Infelizmente, para a minha mãe, todos pareciam saber o motivo dela estar viva, até mesmo eu. Ninguém ficou feliz em vê-la viva. Pareciam mais, apreensivos.
Olhei para o Andrew que me encarou _ Parece que você conseguiu salvá-la.
Eu sabia que ele a amava. Havia algo mal resolvido, com a volta dela. Me afastei da multidão. Fui para o bar local. Depois de toda a comoção naquela estranha reunião na praça, eu a veria em casa.
O Kauã sentou ao meu lado e pediu um drinque que bebeu de uma vez, pedindo outro em seguida. Reparei na sua cara de decepção.
_ Você deveria estar comemorando, não?
_ O seu namorado estragou tudo _ desabafou antes de beber mais um copo e pedir outro.
_ Ela pareceu ótima para mim.
_ Ela não tem o mesmo cheiro. Nunca mais será a mesma. A Luana morreu. Aquilo, no lugar dela, é outra coisa.
Bebeu mais um copo, pagou e levantou. Observei enquanto ele caminhava levemente tonto, para fora. Para o seu carro. Segui o rapaz e, roubei as chaves da sua mão, quando ele tentou abrir o carro.
_ Hei!! Devolve isso, menina.
_ Te dou uma carona, senhor. Vai acabar se matando.
Ele gargalhou por um longo tempo apoiado na lateral do seu carro. Tinha a mão sobre a barriga, quando parou de rir e me olhou.
_ Não sou assim tão frágil _ sorriu _ Mas vou deixar você fazer a sua boa ação do dia _ soou como se me fizesse um favor.
_ Obrigada _ sorri irônica, vendo-o caminhar para o carona do meu carro.
Quando estávamos à caminho da fazenda ele olhava para a floresta, calado, pensando.
_ Uma moeda por seus pensamentos _ brinquei.
_ Pensava que talvez... talvez eu devesse tentar. Eu queria casar com ela. Mas sempre que eu tentava tocar no assunto, algo nos fazia mudar. Não rolava o pedido, faltava algo.
_ Talvez faltasse mesmo. Será que ela te levava a sério? Você disse que a amava?
_ Não sei. Eu nunca disse.
_ As palavras existem para ser ditas. Mas pensa positivo. Agora você pode dizer tudo o que omitiu antes, menino _ sorri.
Parei diante do casarão sem desligar o carro. Assim que ele desceu, fiz o retorno e segui de volta para a estrada. Ouvia música, a estrada estava um breu, sem luz nos postes. Pode ter sido um vento forte, um raio, um acidente de carro contra um poste, enfim.
Mas estava tranquilo, sempre fora este breu, antes. Mais adiante vi aquele olhar vermelho e freei quando os faróis do carro, iluminaram um homem alto, não era o Andrew. Sorriu com as longas presas expostas e caminhou para a minha direção. Um medo apavorante me tomou. A última coisa que vi foi o seu rosto perto do meu, dentro do carro.
Andrew
Estava em um evento público por livre e espontânea vontade. A Laura tem o dom de me levar a coisas que eu nunca faria, se não fosse em sua companhia. Aquelas pessoas, lobos e humanos que eram família e amigos dos lobos, quase me aceitavam. Eu notei simpatia nos olhares que recebi.
Primeiro um discurso do prefeito e do administrador que investiu na cidade. Depois uma festa com dança, comes e bebes na ampla e bela praça central. Tudo ia bem e estava divertido, até ela subir no palco. Luana estava viva e era como eu. Todos ficaram assustados, inclusive eu. Parece que quando ela morreu enquanto eu tentava curá-la, se transformou no que eu sou.
Fiquei feliz em ver que ela estava bem. Fiquei realmente feliz, tanto que, não vi quando a Laura saiu. Não até que a Luana me perguntou sobre ela, logo depois da nossa primeira dança. Ela estava divina. Melhor e mais afável. Flertou comigo e, eu fui me deixando levar.
Por muito tempo, desejei essa dança, esse olhar, o tom suave na voz, o sorriso sedutor, o toque das suas mãos em meus ombros. O seu cheiro era envolvente e a sua beleza saltava aos olhos, sentia sede de viver. Gostei de como ela ficou. Gostei muito.
_ Me leva para casa, Andrew? _ sorriu lindamente ao dizer.
O meu coração acelerou ao ouvir o meu nome na sua voz _ Claro.
Procurei pela Laura. Nós viemos juntos, sem ela, eu estava a pé. O carro havia sumido e a Laura também.
_ O que está fazendo? _ Luana sorriu com sua mão no meu braço.
_ Procurando o carro. A Laura levou.
Ela apontou para um carro encostado do outro lado _ Vamos no meu _ me entregou as chaves.
Dentro do carro, o flerte continuava. Eu devia dizer para a Luana que eu estava com a Laura, ou dizer a Laura que eu estava com a Luana? Eu não sabia. O certo era errado e o errado, certo. Passamos a noite conversando. Falamos sobre muitas coisas triviais, até entrarmos no passado.
A conversa seguiu por um caminho perigoso onde eu me vi tendo que admitir os meus sentimentos por ela.
Laura
Acordei nas ruínas de um castelo que era mais velho do que a nossa cidade. O morador deste castelo, foi o dono de todas as terras que vemos pela longa estrada que, viajamos da civilização até os limites da cidade. Olhei ao redor, vendo o luar atravessando as janelas. Eu costumava vir aqui com o Kaua e outros adolescentes. Estava no quarto mais alto, deitada na velha cama empoeirada.
Levantei procurando pelo meu amigo de olhos vermelhos. Estava escuro e eu tropecei, caindo. Machuquei a mão ao cair, tinha sangue escorrendo. Fechei a mão tentando conter o cheiro, mas assim que me levantei, ele prendeu o meu pulso e olhou para o corte. Tinha uma expressão de zanga no rosto.
Beijou a palma da minha mão, como se mordesse. Estava curando a ferida com a sua saliva, notei. Confusa encarei os olhos verdes do ruivo com a pele mais perfeita que eu já vi.
_ Você é desastrada _ achou graça da sua descoberta _ Sempre desmaia quando sente medo? É um mecanismo de defesa bem perigoso para você.
Estava mesmo confusa. Ele estava conversando comigo?
Continuou _ Jean Pierre e, o seu nome?
_ Laura Yang.
_ Uau! A filha da Luana?
_ Conhece a minha mãe?
_ Estivemos juntos por um tempo.
Ah, meu Deus! Mais um que caiu nos encantos da srta Yang. Baixei a cabeça, suspirando desinteresse na conversa.
_ O que houve?
_ Você é o novo namorado da minha mãe. Prazer.
_ O que? Não.
_ Não!?
_ Apenas a ajudei a se adaptar. Mas você tem um namorado, ou amante, como eu. O seu amigo é um lobisomem. Por isso, eu fiquei curioso. Qual a razão de você sentir tanto medo de mim?
_ Quem te disse que eu não sinto medo deles?
Sorriu surpreso.
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