História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - O Jornal(e o Ahren se humilhando em rede nacional)

-É normal ser tão apertado assim? -Eu disse enquanto Finde apertava meu vestido.

-Se deixarmos mais largo não vai ficar bonito. -Ela sorriu.

-Se deixarmos mais largo talvez eu consiga respirar. -As duas riram. Maravyne parou de usar suas mãos ageis em reparos de ultima hora e entao eu me virei para o espelho.

Eu estava bonita.

O vestido era azul claro e justo em cima, longo. A saia era soltinha e esvoaçante. Não tinha mangas, mas tinha uma alça que cruzava o meu peito de cima a baixo de apenas um lado, desde a fita da mesma cor do vestido na cintura, e passava pelo meu ombro.

Tinham prendido meu cabelo em um coque meio frouxo, com uma parte do meu cabelo caindo do lado do meu rosto antes de se prender no coque.

-Uau. -Eu disse. -Uau.

Elas deram risinhos e entao Maravyne pegou um sapato de salto pérola. Eu não ia usar salto. Eu estava bonita, mas não estava confortavel nem aqui nem na China.

-Olha, eu sei que esse é mais sofisticado... Mas ainda prefeito esse. -Eu disse pegando meu tenis surrado.

-Senhorita Crystal, não acho que sejam os mais apropriados. Não combinam. -Maravyne disse.

-Ah, ninguém vai ve-los mesmo. -Amarrei meu cadarço e fiquei de pé. O vestido tampou todo o meu pé. -Pronto! Pra onde eu vou agora?

Me levaram até o lugar onde gravavam o Jornal. Fiquei la parada procurando meus pais, mas não encontrei eles, até que os avistei sentados em umas cadeiras. Comecei a andar até lá, mas eu não tinha pratica em subir escadas de vestido longo, entao acabei tropeçando no segundo andar. Otimo, la se vai meu penteado e minha dignidade...ou não.

-Não na minha presença! -Shay me segurou.

-Ah, entao o meu cavaleiro de armadura estava a postos pra me salvar?

-Como eu ja disse antes, é o cavalheiro que me treinaram pra ser.

-E como eu ja disse antes, cavalheiros são fofos. Principalmente no seu caso agora! -Eu percebi o seu terno preto todo arrumadinho e seu cabelo que eu acredito que ele tenha se recusado a passar gel.

Ele ficou um pouco corado e sorriu, me olhando:

-Uau.

Eu corei mais do que achei que ia corar. Obrigada Finde e Maravyne pelas varias camadas de base.

-Essa foi a minha reação também.

Alguém berrou alguma coisa sobre irmos pros nossos lugares, entao Shay foi pro lado oposto que eu fui.

Sentei do lado dos meus pais e fiquei esperando o botão de "no ar" ligar. Quando ele fez isso, o apresentador(miss u Gravyl) Gayle(eu inventei qqr nome aq jsjs) apareceu no correndor e as luzes focaram nele.

-Olá, povo de Illea! -Ele disse ignorando o microfone em sua mão e berrando. -Olá, Vossa Majesta e Altezas, e Rainha Camille, que está presente hoje!-Ele disse fazendo uma saudação. -E olá aos mais novos moradores do nosso palácio! A família Woodwork completa! -As luzes focaram em nós e tivemos que sorrir e acenar, mas eu estava com tanta vergonha que apenas forçei um sorriso pior que o da moça do filme. -Infelizmente, ela não está completa HOJE, mas só hoje, porque Josie e o príncipe Kaden saíram em uma viagem para comemorar o seu aniversário e o ainda não voltaram. Que vida, ein? -Ele disse sarcastico. -Mas entao, vamos primeiro ao mais importante. -A rainha Eadlyn se levantou e todos a aplaudiram enquanto ia até a bancada e fazia um discurso anunciando tudo o que acontecia no país.

