○◇ Como Mérida enxergava o mundo ◇○
Estava animada. Ou melhor dizendo, eu estava muito ansiosa, mas muito ansiosa mesmo. E isso qualquer um com olhos poderia enxergar. Minhas pernas balançavam freneticamente debaixo da mesa, meus dedos batiam-se de forma rápida e vez ou outra, mordia os meus lábios, desviando o meu olhar para o relógio da parede a cada trinta segundos, verificando o horário a cada instante e me frustrando bastante.
Ainda eram onze e quarenta e cinco! O tempo passava tão devagar!
O motivo disso? Essa professora de Química é um saco, sempre repetindo a mesma coisa, pelo amor! Quem não sabe que H2O é a própria água? Aff, que tédio! E também eu tenho compromisso hoje antes das 2h, que vai ser uma grande tortura! Por isso tamanha ansiedade..
— Ei.. — sinto alguém cutucar o meu ombro por trás, viro a minha cabeça em direção a pessoa discretamente, esta que sussurra baixinho para a professora não ouvir. — Como você 'tá? Ansiosa pro festival?
— Para falar a verdade, não muito… — respondi em um tom baixo também. — Vai ser um completo tédio.
Bom, agora você deve estar me perguntando: "Festival? Como assim?"
É bem simples, para falar a verdade. Daqui a duas semanas haverá um festival no colégio, em comemoração dos seus 150 anos. E bom, eu não estou nem um pouco afim de ir e, o motivo não é bem a festa em si, apesar de tudo, já que eu não ligo pra essas baboseiras de festas, comemorações e tudo mais, prefiro manter distância dessas coisas, sendo sincera (nada contra as pessoas que gostam desses eventos e os festeiros). A questão é que, daqui a duas semanas estarei me mudando para a minha cidade natal, que fica na Escócia. E o que tem demais nisso? É que eu ficarei fora por um bom tempo, longe dos meus amigos e principalmente dele, do meu melhor amigo e paixão secreta desde os meus seis anos, Soluço.
— Por que você acha isso? — Ergui uma sobrancelha com a pergunta.
— Por que você acha? Vai ser só um festival chato, cheio de professores exibidos e sem graça. — Revirei os olhos.
— A sua positividade é contagiante — sussurrou ele sarcástico, o que acabou chamando a atenção da Sra. Chatonilda.
— Estou escutando alguns murmúrios e cochichos na sala. — Ela disse de forma ríspida, lançando um olhar mortal na nossa direção. Oops! — Espero que seja algo relacionado a nossa aula.
Não deu tempo de poder responder ela, já que o Universo e alguma força sobrenatural distante do meu alcance atendeu às minhas orações e súplicas, fazendo com que o sinal batesse. Finalmente!
Arrumei os meus materiais, ignorando todos os avisos dela sobre a lição de casa de que deveríamos fazer e blá blá blá! Sai dali como um furacão vermelho. Apenas parei quando escutei uma voz conhecida me chamar:
— Mérida, espera! — Soluço gritou ao longe, correndo na minha direção. Assim que chegou perto, parou para respirar meio ofegante. — Para alguém de pernas curtas, você até que anda bem rápido! — Revirei os olhos de novo.
— Já falei pra parar de me chamar de baixinha. — falei ríspida.
— Mas eu não te chamei de baixinha — tentou se justificar.
— Mas quis insinuar — Estreitei os olhos na sua direção.
— Tá legal, não vamos falar sobre a sua altura — Disse recuperando o seu fôlego e, a partir daí, começamos a andar lentamente, aproveitando a companhia um do outro.
Nós dois somos melhores amigos há bastante tempo, nos conhecemos desde que eu me lembro. Somos uma dupla inseparável e insubstituível. Praticamente estudamos na mesma escola e sala de aula, temos muitos amigos em comum e somos vizinhos, então sempre vamos juntos para a escola e para as nossas casas.
Ou seja, resumidamente, estamos unidos e colados por 24h!
E sinceramente? Eu adoro isso!
— Ei, Mérida, eu… quero te falar uma coisa.
Olhei para ele, chamando a minha atenção, levemente curiosa, permitindo que ele prosseguisse, de forma silenciosa. Ele parecia nervoso, estava desviando o olhar, levemente corado — e isso o deixava muito fofo! — estava meio sem jeito e…
Espera, por que ele está tão envergonhado assim?
— Uh, bom… é algo meio confidencial, então, preciso que me prometa que não vai contar para ninguém. É segredo, tá? — sussurrou baixo, como se não quisesse que ninguém escutasse a nossa conversa.
— Tá bem, ué, mas por que essa enrolação toda? — Estreitei os olhos, achando aquilo meio suspeito. Ele coçou a nuca antes de responder.
— É que eu tô sem jeito. Não sei por onde começar — Suspirei alto.
— Anda logo, desembucha. É algo grave? — questionei começando a ficar preocupada.
— Não, não é grave — Suspirei mais aliviada. — Mas é… Uh… Bom, é algo vergonhoso… — falou se embolando nas palavras.
Ué, mas o que ele tinha pra falar que seria tão vergonhoso?
Revirei os olhos, já sem paciência pra tudo aquilo e disse:
— Dá pra ir logo direto ao ponto? — falei já impaciente. Senhor! Quanto drama!
— Uh, bom… — suspirou. — Mérida, o que você faria se estivesse apaixonada por uma pessoa?
Ooooou…
Para, para, para, para, PARA TUDO!
Hiccup Haddock está… apaixonado?! O que aconteceu com o verdadeiro Hiccup?! Chamem as autoridades! Parece que temos um impostor entre nós!
