Jungkook P.O.V
Todos acordamos cedo no dia seguinte. Tomamos nosso café da manhã e descansamos mais um pouco.
- Estou preocupado - Taehyung disse. Olho para ele.
- Temos muitas preocupações, a que se refere? - Pergunto, largando o livro sobre magia que eu lia ao meu lado na cama. Ele está deitado ao meu lado.
- O Jimin e a Jisoo fazendo aquele feitiço.
- Eles são bruxos videntes, especialistas na magia mental, mesmo que sempre estejamos preocupados, eles sempre vão ter que fazer coisas assim.
- Não precisa fingir que não está preocupado também, Jungkook - Eu o olho e sorrio, ele me conhecia muito bem.
- Não posso mesmo te enganar - Sorrio novamente - Eu estou preocupado. Aqui diz que é bem perigoso procurar memórias de outra consciência através de um feitiço mental. Seria fácil se fossem buscar informações na cabeça um do outro, mas usar um ao outro para vasculhar a cabeça de outra pessoa... Não é tão simples. O feitiço é simples, mas o percurso não é. É o dobro de cansaço e falta de energia do que um feitiço normal requeriria. Não estou apenas preocupado, estou com medo.
- Eu também estou. - Ele olha para mim. - Estou com medo de muitas coisas. Eu raramente admito isso, mas estou com muito medo mesmo. É mais fácil quando você não tem muito o que perder, mas quando tem tantas pessoas assim, é assustador. Eu não tenho pai ou irmãos. Minha única família são os guardiões, meus outros amigos e agora, você.
Pego na mão dele.
- O Jinyoung e o diretor das escola não são sua família de verdade, então, como tudo isso funciona? - Ele me olha.
- Eles só estavam lá para afirmar minha identidade, como você já sabe e nossa líder usou vários humanos para serem nossos pais e irmãos falsos. Nunca nem moramos com eles. A gente só tenta se encaixar na realidade deles, em uma que já existe e eles acham de verdade que sempre estivemos lá. - Ele suspira - Eu fico feliz por não ser o filho daquele cara. O Jinyoung realmente sofre com a pressão do pai dele. Eu gostei de ser o irmão mais novo dele por um tempo. Espero que ele seja feliz.
- E o que acontece depois?
- Se nós morremos, a mente deles ou de qualquer um humano que já soube sobre nossa existência, é totalmente apagada. Não se lembram de nada sobre nós. Mas se vivemos, continuamos a usá-los. Nós guardiões, morremos ainda humanos e ressucitamos como guardiões, mas para os humanos que antes nos conheciam, nós continuamos mortos.
- Eu não consigo imaginar uma vida onde eu não tivesse tido, mesmo que por poucos anos, uma mãe que me deu amor e propósito. - Eu pego em sua mão. Ele me olha e sorri - Eu sei que por anos eles foram sua família. Por anos, Jimin foi tudo o que me restou. Eu sinto medo de perdê-lo, assim como você teme por seus amigos, mas agora também tenho medo de perder minha irmã e você. Ficou cada vez mais difícil. E essa vida tem sido de constante medo e eu não quero isso pra mim, pra nenhum de nós. - Segurei sua mão ainda mais forte - Estou com medo desse feitiço. Mais do que eu gostaria de admitir também. Estamos nessa, eu e o Jimin, de nos escondermos dentro de um casulo sem revidar, já faz muito tempo. Faz pouco tempo que resolvemos não abaixar a cabeça e é tão difícil lutar e saber que podemos perder aquilo que é mais preciso pra nós.
- Eu sei. É difícil, mas temos que acreditar que todos sairemos vivos dessa. - Sorrimos sem muito humor. Nossas mãos apertavam uma a outra em uma necessidade insana por entendimento e consolo. Ambos sentíamos o peso de nossas palavras e de todos aqueles acontecimentos. - Não dá pra viver abaixando a cabeça. Não podemos deixar que toda aquela gente tenha morrido em vão. Sua família. Ninguém merecia aquele fim. Não podemos deixar barato. Se um único bruxo das trevas ainda se levantar, não importa o quão cansados estejamos, não podemos cair ou abaixar a cabeça. Temos que destruir até o último e assim viveremos em paz.
Levantei sua mão até a altura do meus lábios e a beijei. Não tenho que dizer que o amo e que tenha um imenso medo de perdê-lo. Nós sentimos tudo um do outro. Todo esse medo e preocupação. Todo o amor.
Ouço batidas na porta. Ela se abre e Yugyeom surge.
- Ta na hora - Ele diz e então sai.
Tae e eu nos olhamos e nos levantamos da cama. Fomos todos até a grande biblioteca. Jimin e Jisoo já estavam sentados no chão na frente um do outro, bem no centro da biblioteca.