Aquilo parecia nunca terminar. A julgar pelas câmeras e para onde elas estavam apontadas, as pessoas estavam me vendo, e isso era horrivel. Eu quase conseguia sentir os olhos de todos em cima de mim, era pesado, mesmo que não estivessem prestando atenção diretamente na minha pessoa. Quer dizer, provavelmente Hatty e Gardner se juntaram pra ver esse marco historico e estavam focados em mim. Acho que ela devia estar até tirando fotos minhas.

Olhei para Shalom, que também parecia tão entediado quanto eu. Na verdade, eu estava mais tensa do que entediada, e ele não parecia nem um pouco tenso, o que fazia sentido, já que ele aparece no Jornal desde que nasceu. Ele percebeu que eu estava olhando pra ele e entao eu dei um sorriso propositalmente reto e sem expressão. Ele retribuiu fazendo uma cara meio que de nojo, como se odiasse isso tudo, e fingiu atirar na propria cabeça, como se estivesse querendo morrer de tão chato que isso era. Quando ele se jogou na sua cadeira, completando sua atuação de morto, seu pai o repreendeu e entao ele olhou pra mim de novo e deu um sorrisinho antes de voltar a olhar pra mae.

Quando ela finalmente terminou, a hora que eu não queria que chegasse nunca chegou.

-E agora, depois de todos os anunciamentos, vamos falar um pouquinho com o nosso querido Kile Woodwork. -Meu pai levantou e sorriu. Ele estava com cara de quem queria rir por causa do "nosso querido Kile", mas conseguiu seguir normalmente até as cadeiras de entrevista.

Ele fez algumas perguntas sobre várias coisas e chamou minha mãe e conversou um pouco mais. Antes de dispensa-los e se levantar de novo. Graças a Deus eu não fui chamada!

-E agora, como vocês ja deviam esperar, tivemos acesso a algumas imagens dessa ultima semana no castelo. Gostaria de falar com o príncipe Shalom a respeito disso.

Imagens? Que imagens? O que Shay tinha feito.

Shay andou até a cadeira, sorrindo, e depois sentou parecendo ignorar todas as normas de etiqueta.

-Então, Alteza? Primeiramente eu gostaria de te perguntar uma coisa.

-Pode falar.

-O que você achou da mudança? -A pergunta foi em um tom meio sugestivo.

-Ah, na verdade, eu gostei bastante. -Ele disse dando um olharzinho pra mim. Minhas bochechas estavam quentes.

-E isso se deve a algum fator em especial?

-Gayle, isso se deve a uma série de fatores, mas todos eles estao relacionados a uma pessoa. O fato de eu ser um príncipe dificulta as minhas amizades na escola, porque eu preciso filtrar tudo muito bem, ja que existem muitas pessoas que querem ser meus amigos por interesse, entao eu tenho apenas duas pessoas que posso chamar de amigos. Mas o agora eu estou conhecendo uma pessoa melhor, conhecendo uma pessoa que é muito engraçada e interessante, melhor. -Shalom, pare. -Crystal Ally Woodwork, é uma pessoa que eu posso chamar de minha amiga agora. -As câmeras e o luzes apontaram pra mim. Minhas bochechas, não, meu rosto todo, devia estar tão vermelho que até as câmeras la longe conseguiam captar. Eu fiquei totalmente sem reaçao.

-Crystal? -Gayle veio me buscar e entao me levou até a poltrona.

-O que você ta fazendo?! -Sussurrei para Shay.

-Ué, não gostou da minha "declaração"?

-N-não é isso, eu...

-Então, Crystal? -Gayle se sentou na nossa frente. -Como foi a mudança pra você?

Droga. Eu lembrei de tudo agora. Lembrei de minha antiga vida, minha antiga casa, meus antigos amigos...minha antiga felicidade. Lágrimas vieram nos meus olhos ao pensar que estavam a vários quilômetros de distância de mim.

Engoli em seco e não me permiti chorar.

-Foi ruim. -Pensei um pouco no que os outros poderiam pensar. -Mas não totalmente, não entendam mal. Eu apenas....sinto falta. -Uma lagrima caiu do meu olho e eu sequei ela imediatamente.

