no sofá.
-Oi linda, provavelmente sim. Não vou deixar ela sair daqui a essa hora. As coisas dela já estão no quarto de hospedes.-Disse, olhando para a amiga, que aprovava sua resposta.
-Pergunta o que ela tá fazendo seu lerdão, agiliza o processo. Joga esse seu charminho de quinta.-Falou rindo, assistindo o garoto digitar em seu teclado como um louco. -Vamos comer logo antes que esfrie. E se você quer algo com Bridgettd, precisa começar a puxar assunto. Essa mensagem que ela te enviou será a última. Se quer alguma coisa com minha irmã, vai precisar dar o primeiro passo. Ela é tímida com essas coisas.
-Eu sei, eu sei é eu não me importo de precisar ir até ela. Mas deixa isso para depois. Agora vou tomar minha sopa.-Disse, puxando sua tigela para perto e em vez de usar a colher, colocou a boca diretamente na beirada do recipiente e bebeu todo o líquido de uma vez. E por fim soltou um arroto.-AR, QUE MARAVILHA.
-PORCO.-Exclamou a garota.-Seu idiota! Você bebeu tudo e não deixou nada para mim! Era para gente dividir, seu egoísta.-Disse, pegando sua tigela de sopa e tomando devagar com a colher.
-Minha sopa, minhas regras. Você sabe que eu não divido Tom Kha Gai.-Disse, já pegando seu macarrão e comendo somente a carne e deixando a massa para Marinette.
-Félix.-Chamou de súbito, que ganhou a atenção do loiro.-Sei lá, por um acaso, alguém já disse, ou insinuou a você que nós dois...você sabe...que fazemos...aquilo.
-Aquilo?-Perguntou confuso.
-É Félix, aquilo.
De imediato, as bochechas da garota ficaram rosadas ao ver a feição de espanto que o amigo tinha feito.
"Droga Marinette, você devia ter ficado quieta."
-Não pude evitar.
-Amm, Mari, da onde você tirou essa ideia?-Perguntou, vendo a amiga corar.
"Diga Marinette, diga que foi o irmão dele que insinuou que vocês transavam."
-De lugar nenhum. Só estava pensando que...por andarmos muito juntos, as pessoas devem pensar coisas do tipo.
-Mari, que eu me lembre, quatro ou cinco garotos me perguntaram isso uma vez, mas porque tinham interesse em você e queriam saber se estávamos juntos. Mas fora isso, todo mundo sabe que você é minha irmã.-Disse, vendo a amiga sorrir e logo o abraçar.
-Obrigada irmãozinho. Depois disso, vou até falar com a Bridgettd sobre como você é lindo e está solteiro no momento.-Disse, vendo o amigo abrir um sorriso gigante.
-SIM! E não esquece de dizer que eu também sou uma ótima companhia. Que adoro os quadros delas e o jeito como ela ela move o pulso. Fala que eu acho o som da voz dela lindo, sério, fala que a voz dela é muito, muito, linda. Ah, fala que eu acho o cabelo dela a coisa mais linda do mundo, aquela cascata negra, meu Deus, eu quero passar o dia inteiro com os dedos naquele cabelo. E os olhos dela são a minha kriptonita, são tão meigos e puxadinhos...-Ele continuaria a falar, se não tivesse sido interrompido.
-Está apaixonado Félix?-Perguntou a amiga.-Nunca ouvi você falar assim de ninguém.-Disse brincando, mas seu olhar era sério, de como quem dizia, "Somos melhores amigos lembra? Em mim você pode confiar e contar qualquer coisa."
-Eu não sei Mari, mas sua irmã desperta em mim uma coisa meio louca que eu não sei identificar. E não é só porque ela é linda, é porque ela tem aquela luz, sabe?-Disse, vendo a garota a seu lado assentir, sabendo perfeitamente do que ela estava falando.- Que atrai todo mundo. No dia que saímos todos juntos, eu percebi o quanto ela era doce e inteligente, muito inteligente. Eu tenho o que conversar com ela, entende? Eu estou meio cansado de falar sobre coisas fúteis com as garotas que eu conheço. Com a Bridgettd eu posso falar sobre direito, arte, culturas diversas em outros países, problemas sociais, debates da ONU, o melhor jeito de se comer peixe e histórias engraçadas, qualquer coisa. É como se, quando eu estivesse com ela, eu deixasse de ser o capitão do time de futebol ou um festeiro...e pudesse ser só...eu. -Disse, vendo a amiga sorrindo.-E você em? O que quer com o Adrien?-Perguntou com um sorriso meio forçado.
-O que importa o que eu quero com ele? Ele nunca vai querer nada comigo.-Deu de ombros triste.-As vezes eu acho que seu irmão me vê como um saco de pancadas, aonde ele desconta todo o peso que ele carrega. Ele me trata mal sem motivo nenhum, até quando eu estou sendo legal com ele, arruma um jeito de me magoar. Não é como se ele gostasse de me insultar, é mais como se não conseguisse resistir, como se quanto mais eu o trato bem, mais ele precisa me tratar mal.-Disse, com as mãos escondendo o rosto, e continuando a falar. -E eu sei que pode parecer masoquista ou algo do tipo, mas quanto mais ele me insulta e me trata como uma qualquer, mais eu quero ajuda-lo, entende? Porque eu vejo que lá no fundo, toda essa casca que ele tem é só pra esconder alguém que está muito triste e precisa de carinho. De muito carinho. -Respirou fundo .-Seu irmão precisa de alguém que cuide dele, não por obrigação, mas por vontade própria. E eu adoraria ser essa pessoa. Eu faria qualquer coisa 'pra tira-lo daqui e faze-lo aproveitar o dia lá fora, nem que fosse só por cinco minutos. Nessas ultimas semanas eu me peguei pensando em como seria velo fora de casa, de como seria quando o sol batesse naqueles fios loirinhos que ele tem no rosto. O que eu preciso fazer Félix? 'Pra ajudar seu irmão? Eu não consigo dormir em paz, pensando que ele pode não ter comido ou pegado um resfriado, e impor conta da baixa imunidade, ficar em estado grave. Me diz como eu posso ajuda-lo?-Pedia desesperada, quase chorando nos braços do amigo.-Qual é o meu problema?-Perguntou para ele, triste.
-O problema é que você é uma pessoa legal de mais para esse mundo.-Falou o amigo, no objetivo de consola-la. -Parece que nós dois estamos encrencados.-Disse, pegando um espetinho e dando para a amiga que logo o colocou na boca. Agora aquilo a lembrava Adrien, droga!-Queremos pessoas que ou não fazem ideia sobre o nosso interesse, ou sabem e não dão a minima para ele.
-E o que sugere que façamos?-Perguntou triste.
-A Mari, você sabe o que fazer.-Sorriu.- Um corpo permanecerá em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, a não ser que uma força externa e resultante seja aplicada sobre o corpo. Ou seja, tudo vai continuar como está, a não ser que nós façamos algo para mudar.-Disse, fazendo os olhos da amiga brilhar.
-E como colocaremos isso em pratica irmão?-Disse olhando para Félix com determinação, pois sábia que agora tinha um aliado.
-Aplicaremos o princípio da inércia irmãzinha.
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