Hoseok e Yoongi estavam evidentemente preocupados. Aquele feitiço não era só difícil, era perigoso também. Se eles se perderem entre as memórias do Youngjae, ficarão presos pra sempre no feitiço, estarão vivos, mas nunca mais poderão mexer os corpos e estarão para sempre vagando entre as memórias do garoto.
- Que caras são essas? - Jimin zombou. Sei que ele não quer que fiquemos preocupados, mas o fato do tamanho de perigo desse feitiço ser grande e o fato de que nenhum dos dois jamais o fez na vida, preocupava a todos, sem exceção.
- Fiquem tranquilos, vou cuidar dele - Jisoo disse sorrindo também. Yoongi olhou para Jimin de maneira encorajadora enquanto Hoseok sorriu.
Não importa agora. Temos que confiar neles. Vai dar certo!
Eles respiraram fundo e se aproximaram um do outro. Colaram as testas uma na outra e as pontas dos dedos na cabeça um do outro. Jimin, com as duas mãos, colocava seus dedos nas áreas corretas da cabeça de Jisoo enquanto a garota fazia o mesmo. Quando tudo estava pronto, eles deram uma última olhada um para o outro e fecharam seus olhos. Logo os olhos se abriram e mostravam a cor branca em ambos os olhos, era como se não tivessem pupila.
Minutos se estenderam, a preocupação aumentava, mas logo Jimin, ainda no feitiço, falou.
- Na cabeça dele tem milhares e milhares de portas. Muitas memórias. Estamos vasculhando com cuidado.
O tempo passou. Por volta de duas horas eles ficaram daquele jeito. Sentados com as mãos na cabeça um do outro. Nada foi dito nesse meio tempo.
A tensão aumentava.
- Eles estão demorando muito. - Yoongi disse fechando os olhos e respirando fundo. Suas mãos tremiam.
Por que eles demoravam tanto?
Tae olhou para mim. Ele sentia meu medo. Minha preocupação. Eu o sentia e ele não estava muito diferente. Eu olhei para ele.
Mais duas horas se passaram sem nada ser dito.
Naquele momentos todos já estavam sentados no chão. Muito mais preocupados que duas horas antes. Yoongi andava de um lado para o outro enquanto eu rezava para qualquer coisa, para que eles acordassem daquele feitiço.
Mais uma hora se passou e nossas esperanças iam caindo e o desespero tomando lugar.
De repente, Yoongi saiu da biblioteca. Andando em passos rápidos. Eu me levantei. Sabia que Taehyung estava preocupado com ele, mas eu sentia que eu deveria falar com ele. Então eu o segui.
Yoongi estava no quarto de Jimin. Ele olhava uma foto dos dois juntos que Jimin havia emoldurado, mas escondido quando Yoongi veio pra cá. Eu achei engraçado o fato do Jimin gostar tanto do Yoongi, mas não admitir que sente uma coisa grande por ele.
Yoongi a descobriu no dia anterior enquanto procurava uma toalha. Jimin a escondeu as pressas na gaveta. Ele arrumou diversas desculpas sobre a foto, mas a verdade é que ela já estava ali desde que, como Jimin me disse, eles se beijaram pela primeira vez.
Yoongi acariciava a foto.
- O Jimin não demonstra muito seus verdadeiros sentimentos. Ele é sincero sobre várias coisas, mas mente sobre seus sentimentos. Sempre dizia estar com uma garota diferente a cada dia e que gostava assim, mas queria muito alguém como você na vida dele.
Yoongi riu e soluçou. Estava com tanto medo de perder aquele baixinho quanto eu.
- Ele realmente não diz o que sente.
- Eu conheço meu irmão. Ele sempre mostra tudo do fundo de seu coração com ações. Pode não dizer um eu te amo, mas vai estar do seu lado no que você precisar. É difícil tirar palavras assim dele e ele está sempre se fazendo de difícil, mas quando é para se atirar no fogo por quem ama, ele simplesmente age. - Yoongi me olhou. As lágrimas caíam de seus olhos. - Ele é corajoso. E um guerreiro. Não vai cair por um feitiço desse. Ele vai acordar e trazer informações. Vai mostrar o quão corajoso ele é. E o quanto ele lutaria pela paz e felicidade que a gente tanto quer.
Ele sorri para mim.
- Eu também estou com medo, mas precisamos acreditar no nosso pequeno. - Yoongi concordou com a cabeça e eu sorri. Eu não posso deixar de acreditar no Jimin e não posso deixar que o amor de sua vida deixe de acreditar também.
Quando Yoongi secou suas lágrimas e suspirou.