-Sei como se sente. Mas, o que tem achado da vida aqui?

-Não sei, é muito cedo para dizer, passaram apenas duas semanas, mais ou menos! Mas...eu acho, que as pessoas aqui são bem legais.

-Pessoas como....Vossa Alteza, Shalom?

Eu e ele ficamos meio corados por causa do olhar de Gayle.

-Sim, mas na verdade todo o resto também é. Mas Shay é bem legal. Err...Shalom...err...principe Shalom. -Esqueci que não podiamos chamar eles pelo nome no jornal. -Ele vai me ensinar a tocar piano.

-E nós trocamos livros.

-Bom saber que vocês estão se dando bem! Você nunca pensou na hipótese de fazer parte da familia real, Crystal?

Tinha varios jeitos de fazer parte da familia real, mas eu entendi muito bem o que ele estava insinuando e corei.

-Não. Não sou pra isso.

O que passou pela cabeça de Shalom quando ele me fez ir pra lá?!

-Ah, tudo bem. Obrigado, Crystal e Vossa Alteza, príncipe Shalom! -Ele aplaudiu e todos la também.

Levantei correndo e me joguei na cadeira. Nem queria ver todas as ligaçoes perdidas e mensagens de Hatty depois disso.

O resto do Jornal foi praticamente sufocante, ja que eu queria sair rapido dali, mas eu estava tao distraída com a minha pequena tem-muitas-pessoas-me-assistindo-fobia que nem prestei atenção em nada, até agora.

Meu pai andou até Gayle e falou algo em seu ouvido. Ele olhou para a rainha Eadlyn, que acenou com a cabeça.

-Acho que temos uma surpresa hoje!

Meu pai pegou o microfone e jogou fora todas as regras de etiqueta.

-Com vocês, Ahren! -Ele praticamente berrou.

Umas luzes iluminaram um canto e la estava Ahren, com uma peruca de palhaço, um nariz vermelho e uma blusa de bolinhas coloridas por cima da social, que não combinavam nada com a calça social, mas combinavam com o sapato gigante de palhaço

Ele olhou para o meu pai com fogo nos olhos e entao engoliu em seco. Meu pai já estava rindo, assim como Osten e Eadlyn e Maxon, que tentavam conter o riso.

-Queeeem quer rir? -Ahren começou a cantar meio desafinado enquanto começava a fazer uma dancinha. -Eu quero! Eu quero! -Ele continuou fazendo a dancinha e algumas pessoas, inclusive eu, começaram a rir. -Queem quer rir? Eu quero! Eu quero! -Ele repetiu. -Quem quer rir bate palma! Quem quer rir bate o pé! -Ele seguia os mandamentos da musica infantil da o época dos meus pais. -Quem rir dá uma voltinha! -Ele girou na ponta do pé e eu ri mais ainda. -E pra terminar mexe a bundinha. -Ele quis se recusar, mas acabou rebolando, causando risos histéricos no meu pai. Não sei o que eles tem na cabeça pra apostar isso. -Ri ri ri! Ra ra ra! Vamos sorrir e vamos cantaaaaaaaaa.... -O agudo desafinado dele parou e ele puxou mais ar. -Aaaaar! -Ele disse e eu fiquei com medo que os vidros estourassem enquanto ele fazia uma pose de gran finale com os braços abertos.

Eu estava rindo.

Muito.

-Boa noite, Illea! -Gayle tentou não rir.

A luz de "no ar" apagou.

Eu estava com dó de Ahren, mas não parava de rir. Quer dizer, ele é um príncipe da França e de Illea! E ele acabou de fazer isso em rede nacional! O que seria da reputaçao dele? A familia real perderia sua fama de seria depois dessa. Tinha que ser o meu pai, tinha que ser. Ahren veio andando até nós com fogo nos olhos outra vez e deu um tapa na nuca dele.

