"Você gosta da sensação de controle que tem sobre ela?"
Sim. Mas é óbvio.
Karina amava a sensação gostosa de saber que Winter, a chefe responsável em colocá-la – no mínimo – atrás das grades, estava cada vez mais interessada por si. O que Yu não sabia era que as duas já criaram laços, uma espécie de obsessão mútua que estavam as consumindo a cada passo dado. A intriga por Kim não saber quem era o indivíduo e porque estava fazendo tais barbaridades a matava como profissional. Já a mais velha usava desta mesma palavra um pouco mais além: tirar a vida de uma forma um tanto perturbadora.
"Pelo amor de Buda, me solte! O que você quer de mim?!" Esbravejou. Karina havia amarrado um homem numa maca, aparentemente comum. Um médico renomado que trabalha no hospital metropolitano de Seul, estava em casa sozinho, na sua sala. "Sou pai de família, tenho filhos! Por favor." Yu levantou da cadeira ao lado, entediada, segurando uma faca da própria cozinha.
— Eu não quero seus filhos - disse confusa, brincando com a faca perto de seu rosto. O homem deixou uma lágrima escorrer em desespero - Toda vez o mesmo papo - revirou os olhos em tédio, lançando logo em seguida um sorriso curioso. A mulher arrancou um terceiro dedo do homem, sentindo o sangue quente escorrer na palma de sua mão. O grito de dor entrava nos seus ouvidos como música. Sua pupila dilatou naquele momento, enfiando o objeto cortante próximo ao estômago.
"Você é louca! Vou te assombrar pelo resto da sua vida miserável, sua vadia!" Gritou. Karina já estava com alguns respingos de sangue na sua roupa, deixando-a levemente chateada com o comportamento do médico após cuspir no seu rosto.
— Nossa, não fique tão irritado - debochou e perfurou um vaso sanguíneo estratégico na perna do homem, assistindo-o sangrar até a morte. Yu levantou, suspirando pesadamente. Olhou aos arredores da casa, lançando um sorriso satisfatório, sujo de líquido vermelho. Andou pela cozinha, guardou o objeto cortante no bolso e pegou um copo d'água - Credo, preciso de um banho - olhou para seu rosto, dando de ombros. Esse havia sido um dos vários assassinatos que cometeu nas últimas semanas em Seul, um ato comum para os moradores já assustados com um serial killer, psicopata ou só alguém com fetiche em matar humanos aleatórios. Nada fazia sentido.
E Karina achava divertido o fato do quanto as pessoas a temiam, pobres criaturas.
[...]
Do outro lado, ainda na madrugada, Winter tentava encontrar um padrão no responsável por todas aquelas mortes. Poderiam ser pessoas diferentes, talvez agindo em conjunto, mas sua intuição dizia que se tratava da mesma pessoa. Encarou o grande quadro com uma xícara de café em mãos, pensativa.
— Qual é o padrão, seu desgraçado.. - sussurrou, ainda atenta. Bebeu um gole da bebida quente e quebrou o contato ao ver seu marido Choi Yeonjun, parado, a observando - Nossa, você me assustou! Amor, vem ver-
— Se for sobre o serial killer, desculpe, mas eu não quero saber - disse direto e Kim assentiu, voltando sua atenção ao quadro - Não vem dormir?
— Tenho que terminar o último relatório - falou e o Choi suspirou, derrotado. Sabia que o casamento não ia bem há semanas, a obsessão exacerbada de Kim por aquele suspeito estava complicando a situação. O celular tocou e rapidamente foi atendido - O quê?! Mais um? Me passa o endereço agora - disse incrédula, anotando em seguida num caderno. Após desligar a ligação e pegar sua jaqueta do trabalho, viu seu marido se deitar no sofá da casa. Choi evitou o espaço do casal, apenas para chamar a atenção da esposa ocupada que tinha. Winter suspirou, saindo porta a fora, acelerando seu carro há quase 120 km por hora. Estava escuro e deserto, apenas com alguns bares e boates abertos naquele horário. A mais nova desceu do veículo, já com sua arma em mãos, encontrando Aeri quase vomitando com a cena que encontrou.