- Vamos subir, podem acordar a qualquer instante - Yoongi disse e sorriu novamente.
- Tem toda razão! - Sorri. Nos levantamos e fomos até a biblioteca. Assim que passamos pela porta, Jisoo e Jimin cairam desmaiados um de cada lado. - O que ta acontecendo?! - Yoongi e Taehyung correm até Jimin, cada um paga uma mão. Hoseok e Namjoon fazem o mesmo com Jisoo.
Eu olho a cena assustado. Eles parecem mortos.
Minutos se passam e eles continuam naquela posição. Yugyeom e Jin entram em cena ao perceberem que os meninos estão ficando cansados devida a perda de energia. Yugyeom segura a mão de Yoongi e Jin a de Namjoon.
Jisoo e Jimin abrem os olhos e começam a respirar normalmente. Logo mostram que podem se mover lentamente também.
Yoongi sorriu largamente ao ver Jimin acordado e respirando. Eu fui até o baixinho e acariciei sua cabeça, contente de ver que ele estava bem. Jimin sorriu para Yoongi assim que o viu.
Eles dormiram por algumas horas, antes de começarmos a conversar sobre o resultado do feitiço.
- Lá tinham milhões de portas. Pensei que suas memórias não tinham fim! - Jimin suspirou - Sem falar que algumas portas eram velhas e outras novas. Algumas eram sombrias e outras iluminadas.
- Era como memórias boas e ruins. Memórias de todo o tipo. Vi até coisas que não gostaria de ter visto, mas mesmo depois de vagar por memórias inúteis, vi uma dele conversando com humanos. Ele está planejando uma festa pós campeonato esportivo. Quer juntas várias pessoas. O sangue para o ritual.
- Quando isso vai acontecer? - Yoongi pergunta.
- Na semana das competições esportivas - Jimin diz - Ou seja, na semana que vem.
- Bom, temos esses dias para vigiar o Youngjae, ver de quem ele se aproxima e fazer de tudo para que ele não consiga matar essas pessoas.
- E o local e as horas? - Lisa pergunta.
- Se é uma festa para depois dos jogos, então provavelmente de noite - Eu respondo. Os outros concordam.
- O lugar não é bem certo. - Jimin diz.
- Por que não?
- Porque ele não sabe onde é. - Jimin deu de ombros.
-Como assim "ele não sabe onde é" ?! - Perguntamos.
- A garota não disse a ele onde vai ser, como se tivesse que manter segredo até a hora chegar. - Ela olhou para baixo pensativa, depois levantou a cabeça com os olhos arregalados e a boca aberta - E se ela souber que vasculhamos a cabeça dele e de propósito não disse essa informação?
- Pode ser, mas só se ela for uma vidente bruxa da luz. Bruxos das trevas não sabem sobre esse tipo de feitiço, são nossas armas secretas. - Jimin disse. - Mas com certeza aquilo foi suspeito.
- Vocês viram tudo o que eles estavam falando e planejando? - Perguntei. Todos olhamos para eles que deram um sorrisinho de canto.
- Não podíamos ficar muito tempo vendo uma porta só, podíamos nos confundir, nos perder nas memórias deles, esquecer que tínhamos que sair e ficar presos pra sempre. Tem um certo tempo para ver nas portas. - Jisoo explicou.
- Tudo bem. Vamos descobrir o que mais ele estão escondendo, de um jeito ou de outro. - Eu disse, mas apenas pensando em como faríamos isso - Bom, durante essa semana, ficaremos na cola dele, observando ele para tudo, mas sem chegar muito perto. Quando ele for para a tal festa, vamos nos infiltrar e acabar com os planos dele.
*** *** ***
Nos dias que nos restavam antes da semana esportiva, ficamos a todo tempo seguindo e observando Youngjae. Claro que teve momentos em que não podíamos o seguir, ele parecia bem desconfiado, já que estávamos sempre por perto. E o intuito era infiltração, ataque surpresa, não podíamos ser descobertos antes disso.
Depois das aulas de músicas, nos reunimos para saber como nossas investigação estava indo.
- Ele conversa com metade da escola. Só hoje, cumprimentou mais de trinta alunos! - Jimin disse.
Estávamos sentados em uma roda. Taehyung acabara de se sentar, depois de trancar a porta e ver se tinha alguém nos corredores. A sala tinha um acústico incrível e também foi equipada para que o som de dentro não fosse ouvido do lado de fora, impedia que as aulas de coral, teatro ou fotografia fossem perturbadas pelo som. As salas do coral eram iguais.
- Barra limpa. - Taehyung disse.
- Obrigado, Tae. - Ele concorda com a cabeça - Pessoal, já vimos que ele é amigável com muita gente e está sempre cumprimentando todos, mas vamos focar naqueles que ele fica conversando por mais tempo. Por exemplo, ele ficou meia hora conversamos com o Jackson hoje.
