Miya Atsumu era… intenso, para dizer o mínimo. Poderia ser descrito como dono de uma personalidade forte – para não dizer “ruim” ou “podre” – e de um caráter igualmente forte. Ainda assim, Sakusa Kiyoomi não desgostava dele.
Havia alguma coisa no rapaz loiro que fazia com que sua existência se tornasse… algo. Não tinha muitos motivos na verdade, é como ganhar um brinquedo que você não queria e começar a gostar, ou algo próximo a isso, Sakusa não saberia explicar como exatidão o que era, por mais que, nas últimas semanas, até seus pensamentos mais fúteis o levavam ao loiro um tanto desagradável e irritante.
Como alguém que nunca havia sentido isso, era um pouco estranho pensar tanto em Atsumu. Quando olhava coisas com raposas, quando olhava coisas sobre vôlei, quando ouvia coisas sobre gêmeos, quando olhava as estrelas.
Oh, céus, até nas estrelas, sabe? Isso era muito novo para Sakusa, e por mais que entendesse o que era, ele não sabia como era. Ele não estava tentando se enganar ou mentir para si mesmo, estava apenas tentando entender essa novidade toda; esse sentimento caloroso no peito e a vontade ridícula de querer explodir quando perto de Atsumu, positivamente falando, claro.
Talvez, apenas como uma hipótese boba, fosse a aparência dele o intimidando, Sakusa costumava pensar muito nisso quando os pensamentos começaram a ser frequentes demais. Não poderia negar, Atsumu era bonito – belíssimo se fosse dizer a verdade –, havia uma espécie de aura misteriosa e encantadora ao redor dele que costumava fazer com que as pessoas achassem a aparência dele algo perfeito, quase divino.
Era como um conjunto de “pequenos” detalhes que Sakusa, por algum motivo, notou até demais. Começava pelo rosto simétrico e bem definido, com traços marcantes e únicos, como se ele tivesse sido pessoalmente esculpido por alguma divindade.
Depois, tinha o cabelo de aparência macia e brilhante, parecendo um mar de ondas douradas, que moldava o rosto já naturalmente belo, o deixando com um ar de seriedade realmente atraente. Também havia os olhos castanhos, profundos e afiados, brilhantes como o mais belo céu noturno e estrelado, adoráveis e encantadores.
Sakusa preferia morrer a admitir, mas gostava dos olhos de Atsumu, poderia facilmente se perder naqueles olhos se encarasse demais, fugindo daquilo que chamava de realidade apenas para se perder na imensidão do olhar alheio. Era como encarar o abismo e sentir o abismo te encarando de volta.
Por último, havia a pior parte da aparência dele, não de uma forma negativa, mas sim algo cuja existência deveria ser considerada um crime gravíssimo. Aquele maldito sorriso, tão lindo que sempre o fazia perder o fôlego, que o levava para um estado de elevação onde Sakusa se tornava capaz de desvendar todos os segredos do universo. Um sorriso tão perfeito que o fazia querer desinfetar todo o rosto bonito de Atsumu apenas para tocar cada parte e memorizar, a partir do toque, cada um daqueles pequenos e lindos detalhes que faziam seu coração disparar.
Ah, ele sabia, aquilo não era somente amizade já fazia um bom tempo. E, oh céus, Sakusa Kiyoomi queria morrer.
Decidido a não pensar mais sobre isso, balançou a cabeça, tentando apagar o bendito pensamento para que pudesse ao menos oferecer uma maior concentração naquilo que tinha que fazer. Não conseguiu, claro, mas foi o suficiente para que conseguisse jogar e agir normalmente.
O treino havia sido… normal. Na verdade, jogar vôlei sempre foi a parte mais normal de sua vida, os treinos atualmente eram apenas a parte mais normal do dia, algo que não oferecia uma quebra na rotina e lhe trazia certo conforto. Mesmo assim, Sakusa sentia que precisava parar.
Não por completo, obviamente, até porque o treino já havia terminado, mas sim “parar” como entrar em um estado de inexistência. Seu corpo estava começando a pesar, ele estava sentindo coisas demais, sensações físicas demais; e aquilo estava começando a irritar. Rumou ativamente para lavar suas mãos, levando a atividade como um dos poucos momentos onde poderia parar em corpo e mente.
