Acho que tudo começou quando eu fiz 7 anos. Meu avó paterno era explorador e sempre encheu minha cabeça com suas aventuras mágicas.
Durante toda a minha vida meu avô havia sido a pessoa mais interessante do meu pequeno mundo. Alguém que, como eu, usava a fantasia para fugir da chata e cruel realidade.
Agora me lembro perfeitamente. Os sonhos começaram quando eu fiz 9 anos. Eu estava lendo um livro sem imagens de baixo de uma árvore com sombra. Minha cadelinha Heisey estava por perto, mas não me lembro onde. Acho que delirei, mas não acredito realmente nisso. Um coelho branco passou apressado ao meu lado, a palavra “ já é tarde” saia a todo momento por entre seus lábios. Achei estranho, já havia lido diversas e diversas vezes o livro de Lewis Carroll e não podia acreditar que aquilo era realmente real.
Deixei o meu livro de canto e me levantei correndo para seguir o coelho. Foi assim que eu sofri o acidente. Antes que pudesse alcançar o coelho acabei tropeçado e batendo a cabeça com força...
Meu irmão mais velho Simon que me encontrou. Ele foi chamar os nossos pais e os mesmos chamaram o médico da família para me avaliar. Eu morri com 9 anos de idade.
Quando eu acordei estava completamente confusa. As lembranças que eu tinha em minha mente não pareciam ser minhas. Era como se tivesse duas pessoas na minha cabeça. Uma era eu mesma, mas a outra mesmo sendo inocente e calma, ainda me fazia ter o desejo de matar todos que me olhassem.
Minha aparência havia mudado, o que fez eu realmente acreditar que algo estava acontecendo... Eu não podia ter morrido já que podia sentir dor e, aquilo estava real demais para ser um sonho. Mas se é isso, então... Cadê os meus cabelos escuros e minhas sardas? Cadê os meus irmãos e meus pais? Eu realmente reencarnei no corpo de uma garota com minha idade?
As perguntas eram varias...
Os sonhos com o país das maravilhas eram totalmente estranhos... Os personagens eram pessoas que eu conhecia, e mesmo que eu não conhecesse, a tal pessoa sempre aparecia na minha vida mais para frente. Como por exemplo Alexy, o meu cunhado, eu o conheci bem depois dos sonhos começarem.
As coisas voltaram ao normal quando eu desenvolvi Micropsia, algo que me fez suspeitar se tudo aquilo era realmente um sonho. Não é estranho uma garota que é quase a Alice da história desenvolver uma síndrome com o nome da história que está vivendo?
Assim, mesmo sabendo que aquela não era minha vida, eu comecei a vive-la como se sempre tivesse sido minha. Fiz tudo o que não tive chance de fazer quando estava viva. Helena Fullen agora é Alice Liddell e eu não ia deixar que ninguém tirasse isso de mim.
Mas então ela voltou. A verdadeira Alice decidiu que iria recuperar o próprio corpo e, com seus amiguinhos loucos perfeitos, ela conseguiu. De dentro da sua cabeça, agora presa no corpo da “ eu versão Alice”, eu posso vê-la vivendo a vida que deveria ser minha. Enquanto eu estou aqui... Em meio à uma população de gente louca, fazendo sempre as mesmas coisas e, bebendo todo dia esse maldito chá na mesma maldita hora.
Apenas uma promessa eu faço a mim mesma: Enquanto eu ainda estiver viva na sua cabeça, Alice. Eu prometo que irei tentar de todas as formas pegar de volta a vida que você me tirou. Mas enquanto isso não acontece eu vou destruir a sua miserável vida. Vou afastar todos que ama... Nem que tenha que mata-los para isso...
Eu posso até ser a “Outra Alice”, mas essa vida que você está vivendo é minha por direito! E não vou deixar você vive-la por muito tempo. Por isso te aconselho a aproveitar bastante ao lado dos seus amiguinhos.
— Está dormindo, Alice? — Uma xícara de chá foi lançada em minha direção. Desloquei minha cabeça um pouco para o lado para impedir que o objeto batesse na mesma. Olhei com raiva para A lebre maluca a minha frente. A mesma riu de forma cínica enquanto eu continuava a beber o meu chá.
— Eu vou te matar!
— Hele-... Ops! Alice — Absolem - ainda não me acostumei a chamá-lo assim - se aproximava lentamente da mesa de chá. Um sorriso sinistro estava estampado em seus lábios — Por que esse pensamentos tão assassino?
— Vai fazer mal para a nossa verdadeira Alice — Chapeleiro Maluco diz. Desde que a sua verdadeira Alice resolveu ir embora esse panaca vive escorado e triste andando pelos cantos. Tenho que admitir que isso me preocupa... Posso não demonstrar, mas eu realmente desenvolvi um tipo de afeto por esse maluco em específico.
— Não é como se eu ligasse. — Chapeleiro não me olhou. Apenas se levantou e saiu dali seguindo seu próprio caminho. A mesa de chá desapareceu como se nunca estivesse existido e ali ficou apenas a cadeira onde estou sentada. — Não sei por que ele se importa tanto com essa garota!
— Por que ele a ama, claro. — Cheshire respondeu enquanto flutuava por cima da minha cabeça.
— Como ele pode amar alguém como ela? — Cruzei os braços e fechei a cara — Ela é tão sem graça!
— Talvez ele goste de garotas sem graça — Ele gargalhou. Sua cabeça girou a 180°c para poder me olhar. — Isso te incomoda, falsa Alice?
— Nem um pouco! Por que me incomodaria?
O gato ficou em silêncio por bastante tempo. Mas no final apenas me olhou e sorriu como sempre.
— O país das maravilhas é um purgatório e nossa Alice é como um anjo.
— O que? — Em silêncio ele apenas começou a sumir lentamente.
— Pense como a Alice — Essas foram suas últimas palavras antes de desaparecer completamente.
Tenho certeza que o que ele disse não tem significado nenhum... Aliás, o povo dessa cidade é completamente doido.
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