- Ele falou com a Rosé por bastante tempo também. - Jimin disse.
No fim da reunião, tínhamos trinta nomes anotados em um papel. Nos outros dias, ele cumprimentou a todos, mas com essas pessoas em especial ele conversava por mais tempo. Logo passamos a vigiá-las também.
Pouco tempo depois que começamos a vigiar as possíveis vítimas do Youngjae, no meio do dia, bem na hora do almoço, Jimin me mandou uma mensagem dizendo que eu tinha que encontrá-lo no corredor, na frente do armário de vassouras. Eu fui, mas ele não estava lá.
- Jungkook! - Jimin me puxou para dentro do armário de vassouras.
- Por que me chamou aqui? - Perguntei. Olhei para ele e o mesmo parecia um pouco fraco. - Você está bem?
- Eu abordei o Jackson e usei o feitiço de hipnose para ele me contar tudo o que sabe. - Ele falava ofegante.
- O que ele disse?
- Perguntei sobre o Youngjae e ele me disse que foi convidado para uma festa, depois da competição de natação na semana esportiva. Ele disse que a festa ia ser na floresta. Uma Rave no mato ou algo assim. Ele também não sabe direito, parece que o Youngjae não deu o endereço exato.
- Obrigado, Jimin, isso foi extramente útil. Agora sabemos dia e horário exatos, mas ainda precisamos saber o local, bom, se o seguirmos sem sermos descoberto, acho que dá tudo certo. - Sorri para ele. - Acho melhor eu chamar o Yoongi ou outro guardião, você parece fraco.
- Estou um pouco cansado - Se senta no chão e tenta respirar normalmente. Pego meu celular, mas ele segura minha mão - Fica tranquilo, já chamei alguém.
De repente a porta abre e Taehyung entra. Sem falar nada, se ajoelha e pega a mão de Jimin que suspira. Ele fica um tempinho assim. Jimin fica menos pálido e volta a respirar normalmente. Agora Tae parece cansado. Seguro em sua mão.
- Pegue um pouco. Eu tenho bastante. - Ele olha para mim como se temesse que eu não aguentasse ter a energia sugada. Eu sorri e disse que estava tudo bem. Logo pude sentir minha energia ficando menor, se indo aos pouquinhos. Ele soltou minha mão quando sugou o suficiente. Eu ainda me sentia bem.
Saímos daquele quartinho e nos reunimos para contar a todos o que Jimin havia feito e as novas informações que havíamos reunido. Faltavam dois dias para a semana esportiva começar. E mais dois para a competição de Natação.
*** ***
Os dois dias seguintes foram um grande alvoroço. Todo mundo estava animado com a semana de competição e os que participariam estavam nervosos. Jimin e Yoongi estavam escalados para jogar logo no primeiro dia da semana de competição. Seu time ganhou de lavada. No mesmo dia teve futebol e no dia seguinte futebol americano. Teve competição de líderes de torcida e atletismo. No dia tão esperado, começamos com a competição de vôlei e queimada antes do evento esportivo que iniciaria nossa noite.
- Deseje boa sorte para mim - Taehyung disse antes de ir ao vestiário se trocar. Ele teve de participar da competição de natação.
O nervosismo me dominou logo quando os participantes pularam na água. Eu não sabia o que me deixava mais ansioso, ver o Tae nadando enquanto eu lhe desejava sorte ou o fato de que daqui poucos minutos, enfrentariamos mais um bruxo das trevas.
Será que vamos conseguir?
Tae sai na frente e nada tão rápido que os outros mal conseguem lhe acompanhar. Ele vence. Assim que sai da piscina, olha pra mim. Percebi algumas pessoas de nossa lista saindo da arquibancada. Tae da o máximo de si para se apressar em se trocar, ignorando algumas pessoas vindo lhe dar abraços e parabéns. Ele até mesmo ignorou seu falso pai.
Poucos segundos, ele veio. Eu o esperava na saída junto aos outros. Ele veio de cabelos molhado e seu corpo parecia estar úmido ainda. Ele colocou um moletom e uma jeans e os sapatos que usava mais cedo. Nos apressamos e seguimos em frente. Ao esperarmos o Tae, acabamos perdendo de vista as pessoas que seriam sacrificadas. Andamos um pouco até a entrada da florestas, mas não conseguimos achar rastro algum.
- Vou checar por cima - Eu disse. Todos concordaram e com um impulso, me pus a voar. Voei um pouco mais a frente e vi que em uma área mais aberta, eles estavam reunidos, alguns bebendo e outros só conversando, mas a música não tocava. Tinha mesa de comes e bebes. Ele havia enganado aquelas pessoas de jeito!