Decidiu se sentar no lugar mais próximo que encontrou, aproveitando a boa visão que tinha da quadra para procurar o dono de seus pensamentos mais recentes – ou o motivo deles –, encontrando Atsumu conversando com Bokuto e com Hinata há uma boa distância. Pela careta que os dois últimos faziam, o loiro provavelmente estava comentando algo sobre o treino. Achou engraçado, mas não ousou esboçar uma reação sobre.
Assim que o loiro, sendo o mais observador do grupo, notou que estava sendo observado, começou a olhar ao redor para descobrir quem estava fazendo dele o grande protagonista, abrindo um sorriso assim que encontrou os olhos escuros de Sakusa. Ergueu a mão direita e acenou, recebendo em troca um leve aceno com a cabeça.
Ele não podia ver, mas Sakusa deu um pequeno sorriso também.
Se pudesse ser honesto, negaria durante toda a sua vida esse fato, mas já havia assistido alguns poucos filmes de romance anteriormente, não deixando de notar a forma como o casal protagonista é realmente próximo em termos de contato físico, pensando que talvez aquilo fosse algo bom. Não que quisesse comparar filmes de romance com sua vida, afinal, as circunstâncias eram completamente diferentes, mas aquilo que viu nos filmes era praticamente tudo que sabia sobre, então ele usava como uma “base” sobre o assunto.
Por mais que sentisse algo e soubesse disso, não queria e nem conseguia ter a mesma proximidade com Atsumu, da mesma forma que não sabia o que ele pensava sobre o fato de que sempre que estão “próximos” é em uma distância consideravelmente segura e sem muito contato direto. Começou a achar que devia viver um filme de romance adolescente para que pudesse entender essa parte, mas agora, olhando de longe, Sakusa pensou mais do que achava que devia. Mesmo que não quisesse ter o mesmo nível de proximidade, uma parte sua desejava ter momentos ao lado dele.
Por isso, e por outras coisas, sentiu que talvez fosse um dos favoritos dos deuses quando voltou para a realidade fora de seus pensamentos e viu o rapaz vindo na sua direção.
Estavam lado a lado, em uma distância segura. Tudo que eles faziam juntos tinha essa distância, o que era consideravelmente respeitoso da parte do loiro, que às vezes parecia não ter noção do que era espaço pessoal. Ficaram em silêncio, apenas olhando para a frente, aproveitando o barulho do ambiente e a companhia, sem a necessidade de realmente falar algo.
A maioria dos momentos deles começavam assim, era… agradável.
— Você sabia que o Ash ganhou duas ligas usando apenas dois pokémons? — Atsumu comentou assim que achou estar silencioso o suficiente, fazendo Sakusa soltar uma risada baixa e leve. Era sempre assim, ele chegava calmamente, contava uma curiosidade sobre a coisa mais aleatória possível e então, de repente, parecia que só tinha os dois no mundo inteiro. Era adorável, para ser honesto, mas logo em seguida ele diria algo como…
— Não, mas teria sido muito engraçado se realmente fosse assim. — Comentou ainda rindo, olhando de canto para o loiro apenas para ver a expressão de falsa indignação que ele exibia.
— Ei, você roubou minha frase! Isso é injusto! — Atsumu virou o rosto para o lado, tentando reprimir a própria risada enquanto decidia se ficava rindo ou se realmente ficava indignado. Aquilo havia sido uma surpresa, do tipo surpresa boa. — E como você sabe que não foi exatamente assim que aconteceu?
— Porque você sempre fala a mesma coisa, então se fosse mesmo, você não teria dito. — Acabou preferindo ocultar o fato de que havia assistido Pokémon, seria melhor se não falasse para que pudesse aproveitar a melhor parte dessas conversas bobas.
— Você tem razão nisso, por mais que seja doloroso admitir. — O loiro dramatizou, botando a mão no coração como se realmente doesse, conseguindo em troca um revirar de olhos e um sorriso sutil. Valeu a pena. — Na verdade, ele só ganhou uma liga, a de Alola, mas ele também foi vencedor de ligas de batalhas menores, como a Batalha da Fronteira.
— Você é tão esquisito falando dessas coisas… — Sakusa alfinetou ele, sentindo seu coração bater um pouquinho mais forte após ver a forma alegre que o loiro explicava.
A verdade é que Sakusa Kiyoomi era péssimo conversando, então conversas bobas e leves como essa eram um pouco complicadas para ele. E por saber isso, Atsumu nunca as estendia por muito tempo, já achando um milagre não ser ignorado todas as vezes que tentava puxar essas conversas usando as coisas mais aleatórias e mentirosas que seu cérebro fosse capaz de produzir. Era bom e confortável para ambos, de certa forma.