— Éééér… — pus uma mão na cintura e, a outra coloquei em volta do seu pescoço, puxando-o para mais perto. — Quero que seja um pouco mais direto e me dê mais detalhes.
— Como..?
— Quem é a garota? Ou o garoto, talvez? — sussurrei a última parte e, parece que ele acabou escutando, já que fez uma careta muito engraçada quando eu disse isso.
— Nada contra, mas não curto garotos. — Começou a brincar com os dedos, desviando o olhar, corado. Iti que fofura! — E respondendo a sua pergunta… Ela é uma garota incrível, eu sempre a admirei desde pequeno e ela é muito bonita. Há um certo tempo que eu gosto dela, eu sei, mas… Uh, eu achei que seria o momento ideal para dizer isso para você, já que você é a minha melhor amiga.
Nossa, tava indo muito bem até chegar a esse final.
"Você é a minha melhor amiga"
Que coisa tenebrosa. Como um tiro doeria bem menos que isso.
Acho que ele não percebeu o quanto eu estava chateada com essa última frase — e é bom que não saiba mesmo. Meus olhos estavam lacrimejando e minha voz estava embargada, mas eu não vou permitir que nem uma lágrima desça e vou manter a voz firme!
— Ah, é mesmo? — falei sem graça, tentando disfarçar a minha cara de decepção, com um sorriso forçado. — E quem é a sortuda? — dessa vez a minha voz acabou falhando um pouco, droga!
Percebi que ele olhou de relance para mim pensativo, como se estivesse ponderando em me dizer quem era e, ao mesmo tempo, tentando entender e descobrir se eu estava escondendo algo por causa da minha voz, que parecia de alguém que estava prestes a chorar (e estaria mesmo, mas não vai). Logo ele deu de ombros, respondendo-me.
— É a garota mais linda e perfeita que eu já conheci em toda a minha vida, Astrid…
— Eh? — Tombei a cabeça para o lado, tentando me lembrar de alguma Astrid.
Eu não conhecia ninguém que se chamasse Astrid, a não ser… Urgh, ela…
Astrid Hofferson, ou como eu carinhosamente apelidei, a "patricinha perfeitinha", é uma garota insuportável e sem sal que vive se pegando com os professores nos corredores para conseguir notas altas e é, literalmente, adorada por todos os meninos, sendo a namorada dos sonhos de qualquer um. Apesar de ser uma completa falsa e sem noção, admito que até que ela é bonitinha, tem cabelo loiro, olhos azuis e tem belo corpo — entendam essa última parte como quiserem, hehe.
—... E bom, dizem que ela até já ganhou três medalhas de ouro em competições escolares. Era de se esperar dela, porque nossa… Ela é tão perfeit-
— Tá legal, Soluço, tá bom — Interrompi aquela baboseira já sem paciência. — Não sei o que você vê naquela garota, ela é tão sem graça!
— Isso é o que você acha — Deu de ombros. — A maioria das pessoas acha ela incrível.
— Eu não sou essas pessoas — Cruzei os braços. — Além disso, algo me diz que ela não é flor que se cheire.
— Você mal a conhece.
— Meus instintos nunca falham.
— Ah, para com isso vai.
— Parar com o quê? Estou dizendo verdades, ué. Ela não é flor que se cheire! — cruzei os braços, fazendo um pequeno bico emburrado nos lábios.
— Sabe o que eu estou sentindo? Cheirinho de ciúmes, isso sim. — Deu uma gargalhada, balançando a cabeça de um lado para o outro.
Há! Essa é boa! Eu, Mérida Dunbroch, com ciúmes de Hiccup Haddock?! Que piada.
…
Tá bom, admito que estou com um pouco de ciúmes, sim, mas ele não precisa saber desse mero detalhe! E também ele não precisa fazer mil e uma descrições de alguém que ele não conhece muito bem!
— Eu não tô com ciúmes, por mim você faz o que você quiser, se casem e sejam felizes para sempre! — revirei os olhos.
— Sei, sei. Vou fingir que acredito nisso — Debochou, apenas dei de ombros.
Se ele não quiser acreditar em mim, o problema é dele.
Enfim, caminhamos por mais alguns minutos e um silêncio perturbador e estranho paira sobre nós dois. Estava voando nos meus pensamentos, pois eu tenho uma imensa queda por ele, mas ele não sabe disso e não pretendo contar isso tão cedo.
Sim caros leitores, esta bendita garota adolescente estúpida, invés de declarar o seu amor juvenil para o seu melhor amigo, ela simplesmente decide guardar esse segredo e não conta a sua paixão secreta. Resultado? Ela agora está decepcionada e está se f…
(Opa, me lembrei. Sem palavras de baixo calão aqui. Temos crianças na sala!)
Estamos caminhando calmamente, até me lembrar de que eu tinha compromisso às duas em ponto.
Oxente, mas, que horas são?!
— Espera aí… — me virei para Soluço. — Hiccup, que horas são? — vi ele verificar o horário no relógio em seu pulso.
— São 2h2m…
Porcaria! A minha mãe vai me matar se eu não for. Apesar de que vai ser chato e que eu não quero ir, se não for, ela vai arrancar a minha cabeça depois! Mas eu não quero ir…
Droga, droga, droga!!
Indecisão é fod-
QUAL DECISÃO EU DEVERIA TOMAR?
1) Eu deveria ir. Afinal, ainda é um compromisso e eu devo estar presente, quem sabe assim a minha mãe pare de me encher o saco!
2) Não deveria ir. A vida é minha, eu faço o que eu quiser, esse compromisso não vai mudar nada na minha vida e isso vai ser um completo tédio!
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