Voei até meus amigos e indiquei a direção. Estávamos um pouco longe, então fomos correndo para chegar até a direção correta o mais rápido possível. Ouvi gritos, mas estavam um pouco distantes.
Nos apressamos ainda mais e quando chegamos lá, as pessoas estavam paralisadas, mas acordadas. Eu percebi que Rosé, Jackson e alguns outros meninos de outra turma do primeiro ano não estavam ali. Sumiram. Será que saíram correndo?
- Tem pessoas faltando - Eu disse. Os meninos concordaram mostrando que já haviam percebido. - Eu vou por cima, serei o elemento surpresa e a distração. Liberem as pessoas da paralisia.
Todos concordaram.
Voei novamente e lá de cima deixei que meu corpo fosse tomado pela eletricidade. Meus olhos tomaram cores mais claras e minha pele formigava. Desci até onde ele estava, o atacando com bolas de energia elétrica. Ele acabou sendo atingido pela primeira bola, mas depois começou a se defender e a atacar. Voei e ele me seguiu, irritado. Começamos uma luta no céu. Dando socos, chutes e atacando com fogo e energia. Olhei para baixo ao ver as pessoas sendo liberadas e guiadas pelos meninos. Todos saiam correndo. Continuei o destraindo.
- Youngjae! - Uma voz feminina gritou lá de baixo. Ele olhou para ela e viu algumas pessoas correndo enquanto ela tentava impedir, falhando miseravelmente. Jisoo foi até ela e a segurou.
Youngjae tentou ir até lá embaixo, mas eu o impedi, o atacando e o obrigando a se defender. Com rapidez, ele me deu um soco e me atacou com seu fogo, não consegui me defender e seu ataque chamuscou minha roupa e me distraiu, fazendo com que ele fosse lá pra baixo. Lá, ele começou a atacar Jisoo que desviava de seus golpes, acabou tendo que soltar a garota pra se defender.
Desci também. Fiquei na frente de Jisoo, buscando protegê-la. Os meninos ainda liberavam as pessoas. Lutando. Avançando. Atacando. Recuando. Defendendo. Assim se seguiu nossa luta.
Começou a anoitecer. Assim que a lua já se mostrava no céu, iluminando a noite, o lago atrás de nós começou a brilhar. Eu nem havia o percebido até aquele instante. Eu nunca havia o visto brilhar dessa maneira.
Todos paramos para olhar. Nem Youngjae atacava mais. Ainda estávamos em posição defensiva, quando vi Youngjae começar a rir. Os meninos se aproximaram.
- Tarde demais, bruxos da luz - Ele ria. A garota atrás de si, antes com medo, estava mais confiante. Começou a sorrir.
- Jungkook... O lago só brilha desse jeito se... - Taehyung começava a dizer, mas foi interrompido por Youngjae.
- Se um humano morto estiver se transformando em guardião - Ele completou.
Arregalei os olhos.
Eu sempre pensei que o lago brilhava somente pela luz da lua refletir nas águas, mas quando não aconteceu quando completei um mês de namoro com o Tae, pensei que aquele lago já não estivesse mais ativado, após anos sem a existência de um guardião. Não era por isso. Precisava de um humano morto sendo transformado em guardião para brilhar como nas lendas.
E agora, diante de seus olhos estava acontecendo. Eu mal podia acreditar.
- O que você está tramando, Youngjae?!
- Visto que vocês não podem mais impedir, acho que posso explicar.- Ele disse sorrindo. Aquele sorriso horrível que era igual ao de sua falecida irmã. Um sorriso cheio de más intenções. - Por onde eu começo? - Ele diz calmo, como se fosse me contar um conto de fadas para dormir e eu fosse uma criança que acabou de deitar na cama, apenas esperando a historinha.
- Talvez devesse começar pela Yeri - A garota atrás dele disse.
- De fato - Sorriu ainda mais - Eu namorei por muito tempo escondido de minha mãe com uma humana chamada Yeri. Essa garota é a irmã dela, Seulgi - Ele indicou com a cabeça a garota ao lado dele - Mas minha irmã Jennie descobriu sobre meu envolvimento com ela, mesmo que eu tentasse esconder isso fingindo gostar da Jisoo. Isso claramente chegou aos ouvidos de minha mãe que odiou saber que um bruxo das trevas estava se envolvendo com uma humana. Uma mera humana. Me chamou de fraco e disse que se eu não queria estar no nível de um bruxo da luz ridículo, eu teria que matar a garota ou eu morreria.