— Puta que pariu - balançou a cabeça com o paradeiro do médico. Winter mordeu seu lábio inferior, baixando a cabeça. Dedos arrancados, pescoço quase degolado, parte lateral da costela gravemente ferida, entre outros - Esse é o doutor Hwang. Estava na nossa base de dados, parece ter escândalos de corrupção dentro do hospital onde trabalhava - Kim assentiu, encarando algumas coisas bagunçadas no ambiente. O assassino estava calmo, o copo d'água quebrado e sujo de sangue entregava, o que irritava a agente.
— Está fresco - observou o líquido, encarando Giselle. A japonesa concordou, ainda assombrada pela brutalidade - Talvez não esteja tão longe - pensou, colocando a mão no queixo, pegando sua pistola - Chame a perícia. Eu mesma vou atrás deste desgraçado - alertou e a outra negou, segurando o braço da chefe, a qual também era sua parceira.
— Esse assassino está matando pessoas de alto escalão no país, não pode simplesmente ir sozinha e achar que vai conseguir alcançá-lo fácil. É suicídio - argumentou - A essa altura deve estar em outra cidade - finalizou. Kim a encarou séria, soltando seu braço, passando a mão pelos cabelos.
— Ele matou Beomgyu - diz relembrando do seu melhor amigo com lágrimas nos olhos. Choi foi morto após descobrir a identidade do assassino no meio de uma boate na Tailândia, onde Kim estava presente, mas ele escapou antes mesmo de conseguir ver seu verdadeiro rosto - Há mais de um mês esse caos tá acontecendo e não fazemos ideia sequer do sexo! Puta que pariu! - chutou uma almofada da sala, frustrada.
— Se afaste do caso, dá para ver que você não está nada bem - sugeriu e Kim bufou, encarando um ponto fixo, pensativa. Havia uma mancha no tapete felpudo do ambiente - Você precisa dar mais valor a sua saúde mental. Sabe, eu frequento uma psiquiatra muito boa por sinal, e-
— Cale a boca e venha aqui. Está vendo isso? - questionou e a japonesa se aproximou do ponto, sem entender.
— Sim, uma pegada, e daí? - questionou e logo percebeu do que se tratava. Winter pegou uma fita métrica, mordendo seu lábio inferior, animada - Espera, não pode ser um homem. O tamanho.. - olhou atentamente e Kim concordou, encostando na pista quase que apagada.
— Exato. É uma mulher - era o primeiro deslize da, então agora, assassina - Talvez, pode ter acontecido no momento da tortura da vítima. O tapete felpudo nesse tom avermelhado é quase imperceptível - lançou sua hipótese e Aeri tirou uma foto, enviando para a base de dados. Bingo. Depois de muitas noites, finalmente um ponto para a agente. Winter encarou a amiga, esta que sorriu, exausta.
— Quase amanhecendo e a gente trabalhando, ainda dá tempo de voltar atrás? - falou em tom brincalhão e Kim negou, olhando para o corpo da vítima sendo examinado naquele exato momento. Cortes profundos e detalhes impressionantes. A forma que ela matava chamava sua atenção em um nível surpreendente.
— Assassinos não descansam, Aeri - disse voltando seu olhar para a garota, dando um tapinha no ombro alheio. As duas saíram para fora da casa, observando a noite nublada que aparecia.
Era uma madrugada de comemoração para Winter, pois, mesmo sendo um detalhe levemente tímido e aparentemente insignificante, era algo que a aproximava da serial killer louca que assombrava a cidade.
[...]
(Delegacia de Seul; Fim da manhã)
"Notícias urgentes. Mais um homicídio ocorreu na madrugada desta segunda-feira, no bairro xxx, em Seul. Segundo fontes da polícia, um homem de 59 anos foi morto brutalmente pelo mesmo suspeito que atormenta a capital há mais de um mês. A agente-chefe responsável pelo caso, Kim Minjeong, não quis dar entrevistas. Bom dia, Seul!"
As notícias da morte de mais uma vítima circulavam no departamento. Winter se encontrava à base de café extra forte naquela manhã.
Exausta.
As olheiras eram notáveis no seu rosto. Uchinaga chegou à mesa da parceira, entregando uma papelada do último caso.
