Tudo estava indo tão bem. Eu finalmente tinha conseguido fazer Sebastian rir, mesmo que fosse da minha desgraça e de como eu teria que ir convencer o nosso pai a não executar o cara que eu mais queria morto. Mas é claro que nem essa felicidade tosca podia durar muito.
Nós estávamos subindo as escadas para o escritório, quando Amélie apareceu descendo os degraus frustrada.
"Onde você estava?" Ela perguntou para Sebastian, mal se dando conta de que eu estava ali. "Eu te procurei por todos os lugares!"
"Estava andando de skate," ele disse, sem parar de andar, passando por ela. Eu o segui, mas não sabia se seria uma boa ideia irritá-la ainda mais.
"Ei, eu estou falando com você!" Ela insistiu.
Sebastian parou onde estava, dois degraus de sair da escada. Ele bufou de cansaço e se virou para ela. "Que foi?" Perguntou, nem um pouco mais prestativo do que quando tinha tentado ignorá-la.
Amélie pareceu sentir o seu tom, mas logo engoliu sua dor e levantou o rosto para ele.
"Você já escreveu seus votos?"
"Meus votos?" Ele perguntou, bastante incrédulo.
Foi a vez dela de bufar. "Sim, seus votos," ela disse, subindo os degraus até ele. "Você tem que escrever sobre como você promete me amar para sempre, como vai cuidar de mim, na tristeza ou na felicidade, na saúde ou na doença," ela começou a ajeitar a gravata dele, que estava completamente laceada e enfiada para dentro da camisa. "Você precisa falar sobre como promete me fazer muito feliz."
Ele deixou que ela o arrumasse, mas não parecia nem um pouco contente com o que ela falava. E eu comecei a me sentir um pouco estranho naquele momento que nem me pertencia.
"Não dá para nós usarmos os votos prontos?" Ele perguntou, sem tentar esconder o quanto aquilo o irritava.
Ele soltou a cabeça para trás, como se estivesse sendo arrastado a fazer alguma coisa que não queria e eu me lembrei na hora de como ele sempre brigava com a nossa mãe para não ir para a aula. A imagem estava completa, ela o arrumando, ele reclamando. Se pelo menos Amélie entendesse o cliché no qual estava se transformando.
"Não," ela disse, passando as mãos pelos ombros dele. "Eu não quero me casar com os mesmos votos de meus pais. E você tem dois dias para escrever."
"Dois dias?" Fui eu que perguntei, fazendo-a me olhar pela primeira vez.
"Sim, é sexta-feira," ela disse, como se eu fosse burro.
Eu já sabia. É claro que eu já sabia. Mas eu não tinha percebido que tinha passado tão rápido. E eu ainda nem tinha começado a formar um plano para salvar Sebastian dessa enroscada.
Principalmente porque a parte mais difícil era pensar em um plano que não envolvesse assassinato.
"Mas não pode ser sexta-feira," eu falei sem pensar. "Vocês vão ter que adiar."
"Do que você tá falando?" Amélie se virou para mim completamente, largando de Sebastian para colocar as mãos na cintura.
Eu sabia tanto quanto ela. Eles tinham que adiar, era verdade. Mas só para eu ter um pouco mais de tempo de conseguir adiar aquele casamento para NUNCA. O problema é que aquela não seria uma desculpa válida.
Naquele instante, enquanto Amélie me mirava esperando uma resposta, eu vi por cima de seu ombro Gabrielle saindo do escritório de meu pai. Nós nos miramos por um segundo quando ela começou a vir até a escada principal, mas isso fez com que ela girasse e continuasse seu caminho em direção à escada lateral. Assim que ela desapareceu de vista, eu voltei a olhar para Amélie.
"Eu preciso da sexta-feira para poder terminar a Seleção," eu disse. "Eu estou planejando pedir uma das selecionadas em casamento."
"Faz isso outro dia," Amélie disse, já se virando de novo para Sebastian. "Eu vou querer ver seus votos antes do casamento."
"Outro dia não dá," eu falei antes que Sebastian tivesse a chance de responder. "Precisa ser sexta-feira, durante o Jornal Oficial."
"Não precisa ser durante o Jornal Oficial," ela disse, sem nem ter ideia do que estava falando.
Ela realmente ia me contestar quando era eu o príncipe de Illéa cuja Seleção tinha sido um total fiasco?
"Precisa sim," eu insisti, um pouco mais duro para acabar com aquela conversa ali. "O que eu planejei precisa acontecer durante o Jornal Oficial. Confie em mim."
Ela me mirou por um tempo, provavelmente tentando achar em mim algum sinal de que estava mentindo. Mas depois desistiu e deu de ombros.
