Laura
Mais uma missa.
Um casal estranho apareceu e virou assunto. Eles tinham uma filha linda, diferente da maioria por aqui. A morena tinha... personalidade. Jean Pierre ficou pálido quando viu o pai daquela família.
_ O que foi? _ cochichei.
_ Caçadores.
Achei graça _ Caçadores! Todos caçam por aqui.
_ De vampiros. Caçadores de vampiros _ estremeci com o entendimento, e desta vez, evitei olhar para a família novamente.
Assim que foi possível, saímos da igreja. Avisamos a Luana e o Andrew que nos seguissem. Eles obedeceram.
A vida no fim no mundo já era difícil, mas acabou de piorar.
_ O que aconteceu _ Luana perguntou para o Jean.
_ Conheço aquele cara na igreja. Ele me caçou na França há mais de um século. Matou um dos meus amigos.
_ Há mais de um século? O cara tem menos de quarenta _ ressaltei a sua aparência _ Você não está confundindo com outra pessoa?
_ Tem certeza? _ o Andrew pareceu lhe dar crédito.
_ Claro que tenho. Aquela cicatriz no seu rosto, perto da orelha, fui eu quem fez. Quase arranquei a cara dele fora.
_ Gente, há mais de um século, lembra? _ me intrometi _ Não é possível ser o mesmo cara.
_ Sangue de vampiro _ ambos disseram em uníssono olhando para mim, justificando a aparência jovem.
_ Ele deve ter se curado com sangue também _ continuou o Jean.
_ Mas se há uma cicatriz, ele não tem bebido mais _ o Andrew notou.
_ Ninguém que prova o nosso sangue consegue ficar sem _ o Jean soou a preocupação.
_ Quer dizer que logo ele vai ter que caçar de novo _ o Andrew deu um bom motivo para a preocupação do Jean.
Houve um olhar trocado entre os dois.
_ Façam um mala francesa. Somente o extremamente necessário _ Jean disse olhando de mim para a Luana _ Estamos de saída.
Em seguida, ambos foram para o galpão com ferramentas, produtos químicos e essas coisas. Fui, assim como a Luana, fazer o que o Jean mandou.
Quando Luana e eu voltamos, Andrew e Jean soltavam o último dos animais da fazenda.
_ O que estão fazendo? _ foi a Luana quem fez a pergunta óbvia agora.
_ Pegaram o celular e o Notebook? _ o Jean estendeu a mão para que descemos para ele.
Obedeci desnorteada e a Luana também. Ele deu os celulares para o Andrew que os destruiu amassando nas mãos como se fossem biscoitos cream crackers, enquanto o Jean fazia o mesmo com o meu Notebook.
_ O que vocês fizeram? _ levei as mãos a cabeça vendo as migalhas que sobraram.
_ Estamos salvando a sua vida.
_ A minha vida estava naquele Notebook _ desconsolo e revolta em minha voz.
Gasolina e querosene fediam em nossas narinas. O Andrew riscou um fósforo. A cena pareceu seguir em câmera lenta quando a Luana viu ele fazer isso, e se jogou para impedir.
_ NÃO!!! _ ela gritou de forma desesperada.
Mas Jean a segurou pelo antebraço, e tudo se incendiou diante dos nossos olhos no segundo seguinte. Luana chorava dentro do abraço do Jean e eu lamentava do fundo da minha alma, lembrando de tudo o que eu vivi aqui. Um olhar para o Andrew me fez ver em seu rosto o alento de saber que ele compreendia a minha dor.
Não levamos nada. Corremos floresta a dentro evitando ruas e trilhas. Praticamente voamos por cima das árvores para não deixar rastros. Isso exigia uma verdadeira corrida em um velocidade suprema. Foi a primeira vez em que me cansei desde que fui transformada.
Porém não fomos muito longe sem ser pegos. Havia uma emboscada na floresta. A Luana foi capturada. Nós escapamos, só notando a sua falta no litoral.
Jean ficou tão bravo que nem falou nada, se afastou de nós mata a dentro, pensando que ela ficara para trás talvez. Mas logo voltou com uma ideia.