— Foi ela? - acordou rapidamente após um leve cochilo. Giselle arrastou uma cadeira, sentando ao lado da amiga.
— Não? - disse com um sorriso curioso no rosto - Winter, você faz outra coisa além de investigar assassinas? - questionou ao ver o computador da mais nova ligado, com fotos explícitas de todos os assassinatos possivelmente cometidos pela tal mulher nas últimas semanas. Kim suspirou, abaixando sua cabeça contra a mesa - Como está Yeonjun?
— Um babaca, como sempre - falou em deboche e Aeri riu com o comentário - Vou comer alguma coisa. Faça uma pausa. Te encontro daqui a uma hora, ok? - a japonesa assentiu ao ver a amiga se retirar e seguir seu caminho. Em um prédio não tão distante dali, Karina se arrumava para fazer algumas compras antes de, finalmente, ir embora de Seul. Entretanto, seu chefe a ligou de forma insistente.
— Oi, meu bem. Sentiu minha falta? - brincou enquanto vestia uma blusa branca social, calça jeans e um all star azul marinho, como qualquer jovem normal.
— Que merda foi aquela que você fez ontem? - esbravejou e Yu deu de ombros, amarrando seu cadarço - Karina, nós temos um problema. Você não vai sair de Seul até resolver isso! - falou e a garota arregalou os olhos, colocando uma faca na cintura
— Isso é alguma brincadeira? - exaltou-se - Eu não gosto dessa cidade, oppa. Muito chata - falou entediada e o homem bufou.
— Houve uma testemunha, um vizinho de meia-idade, bem ao lado da casa do alvo ontem a noite. Te enviarei o endereço de onde ela vai estar nos próximos trinta minutos. Já sabe o que tem que fazer - explicou e Karina revirou os olhos, suspirando - Nem faça bico, a culpa foi sua. Resolva isso antes que a delegacia inteira encontre você. Adeus, Karina - finalizou a ligação. Yu jogou o aparelho no sofá, colocando a mão sobre seu rosto, segurando uma faca.
— Ok, mais um. Argh, cidadezinha de merda - encarou-se no espelho do quarto, lançando um sorriso largo. Desceu as escadas, cumprimentou sua vizinha irritante com um sorriso amarelo e saiu porta a frente em passos pesados. O ponto era um mercado a duas quadras da delegacia. Perfeito. Pensou em deboche. A garota pulou a cerca dos fundos, procurando pelo senhor na área do estacionamento, segurando o objeto cortante pelas costas. Bom, isso até uma mulher distraída cruzar seu caminho, derrubando seu café e um pão recém aquecido no chão abaixo.
— Oh, puta que pariu. Hoje não é meu dia - falou com a roupa suja e Karina observou a jovem, ignorando o fato de estar com respingos do líquido na sua roupa - Me desculpe. Eu sou muito desastrada - falou e Yu desceu seu olhar para uma pequena estrela no casaco alheio, notando ser alguém da delegacia. A mais velha lançou um sorriso tímido, largando sua faca no bolso de trás - Eu posso pagar uma lavagem para sua roupa, se quiser - disse e Yu lançou um olhar curioso, este que ignorava tudo o que a garota a sua frente falava para si. O momento não durou muito, pois a mais velha avistou o seu alvo alguns metros adiante.
O perfume dela é viciante, nossa. Sua vontade era sentir o cheiro daquela estranha neste exato momento.
— Meu pai está me esperando. Eu preciso ir - disse rapidamente com um sorriso fofo no rosto. Winter estranhou, mas assentiu, aliviada por ter tido a sorte de não ter levado uma briga pelos minutos seguintes. Após a mais alta sair de sua frente, a outra recebeu uma ligação já no caminho de volta para delegacia - Olá, sou eu de novo~ cantarolou e o senhor arregalou os olhos, assustado, sendo guiado para um beco sem saída. No mesmo instante, Winter recebia a notícia de que havia uma testemunha bem ali, no mercado onde estava. Entretanto, tal já era tarde demais. Morta nas mãos da psicopata.
Estou sempre dois passos à frente do seu, agente Kim.
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