"Então nos casamos no sábado," ela disse, se virando para olhar para o meu irmão. "Três dias para escrever seus votos. Agora eu preciso ir avisar a Silvia para adiar tudo um dia."
Ela se inclinou para ele e lhe deu um beijo no rosto, depois começou a descer as escadas. Estava para sair do meu campo de visão, quando olhou de volta para nós.
"Charles," ela me chamou. "Se eu descobrir que isso é só um jeito seu de me enrolar..."
"Não se preocupe," eu falei. "Não é."
Ela concordou com a cabeça, ainda não muito convencida. Mas não falou mais nada, só começou a descer as escadas novamente.
E então Sebastian e eu fomos até o escritório do meu pai sem trocar uma palavra até a porta estar fechada atrás de nós e todos os guardas estarem fora. Menos Thomas, é claro.
"Imagino que vocês tenham vindo aqui falar sobre Gregor Laeddis," meu pai começou de trás da sua mesa.
"Isso também," eu disse. "Mas antes eu preciso que você me ajude em outra coisa" Todos me olharam meio na expectativa, mas eu perdi o que ia falar quando percebi uma coisa. "Espera aí, onde está Ridley?"
"Tentando virar ator," Thomas disse, de pé do lado da janela.
"Como é?" Sebastian perguntou, se inclinando até estar apoiado nos joelhos.
"Ele está fazendo um teste para um papel em uma série," nosso pai explicou. "Ele volta hoje à noite."
"Não, claro, não estou falando que ele deveria estar aqui," eu disse. "Ele tem seus horários. É só que eu vou precisar da ajuda dele também."
"Com o quê?" Meu pai perguntou.
"Com um pedido de casamento," Sebastian respondeu por mim.
O menor dos sorrisos apareceu no rosto abatido de meu pai, e ele assentiu com a cabeça.
"É o fim da melhor Seleção da história de Illéa?" Ele perguntou, divertido.
"É o fim da pior, você quer dizer," Sebastian disse.
"Fiasco, fiasco total," eu falei, rindo.
"Acho que teremos que rever todo esse conceito de Seleção na próxima vez," Sebastian completou. "Isso se for ter próxima vez."
"Veja pelo lado bom," meu pai disse, se inclinando no encosto da cadeira. "Mesmo que você tenha perdido a maioria das suas selecionadas para outros homens-"
"Só três!" Eu o corrigi.
"E que a Silvia nem tenha conseguido ensiná-las muita coisa," ele continuou, "você ainda conseguiu o que queria. A Seleção funciona mesmo quando não funciona."
Eu pensei naquilo por um segundo. Eu estava já tão acostumado a achar que tudo tinha dado errado, que a ideia de fazer uma Seleção tinha sido péssima e que cada segundo, desde que tinha tomado a decisão de seguir em frente com isso, tinha sido bem a prova disso. Mas era verdade, não era? Tudo aquilo era para eu escolher a futura rainha de Illéa, era para eu encontrar alguém com quem passar o resto dos meus dias. E eu não poderia negar que mesmo que todas as selecionadas tivessem fugido com outros caras, eu ainda só precisaria de uma.
"Acho que foi sorte," falei, satisfeito mesmo assim. Mas logo me virei para olhar para Sebastian, que não parecia estar se divertindo tanto com o assunto. E eu logo me lembrei porque. "De qualquer jeito," falei voltando a me virar para o meu pai, "eu estava querendo pedir a Gabrielle em casamento nessa sexta-feira. Já tenho um plano, na verdade."
"Já?" Sebastian estava surpreso.
"Sim, tinha pensado já nisso no domingo," expliquei. "Mas como eu queria que ela não se sentisse pressionada, nem que tudo acontecesse muito rápido depois de ela ter sido..." eu deixei minha voz morrer, sem querer falar sobre Laeddis e me fazer lembrar de como ela o tinha defendido. Aquele era um assunto para outro momento. "De qualquer jeito," falei de novo, "eu queria que aparecesse no Jornal Oficial. Então Amélie terá que adiar a sua vingança."
"Charles," meu pai falou sério, e eu já sabia que era seu jeito de me repreender.
"Tá, desculpa," falei. "Mas eles vão ter que adiar o casamento. Não vou esperar outra semana para pedi-la em casamento."
"Está com medo de ela não aceitar?" Thomas perguntou, rindo da minha cara.
"Onde vocês encontram esses guardas?" Sebastian perguntou para o meu pai. "Estou começando a achar que ele não entende o seu lugar."
"Eu concordo," falei, entrando na brincadeira.
Thomas só sorria, ainda mais satisfeito com como o seu comentário nos incomodava.