Os bruxos da trevas são desprezíveis, mas aquela conhecida como a líder deles, felizmente tão falecida quanto todos os bruxos das trevas, era de fato a pior. Criava seus filhos para serem criaturas sem alma.
- Minha mãe era horrível e eu não ligaria se morresse, mas não mataria Yeri jamais. Minha irmã achou isso um absurdo e a matou no meu lugar. Descobri da pior forma. Vi seu corpo daquele jeito no vestiário do colégio. Aquele dia, ela não me respondia e isso me deixou preocupado. Então eu vi toda aquela loucura no colégio e só precisou que eu a olhasse para saber que era ela e não Jisoo. O colar de Jisoo estava lá para provocar a ira dos bruxos da luz, mas Jennie nem havia a matado.
Senti a furia de minha irmã. Ela ficou tão arrasada naquele dia. Até então ninguém sabia o que de fato havia acontecido e de quem era aquele corpo. Agora tudo fazia sentido.
- Mesmo assim você foi até a guerra para lutar em nome de sua família desprezível! - Lisa disse.
- Claro, se eu não aparecesse e os bruxos das trevas ganhassem, os problemas para mim seriam infinitos e eu ainda estava em busca de um plano para acabar com minha família por terem feito o que fizeram. Fingi minha morte e pude planejar o próximo passo. Eu sabia que vocês iriam vencer no momento que vi os guardiões. Eu não iria morrer como um bruxo das trevas depois do que minha mãe e irmã fizeram.
- Então você não quer se vingar? Não arranjou tudo isso para dar poder aos fantasmas e matar os bruxos da luz? - Perguntei. Aquela história estava tomando um rumo diferente do que esperávamos.
- Longe de mim. Dar poder a fantasmas? Eu não poderia conter a fúria dos mortos nem se tentasse, acabaria me matando no processo. Enfim! Vocês estão me tirando o foco - Disse como se realmente contasse uma hstorinha pra dormir. - Fui até a casa dos Jeon que outrora foi um cenário de sangue e horror. Eu queria descontar a minha raiva daquela situação na casa, até porque foi lá onde começou a verdadeira guerra e mágoa dos bruxos da luz contra os das trevas. Lá foi o marco de nossa história. Onde tudo começou pra você e pra mim como um bruxo que futuramente teria que liderar bruxos da trevas até a total aniquilação dos da luz.
Aquela casa marcou a vida de todos.
- Lá eu encontrei um livro ou outro que estavam bem chamuscados. Lá falava sobre a lenda do lago e dos guardiões. Que um humano podia ser trazido de volta a vida como uma criatura forte e com o poder da natureza, mas destinada a proteger um bruxo da luz ou servir a ele. Lá, eu bolei todo o meu plano. Acabou que comecei a ouvir gritos desesperados na casa. Fui até a porta do salão e quase abri a porta, mas o fantasma de uma mulher veio me alertando dos perigos. Eu não abri de primeira. Acabei alterando um pouco meus planos, mas não importa, tudo nos leva até aqui!
- Por que soltou os fantasmas?
- Era uma forma de distração. Eu sabia que provavelmente você teria contato com aquela casa ou pelo menos ele teria, como um vidente. Fiz uma distração. Não queria que descobrissem minha verdadeira intenção, por isso soltei os fantasmas, para que pensassem que eu fazia por vingança. Sabia que iam descobrir que eu estava tramando alguma, uma hora ou outra. Vocês sempre descobrem.
- Se não queria dar poderes aos mortos para nos matar, o que queria fazer?
- Um exército de guardiões para matar todos vocês! Se não fossem por vocês e a obsessão que fizeram minha família ter, nunca teríamos chegado aqui. Yeri nunca precisaria ser morta!
Sua face agora transparecia raiva.
- Vou trazer ela de volta e vou destruir vocês. Assim posso viver do jeito que eu quero e ainda agradar minha mãe de alguma forma.
- Está preso a ela, a obedecendo mesmo quando ela já está morta? - Não consigo evitar, acabo rindo, debochando dele.
Sua ira da pra ser notada de longe
- E o que essa garota tem haver com a história toda? - Jimin pergunta apontando para a tal Seulgi.
- Ela é uma bruxa das trevas. Infiltrada na família de humanos que tinham a possibilidade de ter contato com bruxos da luz. Ficou quase a vida toda nessa missão e acabou que pegou afeição pela família disfarce dela. Quer vingança pela irmã. Nos unimos pelo mesmo propósito.
Ouvimos algo se mexer na água do lago. Olhei para lá e algumas pessoas vinham andando, encharcadas e vivas. Transformadas em guardiões. Entre elas estavam Rosé, Jackson, Uma garota que eu nunca vi na vida, Yeonjun, Soobin, Taehyun, Huening Kai e Beomgyu.
