História Qual... Alice? - Meu coelho vitoriano.

Após uma longa e estranha – mas ao mesmo tempo divertida – conversa com o coelho branco, decidimos descer para ficar mais um tempo juntos no porão até que o sinal para a penúltimo aula soasse.

— Ok! Então... — Ele sorriu com a língua entre os dentes. Ele franziu as sobrancelhas de forma divertida enquanto pensava em uma nova pergunta — Minha cor preferida?

— Verde! — Eu sorri. Estávamos fazendo um jogo para saber o quanto sabíamos um do outro. Ele sorriu assentindo e confirmando que minha resposta estava correta — Meu animal favorito?

— Raposas, claro! — Eu assenti enquanto lhe mostrava a língua. Ele não havia errado nem uma questão se quer! — Minha banda preferida? — Essa me pegou... Eu sei que Lysandre é apaixonado por Rock, mas nunca fiz questão de saber qual era sua banda preferida.

— Já me falou sobre ela antes? — Eu perguntei franzindo as sobrancelhas. Ele assentiu com um sorriso — Ah... Acho que é Radiohead?

— Sim! Parecia não saber — Sua expressão ficou séria por um momento. Mas logo voltou a sorridente de sempre — Como adivinhou?

— Lembrei que no seu quarto tinham vários pôsteres dessa banda em específico.

— Ah... — Em silêncio um tanto desconfortável se fez presente. Coelho se mexeu um pouco no sofá em que estávamos sentados, eu o olhei para vê-lo tirando do bolso seu celular e um fone de ouvido.

Ele colocou uma das duas partes do fone no meu ouvido e a outra no seu próprio, apenas alguns segundos depois mexendo, a música Creep – Radiohead começou a tocar, eu sorri minimamente enquanto ainda observava o seu rosto. Lys sorriu enquanto passava um dos braços ao redor dos meus ombros. Arrumando o meu cabelo para o lado – para não enganchar em nada – eu me deitei em seu corpo enquanto ouvia atenta a letra da música. Essa já era conhecida por mim, mas nunca tirei, realmente, um tempo para absorver e ouvir o que a letra dizia, e nossa! Isso é uma bela de uma declaração.

Quando você esteva aqui

Não conseguia te olhar nos olhos

Você é como um anjo

Sua pele me faz chorar

— Essa música é maravilhosa! — Disse enquanto me aconchegava ainda mais em seu abraço. O ouvi rir baixinho de uma forma linda.

— Eu sempre penso em você quando escuto ela. — Eu corei na hora, isso havia sido uma declaração, não?

O único problema é que a música não fala apenas do amor dele pela garota, mas também sobre o quanto ele se sente estranho e inferior quando se trata dela.

Seja lá o que te faz feliz

Seja lá o que você deseje

Você é especial pra caralho

Eu queria ser especial

Mas eu sou uma aberração

Eu sou um esquisitão

Que diabos estou fazendo aqui?

Eu não pertenço a este lugar

— A música inteira?

— Com certeza — Ele diz tão baixo que eu quase não pude ouvir.

— Até a parte de ser estranho e não ser especial como a moça? — Ele me olhou de uma forma estranha, era como se quisesse entender absolutamente tudo antes de responder.

— A música inteira — Ele responde enquanto sorri docemente. Meu coração se aperta, mordo meu lábio inferior arrancando uma pelinha da mesma.

— Você sabe que é um garoto perfeito e que não é inferior a nenhuma garota dessa escola, muito menos a mim!? — Me coloquei de joelhos na sua frente enquanto colocava ambas de minhas mãos em sua bochecha. Ele me olhou assustado, mas logo sorriu enquanto assentia.

Coelho Branco envolveu seus braços em volta da minha cintura me puxando com certa força, o que me fez cair em cheio sentada em seu colo. Ele me abraçou ainda mais forte colocando seu queixo no topo de minha cabeça.

— Você é absolutamente perfeita — Ele sussurrou tão baixo que eu duvido que era para mim ter escutado — Eu te amo muito.

Continuamos ali naquela posição, não sei quanto tempo se passou, ficar ali em cima do corpo quente dele era tão confortável que eu sentia que podia adormecer a qualquer segundo. Eu me sinto quente e segura quando perto dele.

O sinal para a penúltima aula acabou tocando, me levantei devagar e sem vontade nenhuma. Lys se levantou logo depois. Subimos juntos a escada do porão e fomos juntos até a sala de ciências onde aconteceria as duas últimas aulas com a professora Delanay.

Entramos na sala, tinham alguns alunos faltando – Como chapeleiro, Absolem, Kentin e Lebre de Março – Mas fora eles a sala estava praticamente completa. Coelho beijou delicadamente a minha testa antes de ir até o seu lugar, eu corava enquanto acompanhava com o olhar ele indo se sentar ao lado de uma garota com cabelos Violetas, ou roxos – não sou muito boa com cores – fui até o meu lugar ao lado do cabeça de tomate, Valete, que me olhava de uma forma que eu não podia decifrar.

— O que aconteceu entre você e o Lysandre? — Ele me perguntou com uma de suas sobrancelhas arqueadas. Eu pensei por um momento antes de responder.

— Acho que nada. Por que?

— Acho que nada? — Ele perguntou dando ênfase no “acho”. Não o respondi, apenas olhei para sua face com uma expressão confusa. — Estão juntos?

— Não!

— Ficando ou namorando? — Por que ele continua insistindo nessa questão?

— Não estamos juntos, Valete! — Revirei os olhos enquanto sussurrava a palavra “idiota”.

— Foi mal! — Ele disse bem perto do meu ouvido me causando um arrepio enorme na minha coluna. — Só não quero que machuquem um ao outro.