"Só estou falando," ele disse, "que talvez você devesse se apressar. Ela não parecia nem um pouco feliz com você."
"Ah, é," falei, me inclinando na minha poltrona. "Ela veio aqui reclamar do Laeddis, não é?"
"Ela veio reclamar de você," meu pai me corrigiu. "Veio reclamar que você não estava dando importância para a opinião dela."
"A opinião dela?!" Eu perguntei, inconformado. "Eu dei importância, ela não entende que não sou eu quem decido!"
"Só estou falando o que ela disse," meu pai levantou as mãos no ar, em sinal de rendição.
"Eu sei," eu respirei fundo. "Eu poderia ter sido um pouco mais justo, sei lá," falei. "Honestamente, se não fosse por ela, talvez eu conseguisse pensar direito."
"Como assim?" Meu pai perguntou, me fazendo olhar à minha volta e ver que todos estavam bem curiosos para o que eu estava prestes a dizer.
Menos Sebastian, que parecia ouvir o que já esperava.
"Eu acho que eu só aceitei essa decisão tão facilmente, porque era ela quem tinha sido sequestrada," eu expliquei. "Eu ainda quero que eles continuem com ela, não me entenda errado. Eu ainda acho que quem a faça passar por uma coisa grave como essa merece morrer. E eu não me importaria de estar lá para assistir." Meu pai levantou as sobrancelhas, surpreso. "Mas isso sou eu falando, né. Estar lá seria bem diferente. E ela me fez pensar nisso. Não é só uma decisão no papel, é a vida de uma pessoa."
"Ela te fez pensar?" Sebastian perguntou, fingindo estar ofendido.
"Está bem, você ajudou," eu falei, e ele sorriu. "Se fosse qualquer outra pessoa, eu acharia um absurdo. Eu precisaria de tempo, na verdade, para superar minha raiva e conseguir ser justo. Mas ele não tem tempo. Ele não pode esperar até que eu não o odeie mais para eu poder poupá-lo de uma convicção injusta."
"Se é que algum dia você vai conseguir parar de odiá-lo," Sebastian completou.
Eu me virei para olhar para ele, concordando com a cabeça. Eu não tinha pensado nisso, mas talvez ele estivesse certo. Talvez eu nunca fosse conseguir superar aquilo.
"Eu ainda quero que ele morra," eu falei, talvez um pouco duro demais. "Mas eu não vou posso aceitar que ele morra."
Meu pai assentiu, seu olhar perdido no seu colo. Depois ele se levantou e andou até a sua mesa de uísque.
"E então?" Eu perguntei, já que ele não tinha falado mais nada. "Acha que tem como nós conseguirmos algum tipo de julgamento para ele?"
"Não se preocupe," ele disse, me fazendo um gesto para esquecer daquilo. "Eu não ia deixar que o executassem. Já tinha planos de adiar essa execução até que você mudasse de ideia."
"Então o problema aqui era eu?" Eu perguntei, logo recebendo uns tapinhas de Sebastian no ombro.
"Eu não poderia te pedir para simplesmente poupá-lo no estado que você estava," meu pai disse, se virando para me entregar um copo.
Eu hesitei um segundo, não sabendo se era para eu pegá-lo ou não.
"Eu ainda não tenho 21 anos," falei, mas ele insistiu e então eu peguei o copo da sua mão e não esperei para dar um gole.
"Depois de tudo que aconteceu, eu acho que nós podemos aproveitar e baixar essa maioridade civil," ele disse, entregando outro copo a Sebastian. Antes de se sentar, ele também serviu Thomas e a si mesmo. "Sobre Laeddis," ele continuou, confortável em sua poltrona, "ele terá um julgamento. Sem pena de morte. Mas com a possibilidade de ficar preso para o resto da vida."
"Eu brindo a isso!" Eu disse, levantando meu copo no ar.
A minha ideia era ficar por isso mesmo, mas tanto meu pai, quanto Sebastian levaram seus copos para o centro de onde estávamos. E logo Thomas e eu nos juntamos a eles, batendo os vidros e balançando o uísque.
"Um brinde a um problema a menos," Sebastian falou, seu tom de voz quase completamente sem humor.
"E a um pedido de casamento," nosso pai acrescentou.
"A pelo menos um casamento feliz," eu completei, só o fazendo me olhar um pouco repreensivo.
"Isso se ela aceitar, não é?" Thomas falou, rindo sozinho por trás de seu copo.
"Sério, onde é que vocês encontram esses guardas?" Eu perguntei, logo antes de voltar o meu para a boca. "Vocês estão precisando fazer uma seleção melhor para decidir quem trabalha aqui."
"Uma seleção, é?" Meu pai perguntou e me piscou um olho só.
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