Ele queria um exército, mas só conseguiu apenas oito guardiões. De qualquer forma, lutariamos de igual pra igual.
- Agora você não pode impedir a destruição dos bruxos da luz, Jungkook... É apenas questão de tempo! - Começou a rir. - Vão, meus queridos guardiões, acabem com eles!
Assim que Youngjae ordenou, os recém guardiões que até então estavam imóveis, começaram a atacar. Até Seulgi entrou no meio partindo para cima de Jisoo.
Eu percebi que eles não estavam agindo de maneira normal, pareciam bonecos guiados por seu mestre. Estavam sendo controlados como marionetes. Nem sabiam o que estavam fazendo. Com certeza não tinham nem noção de que nem eram mais humanos.
- Eles tinham uma vida! Como pode fazer isso com pessoas inocentes?!! - Parti pra cima de Youngjae, furioso. Lutavamos apenas usando o corpo. Tentava lhe bater e ele se defendia. Ele tentava e eu contra-atacava.
- Acha que pessoas ruins viram guardiões?! - Ele disse rindo enquanto tentava desferir socos que eu facilmente bloqueava. - Só pessoas de bom coração viram guardiões, Jungkook! Não conhece a lenda?
Riu tentando socar meu rosto.
Então o fato não eram pessoas que não tinham nada ou que sofriam, não era por isso que os ricos na guerra de muito anos atrás não conseguiram se transformar em guardiões. Era porque não tinham bom coração. E eu reconhecia agora. Todos esses guardiões, até Yeri que eu nem conhecia, todos tinham bom coração. Ela podia ter se envolvido com esse cara terrível, mas o amava de verdade, era uma inocente em toda aquela história.
Nossa luta chegou até os céus onde voavamos e nos atacavamos com todo nosso poder.
Lá embaixo, meus amigos guardiões lutavam com tudo o que podiam contra os guardiões criados e controlados por Youngjae.
Em um momento de distração dele, que olhava vez ou outra para sua amada que lutava contra Taehyung, eu o acertei com uma palma eletrizante, fazendo ele sentir o impacto do choque e perder o controle dos guardiões por um momento. E foi só o que precisou, um momento. Quando Yeri tomou consciência, um galho de árvore atravessava seu peito.
Youngjae tomou o controle e a luta entre os guardiões recomeçou, mas Yeri estava cuspindo sangue, com o galho lhe atravessando. Um galho que Taehyung fez crescer e lhe atravessou com ele. Youngjae viu aquilo e pude ver o ódio e a dor se formar em seus olhos em um único segundo. Ele desceu até lá num piscar de olhos. Eu fiz o mesmo, ficando na frente de Taehyung, impedindo que Youngjae fizesse qualquer movimento contra ele.
Olhei para Tae e o mesmo parecia estar em choque. Os olhos arregalados e horrorizados.
- Tae, você tá bem? - Ele nem pareceu notar minha presença. Parecia nem ouvir minha voz.
Youngjae estava agachado no chão, segurando o corpo de sua mulher que morria aos poucos. Ele olhava pra ela, a dor lhe tomando.
- Yeri... Não faz isso. Não morre de novo. Não morre de novo, por favor. Fica. - Ele passava a mão em seu rosto deixando as lágrimas caírem.
Ela olhou para ele e sorriu. Seus dentes lavados pelo sangue que cuspia a todo minuto.
- Ei... Não chora. - Ela disse com dificuldade cuspindo mais sangue e fazendo cara de dor. - S-sua irmã descobriu sobre mim. Ela é cruel.
- Ela não tá mais aqui, tá tudo bem.
- Eu não deveria estar aqui... Eu senti que estava morrendo. Eu morri. - Ela olhou para ele assustada.
- Eu te trouxe de volta - Sorriu para ela. Era um sorriso cheio de dor.
- Eu não quero mais sentir dor, Youngjae. Estou sentindo muita dor - Disse cuspindo mais sangue.
- Está tudo bem... Eu vou tirar isso de você - Ele olhava para o galho. Queria aliviar sua dor de alguma forma. Impedir que ela morresse novamente. Ele tirou o galho. Ela urrou de dor. - Viu? Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. - Disse abraçando o corpo dela enquanto chorava. Ele olhou novamente para ela e seus olhos estavam fechados. Ela não respirava mais. Ele apertou os olhos com força, chorando com mais intensidade e dor.
Os outros ainda lutavam. Os guardiões dele não paravam de lutar. Estavam mais agressivos!
Seulgi lutava com lágrimas nos olhos e raiva transbordante. Estava sem controle. Nem pensava mais em se defender, só atacava e se deixava levar pela raiva.