-Voce ta ferrado nas minhas maos!

-Mas você sabia qual era a aposta quando apostou. Dançar aquela dança ridícula que tivemos que dançar na escola quando éramos menores e que dançavamos por ai no castelo.

-Deus....qual o nosso problema?

-Nosso não, eu apenas falei daquilo, você que aceitou fazer a aposta. O problema é seu, apodere-se dele.

-Eu vou sair daqui. Minha dignidade, mesmo que seja pouca, ainda existe. -Ahren saiu com Camille e meu pai ficou rindo junto com Osten.

Eu estava meio perdida la no meio, até que o meu salvador da patria apareceu.

-Ei! O que acha de ver uma coisa legal?

-O quê?

-Vem! -Ele pegou minha mao e me puxou.

Andamos um pouco pela agitação pós-Jornal e saimos do castelo em direção ao jardim, mas ele não parou de andar. Ele andou e andou mais ainda, até que chegamos em uma especie de trilha escondida, cheia de arvores um pouco baixas ao redor com flores praticamente caindo de seus galhos. Shay seguiu essa pequena trilha e parou em uma porta cheia de plantas grudadas nela, assim como ao longo de todo o muro.

Ele passou a mão na porta, tirando as folhas do caminho, e entao girou a maçaneta e a empurrou. Quando ele fez isso, eu pude ver que não se tratava de uma porta para lugar nenhum ou para fora do palácio, e sim de um jardim secreto.

Tinham algumas árvores com flores rosas, quase como cerejeiras, mas não totalmente rosas, e outras com pequenos pontos amarelos, vermelhos e brancos perdidos. A grama era aparada e tinham pequenas florzinhas brotando dele. Em baixo de uma das árvores azuis, tinha uma fonte, daquelas de desejos, totalmente coberta por galhos retorcidos e folhas amarelas. O lugar era enorme e muito, muito lindo. Era como uma floresta programada por um designer, não dava para perceber que aquilo era plantado e programado a não ser pela escolha das árvores.

Mas o que mais me chamou atenção foi o pequeno lago com algumas vitorias-regias em baixo de uma árvore grossa e retorcida com uma copa enorme e cheia de varios tons de rosa e folhas verdes que caiam em pequenas cordas, assim como o balanço de madeira branca, com as cordas de suspensão cheias de plantas.

Olhei para tudo aquilo, sem palavras. Andei um pouco por ali e passei a mão pelos lirios que tinham ali contornado o pequeno caminho de pedras que se desfazia um pouco depois da porta.

Olhei para o céu e vi todas as estrelas e a lua brilhando.

-Shalom...

-Incrivel, han?

-Isso é mais que incrivel! -Eu disse virando e sorrindo abertamente.

Ele andou até o balanço e se posicinou atrás dele:

-Mademoiselle? -Ele segurou o balanço como se fosse para eu sentar.

Sorri e entao andei até o balanço. Me sentei e ele me empurrou. Aquilo era surpreendente legal, porque o balanço ia muito alto e quando ele me balançava, o balanço passava por cima da água e quando eu olhava para os meus tênis vermelhos, sentia que estava quase encostando eles na água.

Shay parou de me balançar e entao se sentou do meu lado.

-Você está de tênis? -Ele disse reparando nos meus pés a mostra, mas ele provavelmente ja tinha visto quando me balançava.

-Claro! Eu não ia usar salto nem se me pagassem!

-Haha! Eu também. -Ele esticou o pé e eu pude ver que ele estava um tenis do mesmo modelo que eu.

Eu estiquei o meu pé e ele encostou o lado do tenis dele no meu e nós ficamos com os nossos pés esticados na direção da água.

Nunca imaginaria que o príncipe usava o mesmo modelo de tenis que eu e ainda em uma transmissao "seria".

Tinhamos bem mais em comum do que eu imaginava, percebo isso todo dia.

E agora tudo que eu quero é ficar naquele lugar até eu cansar, o que eu temo que nunca vá acontecer.