Notou ali estar completamente perdido. Não pela batida acelerada de seu coração ou pela forma que se sentia tão bem dentro daquela conversa estúpida sobre Pokémon, mas sim por ver a forma que as bochechas do loiro ficaram mais avermelhadas pela risada, a forma como os cílios longos quase tocavam as bochechas quando ele fechava os olhos para rir e, também, a forma como aquela risada o contagiava e o fazia querer sorrir.
Apenas… veio, de repente; como se fosse algo que sempre esteve ali, e oh céus, ele já sabia sobre, mas naquele instante, naquele pequeno pedacinho de tempo onde o mundo era apenas os dois, ele sentiu, tendo certeza sobre.
O tempo parou apenas para que Sakusa Kiyoomi, contra seu bom julgamento, se permitisse sentir, rendendo-se àquela vontade de dizer algo estúpido que pudesse estragar ou mudar tudo. Era o momento.
— Atsumu. — Chamou, logo virando alvo dos olhos castanhos capazes de lhe mostrar toda a galáxia. De repente, queria fugir correndo para o lugar mais longe e vazio possível, sentindo uma parte de seu interior revirar em ansiedade. Respirou fundo. — Eu gosto de você.
Aquela era… uma frase fraca, por assim dizer, mas com um forte significado. Anteriormente, Sakusa havia pensado nisso mais de uma vez, ponderando se realmente deveria dizer isso, chegando a conclusão de que dizer “Eu tolero sua existência e sua companhia” poderia soar muito rude, enquanto um “Eu te amo” seria forte demais para ser dito tão cedo. “Gostar” não era algo ruim, descrevia exatamente o que ele sentia sem ser intenso demais, dando tempo para que ele se mostrasse disposto a tentar e, apenas assim, construir algo mais forte.
Os olhos de Atsumu eram naturalmente bonitos, com um tom de castanho nem muito escuro, nem muito claro, quase divinamente no meio entre ambos. Durante a adolescência, seu olhar tinha uma aparência mais selvagem, porém parecia mais alegre, enquanto agora ele aparentava ter um olhar mais maduro e tranquilo.
Talvez, apenas talvez, fosse aquele brilho doce e genuinamente feliz no olhar dele que fez com que Sakusa, naquele exato momento, sentisse que estava tudo bem.
Mentalmente, se apaixonou em silêncio mais uma vez por aquele olhar.
— Eu também gosto de você, OmiOmi. — Com um pequeno sorriso nos lábios e uma grande vontade de explodir, Atsumu confessou aquilo que deveria ser um de seus segredos, sentindo uma vontade quase abissal de começar a rir de toda aquela situação. Nunca havia imaginado que conseguiria dizer essas palavras, nem que elas também seriam ditas pelo objeto da sua afeição.
Era como estar no paraíso.
Por mais que estivesse tentando se manter neutro, Sakusa sentia que sua felicidade não cabia mais em seu peito, o deixando com uma sensação estranha de querer fugir e se esconder nas montanhas, longe de tudo e todos por tempo o suficiente para que sua morte viesse e a existência lhe esquecesse. Ele só… não sabia o que fazer, e céus, isso o deixava apavorado.
Nunca tinha chegado nessa parte em específico, não viveu a história de se apaixonar, muito menos de ser correspondido, então ele só não sabia o que devia fazer agora. Na sua pouca experiência com os filmes de romance, adquiriu a percepção de que depois da tão famosa declaração os casais se beijavam, mas…
Sakusa Kiyoomi não queria. Era demais para ele. Não estava pronto para algo assim e só pensar na hipótese já o fazia querer morrer.
Se ao menos tivesse sido paciente e deixado para falar em outras circunstâncias, poderia ter planejado melhor o que fazer. Se tivesse falado por mensagem, por exemplo, poderia usar uma das frases de Hinata, algo como um “tmj lek, é nóis”, e depois era só bloquear o celular para expressar todo o sentimento em forma de surto.
O problema era que ali, naquele exato momento, ele não sabia o que fazer ou o que falar.
— E ent… — Antes mesmo que Sakusa pudesse concluir uma frase, a risada do loiro chegou em seus ouvidos, o interrompendo.