— Tudo bem — Eu sorri olhando no fundo de seus olhos. Por algum motivo acho que ele está me escondendo algo. Nosso contato visual foi cortado assim que os últimos 4 alunos que faltavam entraram na sala, logo em seguida a professora.

A aula se passou normalmente, a garota ao lado do coelho de tempos em tempos me lançava uns olhares de raiva.

— Violette não gosta muito de você não — O garoto Ruivo ao meu lado disse de forma que apenas eu escutasse.

— Mas eu nunca fiz nada para ela! — Acabei fazendo bico e inflando consideravelmente as bochechas. Castiel gargalhou enquanto continuava anotando as coisas para a atividade que íamos fazer.

— Você possui o Lysandre — Ele deu de ombros enquanto olhava novamente para o meu rosto — Acho que isso é motivo o suficiente.

— Desde quando ela gosta dele?

— Está mais para “ Ama ele” — Disse sorrindo. — E respondendo sua pergunta. É provável que seja desde o ensino fundamental II. — Franzi a sobrancelha, essa não foi a época em que Alice e ele namorávam? — Mas ficou maior na festa da Rosalya à alguns dias atrás.

— O que houve na festa da Rosa? — Ele olhou para o meu rosto sem expressão alguma. Suspirou alto e voltou a olhar para a folha em que estava escrevendo à momento atrás.

— Por que está tão interessada nisso?

— Só quero saber por quê ela não gosta de mim. — Ele respirou fundo e fechou os olhos. Logo os abriu novamente e continuou:

— Após uns dois dias após a sua volta do hospital, Rosalya fez uma festa para comemorar... Não sei o que. — As vezes ele olhava para mim como se para ver se eu estava entendendo, mas sempre voltava o seu olhar para a folha. — Foi, literalmente, nossa sala de aula inteira e mais algumas pessoas da escola. — Assenti. Me lembro que a platinada havia me convidado para essa tal festa, mas por preocupação do meu pai ele resolveu que eu não iria. E eu não discuti. — Resumindo a história, Lysandre acabou exagerando um pouco na bebida e-

— Ele e a Violette...?

— É provável que sim. — Ele respondeu me deixando absolutamente surpresa. Olhei de relance para mesa em que o garoto e Violette estavam sentado. Eles agem com tanta naturalidade, parecem um tanto próximos.

— Ah... Entendi — Minha voz saiu baixa. Um aperto enorme se fez no meu peito e eu não faço a menor ideia do por que. Valete se aproximou de mim e me abraçou lateralmente.

— Você o ama? — Ele perguntou sem me olhar.

— Eu não sei — Sorri olhando para cima. Olhando para o seu rosto. Ele me devolveu o mesmo sorriso e beijou carinhosamente a minha bochecha.

— Vamos acabar logo isso — Ele disse me soltando, mas ainda bem próximo de mim. Voltamos a fazer a atividade e acabamos em poucos segundos. Me sinto muito bem tendo o ruivo ao meu lado, por algum motivo eu sinto que ele me ama muito e que é capaz de fazer qualquer coisa para me ver bem.

— Obrigada Castiel — Disse aproximando meu rosto de seu pescoço.

— Pelo que? — O ouvi rir baixo.

— Ah... Por tudo — Minha voz saiu de forma gentil — Você é um ótimo amigo.

— Eu faço tudo por você, Alice — Não sei se estou maluca, mas tenho quase certeza que sua expressão era próxima a dor.

— Eu sei disso. — Sorri me afastando — E só tenho a agradecer. — Ele me abraçou, de frente dessa vez. Um abraço quentinho e carinhoso. No segundo em que nos afastamos o sinal avisando que todas as aulas já haviam acabado tocou. Acabei indo até o pátio acompanhada de Castiel deixando qualquer pessoa que quisesse falar comigo para trás.

— Alice! — Parei mecanicamente ao ouvir alguém gritar meu nome. Eu estava me segurando no braço de Valete, por isso ele acabou parando também. Olhei para trás a tempo de ver Absolem andando até mim. — Onde está indo menina?

— Para casa? — Perguntei confusa virando de forma lenta minha cabeça para o lado.

— Você não vai dormir lá em casa, garota!?

— Ah!! É mesmo — Sorri abertamente sentindo minha expressão clarear. Fiquei na ponta dos pés para deixar um beijinho rápido na bochecha de Castiel e sai correndo em disparada para me despedir do Lys. Ele havia acabado de sair da escola na companhia de Violette e Rosalya. Sem me importar com que estava a sua volta eu me joguei no seu corpo sendo impedida de cair pelo mais alto e o abracei carinhosamente.

— O que aconteceu? — Ele perguntou assustado, mas ao mesmo tempo possuía um sorriso divertido no canto de seus lábios.

— Eu não sei! — Falei sorrindo — Fiquei alegre e elétrica de um minuto para o outro. — Ele sorriu abertamente enquanto segurava fortemente a minha cintura. Fiquei mais uma vez na ponta dos pés para chegar perto de seus ouvido. — Eu te amo — Sussurrei me afastando, não antes de deixar um beijo em sua bochecha. Olhei fundo nos seus olhos - que tem uma cor fascinante e que me deixam encantada- — Você é meu melhor amigo! — Disse sentindo meu rosto ficar um pouco vermelho. Me afastei e andei em direção à platinada que me olhava confusa. A abracei e me despedi. Sai correndo voltando ao encontro de Absolem, que dessa vez estava acompanhado de Chapeleiro na frente de um carro cinza escuro.

— Já podemos ir? — Armin perguntou sem me olhar. De alguma forma o que havia acontecido no porão não saia de jeito nenhum da minha cabeça. E a vontade de fazer novamente também não.

— Podemos. — Falei com a cabeça baixa. Absolem abriu a porta de trás para eu entrar.