_ Vamos salva-la.
_ Você enlouqueceu? _ a voz do Andrew era um rosnado baixo _ Vamos perder a Laura também.
_ A Laura não vai _ decidiu resolvendo.
_ Ela é minha mãe.
_ Ser filha dela te dá algum tipo de poder especial? Porque você vai precisar se for voltar.
_ E quanto a vocês? Também não têm poderes.
_ Ah, nós temos sim. A idade nos faz mais fortes _ Jean checava a lâmina da faca que trazia no seu coturno _ Um século de aprimoramento para mim e de deterioração para o meu caçador. Acho que eu ganho essa _ pôs a faca de volta.
_ E se ele não estiver sozinho?
_ Ele não está. Caçadores se casam entre eles. A família inteira é um perigo.
Vi eles decidirem tudo e sair. Mas eu sabia o caminho de volta. Sabia que era muito arriscado. E sabia que se eles não conseguissem eu ficaria sozinha. Seria o meu fim, pois eu não teria mais motivos para viver. Quase perdi isso quando pensei ter perdido a Luana. Agora havia muito mais a perder.
Voltei, sorrateiramente.
Seis dias antes
Jack
_ Como foi o retorno?
A voz do Asrael me tirou de dentro do livro sobre lobisomens que comecei a ler no domingo.
_ Sem novidades. Nenhum lobisomem apareceu.
_ Shiii! Não falamos isso por aí.
_ Por que? Eles se ofendem fácil?
_ Quase isso.
Passei um zíper imaginário na minha boca.
_ Tenho um presente para você _ continuou, me mostrando um colar de couro preto com o pingente de um lobo esculpido a mão.
Toquei o pingente em sua mão com uma certa fascinação _ Foi você que fez?
_ Esculpi no domingo. Posso colocar?
Afirmei virando e descobrindo o pescoço com as mãos nos cabelos. Ele foi delicado. Quando terminou, mostrei para ele como ficou.
_ É um amuleto contra lobisomens? _ brinquei.
_ Como adivinhou?
_ Você é tão óbvio _ gargalhei.
Isso o constrangeu. Ficou bem claro que ele não gostou do adjetivo.
Depois do intervalo, tivemos educação física. A aula terminou com todos indo para o vestiário. Eu seguia o fluxo como retardatária, quando a grande mão do alto Asrael me buscou encontrando minha mão.
Fez sinal de silêncio e apontou a parte de trás da arquibancada. Não entendi, mas fui. O seu grande corpo fez sombra sobre mim, e ele se curvou segurando a minha cintura em um beijo. Um beijo! O meu primeiro beijo.
Um suspiro me escapou quando senti os seus lábios contra os meus. A sua língua seguiu roçando na minha, e eu me vi buscando pela sua também. Minhas mãos estavam sobre o seu peito. O meu corpo apertado contra o seu naquele abraço. Senti o seu perfume, parecia com madeira, ervas aromáticas e brisa suave. Me libertou, examinando o meu rosto.
_ Isso também foi óbvio?
Me zanguei instantâneamente. Ele notou.
_ Isso foi por causa...
_ Não, Jack _ me abraçou de novo, tentando conter minha raiva _ Foi porque gosto de você _ confirmou olhando em meu rosto.
Isso me acalmou.
_ Vou fechar a quadra _ o treinador avisou.
Seguimos para o vestiário.
Asrael me olhava da quarteira quase ao lado da minha, tinha um ar de felicidade e parecia não prestar atenção na aula. Me roubou outro beijo quando nos despedimos no estacionamento.
_ Você não tem um carro?
Comentei depois do beijo. Era estranho, já que sua casa era bem distante do colégio.
_ Eu gosto de praticar corrida _ soou uma sinceridade genuína.
_ Uau! _ meu olhar passou pelo seu corpo checando o resultado _ Eu queria ter essa força de caráter.
Gargalhou _ Não. Você está bem assim _ me beijou de novo.
Seguimos lados opostos depois.
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