- Hoseok! - Jisoo gritou se defendendo de um chute nas costelas com seu braço. Ele entendeu. Caçou algo no bolso e jogou para ela que pegou, fez um movimento com a mão e logo Seulgi estava caída no chão de joelhos segurando o pescoço que jorrava sangue.
Percebi que o objeto era um canivete, mas não do tipo suíço e muito mais afiado.
Em poucos instante a Seulgi se foi também. As duas irmãs estavam mortas. Em busca de sua vingança, Seulgi encontrou o mesmo destino da irmã e parecia ser exatamente isso que ela queria pelo jeito que lutava com Jisoo.
- Vai ficar tudo bem - Disse para o corpo morto de sua amada - Eu vou te trazer de volta. - Ele se preparava para levantar o corpo dela e provavelmente levar ao lago. A lua ainda a iluminava então ele tinha chance.
- Não vai dar certo - Tae disse atrás de mim. Chamando a atenção de Youngjae. - O lago só revive humanos, os transformando em guardiões. Não revivem guardiões mortos. Se fosse assim, então viveríamos pra sempre e isso quebraria toda a ordem do universo.
Youngjae que parecia ter uma fagulha de esperança que foi se apagando, se deixou ser tomado pelo desespero e tristeza. Os guardiões dele pararam de lutar e os meus amigos ficaram em posição de defesa esperando eles voltarem a atacar.
- Eu fiz tudo isso por ela. Por que tinha uma chance de trazê-la de volta e agora não é mais possível. É tudo culpa minha! Eu a envolvi nesse mundo. Eu a meti no meio disso. Eu sempre pensei que ficaria tudo bem se eu a namorasse em segredo, mas assim que revelei a verdade sobre mim e minha família... Não! Assim que me envolvi com ela, eu a tinha colocado em perigo. Eu sou o único culpado por sua morte. - Dizia aos gritos. Aos prantos. Totalmente entregue a sua dor. Reconhecendo que não havia mais esperança de trazê-la de volta.
Eu me sentia exatamente assim quando me toquei de que era apaixonado pelo Taehyung e eu ainda acreditava que ele era um humano. Eu tinha medo de por ele nesse tipo de situação. Se ele fosse um humano, poderia estar como Yeri agora. E seria culpa minha. Na verdade, eu sempre soube o que eu sentia por ele, eu só negava pra mim mesmo toda aquela atração e ciúmes e confusão. Eu simplesmente não podia reconhecer meus sentimentos por aquele humano pois o estaria condenando a uma morte horrível somente por eu ser quem era. Ele ser um guardião não mudou meu medo, na verdade só piorou tudo pois agora sei que o mesmo inimigo que eu enfrento, é o inimigo dele e o mesmo perigo de morte que eu enfrento é o mesmo que o dele.
Humano ou não... Eu podia perdê-lo.
A diferença, é que ele ainda estava vivo. Eu só sentia medo, enquanto Youngjae sentiu a dor de perdê-la duas vezes. Yeri morreu duas vezes. Sentiu a pior das dores, duas vezes. E isso apenas porque o amava.
Isso é muito cruel.
- Nada mais faz sentido - Ele sorriu cheio de dor. Uma lágrima solitária caiu. - Me matem - Arregalou os olhos, suplicante, decidido. Parecia um louco, mas só estava desesperado. Desesperado para que aquela dor passasse. Desesperado para encontrá-la do outro lado. - Me matem!
Tae o olhava com pena. Todos ali o olharam com pena. Eu entendia ele. Eu perdi tantos na minha vida. Se perdesse mais alguém, eu não seria capaz de viver.
- Por favor, me matem! - Implorava.
Deixei que minhas mãos fossem tomadas pelo meu poder. As faíscas de energia elétrica pipocando em meus braços.
- Jungkook... - Tae tentou me impedir. Ele achava que não era necessário, mas porque não entendia. Ele nunca superaria aquilo. Ele não tinha mais ninguém. Se não fossemos nós a matá-lo, ele faria sozinho. Eu podia poupar a dor.
Tae soltou meu braço, entendendo.
- Espero que agora tenha paz - Eu disse.
Meu corpo todo foi tomado pelas faíscas. Levitei uns centímetros e com o som furioso de um trovão, mandei dois raios sobre eles. Seulgi, Youngjae e Yeri viraram pó.
Havia acabado agora.
Estávamos livres. Em paz.
- Acabou - Eu disse suspirando - Vencemos.
- Vencemos! - Gritaram em comemoração.
- Vencemos! - Gritei junto a eles.
Finalmente! Agora viveremos a paz que tanto sonhamos.
Abracei Taehyung bem forte.
- Sobrevivemos. - Ele disse sorrindo.
- É, sobrevivemos.
Todos nós. Juntos.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.