Imediatamente fechou a cara, pensando o que de tão engraçado tinha na situação para que Atsumu estivesse rindo tanto ao ponto de lágrimas começarem a se acumular no canto de seus olhos, mas, assim que viu a forma como ele parecia rir como um jovem bobo apaixonado, sentiu seu coração se acalmar e seu nervosismo ir passando.
Ainda rindo, o loiro passou a mão no cabelo, depois secando as lágrimas que escorriam por suas bochechas e tentando aparentar estar mais sério.
— Sinto muito, me dê só um momento. É algo rápido. — Atsumu não tardou em se explicar, levantando e imediatamente curvando-se em um breve pedido de desculpa, começando a andar logo em seguida.
Pela forma como caminhava, era notório que ele ainda dava risada de algo, porém tentava se controlar na intenção de realmente parecer mais sério e concentrado. Não estava funcionando, aquela era a cena mais pateticamente fofa que Sakusa já havia visto em toda sua vida.
A situação ao todo estava muito confusa e o rapaz de cabelos escuros genuinamente não estava entendendo o que acontecia, e sua dúvida só aumentou ao ver Atsumu parar na frente de uma torneira. De onde estava, tinha apenas visão das costas do loiro, então não sabia o que ele estava fazendo, mas, assim que ouviu o barulho da água, sentiu seu corpo todo derreter e sua seriedade ir embora, o deixando com a sensação leve e boa de querer explodir.
Ele estava simplesmente lavando as mãos. Fez o ato três vezes, em sequência, sempre se certificando de lavar cada parte, fazendo questão de aplicar álcool em suas próprias mãos, esfregar, lavar mais uma vez e somente então secar e aplicar álcool em gel. Atsumu até podia não saber, mas havia acabado de conquistar o coração de Sakusa só por ter feito isso.
Assim que terminou e voltou para onde estavam, Atsumu tomou todo o cuidado do mundo para não encostar suas mãos em absolutamente nada. Sabia que tudo aquilo era novidade para Sakusa e, por mais que ainda tivesse muito para aprender e melhorar, queria ao menos conseguir oferecer algo tranquilo para que ele se sentisse confortável. Não precisava de muita coisa, apenas ver o rapaz bem e dando um passo de cada vez já era o suficiente.
Por conta disso, sentiu ser o homem mais feliz do mundo ao vê-lo com um leve rubor nas bochechas e os olhos brilhando como milhões de galáxias juntas. Para seu coração, aquilo era tudo.
Deu um sorriso, voltando a sentar ao lado dele, ainda mantendo a distância considerada segura.
— Posso segurar sua mão? — Perguntou, oferecendo sua mão esquerda de forma tímida, desviando o olhar apenas para que Sakusa pudesse decidir sem se sentir pressionado a aceitar ou não.
Sakusa estava com medo, de certa forma esse era um passo que ele nunca tinha dado, sem contar que, em sua pouca experiência com os filmes de romance, nunca tinha visto uma cena como essa acontecer.
Tremendo levemente, acabou aceitando, apenas colocando sua mão por cima da mão alheia e fechando os olhos com força.
Era quente, mas também era frio, confortável para dizer o mínimo. Uma parte sua queria pegar a primeira faca esterilizada que encontrasse e cometer alguma loucura, mas a outra parte… Por Deus, a outra parte queria que o tempo pudesse realmente parar apenas para aquilo ser eterno.
Respirando fundo para criar um pouco mais de coragem, segurou a mão de Atsumu, sentindo seu interior desintegrar e queimar.
— Me avise se algo for demais para você… — O loiro disse em um sussurro, finalmente mirando os olhos na direção de Sakusa. Seu rosto estava vermelho, mas ele estava mantendo a cabeça baixa, como se estivesse procurando uma forma de fugir.
Era… Fofo.
Sentiu Atsumu mexer a mão de forma lenta e calma, enlaçando seus dedos com cuidado e começando uma carícia sutil em sua pele com o polegar. A mão dele parecia completar a de Kiyoomi, tendo um encaixe perfeito.
Era mágico de forma completamente única. Queria viver aquilo para sempre.
Sakusa não sabia qual seria o futuro, principalmente agora que eles revelaram seus sentimentos e descobriram que era algo recíproco, mas, se fosse ao lado de Atsumu, sentiria vontade de tentar.
Pensando nisso, moveu seu corpo para mais perto do corpo do loiro, ainda mantendo uma certa distância, mas agora estando perto o bastante para tocar. Vendo o sorriso dele, Sakusa sorriu também.
— Eu vou avisar quando, e se for.
E aquilo foi suficiente.
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